Sentido da Ressurreição de Cristo

Hans Rottenhammer, Ressurreição de Cristo [Detalhe], quarto trimestre do 16th século, domínio público, Wikimedia Commons

A Ressurreição de Cristo mostra claramente que a missão de Jesus é divina. Para tornar claro que era verdadeiro Deus não quis retardar a Ressurreição até o fim do mundo e para que acreditássemos que era verdadeiro homem, e que morrera verdadeiramente, não ressuscitou no mesmo instante que morreu e sim ao terceiro dia.

Cristo ressuscitando provou que nossa fé está certa e nos deu esperança segura de que nós também ressuscitaremos, pois somos membros do mesmo corpo, que é a Igreja, da qual Cristo é cabeça.

Por todas estas razões, a Igreja exulta, cantando as glórias do verdadeiro Cordeiro que tira os pecados do mundo.

Consideremos, como, pela sua Ressurreição, Cristo completou a obra de nossa redenção e se tornou modelo e esperança de nossa ressurreição futura.

Completou a obra da nossa redenção porque foi o único que saiu vencedor no duelo entre a morte e a vida, o único que superou a lei da morte e abriu o seu próprio sepulcro. Com sua Ressurreição não somente venceu o pecado e o demônio como nos deu possibilidades de também nós os vencermos. Devemos lutar para vencer com Cristo
para poder celebrar com Ele a Páscoa eterna.

A ressurreição de Cristo, além disso, é para nós esperança sólida de nossa futura ressurreição. Era necessário que Cristo ressuscitasse para manifestar a justiça divina. Convinha obedecer se havia rebaixado e fôra coberto das maiores humilhações. São assim as obras de Deus, sem sofrimento e sem humilhações não recebemos o prêmio da glória. Assim, antes de tudo, aconteceu com o nosso sublime modelo, o Filho de Deus. Também nisso quis ser Jesus nosso exemplo, sendo uma esperança para nós, que sofremos neste vale de lágrimas e um dia haveremos de morrer. “Humilhou-se a si mesmo, diz São Paulo, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz. E por isso é que Deus também o exaltou” ( Filip 2, 8 ss.) .

Além do mais, a ressurreição de Cristo devia fortalecer em nós a fé, sem a qual o homem não pode salvar-se. Cristo disse que era o Filho de Deus, fez mesmo milagres para confirmar sua obra de enviado de Deus, sua própria doutrina tão santa e de moral tão elevada confirmava sua afirmação. Tudo isso leva-nos a crer e fazer o nosso ato· de fé na divindade de Cristo. A sua ressurreição, porém, foi o mais estrondoso argumento, foi a maior ajuda para a nossa fé vacilante: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé”. Mas Cristo ressuscitou, como já vimos, e assim a nossa fé com grande alegria afirma: creio em Jesus Cristo, um só seu Filho Nosso Senhor.

Finalmente, a ressurreição de Cristo devia alimentar e apoiar a nossa esperança. Uma vez que Cristo ressuscitou, temos direito de esperar que também nós havemos de ressurgir. Fazemos parte deste grande corpo, que é a Igreja, fundada por Cristo. Nós somos como outros tantos membros deste corpo. Cristo é sua cabeça. Ora, a cabeça, Cristo, ressurgiu, será que nós, os membros, não acompanharemos? Ficaria o corpo metade vivo, metade morto? É o que afirma São Paulo chamando atenção para a incredulidade de alguns da Igreja de Corinto: “E se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns entre vós que não há ressurreição dos mortos? Pois, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou” ( 1 Cor 15, 12 ss.). E aos da Igreja de Tessalônica: “Porque se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, cremos também que Deus trará com ele aqueles que adormeceram nele”, isto é, que morreram
santamente ( 1 Tess 4, 14) . E já Marta, irmã de Lázaro e Maria, dissera a Jesus, quando lhes prometera ressuscitar seu irmão: “eu sei que haverá de ressuscitar na ressurreição do último dia”. Com isto exprimia ela a fé na ressurreição, fé que ainda não era tão clara como nós a temos, mas que muitos judeus tinham mesmo antes da vinda de Cristo. Talvez Marta já tivesse ouvido falar da ressurreição final, de uma maneira mais clara pelo próprio Cristo. Mas seja como for, porque Cristo ressuscitou, nós também haveremos de ressuscitar, pois ele mesmo disse ser “a ressurreição e a vida”.

Jesus Cristo ressuscitando provou que sua missão e sua doutrina são divinas. Logo, tudo que Ele nos disse é certo, é verdadeiro. Segue-se, então, que é verdade que após a nossa morte nós seremos julgados e iremos para o céu, inferno
ou purgatório, para onde a justiça e a santidade de Deus determinarem, ou ainda poderíamos dizer, para onde nós merecermos com os nossos atos. Mas também é verdade que no juízo final nosso corpo ressuscitará. É dessa ressurreição final que a Ressurreição de Cristo é garantia.

Agradeçamos esta luz de esperança, exclamando com o príncipe dos apóstolos, São Pedro: “Bendito seja Deus, Pai
de Nosso Senhor Jesus Cristo, que segundo sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, nos regenerou para uma esperança viva, para uma herança incorruptível” ( 1 Ped 1, 3 s.).

Portanto, Cristo, que é o nosso modelo, deu-nos o exemplo de como também nós haveremos de ressuscitar. Se vivermos de acordo com os ensinamentos de Jesus, principalmente se nos sacrificarmos por Cristo e pela sua Igreja,
pois não é possível viver cristãmente sem aceitar a sua cruz, se tivermos um grande amor aos nossos irmãos, fazendo
apostolado, nós ressuscitaremos gloriosamente, no final dos tempos, e seguiremos a Cristo Ressuscitado.

Se cumprirmos com a lei de Deus e da Igreja, se trabalharmos bastante pela nossa santa religião, se praticarmos atos de virtude, se não perdermos nosso tempo em futilidades, mas ao contrário o empregarmos em conhecer, amar e servir a Deus, nós ressuscitaremos com nosso corpo glorioso.

Mas os que renegaram a Cristo, nesta vida, ressuscitarão com um corpo horrível, que é imagem e semelhança de Satanás.

Nós queremos ser imagens e semelhanças de Jesus Cristo Ressuscitado. Não foi sem razão que o Brasil levantou, na capital da República, no alto do Corcovado, uma imagem belíssima de Cristo Redentor. É para que todos os brasileiros desejassem ser imagens e semelhanças de Cristo.

Devemos levar uma vida imitando a Cristo ressuscitado. Devemos fazer com que nosso coração se torne semelhante ao Coração de Cristo ressuscitado. Deve ser também modelo da nossa ressurreição espiritual, isto é, da morte do pecado para o arrependimento e para a vida da graça. Como tão belamente diz São Paulo: “Se ressurgistes com Cristo, procurai o que está no alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” ( Col 3, 1).

Agradeçamos a grande graça de nossa Redenção fechada com a chave de ouro da ressurreição. Vivamos sempre
bem, em estado de graça, esperando a nossa futura ressurreição como Cristo e para junto de Cristo. Que nos nossos
túmulos se possa escrever esta frase: “Aqui jaz quem espera a ressurreição futura”.

Exemplos: 1º Na Rússia antiga quando a fé não era privilégio de alguns poucos e assim mesmo de um modo todo escondido como hoje em dia, a ressurreição de Cristo era celebrada de um modo todo solene. Além das belíssimas
cerimônias da Igreja, o povo tinha o belo costume de ao se encontrarem beijarem-se mutuamente dizendo: “Irmão,
Cristo ressuscitou!” Ao que outro respondia: “Ressuscitou verdadeiramente”. O imperador Nicolau I, seguindo este costume, passou pela sentinela de sua moradia particular, no dia de Páscoa. Estando este em posição de apresentar armas, o imperador dirigiu-lhe a costumada pergunta. Qual não foi o seu espanto ao ouvir em resposta: “Não, meu pai, não é verdade”. Incomodado, repetiu com voz mais alta, pensando não ter sido entendido: “Irmão, Cristo ressuscitou!” O soldado, porém, pálido e imóvel, retrucou: “Não, meu pai, não é verdade”. Cheio de raiva, desembainhando a espada, o imperador brada ao soldado: “Imbecil, por que negas a verdade?” “Porque sou judeu, filho de judeus, e minha verdade não é a tua”. Nicolau I colocou a espada na bainha e sorriu cheio de compaixão. Sim, este pobre soldado judeu não reconhecia Cristo, para ele infelizmente não existia a suprema verdade e esperança da ressurreição de Cristo.

2º E de Santa Margarida Mártir, narra-se que foi presa pelo governador romano que lhe disse: “Como podes crer uma tolice dessas, que um homem morto na cruz seja Deus?” A virgem respondeu: “Como sabe o senhor que Jesus morreu na cruz?” Replicou o governador: “Porque vossos próprios evangelhos o dizem”. Retrucou Margarida: “Mas os mesmos evangelhos dizem também que Jesus ressurgiu, portanto Jesus é Deus. Como pode crer uma e negar outra coisa que as mesmíssimas testemunhas afirmam?” O governador pagão, não sabendo responder, ficou muito incomodado e mandou matar a santa e assim entrou na glória do Senhor como mártir, testemunha da ressurreição de Cristo.

Oração. – Oh! Deus, que pela ressurreição de vosso Filho Unigênito vencestes a morte e nos abristes a porta da vida eterna, ajudai com vosso auxílio os santos desejos e a esperança de nossa futura ressurreição, que em nós suscitou a gloriosa ressurreição de Vosso Filho Jesus Cristo que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos. Amen.

Com alegria e amor a Jesus Ressuscitado rezemos o “Creio em Deus Pai . . . “

Resolução: Nossa ressurreição espiritual neste mundo se obtém na confissão. Tendo a desgraça de cometer um pecado grave, não retardarei nunca a minha confissão. Também, todas as noites, antes de dormir rezarei o meu ato
de contrição.

Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958.

Última atualização do artigo em 5 de abril de 2025 por Arsenal Católico

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