Juízo de Deus acerca do pecado

Vós sois justo, Senhor, e justos
são os vossos juízos.
(Sal. CXVIII, 137.)

Se quiseres saber qual é a malícia do pecado, considera o que Deus pensa dele, e lança um olhar tranquilo pelos fatos que a fé e a história do mundo nos apresentam.

No princípio criou Deus um grande número de espíritos puros, eminentes pela sua inteligência e vontade generosa. o seu destino era servirem-no, e serem eternamente felizes. Mas, nem todos se mantiveram firmes no tempo da prova; a muitos precipitou-os o orgulho na ruína.

Vi cair do céu satanás como um raio[1] Deus não perdoou aos anjos que pecaram; encarcerou-os no inferno e entregou-os aos tormentos eternos[2].

Que mudança, meu Deus! Aqueles anjos são agora demônios; neles encontra-se reunido quanto há de mau, horrível e abominável. Foram precipitados do céu, mansão de paz, no inferno, lugar de tormentos eternos. Tal foi o efeito de um só pecado de pensamento.

Este é o juízo que Deus faz do pecado. Justo sois, Senhor, e justos são os vossos juízo. Os nosso primeiros pais foram criados na santidade e na justiça: o seu entendimento era ilustrado pela luz da graça; a sua vontade, movia-a o amor de Deus; o paraíso era a sua morada; Deus, seu amigo; e, se lhe permanecessem fiéis, dele haviam de gozar para sempre.

Mas foram tentados pela serpente infernal e pecaram. E que sucedeu?

Foram expulsos do paraíso para a terra amaldiçoada por sua culpa, e condenados ao trabalho, às enfermidades e à morte.

Que triste mudança se operou então em todo o seu ser! Trevas no entendimento, rebelião da concupiscência, a vontade enfraquecida e inclinada pra o mal; e toda esta desgraça transmitida a uma posteridade inteira, como pecado original.

De então para cá, toda a história do gênero humano não é mais do que uma sequência ininterrupta de desgraças. Dores, enfermidades, guerras, ódios, invejas, inimizades, assassinatos, e por último a terra transformada no mausoléu dos seus habitantes.

Espantosas consequências de um só pecado mortal.

Assim castiga Deus aos que ama! Grave, mas justo castigo! A justiça cingir-lhe-á os rins[3]; a sua justiça permanecerá eternamente, e a sua lei é a verdade[4].

Mas, se o castigo é grande, maior é certamente a culpa, pois até no castigo Deus mostra o seu amor e misericórdia de pai.

Se pudéssemos penetrar no abismo do inferno, encontraríamos mais de uma alma condenada a tão horrível suplício por um só pecado mortal.

Quantas jovens estarão ali ardendo com menos pecados do que eu? E não temerei o pecado, tendo por coisa insignificante o que Deus na sua justiça castiga tão terrivelmente?

junta a tudo isto o que sabes pela história. Lembra-te do espantoso dilúvio que sumiu todo o gênero humano, com exceção de alguns justos; da chuva de fogo que devorou as infames cidades de Sodoma e Gomorra; dos sofrimentos dos israelitas com as serpentes no deserto, no cativeiro de Babilônia, na destruição de Jerusalém, e na dispersão de todo o povo: tudo isto foi castigo da justiça divina.

Senhor, como é grande o ódio que tendes a pecado! Graças vos dou, por me terdes concedido tempo para fazer penitência.

Trespassai as minhas carnes com o vosso temor; apavora-me a retidão do vosso juízo[5].

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

[1] Luc. X, 18.
[2] Ped. II, 4.
[3] Is. XI, 5.
[4] Salm. CXVIII, 192.
[5] Salm. CXVIII, 120.

Este texto foi útil para você? Compartilhe!

Deixe um comentário