Um homem fez uma estátua de bronze. A estátua saiu muito perfeita. Foi colocada numa praça pública. Porém o escultor nunca mais a viu. Nem se preocupou com sua sorte. Mesmo depois de morto o escultor, a estátua continuou
na praça porque era de bronze e muito admirada por todos.
O que sucede com a estátua não acontece com uma criança. Esta precisa do cuidado constante de seus pais para se criar. Sua mãe a alimenta e cuida de todas as suas necessidades. Quando está maior procura instruí-la. Mesmo depois de grande, os pais não deixam de pensar em seus filhos, de se interessar pela sua vida e pela sua felicidade.
Deus não é um escultor nem um relojoeiro, que fez o mundo de uma vez e deixou-o viver por sua própria conta. Deus é um pai, que deu a vida, e continua criando os seus filhos, que cuida de suas necessidades e se interessa por que sejam felizes.
Deus é muito mais que um pai e uma mãe; porque a cada instante está nos dando a vida e tudo o que temos. Um filho crescido pode dispensar o cuidado de seus pais; porém ninguém pode viver sem o auxílio constante de Deus. Nem o maior santo, nem o anjo mais perfeito. Principalmente estes: pois quanto maior é a criatura mais necessidade tem de Deus. Tudo que têm é dom, graça, esmola, misericórdia de Deus.
Deus nos conserva na existência. Como alguém que sustenta um peso na mão, Deus nos conserva a vida. Se nos largasse um instante, nada restaria de nós. Deus nos criou do nada. Voltaríamos para o nada donde Deus nos tirou. Como a lâmpada elétrica, só tem luz se a usina está funcionando e mandando energia pelo fio. No mesmo instante que pára a usina ou se corta o fio, a luz se apaga. Nós só existimos recebendo a cada instante a vida de Deus, como se Ele sempre estivesse criando sem parar.
Isto nos deve dar um grande respeito e temor de Deus. Dependemos tanto d’Ele, é o Nosso Senhor. Como ousaríamos empregar para ofender a Deus a vida que Ele nos dá, a força que nos concede?
Deus é nosso Pai. Dá-nos a vida, nos cria, e está sempre cuidando de nossa felicidade. Jesus Cristo no Evangelho insiste muito para que tenhamos grande confiança em Deus, nosso pai dos céus. Faz nascer o sol sobre os bons e maus. Tem mais cuidado de seus filhos do que das aves do céu e das flores do campo que veste com tanto esplendor. Não devemos viver preocupados com o dia de amanhã, nem com a comida e a bebida. Nosso pai sabe o que precisamos antes mesmo de pedirmos, embora Ele deseje que a peçamos, para mostrar nossa dependência.
A providência divina é tão cuidadosa e terna que a comparação do amor de pai ainda não dá uma idéia de sua bondade. Deus mesmo usou da comparação do amor paterno para nos dar uma idéia mais aproximada. Assim Deus disse pelo profeta: pode acaso uma mãe esquecer do filhinho que trouxe nas entranhas? Pois mesmo que ela se esquecesse Eu não me esqueceria de vós, diz o Senhor onipotente.
Existe em Turim, na Itália, uma obra chamada a Pequena Casa da Divina Providência. É pequena só no nome porque é uma verdadeira cidade com vários milhares de habitantes, que são pobres, aleijados, órfãos, doentes e até monstros humanos. O fundador da “Pequena Casa”, o Beato Cottolengo, tinha tal confiança na Divina Providência que não guardava dinheiro que sobrasse de um dia para outro: atirava-o pela janela.
Hoje a “Pequena Casa” impressiona a todos os visitantes, que contemplam com seus olhos o milagre permanente da Divina Providência: nem mesmo no tempo de guerra, quando faltou pão em casa de ricos, nada faltou aos abrigados da Divina Providência.
Esta também é, embora em menores proporções, a vida de muitas obras católicas, que milagrosamente são sustentadas por Deus.
É bom saber que, no Brasil, os católicos mantêm cerca de sessenta por cento das obras de assistência social e de
beneficência, ficando os outros quarenta por cento para o governo, as organizações oficiais, os protestantes, os espíritas e todas as outras entidades e associações. A diferença, porém, é que as outras religiões e entidades fazem muita propaganda, muito barulho e as organizações católicas querem fazer o bem, praticar a caridade, sem alarde, conforme Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou.
O que é interessante observar é que os comunistas que tanto falam em beneficiar os operários só sabem sugar o dinheiro dos pobres e nada fazem para melhorar as suas condições. Quem está resolvendo o problema das favelas do Rio de Janeiro é a Cruzada de São Sebastião da Igreja Católica, Apostólica, Romana. Mas voltemos às nossas considerações.
Se alguém merece nossa confiança é Deus. Porque nos ama, e sabe o que faz. Sabe melhor do que nós o que é que nos convém. Uma criança nem sempre recebe dos seus pais tudo o que deseja. O pai lhe nega muitas coisas porque sabe que não lhe convém. Também o pai obriga a criança a fazer coisas desagradáveis, por exemplo, manda-a estudar,
tomar remédios, injeções, fazer operação. O filho não gostaria daquilo, mas se sujeita porque sabe que seu pai lhe manda o que é mais conveniente, sabe melhor do que ele e lhe quer muito bem.
Assim o cristão não deve pensar que Deus não lhe quer bem quando lhe manda sofrimentos. Deus permitiu que Jesus Cristo e Maria sofressem muito. E Jesus era o Filho de Deus feito homem. E Maria era a mãe de Deus. Será que Deus não queria bem a Jesus e a Nossa Senhora? Claro que sim, e precisamente por isso lhes permitia o sofrimento para lhes dar uma glória imensa.
A providência divina cuida de nós, com muito amor. Mas não promete a ninguém dar o paraíso neste mundo. O céu está reservado para depois da morte. Os sofrimentos desta vida não são motivos para duvidarmos da providência, mas sim ocasiões de praticar a resignação, paciência, a conformidade com a vontade de Deus.
Purificam a nossa alma, satisfazem pelos nossos pecados, nos unem a Jesus Cristo crucificado, em quem estão todas as fontes da misericórdia de Deus e de nossa salvação.
Exemplo: O Santo Job é o melhor exemplo da confiança na providência. Deus permitiu que este homem perdesse tudo: riqueza, família, saúde. Porém no maior sofrimento ainda bendizia Deus e confiava na providência divina: “Deus me deu, Deus me tirou, bendito seja o seu santo nome”. Nosso Senhor lhe restituiu tudo, até muito mais do que ele possuía antes.
Job saiu das provações com grandes merecimentos de Deus. Sua confiança e paciência eram uma prova de muito amor, davam grande glória à providência divina. Por isso sua história está na Bíblia para exemplo de todos os homens até ao fim dos tempos.
Oração. – Pai nosso que estais no céu, confiamos na providência que tendes para com vossos filhos. Estamos tranquilos nas vossas mãos, certos de que vosso amor, poder e sabedoria sabem muito bem como governar o mundo e dar a nós tudo o que precisamos. Muito obrigado, Senhor, por todas as graças que a cada instante estamos recebendo de vós. Que todos os homens reconheçam e glorifiquem vossa providência, Pai dos céus, por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amen.
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Com grande confiança na providência divina rezemos, todos, o “Creio em Deus Pai . . . “
Resolução: Nas horas mais difíceis redobremos nossa confiança em Deus e repitamos frequentemente: “Meu Deus,
tenho confiança em Vós”.
Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958.
Última atualização do artigo em 17 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico