Ato de contrição do glorioso São Bernardo

François Vincent Latil, São Bernardo de Claraval (Detalhe), Século 19, Domínio Público, Wikimedia Commons

Em união com aquela dor com que sobre Vós tomastes as minhas culpas, causa de minha dor e arrependimento, e com que satisfizestes por meus pecados, ó Jesus, Senhor Nosso, e em comunhão com todos os que fazem verdadeira penitência e querem verdadeiramente unir-se a Vós, confesso em Vossa presença, Senhor, todas as minhas culpas, as que por malícia cometi, as boas ações que omiti, os pecados que pratiquei de propósito, ou por negligência, e que Vós bem conheceis em número, peso e medida; dos quais todos com lágrimas de dor por amor de Vós me pesa, meu Deus,; pesa-me dos dias que perdi em Vos ofender; dos que perdi em deixar de Vos louvar, desprezando-Vos a Vós, meu sumo Bem, e induzindo o próximo a pecar contra Vós.

Aceitai benigno, ó Senhor, o sacrifício que Vos faço dos anos, que me restam desta miserável vida. Dos que perdi no pecado, peço-Vos, Senhor, perdão, que não desprezais um coração contrito e humilhado.

Meus dias declinam e passaram sem fruto, e não me é dado revivê-los, mas Vós, Senhor, fazei que os chore na amargura da minha alma.

Senhor, o abismo da minha miséria clama pelo abismo da Vossa infinita misericórdia: não embargue a Vossa cólera os efeitos da Vossa misericórdia, e não se esgote a fonte da Vossa inesgotável comiseração, diante de nossos pecados, Vós, que de tudo e nenhuma coisa aborreceis das que haveis criado, Vós, que esqueceis os pecados dos homens por amor de sua contrição e arrependimento.

É de Vossa bondade, meu Deus; perdoar os pecados: compadecei-Vos de mim, Senhor, enquanto é tempo de perdão, e concedei-me, enquanto posso emendar-me, que trabalhe pela minha salvação, para que não caia sobre mim, no dia supremo do nosso juízo, a sentença da eterna condenação.

Fazei, ó Deus meu, que eu abandone os hábitos pecaminosos, e pratique obras de vosso agrado e complacência; e que o zelo, que até hoje tenho empregado em pecar, o aplique de ora em diante, ajudado de Vossa graça, em cumprimento dos Vossos preceitos afim de que, onde a culpa imperou, transborde e supere a Vossa divina graça.

Rogo-Vos, igualmente, por Vosso amor e da Santíssima Virgem, Vossa Mãe, pela intercessão de todos os Santos e Bem-aventurados, me tenhais por perdoado de todas as culpas e negligências, e tudo quanto por ignorância tenho de mau praticado; não me chameis a contas em meio de minhas iniquidades, nem façais em vossa cólera protrair o meu pecado até ao termo final da minha vida.

Lembrai-Vos, Senhor meu Jesus Cristo, que não é de Vossa bondade perder nenhum daqueles, que Vos foram entregues pelo Pai Onipotente, mas antes compadecer-Vos e perdoar, a nenhum condenar, mas a todos salvar, que para esse fim Vos enviou o Pai à terra, não para julgardes o mundo, mas para que houvéssemos a vida de Vós; para que fosseis por nós e não contra nós. Senhor, o que havemos perdido por nossas culpas, Vós no-lo restituístes; o que por elas desmerecemos, Vós o merecestes; o que nos faltou
a nós, Vós o preenchestes.

Aproveitai-me, Senhor, agora e na hora da morte, a inteira e superabundante satisfação que operastes com a Vossa dolorosíssima Paixão e Morte, com o Sangue que derramastes na cruz, com a renovação incruenta da Vossa Paixão, no Santo Sacrifício da Missa, oferecido todos os dias pela salvação dos fiéis, no qual Vós sois quem oferece, sois a quem se oferece, e sois o que se oferece para o fim de alcançar-me a mim, que nada mereço, a paz e a glória, que por Vossa dolorosíssima Morte e Paixão nos conquistastes.

Vossos olhos, Senhor, puderam ver a minha iniquidade, mas Sois bondoso e cheio de misericórdia acima do que merecemos por nossa maldade; por isso não me haveis de contar entre os condenados à pena eterna, que Vos não quero perder, meu sumo bem e derradeiro fim; não risqueis meu nome do livro da vida, mas reservai-me o quinhão que por Vossas infinitas dores alcançastes aos fiéis, Vossos co-herdeiros na mansão eterna.

Mova-Vos, Senhor, contemplando as nossas fraquezas, piedade e comiseração conosco, Vós que conheceis a nossa miséria e nos não deixastes sem razão nesta terra de exí­lio. Poupai-me, que sou obra do Vosso amor; não fique para mim sem fruto Vossa dolorosa Paixão e o precioso Sangue, que por mim derramastes na cruz.

Ó Deus, que operais a santificação dos pecadores, concedei-me que, purificado das manchas do pecado, e com o espírito esclarecido Vos conheça, e, conhecendo-Vos, incessantemente de coração Vos busque, e possa, finalmente, depois de um trânsito feliz na morte, encontrar-Vos no céu, ó meu Jesus, onde com Deus Pai e o Espírito Santo viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amen.

MAGNIFICAT – Devocionário para uso comum e particular dos fiéis no convento e no século – Pe João Batista Lehmann, 1942.


Última atualização do artigo em 13 de março de 2025 por Arsenal Católico

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