Ó Maria, Mãe da boa esperança, ensinai-me o caminho da plena confiança em Deus.
1 – No Magnificat – o cântico que brotou do coração de Maria no encontro com a sua prima Isabel – encontramos uma expressão particularmente reveladora da atitude interior da Virgem: “A minha alma glorifica o Senhor… Porque lançou os olhos para a baixeza da Sua escrava” (Lc. 1, 46-48). No momento em que Maria as pronunciava, estas palavras eram a declaração das “grandes coisas” que Deus havia operado nEla; mas consideradas no quadro da sua vida, exprimem-nos o constante movimento do seu coração que, consciente do seu nada, sabia lançar-se em Deus com a mais intensa esperança no Seu socorro. Ninguém mais do que Maria teve a ciência concreta e prática do próprio nada. Ela bem sabe que todo o seu ser, quer natural quer sobrenatural, recairia irrevogavelmente no nada, se Deus o não sustentasse a todo o instante. Sabe que tudo o que é e tudo o que tem, não é seu, mas de Deus, puro fruto da Sua liberalidade. A grande missão, os grandes privilégios recebidos do Altíssimo não a impedem de ver e de sentir a sua “baixeza”. Mas isto, longe de a assustar ou desanimar – como muitas vezes nos acontece quando constatamos a nossa nulidade e miséria – serve-lhe de ponto de apoio para se lançar em Deus num rápido movimento de esperança. Quanto mais toma consciência do seu nada e da sua impotência, tanto mais a sua alma se eleva na esperança. Porque, como verdadeira pobre de espírito, não tem nenhum confiança nos seus recursos, nas suas capacidades, nos seus méritos. Maria coloca em Deus só, toda a sua confiança. E Deus, “que enche de bens os famintos e despede vazios os ricos” (Lc. 1, 53), sacia a sua “fome”, atende as suas esperanças, não só enchendo-a dos Seus dons, mas dando-Se a Ela do modo mais pleno.
2 – A esperança de Maria foi verdadeiramente total. Temos um exemplo típico na sua conduta para com José quando este, tendo observado nEla os sinais de uma maternidade de que ignorava a origem, pensava “deixá-la secretamente” (Mt. 1, 19). Maria teve certamente a intuição do estado de ânimo do seu castíssimo esposo, das dúvidas que poderiam atravessar-lhe o espírito, assim como do risco que Ela própria poderia correr de vir a ser abandonada, pois que o Anjo nada lhe tinha dito que a pudesse tranquilizar sobre este ponto tão delicado. Todavia, cheia de esperança no socorro divino, não quis de modo nenhum revelar o seu segredo. “A vossa fortaleza estará no silêncio e na esperança” (Is. 30, 15), disse o Espírito Santo pela boca de Isaías, e esta sentença encontra a sua mais bela realização no comportamento de Maria. Cala-se, sem procurar justificar-se junto de José, cala-se porque está cheia de esperança em Deus e totalmente segura do Seu auxílio. O silêncio e a esperança permitem-lhe apoiar-se inteiramente em Deus e assim, forte da Sua fortaleza, permanece serena e tranquila numa situação extremamente difícil e delicada.
Também nós esperamos em Deus, mas a nossa esperança não é total como a de Maria. Exatamente por isso não chegamos a estar completamente seguros do auxílio divino e sentimos sempre a necessidade de recorrer a pequenos expedientes pessoais para encontrar alguma segurança, algum apoio humano. Mas como tudo o que é humano é instável e incerto, se nisso fundamos as nossas esperanças, continuamos sempre agitados e inquietos. A Senhora, com o seu silêncio e com a sua esperança, indica-nos o único caminho da verdadeira segurança, da serenidade e da paz interior, mesmo no meio das situações mais difíceis: o caminho da confiança total em Deus. “In te Dómine, speravi; non confunda in aeternum”, eu esperei em Vós, Senhor e não serei confundido eternamente (Te Deum). Sim, Deus não desiludirá jamais a nossa esperança, e como mandou um Anjo revelar a José o mistério da maternidade de Maria, assim encontrará sempre o modo de ajudar e de amparar uma alma que se Lhe confiou.
Colóquio – “Ó Mãe do santo amor, ó vida, refúgio e esperança nossa, Vós sabeis bem que o Vosso Filho Jesus, não contente por Se ter feito o nosso perpétuo Advogado junto do Pai eterno, quis também que vós vos empenhásseis em interceder por nós junto da divina misericórdia. Por isso me volto para vós, esperança dos miseráveis, confiando em que, pelos méritos de Jesus e pela vossa intercessão, obterei a eterna salvação. E confio tanto que, mesmo se a minha salvação estivesse nas minhas mãos, a colocaria igualmente nas vossas, pois tenho mais confiança na vossa misericórdia e proteção do que em todas as minhas obras. Mãe e esperança minha, não me abandoneis! A piedade que tendes pelos miseráveis e o poder que tendes junto de Deus, superam o número e a malícia de todas as minhas faltas. Esqueçam-se todos de mim, mas não vos esqueçais vós, Mãe de Deus onipotente. Dizei a Deus que eu sou vosso filho, dizei-Lhe que vós me defendeis e serei salvo.
“Para me ajudardes, ó Mãe, não procureis em mim nem virtudes nem méritos; olhai somente, eu vos peço, para a confiança que ponho em vós e para a vontade que tenho de ser melhor. Olhai para o que Jesus fez e sofreu por mim e depois, abandonai-me, se tiverdes coração para me abandonardes. Apresento-vos todos os sofrimentos da Sua vida: o frio que sofreu no presépio, a viagem que fez ao Egito, o Sangue que derramou, a pobreza, os suores, as tristezas, a morte que suportou por meu amor na vossa presença. E vós, por amor de Jesus, empenhai-vos em me socorrer. Ó minha Mãe, não negueis a vossa piedade a quem Jesus não negou o Seu Sangue!
“Ó Maria, eu me confio a vós; nesta esperança vivo e nesta esperança quero e espero morre, repetindo sem cessar: unica spes mea Jesus, et post Jesum Virgo Maria, a minha única esperança é Jesus, e depois de Jesus a Virgem Maria” (Sto Afonso).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.