A unidade da humanidade

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O Bom Deus quis que os homens nascessem de um só homem e de uma só mulher – que ela mesma fosse tirada dele – para que a unidade da raça humana fosse perfeita. De fato, “Porque ninguém aborreceu jamais a sua própria carne, mas nutre-a e cuida dela”(Ef. 5, 29). Foi o pecado que destruiu este plano de Deus. Assim, o Gênesis conta o assassinato de Abel por seu irmão Caim, imediatamente após a narração do pecado original.

A Redenção deveria restabelecer as coisas da maneira mais maravilhosa no mistério do Verbo Encarnado, mas não suprimindo toda divisão entre os homens. Ao contrário, Deus se dirigiu à serpente tentadora, profetizando: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua raça e a dela” (Gn 3, 15). Toda a História Sagrada descreve as muitas separações que o Bom Deus permitiu ou ordenou: Abraão deixou sua família; Isaac, e não Ismael foi o escolhido; Jacó foi preferido a seu irmão Esaú … O que São Paulo disse ao louvar a fé poderíamos repetir sobre as divisões e separações que narra a Sagrada Escritura: “E que mais direi ainda? Fartar-me-ia o tempo, se eu quisesse falar de Gedeão, de Barac, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel, e dos profetas.“(Hb. 11, 32)

Os homens nunca aceitaram este plano divino. Não é incrível que o único evento narrado pelo Gênesis entre o Dilúvio e o chamado de Abraão seja a construção da Torre de Babel? Nada é dito sobre a história dos homens sobre como eles se multiplicam novamente, exceto a tentação de estabelecer uma unidade da humanidade sem recorrer a Deus. “Vinde, façamos para nós uma cidade e uma torre, cujo cimo chegue até ao céu: e tornemos celebre o nosso nome antes que nos espalhemos por toda a terra.”(Gn. 11, 4). Deus não demorou a castigar esta pretensão de restabelecer uma união dos homens que não fosse baseada no amor e serviço de Deus: “Vinde pois, desçamos, e confundamos de tal sorte a sua linguagem, que um não compreenda a voz do outro.”(Gn. 11, 7)

O Gênesis nessa parte, como em seu primeiro capítulo, relata as palavras de Deus empregando um misterioso plural que não é “de imponência” – desconhecido para a língua hebraica – mas que é antes um arauto da revelação do mistério da Santíssima Trindade. Assim como Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1, 36), Ele diz aqui: “Desçamos … confundamos“. Não foi para sugerir o desígnio divino que só se revelaria plenamente em Nosso Senhor, desígnio que consiste em unir os homens por uma participação no mistério trinitário? Na sua oração depois da Última Ceia, Cristo pede e obtém esta unidade que é antes de tudo a da Igreja: “Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.” (Jo 17, 11). Os homens se unirão apenas no esplendor da Igreja; eles só viverão em paz dentro de um Cristianismo; eles serão irmãos apenas reconhecendo seu Pai no céu.

É à luz desta revelação que devemos compreender esta estranha palavra de Nosso Senhor: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada.”(Mt. 10, 34). No entanto, é certo que Nosso Senhor veio trazer a paz! Os anjos cantaram na noite de Natal. Mas é em Cristo, e somente nEle, que todas as coisas devem ser “restauradas” (cf. Ef 1, 10). A união dos homens será cristã ou não será: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo.”(Jo 14, 27). Aqueles que recusarem esta paz um dia serão definitivamente separados da sociedade dos bem-aventurados: “Quando pois vier o Filho do homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se sentará sobre o trono da sua majestade, e serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E porá as ovelhas à sua direita, e os cabritos à esquerda.“(Mt. 25, 31-33)

Os apelos contra o separatismo em nome dos valores republicanos, os esforços para estabelecer uma fraternidade universal baseada no amor ao planeta são apenas as últimas formas desta velha tentação que a Maçonaria sempre nutriu. É nessa mesma utopia que participa o ecumenismo conciliar. Os verdadeiros cristãos, por sua vez, trabalham pela harmonia entre os homens, trazendo-os à unidade católica: “Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.“(Jo 10, 16)

Retirado do Boletim Le Saint Anne n°32

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