Décimo Sexto Domingo depois de Pentecostes (Luc. 14, 1-11)
- Naquele tempo, aconteceu que, entrando Jesus um sábado em casa dum dos principais fariseus a tomar a sua refeição, eles o estavam ali observando.
- E eis que estava diante d’Ele um homem hidrópico.
- E Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da lei e aos fariseus, disse-lhes: É lícito fazer curas no sábado?
- Mas eles ficaram calados. Então Jesus, pegando no homem pela mão, curou-o e mandou-o embora.
- Dirigindo-se depois a eles, disse: Quem dentre vós que, se o (seu) jumento ou o (seu) boi cair num poço, não o tirará logo (ainda que seja) sábado?
- E eles não podiam replicar a isto.
- Disse também uma parábola, observando como os convidados escolhiam os primeiros assentos à mesa, dizendo-lhes:
- Quando fores convidado para as bodas não te assentes no primeiro lugar, porque pode acontecer que outra pessoa de mais consideração do que tu tenha sido convidada pelo dono da casa.
- E que vindo este, que te convidou a ti e a ele, te diga: Cede o lugar a este; e tu, envergonhado, tenhas de ocupar o último lugar.
- Mas quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, vem mais para cima. Então terás com isto glória na presença dos que estiverem juntamente sentados à mesa.
- Porque todo o que se exalta, será humilhado; e o que se humilha, será exaltado.
O ENSINO DA IGREJA
O Evangelho de hoje, pelo modo de apresentar diversas instruções, nos indica o método de ensino do divino Mestre.
A Igreja, como continuadora deste ensino, emprega o mesmo método, simples, claro, eficaz, e ao alcance de todos.
O protestantismo entrega a seus crentes uma Bíblia, palavra divina, é certo, mas palavra muda, que precisa de uma interpretação: daí a balbúrdia do protestantismo.
Jesus Cristo usou de outro método, seguiu outras diretivas que a Igreja adotou como norma do seu ensino.
O Evangelho nos mostra dois graus neste método.
1. INSTRUIR os fiéis.
2. INTERPRETAR a palavra de Deus.
I. INSTRUIR OS FIÉIS
Jesus Cristo e a sua Igreja passam fazendo o bem.
Convidado por um fariseu, para jantar em sua casa, Jesus encontra ali um hidrópico e o cura.
Assim faz a Igreja: ela é a grande semeadora do bem. Para compreendê-la, basta passar em revista as suas numerosas e variadas instituições de caridade.
Ela não passa indiferente diante de nenhuma necessidade: desde o berço até ao túmulo, ela acompanha com solicitude a criança, o jovem, o enfermo, o aleijado, o velho, o pobre, o abandonado, procurando dar a todos um alívio e um reconforto.
Mas se ela trata do corpo, é em vista de alcançar a alma, pela instrução religiosa.
Cada uma das suas instituições, como cada um dos milagres do Salvador, tem por fim: mostrar o caminho da salvação.
Vejamos com quanta delicadeza Nosso Senhor dá aos fariseus uma lição formidável.
Os fariseus interpretavam a lei ao seu talante, ora exagerando, ora diminuindo, como fazem os modernos protestantes, não permitindo no dia santo nenhum serviço, nem sequer uma obra de caridade.
Eis porque Nosso Senhor lhes pergunta se é permitido curar no sábado.
Ficaram calados, conhecendo a sabedoria e a perspicácia do Mestre. Jesus dá-lhes a resposta, perguntando se era permitido tirar um boi do poço, no sábado.
Mesmo silêncio da parte dos fariseus.
A conclusão era lógica: O dia do Senhor é um dia de descanso para o corpo, mas um dia de atividade para a alma, afim de santificar este dia, pelas boas obras e a oração.
II. INTERPRETAR A LEI
É outra lição aplicável aos protestantes, que pretendem que cada um pode interpretar, à sua vontade, a lei de Deus.
Não! Isso é impossível e até ridículo.
O sentido da lei de Deus ou da palavra de Deus, é um só: e este único sentido deve ser interpretado por uma única autoridade.
Esta autoridade é o próprio Jesus Cristo, e o Chefe da sua Igreja a quem Ele disse expressamente: Quem vos escuta, a mim escuta; quem vos despreza, a mim despreza. (Luc. 10, 16).
Ora, nesta interpretação é possível de usar de severidade ou de indulgência exageradas.
Daí a incalculável variedade de credos protestantes: os rigoristas vão para o rigor; os laxistas inclinam-se para a indulgência; e cada um fabrica uma religião que se adapta ao seu gênio, às suas tendências, às suas aspirações.
A Igreja Católica, ao exemplo de seu divino Mestre, conserva-se sempre entre estes dois extremos perigosos, aliando a firmeza à indulgência, o rigor à bondade.
Ela age nisso como agiu o Salvador.
Os fariseus interpretavam a lei sabática de um modo rigorista, até interdizer neste dia o uso de uma bengala, sob o pretexto de que era proibido carregar pesos…
Jesus lhes mostra, com bondade e firmeza, como se santifica o sábado, fazendo o bem, em vez de abster-se de coisas acidentais que nenhuma importância têm na vida.
Vendo depois o orgulho dos fariseus à cata dos primeiros lugares, Jesus lhes dá outra lição cheia de firmeza e de bondade.
É o que faz também a Igreja: nos obriga a humilhar-nos pela confissão, para nos levar diante de Deus; convida-nos à penitência, na quaresma; indica-nos como e quando nos devemos aproximar dos sacramentos, etc., etc.
É a continuação do ministério do divino Mestre: instruir e interpretar.
III. CONCLUSÃO
A sublime lição que termina o ensino do Mestre é a humildade.
Todo aquele que se exaltar será humilhado e todo aquele que se humilhar será exaltado.
O infeliz protestante se exalta, bradando: Estou na luz!… estou salvo!… e os romanos estão nas trevas… e na perdição!
Pobres cegos, não notam quanto orgulho encerram tais palavras!
Para conservarmo-nos na humildade, o Apóstolo diz que devemos operar a nossa salvação com medo e tremor, porque ninguém sabe se é digno de ódio ou de amor (Filip. 2, 12; Ecl. 9, 1) e o infeliz protestante, desprezando este aviso, exalta-se acima dos outros, como se fosse um santo…
Eles não admitem santos, mas pretendem ser santos…
Exaltam-se: serão humilhados!
Se cabe à autoridade da Igreja instruir-nos e interpretar o sentido da palavra de Deus, escutemos estes ensinos, com humildade, preferindo os seus oráculos às nossas idéias próprias ou interpretações individuais.
É um ato de humildade que nos elevará bem alto, na estima de Deus.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.
Última atualização do artigo em 10 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico