Domingo de Ramos (Mat. 21, 1-9)
- Naquele tempo, aproximando-se de Jerusalém e chegando a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras, enviou então Jesus dois de seus discípulos.
- Dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis presa uma jumenta e um jumentinho com ela: desprendei-a e trazei-ma.
- E se alguém vos disser alguma coisa, dizei que o Senhor precisa deles: e logo os deixará trazer.
- Ora, tudo isso aconteceu, para que se cumprisse o que tinha sido anunciado pelo profeta, que disse:
- Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso, montado sobre uma jumenta, e sobre um jumentinho, filho da que levava o jugo.
- E indo os discípulos, fizeram como Jesus lhes ordenara.
- E trouxeram a jumenta e o jumentinho: e puseram sobre eles os seus vestidos, e fizeram-no montar em cima do jumentinho.
- E o povo em grande número estendia no caminho os seus vestidos: E outros cortavam ramos de árvores e juncavam com eles a estrada.
- E as multidões que o precediam, e as que iam atrás, gritavam dizendo: Hosana ao Filho de Davi: Bendito o que vem em nome do Senhor: Hosana no mais alto dos céus.
A ADORAÇÃO
As honras prestadas pelo povo a Jesus Cristo, na ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém, constituem um verdadeiro culto.
A palavra: culto, aliás, deriva de uma palavra latina cultus, colere que significa: honrar.
Há três espécies de culto, conforme a pessoa a quem é dirigido:
O culto dirigido a Deus: culto de adoração (latria).
O culto dirigido a Maria Santíssima: culto de super-veneração (hiperdulia).
O culto dirigido aos santos: culto de veneração (dulia).
Limitemo-nos hoje ao culto de adoração, devido a Deus, e só a Deus, e mostremos que:
- Jesus Cristo deve ser ADORADO.
- QUALIDADES desta adoração.
I. JESUS CRISTO DEVE SER ADORADO
O culto se dirige sempre à pessoa.
Ora, há em Jesus Cristo as duas naturezas: a divina e a humana, que são reunidas numa única pessoa, e esta pessoa é divina.
Logo, deve ser adorada.
Se fosse possível separar em Jesus Cristo a divindade e a humanidade, e considerar apenas a sua humanidade, já não teria Ele direito à nossa adoração.
Mas isto é impossível; a divindade e a humanidade são substancial e hipostaticamente unidas numa única pessoa, de modo que toda separação é impossível.
Esta união pessoal é provada pelas próprias palavras do Salvador. Ele responde a Filipe que lhe pede o favor de ver o Pai: Filipe, quem me vê, também vê o Pai. (Jo. 14, 8-9).
E alhures: Ninguém subiu ao céu a não ser o que baixou do céu, o Filho do homem que está no céu. (Jo. 3,13).
Caso houvesse nEle duas pessoas, Nosso Senhor deveria ter feito a devida distinção.
O Verbo divino não abdicou e nunca abdicará a sua natureza humana.
Ele aniquilou-se a si mesmo, tomando a condição de escravo, e fazendo-se semelhante aos homens, como diz o Apóstolo (Filip. 2, 7), o que significa que ocultou a sua divindade sob o véu da humanidade.
Jesus Cristo é, pois, Deus, e como tal tem direito às adorações dos homens.
II. QUALIDADES DESTA ADORAÇÃO
Uma dupla consequência resulta desta dupla união pessoal da divindade e da humanidade em Jesus Cristo.
Uma primeira se refere ao modo de falar e a segunda ao culto que lhe prestamos.
No modo de falar devem atribuir-se a Jesus Cristo os nomes concretos, próprios à natureza divina e à natureza humana, como são: Homem-Deus, eterno, passível, e atribuí-los uns aos outros, pois que os nomes concretos indicam a pessoa e não a natureza.
Pode-se dizer, pois, que Jesus Cristo é eterno; que um Deus sofreu e morreu, que o Eterno incarnou-se, etc.
Não se pode, entretanto, dizer:
– que Jesus Cristo é uma criatura;
– que o homem se fez Deus, etc.
Os nomes abstratos de uma ou de outra natureza não podem ser atribuídos a Jesus Cristo, nem se atribuírem uns aos outros, porque tais nomes indicam a natureza e não a pessoa; e as naturezas não são confundidas nEle.
Não se pode dizer:
Jesus Cristo é a humanidade.
Nem: a humanidade é a divindade.
A segunda consequência é o culto que lhe tributamos.
Este culto deve ser:
- interior, com sentimentos de fé, amor e adoração;
- exterior, manifestado por sinais exteriores;
- particular, ou expressão dos sentimentos íntimos da alma;
- público, ou tributado oficialmente em nome da Igreja inteira.
III. CONCLUSÃO
O culto de adoração, que devemos a Deus, deve ser interior e exterior ao mesmo tempo.
É nesta união que consiste: adorar a Deus em espírito e verdade. (Jo. 4, 24).
Adorar: É prestar o culto supremo a Deus.
Em espírito, pela fé, a convicção e a alma.
Em verdade, manifestando exteriormente o que temos no espírito.
O homem sendo um coposto de corpo e alma, o culto que presta a Deus deve constar destas duas partes; participando nele o corpo e a alma.
É um dos erros protestantes, rejeitando o culto exterior, e acusando os católicos de não adorarem a Deus em espírito e verdade.
São eles que não adoram a Deus, pois limitam-se à primeira parte: a fé; e não manifestam tal adoração, de modo que podem adorar a Deus, em espírito, mas nunca em verdade.
Os principais atos do culto de adoração são:
A adoração propriamente dita, reconhecendo-o como Criador e Senhor de todas as coisas.
O sacrifício, ou imolação de uma vítima, para honrar a majestade suprema de Deus.
A oferta de nós, como recomenda São Paulo: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela glória de Deus.
Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.