Que aproveita ao ganhar todo o mundo, se por fim vem a perder a sua alma? Mat. XVI, 26
Como o homem é prudente e cauteloso quando se trata dos negócios deste mundo! Nem o comerciante hesita em arrojar ás águas todas as suas riquezas, se tanto é necessário para poder salvar a vida.
E que são os bens da terra, e até a mesma vida, em comparação da alma imortal? Se esta se perde, tudo está irremediavelmente perdido.
Depois disto, quem não vê que não há negócio mais importante e necessário do que a salvação da alma? tudo o mais é indiferente e sem valor.
Procurai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos advirá por acréscimo¹.
Quão cega e nesciamente procedes quando invertes esta ordem, para só te preocupares com o bem-estar temporal e com a felicidade da terra! Que virá por fim a suceder? Dormiram tranquilamente o seu sono, para depois todos esses homens que viviam na opulência, se encontrarem com as mãos completamente vazias².
Para remate de uma vida toda consagrada à consecução dos bens terrenos, espera-os ao fim este desengano! para que servem o orgulho e a jactância das riquezas! Tudo desaparece como a sombra, como o mensageiro que passa veloz, como o navio que não deixa após si nem o mais leve indício da sua esteira³.
Nisto virão por fim a parar tantas canseiras e trabalhos para alcançar bens terrenos.
Filhos dos homens, até quando se inclinará o vosso coração para as coisas da terra? porque amais a vaidade, e procurais a mentira?⁴
Só uma coisa te é necessária: salvar a tua alma. Porque procuras com tanto afã os bens temporais? Não precisas de satisfazer a ânsia que sentes de bens terrenos. Só Deus sabe se te é conveniente uma vida cômoda e abundante em riquezas e honras. Nem delas depende a tua verdadeira felicidade, nem sequer está nas tuas mãos consegui-las, por mais que te desveles de dia e de noite. Se quiseres salvar a tua alma, nada te poderá impedir. Porque hás de andar então em busca do incerto, enganador e fugaz, a troco do certo, imperecedouro e infinito? Porque amais a vaidade e procurais a mentira?
Que importa a saúde ou a enfermidade, a riqueza ou a necessidade, a honra ou o desprezo, se conseguires por fim salvar a tua alma? Alegrem-se embora outros, rodeados de toda a sorte de comodidades vivam no meio da abundância, coroados de honras e fausto, enquanto tu levas uma vida atribulada pela infelicidade, pela pobreza, pela dor e pela solidão: o triunfo por fim será teu. enquanto eles se perdem irremediavelmente por toda a eternidade, tu lograste salvar a tua alma.
Quem assegura a sua alma, assegura tudo eternamente: assegura o céu, assegura Deus!
- Mat. VI, 33
- Salm. LXXV, 6.
- Sab. V, 8-10.
- Salm. IV, 3.
A Virgem Prudente, por A. de Doss, S.J., versão de A. Cardoso, 1933.