Duzentos anos após o encontro da Imagem da imaculada Conceição no Rio Paraíba, apareceu Nossa Senhora em Portugal, na Cova da Iria, a três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta. À Mãe de Deus precedeu o Anjo de Portugal. A própria Virgem Maria apareceu aos pastorinhos seis vezes, mensalmente de 13 de maio a 13 de Outubro.
Não vamos aqui especificar todas as circunstâncias em que se deram essas aparições, nem os dissabores que elas ocasionaram às três crianças com quem Deus Nosso Senhor usou dessa misericórdia. Guardemos apenas o que direta ou indiretamente contém uma mensagem que interessa não somente aos três videntes, mas a todos os fiéis, a todos nós.
O Anjo de Portugal
O Anjo de Portugal, ou Anjo da Paz – esses dois títulos ele mesmo se impôs – encaminhou as crianças à oração e ao sacrifício nas suas três aparições, no decorrer do ano de 1916. Na primeira ensinou-os a rezar: “Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam”.
Na segunda aparição, exortou as crianças à oração e ao sacrifício: “Orai! – disse – orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.”
Na terceira, em que se mostrou com o cálice e a hóstia, ele mesmo, profundamente prostrado, fez uma oração reparadora, que os videntes depois repetiam: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores!”
As visitas de Nossa Senhora
Preparados seus corações pelo Mensageiro Celeste, os três pastorinhos tiveram a ventura de receber a visita da própria Mãe de Deus, nas seis aparições que lhes fez, no decorrer do ano de 1917.
Na primeira, a 13 de maio, convidou-os a Virgem Santíssima a se tornarem vítimas reparadoras do Coração Divino: “Quereis oferecer-vos a Deus, disse-lhes a Senhora do Céu, para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser mandar-vos, em reparação dos pecados com que é ofendido e me súplica pela conversão dos pecadores?”
Ao que, varonilmente, os pequeninos responderam: “Sim, queremos”.
E não esperaram os sofrimentos que Deus lhes quisesse mandar, espontaneamente entregaram-se à uma vida de sacrifícios e mortificações que pede meças aos Padres do Deserto. Tudo pela conversão dos pecadores. Embora, como declara Francisco de acordo com a boa ordem das coisas, quisessem antes do mais consolar o Coração Divino, a conversão dos pecadores tornou-se para aquelas crianças como que uma odeia fixa.
O Imaculado Coração de Maria
Na segunda aparição, Nossa Senhora mostrou aos videntes seu Coração Imaculado cercado de espinhos que nele se cravavam. O que mais ainda excitou nos videntes o desejo de reparar pelos pecados e converter os pecadores.
Nessa mesma aparição, a Virgem Mãe revelou que levaria logo Francisco e Jacinta para o Céu, mas que Lúcia ficaria como instrumento de Jesus Cristo “para fazer conhecer e amar” a Maria Santíssima, pois Jesus “quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria”.
Visão do Inferno
A terceira aparição de julho, teve importância maior. Nela revelou a Virgem Santíssima os Segredos, dos quais o primeiro, mais tarde sob ordem do Céu desvendado pelos videntes, constituiu na visão do inferno, assim descrita por Lúcia: “Era um mar de fogo. Mergulhados nele, estavam as almas condenadas e os demônios, como se fossem carvões incandescentes, transparentes, pretos ou cor de bronze, formas humanas a esvoaçar nas chamas desse imenso incêndio, arrastadas pelas labaredas, a espalhar nuvens de fumaça, tombando de todos os lados como fagulhas de um grande braseiro – não tinham peso nem equilíbrio e soltavam uivos de desespero, gemidos de dor, tão horrendos que arrepiavam de medo. Os demônios se distinguiam por formas asquerosas de animais medonhos e desconhecidos, mas transparentes como carvões acesos”.
Desta visão fez Nossa Senhora, com melancólica ternura, o seguinte comentário às crianças aterrorizadas: “Estais vendo o inferno, aonde vão as almas dos pobres pecadores. Para salvá-los Deus deseja estabelecer no mundo a devoção ao meu Coração Imaculado”.
Os pecados – a guerra – a difusão do comunismo
É também desta aparição a profecia sobre a segunda grande guerra e a difusão do comunismo por todo o mundo, o anúncio de que a Senhora viria pedir a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração e a comunhão reparadora dos primeiros sábados, bem como a consoladora promessa de que por fim o mesmo Imaculado Coração triunfará. Eis como Nossa Senhora se exprimiu: “Se fizerem o que vou dizer-vos, muitas almas serão salvas e vira a paz [era durante a guerra de 1914-1918]. A guerra vai terminar. Mas se não cessarem de ofender a Deus, outra guerra virá pior ainda no reinado de Pio XII. Quando virdes uma luz desconhecida iluminar a noite, ficai sabendo que esse é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes por meio da guerra, fome, perseguição à Igreja e ao Santo Padre. Para impedir isso virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, ela espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.”
Estas palavras mostram que a Virgem Santíssima já previa que o mundo não atenderia ao seu pedido no sentido de não mais se ofender a Deus; por isso, ao mesmo tempo que declara que esses meios evitariam uma segunda guerra, anuncia o sinal precursor da grande catástrofe.
Enfim, é desta aparição a jaculatória que Nossa Senhora manda que os videntes insiram no terço após cada dezena: “Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem”.
A conversão dos pecadores
A quarta aparição se deu, não na Cova da Iria, mas em outro lugar da região, chamado Valinhos. Também não ocorreu no dia 13, mas alguns dias depois, 19 de agosto, devido à interferência anticlerical e maçônica do Administrador de Ourém. Nesta, como nas demais, Nossa Senhora insistiu sobre as orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, pois vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas”.
A quinta entrevista entre a Virgem Santíssima e os pequenos videntes, a mais curta de todas, assinalou-se por uma insistência sobre a reza do terço, uma advertência amorosa da Mãe Celeste, alegre pelos sacrifícios de seus amiguinhos, mas moderando-lhes um pouco o ardor na mortificação, e a promessa alvissareira de que no próximo mês veriam também a Nosso Senhor e São José: “Continuem a rezar o terço para alcançarem o fim da guerra. Em outubro Nosso Senhor virá também, e Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora do Carmo e São José com o Menino Jesus para abençoar o mundo. Deus está contente com os sacrifícios de vocês, mas não quer que durmam com a corda [que tinham atada como cilício à cintura]. Usem-na somente durante o dia”.
Na última aparição da série, em 13 de outubro de 1917, deu-se o conhecido milagre do sol, com o qual Deus Nosso Senhor autenticou aos olhos do mundo a veracidade das entrevistas da Virgem Maria com os pastorinhos de Aljustrel. A um pedido de Lúcia, de que curasse alguns doentes, a Virgem Santíssima declarou que eles deveriam emendar-se e arrepender-se de seus pecados. Terminada a costumeira visão da Virgem Mãe, seguiram-se três outras, de quadros simbolizando os mistérios do Rosário: a Sagrada Família, vista pelas três crianças, a Senhora das Dores, vista só por Lúcia, a Senhora do Carmo, com o Menino ao colo, coroada como Rainha do Céu e da terra.
Lições de Fátima
Os fatos que se desenrolaram em Fátima contêm, um amoroso apelo de Deus Nosso Senhor:
1. a que O desagravemos e ao Coração Imaculado de sua Mãe Santíssima, das ofensas de que continuamente são objeto;
2. a que nos compadeçamos dos pobres pecadores;
3. cuja conversão, assim como o desagravo, se obtêm pela oração e as mortificações, as voluntárias e as enviadas pelo mesmo Deus.
Ensinam-nos, outrossim:
4. que a meditação, sobre o inferno tem eficácia especial na conversão dos pecadores;
5. que a guerra foi um meio de que Deus se utilizou para punir os pecados do mundo;
6. que entre as orações mais eficazes, está a reza do Santo Rosário;
7. que a salvação do mundo se condiciona à consagração e devoção ao Imaculado Coração de Maria.
Inculcam, enfim:
8. a devoção aos Santos Anjos;
9. o poder do milagre para autenticar a mensagem divina.
Estes pontos todos concordam perfeitamente com o ensino tradicional da Igreja. É na visão celeste da Corte angélica que cresce no coração dos fiéis a confiança na Bondade Divina, que tão amorosamente providenciou os guias de nossa peregrinação terrena.
Sobre a Virgem Santíssima, de há muito a doutrina constante da Sagrada Hierarquia e a piedade ativa dos fiéis a associaram à obra redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Divino Filho. Como por Maria recebeu o mundo ao Salvador, assim por Maria receberam os homens os frutos da Redenção. A Virgem Santíssima é chamada a Onipotência suplicante, porquanto está sempre a interceder por nós, e suas preces são sempre aceitas do Pai Eterno. Mais; por disposição da Providência, nenhuma graça desce do Céu à terra se se não interpuser a intercessão de Nossa Senhora. Como corolário dessa doutrina tradicional da Igreja, Nosso Senhor determina, em Fátima, que a salvação do mundo Ele a concederá por meio do Imaculado Coração de sua Mãe Santíssima. Nessa mesma ordem da Providência estão as graças especiais concedidas à reza do rosário mariano, como, aliás, já consta da história eclesiástica, desde que foi essa devoção introduzida entre os fiéis.
As guerras e calamidades, desde o Antigo Testamento, são apresentadas como consequência do pecado, e é doutrina tradicional que, como todos os males, também elas entraram no mundo pelo pecado original, fonte dos demais outros.
Importa, no entanto, nos detenhamos mais sobre o espírito de reparação a penitência e a consideração sobre o inferno.
Reparação e Penitência
Ao espírito de reparação, a compaixão nos sofrimentos do Divino Salvador e, consequentemente, nos de sua Mãe Santíssima, nos convidam as expressões cheias de ternura do Discípulo amado que auscultou o Coração de Jesus, e as queixas amorosas do próprio Divino Salvador. A palavra de São João, “sic Deus dilexit mundum ut Fillium suum Unigenitum daret – Deus de tal maneira amou o mundo que entregou seu Filho unigênito” (Jo. 3, 16), soa como um brado a despertar em nossos corações as fibras de gratidão; e a de Jesus Cristo, no Horto das Oliveiras, quando se viu oprimido pelos nossos pecados, e triturado pelas nossas ofensas: “Non potuistis uma hora vigilare mecum? – Não pudestes vigiar uma hora apenas comigo?” (Mat. 26, 40), é uma amorosa censura por nossa falta de compaixão nos seus sofrimentos.
A penitência, a mortificação dos sentidos e da própria vontade são parte essencial da doutrina de Jesus Cristo, constantemente pregada pelos Apóstolos e pela Santa Igreja. É ela condição indispensável para que a pessoa possa entrar no Reino de Deus: “Fazei penitência, porque se aproxima o Reino de Deus” (Mat. 4, 7), prega-nos Jesus Cristo. “Fazei penitência e seja cada um de vós batizado no nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados” (At. 2, 38), confirma o Príncipe dos Apóstolos. Por seu turno, a mortificação, à imitação de Jesus Cristo, obediente até à morte, e aceitando todos os sofrimentos que torturaram seu Corpo sacrossanto, deve acompanhar o fiel que deseja manter sua união com o Divino Salvador: “Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nós” (2 Cor. 4, 10), diz São Paulo de si mesmo, e recomenda a mesma norma aos seus discípulos: “Se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se, pelo Espírito [isto é, a graça de Deus], mortificardes as obras da carne, vivereis” (Rom. 8, 13). Depois, a Igreja inculcou sempre aos seus filhos o espírito de penitência. Foi este espírito que povoou os desertos com os santos anacoretas, como foi a renúncia até à morte que deu energia aos Mártires para sofrerem os mais atrozes tormentos por Jesus Cristo. E todos os grandes Santos, os Patriarcas das Ordens e Congregações religiosas puseram sempre a penitência como fundamento para chegarem, eles mesmo e seus discípulos, à vida de união com Jesus Cristo.
A natureza decaída exige a penitência
A razão por que a penitência é assim tão necessária é a concupiscência que habita em nosso corpo de pecado. É a lei da carne que se opõe à virtude: “Sinto nos meus membros, diz São Paulo, outra lei que luta contra a lei de meu espírito e que me prende à lei do pecado, que está no meu corpo” (Rom. 7, 23). Este fato, esta luta, esta contradição íntima de nossa natureza, que nos leva a fazer o mal que reprovamos, é que nos obriga a uma vigilância, uma mortificação contínua, a fim de que, auxiliados pela graça de Deus, em nós não domine o pecado, mas vivamos segundo o Espírito de Jesus Cristo. A exortação, pois, do Salvador no Jardim das Oliveiras, “vigilate et orate ne intretis in tentationem” (Mat. 26, 41), vale para todos os tempos. Oração e penitência recomenda Maria Santíssima em Fátima, para a conversão dos pecadores.
De fato, a oração é a penitência, assumida com espírito de reparação, à imitação de Jesus Cristo, não apenas valem para o fiel que as pratica, como o torna colaborador na obra redentora do Filho de Deus, conforme a palavra do Apóstolo: “Alegro-me nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne por seu corpo que é a Igreja” (Col. 1, 24).
Em suma, deve o cristão, para santificar-se e colaborar na conversão dos pecadores, levar uma vida nova, santa em Cristo Jesus, e isso dele pede que, pela mortificação contínua dos seus membros, renuncie ao que há de mundano: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a concupiscência, a ira, a cólera, a maledicência, a maldade, as palavras torpes, etc. (cf. Col. 3, 5-8).
Não há dúvida que a luta que se pede ao fiel é um combate duro, porquanto o inimigo é interno, aliciante e, bem manejado pelo Príncipe deste mundo, é, sem a graça de Deus, invencível.
Benefícios da meditação sobre o inferno
Uma dessas graças que devem ser arroladas entre as forças que vencem nossas tendências para o mal, é a consideração dos novíssimos, conforme expressão da Escritura: “Memorare novissima tua et aeternum non peccabis” (Ec. 7, 40). E entre os novíssimos o que causa maior impressão e, por isso, goza de especial eficácia para arrancar o homem animal, que somos, ao vício, e orientá-lo à prática da virtude, é o inferno com suas penas eternas, a perda da bem-aventurança e o fogo interminável.
Frequentes vezes propôs o Salvador o fogo inextinguível do inferno como meio para levar seus discípulos à prática dos Mandamentos: “Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida eterna aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível […]” Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres laçado à geena do fogo inextinguível […] Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo, onde […] o fogo não se apaga” (Marc. 9, 42 ss.). Em São Mateus, o Senhor nos adverte que não devemos temer os que matam o corpo, mas não podem matar a alma, pois devemos “temer antes Aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena” (Mat. 25, 41). O mesmo intencionava o Salvador, quando declarava a sentença do Juízo Final: “Ide, malditos, para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e seus anjos” (Mat. 25, 41).
Idêntica doutrina, igual exortação encontramos nos escritos dos Apóstolos. São Paulo frequentemente adverte que os pecadores não possuirão o Reino de Deus, e São João, no Apocalipse, assim fala do castigo eterno que aguarda os sequazes do demônio: “Se alguém adorar a fera e a sua imagem, e aceitar o seu sinal na fronte ou na mão, há de beber também o vinho da cólera divina, o vinho puro deitado no cálice da sua ira. Será atormentado pelo fogo e pelo enxofre diante dos seus Santos Anjos e do Cordeiro. A fumaça do seu tormento subirá pelos séculos dos séculos [isto é, eternamente]. Não terão descanso algum, dia e noite, esses que adoram a fera e a sua imagem, e todo aquele que acaso tenha recebido o sinal do seu nome” (14, 9-11). Mais abaixo volta a falar da pena que espera os pecadores: “Cada um foi julgado segundo suas obras […]. A segunda morte é esta: o flagelo do fogo. Se alguém não foi encontrado no livro da vida, foi lançado ao fogo” (20, 13 ss.).
Com semelhante doutrina, não admira que os autores ascéticos proponham a meditação do inferno como salutar para obter a conversão e salvação dos pecadores e, mesmo, o afervoramento dos bons, porquanto o inferno também nos mostra o amor que Jesus, nos teve liberando-nos de cativeiro tão horrendo. Vem a propósito salientar que Santo Inácio de Loyola no livro dos Exercícios Espirituais – livro elogiado e recomendado por inúmeros Papas – entre as meditações fundamentais da primeira semana, a semana que deve determinar a conversão do exercitante, coloca a reflexão sobre o inferno precisamente à maneira como Nossa Senhora o propôs aos videntes de Fátima: falando intensamente aos sentidos.
Nós nos demoramos aqui a recordar convosco, amados filhos, este ensinamento ininterrupto da Igreja, não só para que vejais, quase diríamos sintais, como os fatos da Cova da Iria estão dentro da mais genuína tradição católica, mas, sobretudo, porque se trata de verdades importantes que, não obstante, vão sendo relegadas ao esquecimento, pois que delas não se gosta de ouvir falar […].
No entanto, nada mais salutar do que a meditação de tais verdades. Insistimos, pois, sobre as mesmas, porque a tanto nos obriga o dever de zelar pela salvação eterna de nossas ovelhas, e, outrossim, porque nos parece falha qualquer comemoração de Fátima que as não ponha em plena luz.
Não há dúvida, o recordá-las o Altíssimo na Cova da Iria foi uma dessas manifestações da inefável misericórdia com que Deus persegue os pecadores, porque não quer que morram mas sim que se convertam e vivam (cf. Ez. 33, 11).
Carta Pastoral por ocasião do 250º aniversário do encontro da milagrosa imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e do 50º aniversário das aparições de Nossa Senhora do Rosário em Fátima – Sobre a preservação da fé e dos bons costumes, 2 de fevereiro de 1967.
Por um Cristianismo Autêntico, Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, 1971.