Sereis santos, porque eu o sou (Lev. XI, 45).
Santo é todo aquele que pensa e procede como pensa e procede Deus.
Deus é a santidade em essência, porque em virtude da sua natureza detesta o mal, e ama e quer o bem.
Por isso Ele é infinitamente santo, a fonte e medida de toda a santidade.
A criatura é santa quando aborrece o mal, e ama e pratica o bem.
A santidade nas criaturas é sempre limitada; elas jamais poderão amar a Deus como deve ser amado.
A santidade nas criaturas é mutável: é susceptível de aumentar ou diminuir.
A santidade das criaturas é e será sempre uma sombra pálida da eterna: são santas porque e enquanto imitam a santidade de Deus.
Por conseguinte já vês como Deus podia e devia dizer ao homem: sede santos porque eu o sou.
Porque eu sou santo, deves tu sê-lo: só para isso te podia criar; criando-te para mim, e dando-te como fim, o gozo da minha presença, devia também querer que fosses santa, visto que no céu não entra nada contaminado (1).
Como eu sou santo, também tu deves sê-lo, aproximando-te de mim na medida das tuas forças, dentro da tua esfera e na proporção das graças que te são concedidas.
Senhor de santidade! Agora vejo claramente que jamais me unirei conVosco depois desta vida, se não for santa.
Só as coisas semelhantes se podem unir: ora, como Vós sois inteiramente puro e santo, pura e santa devo ser eu.
Que hei de então fazer? Purificar-me cada vez mais; arrancar do meu coração tudo quanto se opuser à santidade; crescer na virtude até a transformar em mim num segunda natureza.
Mas ai! E a fragilidade humana?
Mas não desanimarei. não é só com as minhas forças, mas ajudada pelos auxílios da graça que a hei de alcançar. A Vós, Senhor puríssimo e santíssimo, me entrego sem reserva.
Santificai-me e renovai em mim a Vossa imagem e semelhança, a fim de que um dia me encontreis digna de comparecer na Vossa presença e de gozar eternamente de Vós.
Donzela cristã, tu julgas que, como a santidade de Deus não é visível aos nossos olhos, é difícil reproduzirmo-la em nós.
Mas será verdade que nunca ninguém a viu? Realmente nunca ela se terá revelado aos nossos olhos? Que nos diz a fé? O que foi desde o princípio, o que os olhos viram, o que os ouvidos ouviram, o que as mãos apalparam do Verbo da vida (2). Não tomou corpo, por assim dizer, em jesus Cristo a santidade de Deus?
Seria certamente difícil aplicarmos à nossa vida o conceito da santidade divina, se estivéssemos abandonados às nossas próprias forças; mas Jesus Cristo veio em nosso auxílio, fez-se homem e habitou entre nós (3); vivei na condição ordinária em que nós vivemos, foi nosso Mestre e modelo ao mesmo tempo. Eu, declara, Jesus, digo ao mundo o que ouvi a meu Pai (4); eu faço as obras do meu Pai (5).
Penetra pois, ó jovem cristã, no espírito de Jesus, e a santidade não será para ti um mistério ou conceito obscuro. Ouve a Sua doutrina, segue os Seus exemplos, e certamente serás santa, como é santo o teu Pai celeste (6).
Oh meu Deus! Eu fui criada para um dia entoar diante do Vosso trono aquele cântico sempre antigo e sempre novo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos! (7) E não hei de procurar santificar-me para um dia celebrar em companhia de toda a corte do céu a Vossa santidade em cânticos de louvor?!
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Apoc. XXI, 27.
(2) Joan. I, 1.
(3) Joan. I, 14.
(4) Joan. VIII, 26.
(5) Joan. IX, 4.
(6) Mat. V, 48.
(7) Is. VI, 3.
Última atualização do artigo em 10 de março de 2025 por Arsenal Católico
