Sentimentos duma alma arrependida

Ó meu Redentor, que derramastes todo o sangue e destes a vida para salvar a minha alma, quantas vezes a perdi abusando da Vossa misericórdia! Apoiei-me, pois, na Vossa bondade para mais Vos ofender! Em punição, merecia ser salteado subitamente pela morte e precipitado no inferno: Vós e eu temos rivalizado em persistência: Vós em fazer-me misericórdia, e eu em Vos ofender; Vós, em procurar-me, e eu, em fugir longe de Vós; Vós, em me dar tempo para reparar os meus pecados, eu, em servir-me dele para acrescentar injúria à injúria! Senhor, auxiliai-me eficazmente a conhecer a grandeza das minhas ofensas a Vós, e a obrigação que tenho de Vos amar. Ah! meu Jesus, tão caro Vos era eu assim para me buscardes quando Vos fugia? como pudestes dar tantas graças àquele que Vos causou tantos desgostos? Em tudo isto vejo quanto desejais não me perca. Arrependo-me de todo o coração de Vos haver ofendido, ó Bondade infinita! Ah! recebei esta ovelha ingrata que, movida pelo arrependimento, vem aos Vossos pés; tornai-a e ligai-a sobre os Vossos ombros, a fim de que não se aparte mais de Vós. Não, não quero separar-me de Vós; quero amar-Vos e pertencer-Vos; uma vez que seja Vosso, aceito todas as penas. Ai! que pena maior poderia ferir-me que viver sem a Vossa graça, separado de Vós, meu Deus, meu Criador e meu Redentor. Ó malditos pecados, que tendes feito? vós me fizestes desagradar ao meu Salvador amantíssimo. Ah! meu Jesus, eu devia morrer por Vós como o fizestes por mim, mas a Vossa morte, foi morte de amor, ao passo que a minha devia ser morte de dor por Vos
ter desprezado. Aceito-a no tempo e da maneira que fordes servido me enviar. Ai! até aqui não Vos amei, ou Vos amei muito pouco; não quero morrer assim. Concedei-me ainda um pouco de vida, a fim de que possa Vos amar antes de morrer: dignai-Vos então de mudar o meu coração, feri-o, inflamai-o com o Vosso santo amor; isto Vos peço pelo sentimento de caridade que Vos fez morrer por mim. A minha alma está enlevada de amor para conosco.

As Mais Belas Orações de Santo Afonso, Coordenadas pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista e vertidas para o vernáculo por D. Joaquim Silvério de Sousa, Editora Vozes, 1961.

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