Só aquele que perseverar até ao fim, se salvará. (Mat. XXIV, 13).
Jovem Cristã, resta-te ainda largo caminho para chegares ao termo. Começaste bem, mas é preciso continuares e perseverares até ao fim.
É a perseverança final, e não os bons começos nem a sua continuação, que nos assegura a coroa de glória.
A fé ensina-nos, que ela é uma graça especial de Deus, que se pode merecer com a fidelidade à graça.
Se cruzares os braços, julgando-te segura, podes num momento perder todos os bens que entesouraste com tanto trabalho. E então, serias muito mais ingrata e digna de castigo. Arma-te pois, de fortaleza e constância, porque os teus inimigos não descansam, e a luta é inevitável.
A primeira condição para alcançar a vitória, é conhecer o inimigo. O teu vive dentro em ti; leva-lo para toda a parte: é aquela tríplice concupiscência, que em todo o tempo te está solicitando a pecar.
Contra ele não há outras armas, além do ódio ao pecado, que é o maior e o único mal que pode haver.
Quem detesta o pecado, foge das ocasiões; e ir voluntariamente ao encontro delas, constitui já um pecado.
Debalde te lisonjeias de o odiares, se não evitas aqueles lugares, pessoas, negócios, livros e diversões, que te levam, como sabes por experiência, a ser infiel a Deus. E quem ama o perigo, nele perecerá (1). Quantas vezes verificaste em ti esta verdade? Quando te resolverás por fim, a ser prudente.
Quem detesta o pecado, não se diverte com a tentação, mas expulsa-a, logo que ela se apresenta.
Quem detesta o pecado, refreia os sentidos, pois não ignora que eles são janelas por onde entra a morte. Quem tudo quer ver, ouvir e saber, não pode conservar a alma pura.
Se Deus me fez senhor das criaturas, como hei de permitir que elas se senhoreiem de mim?
Mas Ele não me outorgou a sua soberania absoluta; reservou para si o domínio supremo sobre elas e sobre mim, não podendo, por isso, eu servir-me delas conforme o meu capricho, mas conforme a sua vontade.
O homem, imagem viva de Deus, pode e deve, em virtude da sua inteligência e livre vontade, conhecer a Deus, e amá-lo; as outras criaturas, porém, só podem contribuir medianamente para o glorificar, servindo ao homem de meio para o conhecer, e levando-o a amá-lo, a glorificá-lo e a mostrar-lhe a sua gratidão.
É um crime, afastar as criaturas do seu fim, considerá-las como absolutamente nossas, quando pertencem a Deus, mais ainda, usar delas contra o seu criador, e obrigá-las a revoltar-se contra Ele! Não é isto transtornar a ordem estabelecida por Deus, usurpar os seus bens e a sua honra?
Oh geração perversa e depravada! Povo néscio e louco, é assim que pagas ao teu Senhor? (2)
Mas virá um dia, em que essas mesmas criaturas, livres (3) já da escravidão do pecado, armarão o braço de Deus para se vingar dos seus inimigos, e dos que abusaram delas (4).
Donde vem a indescritível miséria, que se observa no meio de grandes riquezas,o vácuo do coração que existe no meio de toda a sorte de felicidade exterior e o descontentamento que se nota, no meio de tanta abundância? Donde, senão do mau uso das criaturas?
Aprende agora, onde está a verdadeira sabedoria, que consiste em ver em todas as criaturas o Senhor, que no-las deu, em usarmos delas segundo a sua santíssima vontade, em renunciar às que nos são prejudiciais, e se opõem ao seu querer soberano, em nos servirmos delas com moderação e conforme ao fim para que elas e nós fomos criados.
Que loucura inquirir se as coisas são doces ou amargas, agradáveis ou desagradáveis, fáceis ou difíceis! Pergunta antes: Levam-me ou não ao meu fim? Será isto da vontade de Deus, ou quererá ele que eu proceda de outro modo?
Serve-te das criaturas ou renuncia a elas, conforme te ajudarem ou se opuserem à tua salvação; agradáveis ou desagradáveis, usa ou priva-te delas conforme te servirem ou não para o teu fim.
E a juventude, sempre tão leviana, a considerar como sólido exatamente o que é vão, como bom o que brilha aos olhos, e como útil o que deleita os sentidos!
Coroemo-nos de rosas, antes que murchem (5), e gozemos dos bens que se nos apresentam, porque a juventude passa rápida (6).
Assim pensam eles, enganosamente, porque se deixaram cegar pela malícia do coração, desprezaram os secretos desígnios de Deus, e negaram a dignidade das suas almas santas (7), colocando-as abaixo das criaturas.
Não sejas assim. Levanta-te à altura da tua dignidade, como filha de Deus. O resto coloca-o debaixo dos pés.
Oxalá que não te vejas obrigada a exclamar um dia: Desviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não nos alumiou, e o sol da inteligência não amanheceu para nós. De que nos serviu a soberba, e a jactância da riqueza? tudo desapareceu, tudo passou como a sombra (8).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecl. III, 27.
(2) Deut. XXXII, 5-6.
(3) Rom. VIII, 21.
(4) Sab. V, 18.
(5) Sab. II, 8.
(6) Sab. II, 6.
(7) Sab. II, 21-22.
(8) Sab. V, 6-9.
Última atualização do artigo em 6 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico