Leitura para a Festa do Santo Rosário

Nossa Senhora Rosário, Rogai por nós.

1. O Rosário é uma devoção sumamente meritória. Uma oração é tanto mais meritória, quanto mais cara é a Deus. Ora, o Rosário compõe-se justamente das duas formas de oração mais caras a Deus, do Padre Nosso, ensinado pelo próprio Deus feito homem e da Ave Maria, como no-la ensinaram o Arcanjo S. Gabriel, e, por inspiração de Deus, Santa Isabel, e a Santa Igreja. Se os Santos do Paraíso pudessem voltar à terra e aumentar seus méritos, de preferência a qualquer outra oração, se serviriam do Padre Nosso e da Ave Maria para honrar e louvar a Deus.

Uma oração é tanto mais meritória, quanto mais a invocação material for vivificada pela intenção espiritual e pelo afeto do coração. Pouco ou nenhum valor teria a oração vocal, se não partisse da devoção interna da alma.

Pois bem, o Rosário une perfeita e graciosamente a oração vocal com a mental, apresentando à nossa meditação os mistérios da nossa Redenção.

Recitando o Rosário, dirigimos o nosso pensamento a Deus, ao Filho de Deus e à Mãe de Deus. Estes afetos são outros tantos raios de luz sobrenatural, que nos ilumina, nos inflama, deixando-nos o mérito de uma contemplação, se bem que breve, mas altíssima e proveitosa.

Uma oração, como qualquer outra obra boa, é tanto mais meritória, quanto mais a nossa vontade se identifica com a de Deus; quanto mais é feita por obediência à legitima autoridade, que é representante de Deus. Ora bem. Recitando o terço, satisfazemos a um dos desejos mais ardentes da Igreja, a qual o apregoou sua oração por excelência, distinguindo-a com festa solene e dedicando-lhe o mês inteiro de outubro. “Desejamos ver sempre mais largamente propagada esta piedosa prática (do Rosário) e tornar-se a devoção verdadeiramente popular de todos os lugares, de todos os dias.” (Leão XIII.)

Desta maneira, assim como por razão de obediência, o Divino Ofício (breviário) para o clero é a oração mais meritória, assim a recitação do Rosário, recomendada a todos os fiéis, é de um valor inestimável para o povo.

2. É uma devoção sumamente impetratória. De duas qualidades principais a oração deriva sua maior eficácia; estes dois dotes são a perseverança assídua e a união de muitos corações pela mesma oração. Estas duas qualidades vemos admiravelmente ligadas ao Rosário. Com ardente e reiterada suplica se pede, se procura, se bate, faz-se doce violência aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Recitado em comum, terá o cumprimento da divina promessa: “Se dois de vós, se unirem entre si sobre a terra, qualquer coisa que pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque onde estão dois ou três congregados em meu nome, ali estou no meio deles.” (Math. 18. 19).

Eficacíssima é a oração do Rosário, porque dispõe em nosso favor o Coração de Maria. “Que doce alegria não deve ser para ela ver-nos piamente empenhados em lançar lhe coroas de súplicas e de louvores belíssimos! Se de fato com estas preces rendemos a Deus como é nosso desejo, a devida glória: se fazemos o protesto de nunca mais procurar outra coisa senão cumprir em tudo sua santíssima vontade; se exaltamos sua bondade e munificência, invocando o Pai e pedindo nos conceda, embora imerecidamente, os mais estimáveis bens; de tudo isto, oh! Quanto não se alegrará Maria, e como não enaltecerá ao Senhor! Certamente não pode haver linguagem mais digna para nós dirigirmos à divina majestade, que a da oração dominical. Tudo que no Pai Nosso pedimos, é muito reto, muito bem ordenado e conforme à fé, à esperança e à caridade cristã, e já por isto tem o especial agrado da SS. Virgem. Além disto, ouvindo-nos rezar, ela reconhece em nossa voz o timbre da voz de seu Filho, que nos deu e nos ensinou à viva voz esta oração e no-la impôs, dizendo: assim deveis rezar. Maria, vendo-nos assim com o Rosário, cumprindo fielmente a ordem recebida, com tanto mais amor e solicitude nos atenderá. As místicas coroas que lhe oferecemos, são-lhe sumamente agradáveis e penhores de graças para nós.” (Leão XIII).

A própria Rainha do céu fez-se quase fiadora da eficácia desta excelente oração. Por seu impulso e inspiração foi que S. Domingos fez do Rosário a arma poderosa para combater a heresia dos Albigenses.

À recitação do Rosário é que a Igreja atribui os seus maiores triunfos, e grata atesta, pela boca dos Sumos Pontífices, que “pelo Rosário todos os dias desce uma chuva de bênçãos sobre o povo cristão;” (Urbano IV) “que é a oração oportuna para honrar a Deus e a Virgem, como afastar bem longe os iminentes perigos do mundo.” (Sixto IV) “propagando-se esta devoção, os cristãos entregues à meditação dos mistérios, inflamados por esta oração, começarão a transformar-se em outros homens, as trevas das heresias dissipar-se-ão e difundir-se-á a luz da fé católica.” (S. Pio V.)

3. O Rosário é uni verdadeiro alimento espiritual. Uma oração feita com atenção produz, juntamente com o mérito e com sua eficácia impetratória, o efeito de refeição espiritual; e é precisamente esta atenção que nos falta muitas vezes, pelas distrações a que somos sujeitos, quando estamos a rezar. O Rosário tem em si a virtude de excitar e nutrir em nós o recolhimento, pondo-nos em contato com os mistérios da nossa religião. É a oração do sábio e do ignorante, pois, como nenhuma outra, se adapta à capacidade de todos.

4. Na recitação do terço se aumenta em nós a fé, quando comtemplamos a vida oculta, pública e gloriosa de Jesus Cristo, que é o “autor e o consumidor de nossa fé;” (Hebr. 12. 2.) e exteriormente por meio de orações vocais manifestamos que cremos em Deus nosso Pai providentíssimo; que cremos na vida eterna, na remissão dos pecados e nos mistérios da augustíssima Trindade, da Encarnação, da maternidade divina e outros; “de modo que, ao recitarmos bem o Rosário, sentimos em nossa alma uma unção suavíssima, como se ouvíssemos a própria voz da Mãe celestial, que amavelmente nos ensina os divinos mistérios e nos indica o caminho da salvação.” (Leão XIII).

5. Pela recitação do Rosário aumentasse-nos a esperança de por Maria obtermos a abundância da divina misericórdia; pois são justamente os mais importantes mistérios da Redenção, em que Maria se apresenta no seu papel de Corredentora: assim na Encarnação, na santificação do Batista Precursor, no Nascimento de Jesus, na apresentação do Menino Jesus no templo e no encontro do jovem Jesus entre os doutores. Enquanto recitamos o terço, mentalmente acompanhamos a Mãe do Redentor no acerbo caminho da cruz, vemo-la, no alto do monte Calvário, unir seu sacrifício ao sacrifício de seu Filho; no terço glorioso a nossa mente se prende à pessoa de Nossa Senhora e medita sobre a fase de sua vida depois da Ressurreição, até sua gloriosa Assunção e Coroação no céu.

6. Pela recitação do terço acende-se em nosso coração a caridade, o amor, a gratidão a Jesus e Maria, que tanto fizeram pela nossa salvação. Ao mesmo tempo desperta em nossa alma o desejo de seguir-lhes as pegadas e pertencer-lhes inteiramente. O nosso espírito enleva-se na contemplação dos grandiosos exemplos que se nos deparam nas pessoas de Jesus e Maria. Ele, ansioso por fazer a vontade de seu Pai; ela, fazendo sua consagração perpétua de escrava do Senhor.

7. Três males afligem a sociedade moderna: a aversão a uma vida modesta e laboriosa, a repugnância pelo sofrimento, o esquecimento dos bens futuros. No Rosário encontramos um remédio salutar contra estes três males gravíssimos. (Leão XIII). Os mistérios gozosos apresentam-nos na Sagrada Família, o modelo perfeitíssimo da vida doméstica: pureza e simplicidade de costumes, perfeita e perpétua harmonia dos ânimos, ordem jamais perturbada, respeito e amor recíprocos, amor e dedicação ao trabalho para ganhar o sustento da vida e para poder fazer algum bem ao próximo, tranquilidade do espírito e alegria da alma, companheiros inseparáveis da consciência reta e bem formada.

Nos mistérios dolorosos vemos Jesus Cristo entregue a uma tamanha tristeza, que o corpo se lhe cobriu de suor de sangue; vemo-lo preso a modo dos malfeitores, submetido a um julgamento de celerados, maldito, ultrajado, caluniado; vemo-lo preso à coluna da ignominia e desumanamente flagelado, coroado de espinhos, pregado na cruz, julgado indigno de ter vida; sua morte é impetuosa e sacrilegamente exigida pelo povo. Com as penas do Filho unem-­se as penas de sua Mãe Santíssima. O coração de Maria, apesar de não ser ferido, é traspassado por uma espada de dor, e o título de Mãe dolorosa é a expressão da verdade. Assim o terço nos ensina que indigno de usar o nome de cristão é todo aquele que se nega a levar a cruz de sua vida.

Nos mistérios gloriosos se nos revelam os altos ideais do céu, infinitamente superiores aos bens transitórios e falazes deste mundo. O terço glorioso faz nos compreender que a morte não é o cutelo que tudo corta e destrói, mas a passagem desta vida à outra. Ensina-nos que o caminho para o céu é estreito para todos, e diante de nós vemos Nosso Senhor, que nos conforta com a promessa deixada aqui na terra: “Eu vou, para vos preparar um lugar.” – Vemos mais, que tempo virá em que Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos e não haverá mais luto, nem lamento, nem dor, mas viveremos em Deus N. Senhor, feitos semelhantes a Ele, pois o veremos como é inebriado pela torrente das suas delícias, concidadãos dos Santos, na campanha felicíssima de nossa Rainha, nossa Mãe Maria. Uma alma que se eleva a tais sentimentos, inflama-se de tal maneira no amor de Deus, que com Santo Inácio chega a exclamar: “Oh como é baixa a terra, se a comparo com o céu!” e consola-se com a palavra do Apóstolo: “um sofrimento leve e instantâneo importa-nos glória eterna.”

Com efeito, o Rosário mostra-nos o único meio de unirmos o tempo à eternidade, a cidade terrena à cidade de Deus. É o único meio de formar caráteres generosos e magnânimos.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 23 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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