Carta de Santa Catarina de Sena a um homem em pecado mortal

Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo irmão, eu, Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no Seu precioso sangue, desejosa de vos ver repudiando o pecado mortal.

É que, de outro modo, não podereis receber a graça divina em vossa alma. Mas nem vós, nem qualquer outra pessoa alcançará a graça sem a iluminação divina (da fé), que dê a conhecer a relevância do pecado e o valor da virtude. Ninguém ama o que desconhece.

Assim, é impossível conhecer e amar algo digno de amor ou repudiar algo digno de repúdio, sem a fé. Portanto, precisamos da luz da fé, que é a pupila da nossa inteligência, supondo que o amor-próprio não a tenha obscurecido. Havendo egoismo na alma, cumpre eliminá-lo, para que nosso olhar interior não seja impedido. Através do amor santo, é preciso afastar o perverso amor da sensualidade, que abafa a graça divina na alma e corrompe toda a actividade. Acontece como numa árvore contaminada, cujos frutos são podres. 

A pessoa cheia de amor sensual perde o sentido da gravidade do pecado mortal. Toda a sua actividade se corrompe, desaparece a sua luz interior. Nas trevas, a alma deixa de ver a verdade. Mais ainda, a sensibilidade espiritual e a tendência da alma são prejudicadas, de modo que as coisas boas lhe parecem más e as más parecem boas. Quem foge do amor a Deus e ao próximo, põe a felicidade nos prazeres e orgias deste mundo. E, quando ama alguém, não o faz por causa de Deus, mas para a própria utilidade. Ao contrário, quem eliminou todo o amor sensual ama o Criador acima de tudo e o próximo como a si mesmo. Mas, para chegar a tal amor, é preciso que a inteligência, iluminada (por Deus), reconheça antes o próprio nada, sua dependência de Deus quanto ao ser e a todo o mais que possui.

Apenas então a pessoa se conhece a si mesma, a própria imperfeição, e como Deus é bom. Também condena a própria imperfeição e a sua fonte, que é o egoísmo. Passa a amar a vida virtuosa por amor do Criador, dispõe-se a sofrer toda dificuldade para não ofender a Deus e não prejudicar a vida na virtude. Enfim, orienta todas as suas actividades espirituais e materiais a Deus. Em qualquer estado de vida se encontre, ama e teme o Criador. Assim, se possui riquezas, alta posição social, filhos, parentes e amigos, tudo considera emprestado, não como coisa sua. E tudo usa disciplinadamente, sem abusos.

Vivendo no matrimónio, comporta-se segundo as normas do sacramento e as leis da santa Igreja. Tendo de conviver com outras pessoas e servi-las, age sem interesses pessoais, sem fingimento, livre e comprometida somente com Deus. Ele regulamenta as faculdades da alma e os sentidos corporais: orienta a memória para recordar-se dos benefícios divinos; a inteligência para conhecer qual é a vontade de Deus, que apenas quer a nossa santificação; a vontade, para amar o Criador acima de toda outra coisa. Assim reguladas as faculdades da alma, põe ordem nos sentidos.

É o que vos peço fazer, caríssimo irmão. Organizai vossa vida, procurai compreender a gravidade do pecado e a imensidão da bondade divina. Se o fizerdes, sereis do agrado divino em todas as condições em que vos encontrardes. Sereis uma árvore frutífera de santas e autêntica virtudes. Já neste mundo começareis a gozar as garantias da vida eterna. 

Julgando eu que de nenhum modo poderemos alcançar a paz, a quietude e a graça (divina) sem a iluminação da fé – que nos permite conhecer a nós mesmos, a gravidade do pecado mortal, a bondade divina e o tesouro das virtudes – afirmei que desejava vos ver repudiando o pecado mortal. Espero que assim façais.

Nada mais acrescendo. Permanecei no santo e doce amor de Deus.

Jesus Doce, Jesus amor.

Fonte: senzapagare

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