O Sexto Anjo das Trevas: O Comunismo

Abutres agoureiros: Comunismo e laicismo

O mundo civilizado está atualmente atravessando uma destas fases misteriosas, que não permitem ao historiador a análise dos fatos, nem dos princípios. É um labirinto,é um abismo, é uma treva geral.

Sentimos hoje um certo mal-estar, uma perturbação, uma moléstia, ao mesmo tempo endêmica e universal; um enfraquecimento de caráter, de vontade, de dignidade, que todos lamentam, que todos acusam e que todos sofrem. É um vento epidêmico que sopra sobre a humanidade! De onde vem para onde vai?… Ninguém o sabe!

Hoje observamos os seus efeitos, desaprovamo-los, e amanhã muitos aplaudem as suas façanhas e caem em seus laços. São verdadeiros abutres agoureiros!

Alerta, católicos! Abri os olhos!… os dois olhos! Vede!… e de punhos cerrados, lutai para vos preservardes dos abutres agoureiros, da desgraça a vossa pessoa, a vossa família e a vossa pátria.

I – OS FALSOS SÁBIOS

A hora é de esperança, como é de tristes apreensões. A impiedade, a corrupção e o ódio, representados pelo comunismo rubro e pela coligação negra pro-estado leigo, dois abutres dos baixos fundos da podridão e da revolta, voam por cima da sociedade cristã, ameaçando-a com suas imundícies, para sujar o que há de mais puro e desunir o que faz o encanto da pátria, do lar e do indivíduo.

A Igreja Católica não receia abutres. Ela tem armas para abatê-los, como abateu todos aqueles que, em qualquer época, tiveram a ousadia de querer manchar a sua pureza ou conspurcar a sua autoridade.

Não basta, porém, ter as promessas divinas da vitória: “As portas do inferno não prevalecerão contra a ela” (Mt 16,18). “Estarei convosco até o fim dos séculos” (Mt 28,20).

É preciso ainda agir, lutar, defender a nossa fé, fazê-la triunfar, a exemplo de São Paulo, que pôde dizer, no fim da sua vida: “Bonum certamen certavi” – “combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé, por isto me está reservada a coroa da justiça” (2 Tim 4,7).

Nós também devemos combater este bom combate, para podermos acabar a nossa carreria e guardar a nossa fé em Jesus Cristo e na sua Igreja católica, apostólica, romana, fundada por Ele sobre São Pedro, – o primeiro papa: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18). – “Quem vos escuta, a mim escuta; que vos despreza, a mim despreza” (Lc 10,16).

O ódio anticlerical, que parece ser moda, está na classe dos “falso sábios”, que julgam que toda a ciência consiste em saber as quatro operações da aritmética, uns dois dedos de história do Brasil, um dedo de geografia e três dedos de literatura oca; com isto julgam ser os juízes do mundo, da religião e do próprio Deus.

Estes corifeus da impiedade nada entendem de filosofia, de teologia e nem sequer de catecismo; mas, apoiados sobre seu orgulho e a sua ignorância do assunto, realizam ao pé da letra a palavra do Espírito Santo: “Doctrina stultorum fatuitas” – “A doutrina dos idiotas é a presunção” (Prov 16,22).

Presumir saber e não saber nada; – presumir ser capaz de bancar o mestre de todos e ignorar o que o bom-censo ensina, presumir ser o juiz supremo dos homens, das instituições e do próprio Deus, e esquecer-se que amanhã descerá ao túmulo deixando apenas uma pá de podridão e depois uma mão de pó, enquanto a alma irá perante o tribunal do Criador prestar conta de uma vida que foi morte, e de uma morte que é a vida.

Tudo isto é da presunção orgulhosa do homem insensato, sem religião e sem fé, o qual pretende na sua pequenez e, na sua miséria, derrubar o Deus eterno e as instituições por ele firmadas. Pobres insensatos! “Vana spes et mendacium viro insensato!” (Ecli 34,1).

II – O COMUNISMO RUBRO

Muito se tem escrito sobre o nefando e perverso comunismo; nunca se poderá escrever bastante sobre tal doutrina; a doutrina da destruição e muitos ignoram o que é, o que quer, donde vem e para onde vai.

Procuremos penetrar nos seus segredos e aspirações. O comunismo é uma utopia que não admite o pronome “meu”, nem “seu”: tudo é “nosso”.

Se estivéssemos num regime comunista, ninguém poderia dizer: – “minha” casa, “meu” jardim, “meus” animais. Casas, jardins e animais seriam “comuns”, pertenceriam a todos e a ninguém porque seria o governo quem distribuiria temporariamente essas coisas a quem quisesse.

Até a palavra: “Meu Deus”, ou “nosso Deus” é uma heresia comunista. Para eles Deus não existe: só existem o governo, os ladrões e os assassinos. Quer isto dizer que o governo é Deus, e os seus capangas são os anjos deste Deus.

Deus não existindo, como diz a doutrina comunista, os homens devem trabalhar unicamente para viver a vida do boi, do cavalo, do irracional, e ainda em piores condições, porque não se tem liberdade de comer quando se quer, nem de vestir a roupa que agradar; e, se alguém se revolta, será logo enforcado.

Aliás é lógico: Se Deus não existe, a nossa alma também não existe. Um homem sem alma é um animal. O animal é útil enquanto trabalha; não o podendo mais, enforcam-no e o estrangulam, ou então deixam-no morrer de fome e de miséria.

Assim faz o comunismo com os velhos, os enfermos, os inúteis, os incapazes de trabalhar.

Os comunistas não querem mais nem igrejas, nem sinos. Só querem o trabalho. Para eles, trabalhar é orar. Só serve quem trabalha…mas quem trabalha para os outros, passando fome e miséria. Quem não trabalha não come. Quem não come, morre. Eis o grande código comunista.

O comunismo não conhece nem lar, nem pátria. A terra não é de ninguém. Anulam a ideia de pátria, como querem anular o amor materno, o amor filial, o amor conjugal e a fé em Deus; é o último golpe no coração do homem.

O mais bruto dos homens, como o mais civilizado, ama a terra em que nasceu, morre heroicamente para salvá-la da desonra, defende-a com seu sangue contra a invasão do estrangeiro. Na pátria comunista não há estrangeiro, não há desonra, pois não existe honra.

Qual o brasileiro que quer uma tal pátria?… um tal regime? Uma tal ideia? Uma tal vida?!…

III – O LAICISMO

O laicismo, geralmente, não é bem entendido pelo povo, tanto mais que se encobre como diversos nomes, para melhor esconder-se. Há “coligação pró-estado leigo, anticlericalismo, propaganda liberal”. Todos esses nomes exprimem o mesmo abutre agoureiro: a revolta, o ódio a Deus.

Vejamos bem o tal laicismo. A palavra “leigo”, na sua etimologia original, nada de mal exprime; serve para separar os dois estados: o estado clerical dos padres e o estado leigo das pessoas do mundo.

Em nossos tempos, a palavra leigo ou laico exprime outra ideia, e toma geralmente uma significação anticatólica e anti-religiosa.

Chama-se “Estado leigo”, ou governo leigo, o que na sua organização e vida desconhece a Igreja ou ignora, oficialmente, qualquer religião, procurando excluir de suas instituições os preceitos, os ensinamentos e a própria ideia de Deus. A legislação leiga inspira-se nas ideias ateístas e considera a sociedade humana como separada da influência de Deus e livre de obrigação para com Ele.

Dominado por esta concepção falsa da sociedade, o Estado chegou a instituir a “moral leiga”, independente da religião revelada, formando assim uma regra de costumes sem Deus, sem vida futura, sem responsabilidades perante o Ser Supremo, e sem sanção eterna.

Pode-se, pois, definir o “laicismo”, dizendo que é um sistema doutrinal e político, que se propõe eliminar Deus e a religião da família e da sociedade. Compreende-se logo o absurdo de tal doutrina e as consequências funestas, que derivam necessariamente de tais princípios. A base é falsa. O laicismo toma por base e ideal da sua doutrina esta espécie de axioma: “o homem é livre”. Ora, tal axioma é a apostasia completa de Deus.

O homem é livre, porque é um ser racional; mas, como é criatura de Deus, depende do seu Criador. Se os corifeus do laicismo proclamassem apenas a liberdade do homem, nada teríamos que reclamar; mas querem dizer que o homem é independente; que não há um ser superior a ele; que pode fazer o que bem entende.

Disto dimana o ódio a toda autoridade, o ódio e a revolta contra Deus, contra a Igreja, contra a doutrina revelada, contra os padres.

É o anticlericalismo cego e odiento. É a calúnia, é a perseguição! O laicismo conduz deste modo ao comunismo.

O que o comunismo faz brutalmente, o laicismo o faz pelos erros dos princípios, pelo espírito e pelo orgulho. O resultado é o mesmo. Comunismo e laicismo são dois abutres agoureiros, que volteiam sobre o Brasil, ameaçando a sua existência, o seu progresso e a sua religião.

IV – ASSOCIAÇÃO DE PROPAGANDA LIBERAL

O anticlericalismo, com o seu nome próprio, pouco agradaria ao povo religioso e essencialmente católico da nossa querida pátria. O monstro é horrendo; para que possa apresentar-se, convém dar-lhe outro nome, outra capara, outra cara.

É o que aconteceu. O anticlericalismo fundou uma associação de propaganda liberal, com comitê central em São Paulo. A base de tal associação é a propaganda ativa das ideias liberais, de oposição à atuação, na sociedade, do clericalismo (textual).

Tal associação está publicando livros e brochuras verdadeiramente nojentos, pelas ideias, pelas mentiras e pela ignorância que os distingue.

Há livros como: “Guerra aos Sinos”. Há brochuras como: O marido da alma, a confissão, perigo negro, as escravas da Igreja, etc.

O seu código de anticlericalismo está encerrado nos seguintes mandamentos:

Não casar na Igreja.
Não fazer batizar os seus filhos.
Não assistir às cerimônias da Igreja.
Não ser padrinho.
Não fazer educar os filhos em colégios religiosos, etc.

Vê-se claramente que é o ódio a Deus, à Igreja, e à religião. Convém notar que a maior parte dos pastores protestantes fazem parte desta associação. Isto, aliás, é natural. Para estes hereges, antes ser budista ou maometano, do que ser católico. – Tudo serve, afora o catolicismo.

V – DOUTRINA COMUNISTA

Mas, examinemos de mais perto a doutrina comunista. O “comunismo” é a organização econômica da sociedade futura, em oposição ao sistema vigente do capitalismo. Todos os bens devem pertencer a todos os cidadãos, e cada um recebe da massa coletiva segundo suas necessidades. O comunismo é a socialização da produção e do consumo.

Compreende-se logo que tal organismo não passa de utopia, absolutamente irrealizável. Sempre haverá neste mundo homens trabalhadores e outros indolentes; uns inteligentes, outros tolos; uns fortes e outros fracos, de modo que a sociedade nunca poderá ser igualizada.

Aliás é a palavra de Jesus Cristo que conhece as situações, as necessidades e as aspirações: “Sempre tereis pobres entre vós”, diz Ele (Mt 26,11).

É uma condição inseparável da vida, é uma necessidade, oriunda da natureza humana e do progresso.

O comunismo não admite propriedade individual. O indivíduo não tem nada “seu”: tudo é “nosso”. Assim é teoricamente, mas praticamente é diferente. Tudo é dos chefes do governo, e o povo fica com…nada, senão a escravidão e a miséria. Os operários são os escravos dos governos.

Queixam-se, ás vezes, da falta de trabalho. Esta falta existe, é certo, e sempre existirá, enquanto não houver mais justiça entre os homens; e como a justiça é o resultado da prática da religião, não haverá justiça se não houver religião.

A falta de trabalho é um problema social que só a religião pode resolver, pela justiça que deve ser praticada por todos. A falta de trabalho provém da desconfiança geral; ninguém quer expor-se a perder o que tem; e deste modo ficam paralisados empreendimentos, explorações minerais, etc. Os bancos fecham as suas portas, as transações ficam paralisadas, a circulação do dinheiro diminui, as indústrias não se desenvolvem, e o operário fica sem serviço.

Mas não basta ver o fato, é preciso ver a causa deste fato; e a causa primeira é a falta de seriedade, de honradez, de justiça, proveniente da falta de religião.

Quem faz a propaganda do comunismo é a terceira Associação Internacional Operária. A primeira foi fundada em 1864, para a emancipação da classe operária, pelos próprios operários: dissolveu-se pouco depois. A segunda foi fundada em 1889 e tinha por fim transformar o capitalismo em socialismo: dissolveu-se em 1914. A terceira foi reorganizada por Lenine e Trotsky, para estabelecer, no mundo, a ditadura do proletariado.

O fim verdadeiro, porém, é estabelecer a ditadura de um grupo de russos, ávidos de governar e oprimir a população, de se assenhorear da propriedade alheia em todos os países do mundo.

Para isso, pregam os comunistas russos que não existe senão uma pátria, que a terra não é de ninguém. Anular a ideia de pátria, como querem anular o amor materno, ao amor filial ,o amor conjugal e a fé em Deus, é o último golpe no coração do homem.

O mais bruto dos homens, como o mais civilizado, ama a terra em que nasceu, morre heroicamente para salvar da desonra, defende-a com seu sangue contra a invasão estrangeira. Na pátria comunista não há estrangeiro, não há desonra, pois não existe honra.

Que seria do Brasil, se vingasse a doutrina comunista? Seríamos governados pelos ditadores de Moscou. Entregaríamos à Rússia os nossos produtos agrícolas, os nossos produtos industriais para serem vendidos pelo governo russo por preço ínfimo, para forçar a baixa dos mercados dos países não comunistas, para arruiná-los, para vencê-los pela fome.

Para amenizar a ideia de pátria universal os comunistas russos vão mudar o nome do seu país. Provavelmente será uma confederação internacional comunista e o Brasil seria Estado da confederação internacional… Ora, como foi a Rússia quem indicou o regime comunista, o centro, a sede do governo universal será em Moscou.

Se conseguissem implantar no Brasil o governo comunista, a nossa pátria seria governada pelos russos. Seriam, portanto, traidores de sua pátria os miseráveis que entregassem o Brasil aos comunistas sem pátria.

Outro absurdo do comunismo é o fazer acreditar que é a forma de governo que pode dar a felicidade ao povo. É um erro. Não é a forma de governo a principal causa da felicidade ou infelicidade dos povos, são os próprios povos que se fazem felizes ou infelizes.

É verdade que o governo republicano erra muitas vezes. Mas todos os governos têm errado. E o governo comunista errará mais que os outros, pois é ilógico, utopista, extravagante, sem consciência e sem Deus.

VI – IMAGEM DO COMUNISMO

Conta-se que Trotsky, quando estava ainda no governo da Rússia, foi um dia à cidade de Kiew para presidir a um comício comunista. Discursou que o comunismo salvou a Rússia, que livrou os operários, que trouxe felicidade aos trabalhadores. Depois perguntou se alguém queria contradizer-lhe, pois os sovietes garantiam a liberdade de pensamento.

Um operário, de nome Efimoff, pediu a palavra. O auditório sentiu calafrios de medo por esta audácia. Mas Efimoff teve a palavra e subiu à tribuna, levando nas mãos um bastão.

  • Camaradas, começou, olhai para este bastão. Ele vos contará a história da revolução russa.

O público aguçou os ouvidos.

  • Vedes o punho do bastão? – continuou Efimoff; – um punho de ferro. Antes da revolução o país estava governado pelos aristocratas que estão representados por este punho.

O auditório fitava o punho, inclusive Trotsky, e não perdia uma sílaba.

  • Abaixo deste punho, está a parte média do bastão, a haste. Esta parte nos representa a nós, operários que trabalhamos. Os aristocratas nos tinham debaixo do punho.

Trotsky esboçou um aplauso.

  • Abaixo do punho e da haste está a ponteira, que é também ferro. O punho está em cima. A ponteira são os presidiários, os exploradores, os comedores; a parte média somos nós, os operários, os camponeses.

Efimoff calou-se e levantou com solenidade o bastão.

  • Senhores, eis aí a revolução.

E virou o bastão, pondo o punho no chão, ficando a ponta para cima.

  • Senhores, a revolução está feita; os aristocratas ficaram em baixo, os presidiários, os comedores e exploradores estão no alto. E vós, camponeses e operários? Vós não mudastes de lugar, antes vos oprimia o punho, agora vos oprime a ponta.

Trotsky rugiu como um tigre. Efimoff, o operário que falara com franqueza, confiando na liberdade concedida, foi fuzilado naquele mesmo dia.

VII – O DECÁLOGO COMUNISTA

Mas nada é mais claro e mais positivo que o decálogo comunista, recolhido em várias publicações russas. Tal decálogo não precisa de comentários; basta percorrê-lo para compreender em toda a sua hedionda realidade o sistema comunista:

1º MANDAMENTO – Odiar o Senhor, vosso Deus

Todo nosso sistema é ateu e não pode tomar outro rumo (Perri).

Religião é ópio para o povo e, como o álcool, obscurece a inteligência (Lenine, na obra: “Socialismo e Religião’).

O homem que se ocupa de venerar a Deus, suja-se no próprio cuspo (Lenine, ao amigo Lunatscharski).

Exigimos a separação completa da Igreja e do Estado para termos armas espirituais no combate contra Deus. Fora os operários embrutecidos pela religião (Lenine, “Socialismo e Religião”).

2º MANDAMENTO – Amaldiçoar nosso Deus e Senhor

Nós só devemos amaldiçoar a Deus e afastá-lo da sociedade (Le Peuple).

Odiamos e amaldiçoamos a cristandade e devemos considerar os cristãos, ainda os melhores, como nossos piores inimigos. Eles pregam, contrariamente aos nossos princípios, a caridade e o amor do próximo. Nós só devemos odiar; e pelo ódio, conseguiremos dominar o mundo (Kalinin).

3º MANDAMENTO – Desprezar o dia do Senhor

As Igrejas, conventos e capelas sejam destruídas e transformadas em salas de divertimentos públicos, cinemas e lojas (Stalin).

Escarro em tua religião e em todas as outras. (O comissionário Karylenko diante do júri contra d. Cieplak, arcebispo católico da Rússia).

Abolição do domingo e instituição da semana operária (terceira Internacional).

4º MANDAMENTO – Desprezar pai e mãe

Conforme a doutrina comunista, pai, mãe e filhos não têm entre si relações mútuas. Enhuma obediência, senão a igualdade seria impossível (Mallon).

Jamais será possível revolução enquanto existir a família e o espírito familiar. A família é uma instituição burguesa inventada pela Igreja…é preciso aniquilá-la (Federação feminina comunista de 1925).

Camaradas, ontem minha mãe ficou alarmada ao ver-me lendo a revista ateia “Besboschnik”. Agora vivemos separados em casa. Nossos pais ocupavam-se em venerar as imagens dos santos e a ler livros santos; nós então colocamos o retrato de Lenine e decoramos o “Besboschnik”. (Carta de uma jovem russa de 16 anos, às suas companheiras).

5º MANDAMENTO – Matar

A violência tem de ser a alavanca da revolução. Será para nós uma prazer ver agonizar padres, burgueses e capitalistas. Vestidos de suas sotainas, os padres morrerão lentamente pelas ruas e sob nossas vistas. Com prazer vendemos por uma boa garrafa de vinho o nosso lugar no céu para sentirmos este prazer. Que digo? Céu? Não, não o queremos. O que pedimos é o inferno, é o prazer que leva até lá (Ratie).

  • Esta mão é um.
    Esta outra é dois.
    Com estas duas enforco os capitalistas.
    Agora sou pequeno ainda,
    Mas quando for grande
    Matarei os capitalistas.

(Canção infantil do livro “Moscou desmascarado”, de jos. Douillet).

6º MANDAMENTO – A impureza é o nosso prazer

Aqui poupamos aos leitores o desenrolar de uma fita de nauseabundas cenas de bestificação.

7º MANDAMENTO – Furtar

Esfolaremos os capitalistas quanto possível, e isso não deve ser qualificado de roubo (Vooruit, jornal comunista belga).

Roubai o mais possível, porque tudo foi roubado (Lenine).

8º MANDAMENTO – Menti, se a mentira vos aproveitar

Evitemos de ofender o povo, dizendo-lhe o que desejamos; seria falta de tática (Der Vorwärts).

9º MANDAMENTO – Desejar a mulher do próximo

Nenhum casamento; amor livre (Lei sobre o matrimônio de 1-1-1928).

A poligamia e a poliandria não são proibidas pela lei, e valem pelo casamento válido, quanto aos efeitos jurídicos (Gidulzeff, 1927).

Em Petrogrado, num ano, se realizaram 2000 casamentos e foram declarados 1705 divórcios.

O comunista Schwartz, amigo de Lenine, chegou a casar-se 150 vezes. Citado perante o tribunal, o juiz só declarou que isso era nocivo ao prestígio do estado. Não se falou no resto.

10º MANDAMENTO – Preparai uma revolução universal

À bala o burguês; não se poupe dinamite (Perrant).

O proletariado não pode aceitar a forma de governo que existe atualmente, aniquilar este aparato (Lenine em “Estado e revolução”).

VIII – NOS DOMÍNIOS DA ANTROPOLOGIA

Recolhamos dos jornais umas amostras da incrível miséria a que chegou a desgraçada Rússia pelo regime comunista.

“Num artigo reproduzido por vários jornais, M. Vandervelde pusera em dúvida as afirmações acerca da carestia da vida na Rússia, publicadas pelo “Journal de Genève”. Este responde, citando fatos, entre os quais o seguinte, proveniente da Sibéria, datado do mês de Setembro, isto é, depois da colheita.

“Estava numa situação privilegiada, porque, na qualidade de operária, tinha uma carteira alimentar. Mas era impossível nutrir-se com ela. Desde a primavera que me não foi mais distribuída a farinha de trigo, mas uma mescla de farinha que me fazia adoecer as crianças. Resolvi-me então unir aos restos da elaboração do amido, na qual estou empregada, ervas e raízes que procurávamos nos campos.

Bastava atravessar a cidade para descobrir os cadáveres de pessoas mortas de fome. Uma parenta minha (a carta cita-lhe o nome, a direção e a data) foi morta pelo seu inquilino que a devorou em parte.

As autoridades não puderam esconder este fato e o homem foi condenado. Com grande indignação dos juízes comunistas que queriam apresentar o caso como um delito isolado, o réu declarou que se havia alimentado durante o inverno de carne humana, aliás teria morrido de fome.

Eu conheço pessoalmente mais de dez casos de antropofagia, cometidos nos arredores da minha casa. Um soldado abriu diante de mim um saco onde estavam os despojos de uma criança morta para ser comida.

Ninguém se atreve já a deixar os filhos nas ruas com o receio de que eles venham a ser roubados e continuamente citam-se casos de crianças raptadas em lugares afastados, mortas e comidas. Tudo isto parece incrível, mas eu não me maravilho.

Parentes e amigos à procura de melhores condições de vida têm vindo até às regiões da Sibéria, do Cáucaso, da Ucrânia e também do norte. Em toda parte é mais ou menos a mesma coisa…exceto em Moscou, onde pude comer pão.

Eu parti quando a colheita estava já em grande parte feita, mas a situação não me pareceu sensivelmente melhorada.

Ignoro se isto se explica pelo fato de a colheita ter sido pior do que se esperava. Os jornais soviéticos contam que a carestia reina no estrangeiro, mas ninguém o acredita, como de resto ninguém acredita nas promessas do governo. Os que estão no poder são por todos amaldiçoados porque todos estão convencidos da sua responsabilidade na extraordinária miséria do povo”.

Esta carta vinda da Sibéria é eloquentíssima. Agora vai a tradução de outra, vinda do Cáucaso.

IX – MISÉRIA EM TODA PARTE

“Em Tiflis, onde se encontrava em 5 de Setembro (portanto muitas semanas depois da colheita) vi cadáveres de crianças, abandonados nas estradas e apresentando os sinais característicos de fome: pernas emagrecidas e disformes e ventre inchado. Nos arredores da cidade vi gente a comer cascas de árvores e raízes”.

Garantindo a autenticidade destes documentos, o “Journal de Genève” acrescenta que eles demonstram que a fome não é devida, como sr. Vandervelde que fazer acreditar, a uma colheita má, mas única e simplesmente ao sistema comunista e marxista: “Os camponeses russos fizeram a revolução para valorizar as suas terras; Staline tirou-lhas e, levados pelo desespero, mataram o seu capital: 85 milhões de cabeças de gado. Como fazer a colheita embora abundante? E para que fazê-la se depois ficavam sem ela?

Testemunhos numerosos provam que em muitas localidades as colheitas não se puderam fazer porque as ervas más afogavam as boas, porque não havia modo de recolher o que a terra produzia. A fome não é somente devida à falta de trigo, mas de leite, de carne, de tudo.

Durará a fome na Rússia enquanto durar o regime marxista, porque esta funesta doutrina tira ao homem todas as esperanças de melhoramento de vida e apenas lhe dá o terror como excitante ao trabalho.

Além destes fatos apontados pelo jornal suíço que, diga-se de passagem, é um jornal de imensa autoridade moral, cujas linhas não são vendidas nem com o peso de todo o dinheiro do mundo e cuja palavra de elogio a um personagem é o bastante para lhe dar notável reputação, eu passo a referir o que a agência “Offinor” nos disse, há dias, sobre a fome canibalesca da Rússia.

Diz ela: “Os jornais continuam a publicar documentos dolorosos acerca da fome na Ucrânia soviética. Um dos documentos de maior significação é uma carta de um camponês a um seu irmão em Léopolis, que foi publicada no jornal “Dilo”: “meu querido irmão. Atende aos nossos pedidos. Tem piedade de nós e ajuda-nos, pelo amor de Deus! Estamos todos inchados por causa da fome. Pedimos-te, suplicamos-te, querido irmão, que tenhas dó de mim e da minha desgraçada família. O fim da nossa vida aproxima-se. Temos comido tudo o que temos encontrado. Não temos mais nada. E se Deus e tu, meu irmão, não vierdes em nosso auxílio imediato, depressa morreremos todos. O nosso alimento compõe-se de água, sal e algumas raízes. Não queiras que o teu irmão, mas sobretudo os meus queridos filhos, morram de fome. Uma esmola, pelo amor da nossa mãe,pelo amor de Deus”.

X – CONCLUSÃO

Não há positivamente fibra de coração que não estremeça diante de fatos, narrados em cartas, que dizem do suplício mortal da fome, e da carnificina canibalesca dos famintos na pobre e desgraçada Rússia.

Quando lembramos o cerco de Paris, na guerra franco-prussiana, a nossa compaixão pelos parisienses é enorme, porque se viram obrigados a comer os gatos, os cães e os ratos. Os habitantes da Cidade da Luz passaram assim privações para resistir aos cerco das tropas inimigas, e a atitude inspira-nos comiseração e uma profunda simpatia. Foi o patritismo que animou estas almas a tanto sacrifício.

Mas na Rússia não é o patriotismo que inspira os sovietes a matar à fome as populações. Lá não existem gatos nem ratos que possam servir de alimento às populações anêmicas e inchadas. Tudo já desapareceu. É a loucura selvagem de instalar em todo o mundo as doutrinas de Carlos Marx, cuja benigna prova temos à porta dentro dos limites da Espanha com a queima dos conventos, o incêndio das igrejas e a morte fácil de paisanos ou soldados que não têm o nome nas associações comunistas.

Na Rússia a fome entrou nos paroxismos do desespero: mata-se para não morrer; mata-se para comer; mata-se para elucidar o mundo inteiro de quanto é criminoso enfileirar-se ao lado dos inimigos, dos sem-fronteiras e dos inimigos da família, da propriedade e da pátria.

O Anjo das Trevas – Lampejos de doutrina, de ciência e de bom-censo do Padre Júlio Maria, Missionário de Nossa Senhora do SS. Sacramento – 1950.

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