Domingo de Ramos – Pe. Júlio Maria, S.D.N.

Domingo de Ramos (Mat. 21, 1-9)

  1. Naquele tempo, aproximando-se de Jerusalém e chegando a Betfagé, junto ao monte das Oliveiras, enviou então Jesus dois de seus discípulos.
  2. Dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de vós, e logo encontrareis presa uma jumenta e um jumentinho com ela: desprendei-a e trazei-ma.
  3. E se alguém vos disser alguma coisa, dizei que o Senhor precisa deles: e logo os deixará trazer.
  4. Ora, tudo isso aconteceu, para que se cumprisse o que tinha sido anunciado pelo profeta, que disse:
  5. Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso, montado sobre uma jumenta, e sobre um jumentinho, filho da que levava o jugo.
  6. E indo os discípulos, fizeram como Jesus lhes ordenara.
  7. E trouxeram a jumenta e o jumentinho: e puseram sobre eles os seus vestidos, e fizeram-no montar em cima do jumentinho.
  8. E o povo em grande número estendia no caminho os seus vestidos: E outros cortavam ramos de árvores e juncavam com eles a estrada.
  9. E as multidões que o precediam, e as que iam atrás, gritavam dizendo: Hosana ao Filho de Davi: Bendito o que vem em nome do Senhor: Hosana no mais alto dos céus.

A ADORAÇÃO

As honras prestadas pelo povo a Jesus Cristo, na ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém, constituem um verdadeiro culto.

A palavra: culto, aliás, deriva de uma palavra latina cultus, colere que significa: honrar.

Há três espécies de culto, conforme a pessoa a quem é dirigido:

O culto dirigido a Deus: culto de adoração (latria).

O culto dirigido a Maria Santíssima: culto de super-veneração (hiperdulia).

O culto dirigido aos santos: culto de veneração (dulia).

Limitemo-nos hoje ao culto de adoração, devido a Deus, e só a Deus, e mostremos que:

  1. Jesus Cristo deve ser ADORADO.
  2. QUALIDADES desta adoração.

I. JESUS CRISTO DEVE SER ADORADO

O culto se dirige sempre à pessoa.

Ora, há em Jesus Cristo as duas naturezas: a divina e a humana, que são reunidas numa única pessoa, e esta pessoa é divina.

Logo, deve ser adorada.

Se fosse possível separar em Jesus Cristo a divindade e a humanidade, e considerar apenas a sua humanidade, já não teria Ele direito à nossa adoração.

Mas isto é impossível; a divindade e a humanidade são substancial e hipostaticamente unidas numa única pessoa, de modo que toda separação é impossível.

Esta união pessoal é provada pelas próprias palavras do Salvador. Ele responde a Filipe que lhe pede o favor de ver o Pai: Filipe, quem me vê, também vê o Pai. (Jo. 14, 8-9).

E alhures: Ninguém subiu ao céu a não ser o que baixou do céu, o Filho do homem que está no céu. (Jo. 3,13).

Caso houvesse nEle duas pessoas, Nosso Senhor deveria ter feito a devida distinção.

O Verbo divino não abdicou e nunca abdicará a sua natureza humana.

Ele aniquilou-se a si mesmo, tomando a condição de escravo, e fazendo-se semelhante aos homens, como diz o Apóstolo (Filip. 2, 7), o que significa que ocultou a sua divindade sob o véu da humanidade.

Jesus Cristo é, pois, Deus, e como tal tem direito às adorações dos homens.

II. QUALIDADES DESTA ADORAÇÃO

Uma dupla consequência resulta desta dupla união pessoal da divindade e da humanidade em Jesus Cristo.

Uma primeira se refere ao modo de falar e a segunda ao culto que lhe prestamos.

No modo de falar devem atribuir-se a Jesus Cristo os nomes concretos, próprios à natureza divina e à natureza humana, como são: Homem-Deus, eterno, passível, e atribuí-los uns aos outros, pois que os nomes concretos indicam a pessoa e não a natureza.

Pode-se dizer, pois, que Jesus Cristo é eterno; que um Deus sofreu e morreu, que o Eterno incarnou-se, etc.

Não se pode, entretanto, dizer:

– que Jesus Cristo é uma criatura;
– que o homem se fez Deus, etc.

Os nomes abstratos de uma ou de outra natureza não podem ser atribuídos a Jesus Cristo, nem se atribuírem uns aos outros, porque tais nomes indicam a natureza e não a pessoa; e as naturezas não são confundidas nEle.

Não se pode dizer:

Jesus Cristo é a humanidade.

Nem: a humanidade é a divindade.

A segunda consequência é o culto que lhe tributamos.

Este culto deve ser:

  1. interior, com sentimentos de fé, amor e adoração;
  2. exterior, manifestado por sinais exteriores;
  3. particular, ou expressão dos sentimentos íntimos da alma;
  4. público, ou tributado oficialmente em nome da Igreja inteira.

III. CONCLUSÃO

O culto de adoração, que devemos a Deus, deve ser interior e exterior ao mesmo tempo.

É nesta união que consiste: adorar a Deus em espírito e verdade. (Jo. 4, 24).

Adorar: É prestar o culto supremo a Deus.

Em espírito, pela fé, a convicção e a alma.

Em verdade, manifestando exteriormente o que temos no espírito.

O homem sendo um coposto de corpo e alma, o culto que presta a Deus deve constar destas duas partes; participando nele o corpo e a alma.

É um dos erros protestantes, rejeitando o culto exterior, e acusando os católicos de não adorarem a Deus em espírito e verdade.

São eles que não adoram a Deus, pois limitam-se à primeira parte: a fé; e não manifestam tal adoração, de modo que podem adorar a Deus, em espírito, mas nunca em verdade.

Os principais atos do culto de adoração são:

A adoração propriamente dita, reconhecendo-o como Criador e Senhor de todas as coisas.

O sacrifício, ou imolação de uma vítima, para honrar a majestade suprema de Deus.

A oferta de nós, como recomenda São Paulo: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela glória de Deus.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

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