São Domingos († 1221)
Domingos nasceu no ano de 1170, em Calaruega, pequena localidade na Velha Castella. O pai, Félix de Gusmão, pertencia a uma família de alta linhagem e conceito na Espanha; a mãe era Joanna de Aza. Domingos não tinha nascido ainda, quando sua mãe, em sonho misterioso, viu um cão; que trazia na boca uma tocha acesa, de que irradiava grande luz sobre o mundo inteiro. Efetivamente S. Domingos veio a ser uma luz extraordinária de caridade e de zelo apostólico, que dissipou grande parte das trevas das heresias e restabeleceu a verdade em milhares de corações vacilantes. Domingos – foi o nome dado à criança, devido à devoção que a mãe do Santo tinha a S. Domingos de Silos, do qual um dia teve uma aparição, comunicando-lhe os planos divinos em referência ao recém-nascido. A esse aviso extraordinário os pais corresponderam com esmerada atenção na educação do filho. Domingos, pequeno ainda, deu provas de inclinação declaradíssima às coisas de Deus.
Seis anos contava o menino, quando os pais o confiaram à direção de um tio, reitor de uma Igreja em Gumyel. Sete anos passou Domingos na escola daquele sacerdote, aprendendo, além das primeiras letras, todos os serviços da Igreja, como sejam, acolitar, enfeitar os altares e cantar no coro. Terminado este curso prático, transferiu-se para Valência, cidade episcopal no reino de Leon, onde existia uma Universidade, que mais tarde, em 1217, passou para Salamanca.
Durante o tempo dos estudos em Valência, isto é, durante seis anos, dedicou-se, além da filosofia e teologia, à arte retórica. Acompanharam-lhe os trabalhos científicos as práticas de piedade, inclusive severas penitências. Retraído por completo do mundo, visitava somente os pobres e os doentes, protegia as viúvas, e órfãos. Por ocasião de uma grande fome, vendeu os livros, para poder socorrer os necessitados. Certa vez se ofereceu a si próprio, para resgatar um jovem, que cairá nas mãos dos mouros.
A caridade de Domingos, não satisfeita com as obras corporais de misericórdia, estendia-se principalmente às necessidades espirituais do próximo. Para este fim desenvolveu um zelo extraordinário, como pregador. O primeiro fruto desse labor apostólico foi a conversão do amigo e companheiro de estudos, Conrado, que mais tarde entrou para a Ordem de Cister, sendo levado à dignidade de Cardeal da Santa Igreja.
Domingos contava apenas vinte e quatro anos e era considerado um dos mais competentes mestres da vida interior. Dom Diego de Asebebes, Bispo de Osma, conhecendo os brilhantes dotes de Domingos, convidou-o a encorporar-se ao cabido da diocese, esperando desta aquisição uma reforma salutar do clero. O Prelado não se viu iludido nas previsões e Domingos era em pouco tempo objeto da admiração de todos, como modelo exemplaríssimo em todas as virtudes cristãs.
Como cônego de Osma, Domingos percorreu diversas províncias da Espanha, pregando por toda parte a palavra de Deus, pela conversão dos pecadores, cristãos e maometanos. Uma das conversões mais sensacionais que Deus operou por intermédio de Domingos, foi a de Reinieris, célebre heresiarca, que mais tarde tomou o hábito dos frades dominicanos.
Domingos não era ainda sacerdote. Do bispo de Osma recebeu a unção sacerdotal, continuando depois a missão apostólica de pregador. Quando em 1204, por ordem do rei Affonso de Castelha, o bispo de Osma foi à França para na qualidade de embaixador real, tratar dos negócios matrimoniais do príncipe herdeiro Fernando com a princesa de Lussignan, Domingos acompanhou-o. Na província de Languedoc puderam de perto observar as horríveis devastações feitas pelos Albigenses. Numa segunda viagem que empreenderam e cujo fim era buscar a princesa e entrega-la ao esposo, tiveram o grande desgosto de não a encontrar entre os vivos. Chegaram ainda a tempo de assistir-lhe ao enterro.
Preferiam então ficar na França, para dedicar-se à campanha contra os hereges. O Bispo Diego, com o consentimento do Papa, ficou três anos na província de Languedoc. Passado esse tempo, voltou à diocese.
A S. Domingos, que foi nomeado superior da Missão, associaram-se doze Abades Cistercienses. Pouco tempo, porém, durou o trabalho coletivo. Dom Diego voltou à Espanha, os Cistercienses retiraram-se para os claustros e o próprio Legado pontifício abandonou o solo francês.
Domingos não desanimou, apesar da missão ter-se lhe tornado dificílima e mesmo perigosa. Com mais oito companheiros, que lhe foram mandados, continuou os trabalhos apostólicos. A inconstância, porém, que encontrou nos coadjutores, fez nele amadurecer a idéia de fundar uma nova Ordem, cujos membros, por um voto, se dedicassem à obra da pregação. Os primeiros que se lhe associaram, foram Guilherme de Clairel e Domingos, o Espanhol. Em 1215 a nova comunidade contava já dezesseis religiosos – seis espanhóis, oito franceses, um inglês e um português. Para assegurar-se da aprovação pontifícia, Domingos, em companhia do Bispo de Toulouse, foi à Roma e apresentou-se ao Papa Inocêncio III. Coincidiu chegar à capital da Cristandade na abertura do Concílio de Latrão. Opinaram os Padres que, em vez de aprovar as regras de novas Ordens, devia o Concílio dirigir a atenção para as Ordens já existentes e aperfeiçoar lhes as constituições. Inocêncio III, baseando-se nessas decisões, negou-se, por diversas vezes, a dar aprovação à regra da Ordem fundada por Domingos. Aconteceu, porém, que o Papa teve uma visão, quase idêntica à que lhe fez aprovar a Ordem de S. Francisco de Assis, em 1209. Não querendo contrariar a obra do santo homem, deu consentimento à fundação da Ordem, prometendo a Domingos expedir a bula, logo que este tivesse adotado uma regra de Ordem já aprovada pela Igreja. Domingos decidiu-se em favor da regra de Santo Agostinho, à qual acrescentou mais algumas constituições, como por exemplo, o silêncio, o jejum e a pobreza.
Quando Domingos, pela segunda vez, chegou à Roma, já não encontrou o
Papa Inocêncio III, mas o sucessor Honório III. Contrariamente ao que receava, obteve a aprovação da Ordem, que veio a ser chamada – dos Pregadores. Nomeado primeiro Superior, Domingos fez a profissão nas mãos do Papa.
Graças à generosidade do Bispo de Toulouse e do conde Simão de Montfort, Domingos pode construir o primeiro convento em Toulouse. O número dos religiosos crescera consideravelmente, de modo que Domingos pode introduzir em a novel comunidade a regra recém aprovada.
Pouco tempo depois, Domingos voltou à Roma e fundou diversos conventos na Itália. Em 1218 foi em Bolonha fundado um convento, perto da Igreja de Nossa Senhora de Mascarella. Um ano depois, teve Domingos a satisfação de fundar outro na mesma cidade, sendo que este, tempos depois, veio a ser um dos mais importantes da Ordem na Itália.
O exemplo de S. Francisco de Assis e o admirável desenvolvimento da Ordem por ele fundada, influiu grandemente no espírito de S. Domingos. A exemplo da Ordem do Patriarca de Assis, introduziu S. Domingos na sua o voto de pobreza em todo o rigor.
S. Domingos convocou três capítulos gerais e teve o prazer de ver a Ordem estabelecer-se na Espanha, em Toulouse, na Provença e na França toda. Conventos surgiram na Itália, na Alemanha e na Inglaterra. O próprio fundador mandou emissários à Irlanda, Noruega, Ásia Menor e Palestina.
S. Domingos morreu no dia 4 de Agosto de 1221, na idade de 51 anos. Numerosos milagres por seu intermédio Deus se dignou de fazer. O Papa Gregório IX inseriu-lhe o nome no catálogo dos Santos, em 23 de Julho de 1234. Muito concorreu para o culto de S. Domingos na Igreja Católica a devoção do Santíssimo Rosário, de que era grande Apóstolo.
Reflexões:
As grandes virtudes que admiramos em S. Domingos devem ser para nós incentivos de imita-lo. A virtude que mais caracteriza a vida desse grande Santo, é o zelo, não só de preservar a alma de todo o pecado, como também de salvar a alma do próximo. Ver uma alma em perigo de perder-se, era para Domingos uma preocupação séria.
Se tivesse um pouco desse zelo apostólico, a miséria espiritual do próximo não te deixaria tão indiferente. Antes de tudo, porém, deves cuidar de tua própria alma. Tua alma é imortal, destinada a gozar da eterna felicidade em Deus. Se não alcançar essa felicidade, terá por sorte o desespero eterno. Os anos que vives aqui na terra, são o começo da vida espiritual na eternidade. Se tua alma é eterna e imortal, sua felicidade não pode estar baseada nos bens deste mundo, que hoje existem e amanhã nenhum valor terão. No dia em que teu corpo for levado ao eterno repouso, o mundo perderá para ti toda a importância e bem depressa será apagada a memória de tua existência. Riqueza, honra, elogios, calúnias e escárnios – tudo passa, mas tua alma ainda existirá! Tolice é, pois, dar ao mundo uma importância que não tem; prestar-lhe honras e atenções, que não merece. A alma é que merece todo o nosso cuidado. O mundo passa, a alma fica. Servir a Deus e tratar de santificar-se é o verdadeiro fim do homem na terra. Tolo é aquele que põe em jogo a eternidade; tolo é aquele que cuida de tudo, menos da eternidade. Se os Santos pudessem ter um pesar, seria, sem dúvida, o de não ter aproveitado ainda melhor o tempo da vida aqui na terra, para servir a Deus. Entra, sem demora, nas pegadas dos Santos e põe tua vida toda inteiramente ao serviço de Jesus Cristo.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 10 de abril de 2025 por Arsenal Católico