A Tradição existe

A Tradição

Nós cremos tudo o que a Bíblia ensina, porque, como vimos, a Bíblia é a palavra de Deus escrita. Cremos e devemos crer em tudo o que Jesus Cristo ensinou. Mas nem tudo o que Jesus ensinou foi escrito. Jesus ensinou muitas coisas que não foram escritas. São João termina o seu Evangelho dizendo: “Muitas outras coisas fez Jesus, as quais se fossem escritas uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que seria preciso escrever” (21, 25). Essas coisas, que não estão na Bíblia, mas foram reveladas por Deus, constituem a Tradição.

A Tradição existe

Jesus nunca escreveu nenhum livro, nem mandou que os Apóstolos escrevessem livros. Jesus pregou oralmente, e mandou que os Apóstolos pregassem: “Ide e pregai” (Mt 10, 7). “Ide e ensinai” (Mt 18, 18).

Os Apóstolos pregaram e ensinaram o que tinham ouvido e aprendido de Cristo. Dos 11 Apóstolos escolhidos por nosso Senhor, somente dois escreveram, e um deles declarando que deixava de dizer muitas coisas. As Epístolas dos outros Apóstolos foram cartas enviadas particularmente às igrejas.

O valor da Tradição nós encontramos claramente nos ensinamentos de São Paulo. Ele lembra aos tessalonicenses que eles receberam a palavra de Deus pela pregação, e lhes diz: “Conservei as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta” (2 Tess 2, 14). E na Epístola aos romanos diz também São Paulo que “a fé vem pelo ouvido” (10, 17).

É palavra de Deus

Do mesmo modo que a Bíblia, a Tradição também é palavra de Deus. Todas dias foram reveladas por Deus: têm Deus por inspirador. A única diferença é que uma foi escrita, e a outra não foi. A Bíblia é a palavra de Deus escrita; a Tradição é a palavra de Deus não escrita. Jesus ensinou verbalmente aos apóstolos; estes ensinaram aos seus discípulos, os quais transmitiram aos outros, sendo assim conservada pelos legítimos pastores da Igreja.

É por isto que a Igreja Católica dá tanto valor à Bíblia como à Tradição: porque ambas são a palavra de Deus. E o que os Apóstolos ouviram de Cristo e ensinaram, tem o mesmo valor que as coisas que eles ouviram de Cristo e escreveram.

Como se conserva

Não há dificuldade nenhuma no modo de se conservar a Tradição. Se houvesse perigo de se perder o que Jesus ensinou, ele teria escrito livros, ou teria mandando aos Apóstolos que escrevessem, para não se perder ou não se deturpar a sua doutrina. Uma vez que Cristo não fez nem uma coisa nem outra, é porque havia de assegurar a conservação da sua doutrina.

1. O modo mais seguro de garantir a Tradição é o ensino vivo da Igreja: o Papa e os Bispos. O ensino é o mesmo; os Papas vão garantindo de geração em geração a doutrina de nosso Senhor.

2. A Tradição se conserva pelos Símbolos. Os Símbolos são resumos simples e breves das verdades ensinadas pela Igreja. Os mais conhecidos são o Símbolo dos Apóstolos, o qual, se não foi compostos pelos Apóstolos (como em geral se diz), contém as doutrinas ensinadas por eles; o Símbolo nicenoconstantinopolitano (1) que é o Credo da Missa; e o Símbolo de Santo Atanásio, que se refere particularmente ao Mistério da Santíssima Trindade.

3. Conserva-se a Tradição pela Liturgia. A Liturgia contém as preces e as cerimônias do culto da Igreja. Nessas preces e nesses ritos não pode haver nenhum erro, porque essas coisas estão unidas intimamente aos dogmas. “A lei de rezar é a lei de crer”.

4. Conserva-se igualmente a Tradição pelos escritos dos Santos Padres, que nos deixaram o ensino das crenças dos seus tempos. E nós vemos que essas são as crenças de todos os tempos. Há particularidades interessantes neste ponto. Por exemplo: São policarpo foi discípulo de São João, e foi mestre de Santo Irineu; de modo que santo Irineu podia saber, com toda segurança, por intermédio de São policarpo, o que Jesus ensinou aos Apóstolos.

5. A Tradição se conserva ainda pela arte cristã. Por exemplo: se nós encontramos imagens de Cristo e dos Santos nos primeiros tempos do Cristianismo e nos demais séculos, é porque os primeiros cristãos não julgavam isto uma idolatria, e, portanto, é legítimo o culto dos Santos e das imagens.

A regra de fé

Se a regra de fé fosse somente a Bíblia, ficaríamos em grandes dificuldades. 1) Perderíamos muita coisa que Jesus ensinou. 2) Como se arranjariam os que não sabem ler? 3) Há muita gente que sabe ler, mas não tem tempo para ler a Bíblia. 4) A Bíblia é difícil de compreender, e seria fácil torcer o sentido de coisas que são de primeira importância.

Os protestantes têm a Bíblia como única regra de fé. O resultado é que ninguém se entende no protestantismo: uns negam o que outros ensinam, e vivem se combatendo. Interpretam a bíblia de maneiras diversas, e os erros se multiplicam entre eles. Quer dizer que a Bíblia não basta.

Para nós, católicos, a regra de fé e o ensino da Igreja. A Igreja tira o seu ensino da bíblia e da tradição, e no-lo transmite.

Para viver a doutrina

O ensino vivo e infalível da Igreja sustenta a nossa fé. Sem ele, perderíamos o sentido da Revelação. Sem ele, a própria doutrina de Cristo não chegaria até nós. Ou ficaríamos sem saber qual é a verdadeira doutrina de Cristo, como estão os protestantes.

A primeira obrigação de um católico, em matéria de fé, é uma grande submissão ao que a Igreja ensina. Ela é a depositária da revelação. O que valeria para nós a Bíblia, sem a Igreja? Nada. Nós a leríamos, discutiríamos, cairíamos em contradições, interpretaríamos segundo os nossos desejos, como fazem os pobres dos protestantes. Mas quando a Igreja ensina, temos certeza de que a sua doutrina é a verdadeira: – tirada da Bíblia e da Tradição.

É muito importante para um católico conhecer a doutrina da Igreja. Portanto, estudar a Religião. O conhecimento da religião nos indica os caminhos que devemos seguir na vida. Além disso, serve muito para fortificar a nossa fé.

Hoje em dia, muitas coisas concorrem para enfraquecer a fé. Muitos erros são ensinados, muita depravação de costumes, muita ignorância sobre o ensino da Igreja. Por isso mesmo, precisamos conhecer o que ensina a santa Madre Igreja. Mais do que nunca, precisamos estudar a Religião.

A afirmação de nossa fé é um dever. Temos obrigação de professar a nossa fé. Fazemos isto por meio dos Símbolos. Devemos recitar sempre o Símbolo dos Apóstolos, que é um resumo admirável. Na Missa, acompanhemos o padre, quando reza o Credo. Repitamos, todos os dias, o nosso ato de fé: “Creio tudo o que crê e ensina a santa Madre Igreja”.

A Doutrina Viva – Catecismo do Pe Álvaro Negromonte, Editora Vozes, 1939.

(1) Chama-se assim porque foi composto pelo Concílio de Nicéia, contra Ario, em 325, tendo sido depois acrescentada uma frase pelo Concílio de Constantinopla, no ano de 381.

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