Comentário Apologético do Evangelho Dominical – 1º Domingo do Advento
EVANGELHO – (Luc. XXI. 25-38)
25. Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Haverá sinais no sol, e na lua, e nas estrelas, e na terra consternação dos povos pela confusão do bramido do mar e das ondas:
26. Mirando0se os homens de susto, na expectação do que virá sobre todo o mundo: por que as virtudes dos céus se abalarão:
27. E então verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade.
28. Quando começarem, pois a cumprir-se estas coisas, olhai e levantai as vossas cabeças: porque está próxima a vossa redenção.
29. E disse-lhes esta comparação: Vêde a figueira e todas as árvores:
30. Quando começarem a desabrochar, conheceis que está perto o estio.
31. Assim também quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus.
32. Em verdade vos digo que não passará esta geração, sem que todas estas coisas se cumpram.
33. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
COMENTÁRIO APOLOGÉTICO
A Existência de Deus
O Evangelho de hoje, início do ano eclesiástico, nos coloca, de relance, diante da cena terrificante do fim do mundo e do Juízo universal.
Olhai e levantai as vossas cabeças, diz o Salvador, … passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
Eis pois, no meio dos seres, coisas que passam e um Ser que não passa, mas que é eterno, o princípio de tudo.
O que passa é este mundo, o que não passa é Deus.
E há gente que ousa afirmar, de boca e pela sua vida que Deus não existe. O Espírito Santo nos avisa que tais idéias vêm da boca e não da inteligência: O insensato diz em seu coração: não há Deus! (Psal. 13).
Seria triste ser obrigado a convencer um filho de que teve pai; mais triste é ver um homem negar que é filho de Deus.
Em frente da cena tremenda do fim do mundo e do Salvador vindo sobre uma nuvem com grande poder e majestade, demonstremos claramente:
1º Que Deus existe verdadeiramente;
2º Que Deus é um Ser pessoal.
Refutaremos, deste modo, as teorias dos ateístas que negam Deus, e as dos panteístas que afirmam que Deus é o universo.
I. DEUS EXISTE
Chamamos Deus o Ser supremo, a causa primeira de tudo o que existe; Aquele que existe por si mesmo, de quem tudo depende e que não depende de ninguém.
Os que negam a existência de Deus chamam-se: ateus.
Há bastante ateus de vida, vivendo como se não houvera Deus, porém, não há ateus de convicção, porque toda convicção exige motivos de convicção, e estes não podem ser encontrados.
Entre as numerosas provas da existência de Deus, limitemo-nos às três seguintes:
a) A fé do gênero humano.
Todos os povos, de todos os tempos, acreditaram na existência de um Ser Supremo, ou Deus. É a convicção fundamental do gênero humano.
É tão natural ao homem crer em Deus, quão natural é ás crianças crerem em seus pais.
A crença em Deus não vem da ciência, nem dos homens, vem da natureza e da razão, como expressão de uma verdade ineluctável.
b) A ordem e a beleza do universo.
Examinando o mundo, encontramos nele uma ordem admirável em sua organização e funcionamento. Tudo se sucede no tempo marcado, sem vacilação, sem alteração. O mundo é um verdadeiro relógio.
Na união e na variedade das suas partes o mundo constitui uma obra prima, inimitável, de poesia, de pintura, de audácia e de harmonia.
Se a existência de um relógio prova a existência de um relojoeiro; se a beleza de um quadro prova a existência de um artista; um quadro inimitável indica necessariamente um Artista Supremo.
c) A existência do gênero humano.
Ninguém pode criar a si mesmo, pois si se pudesse criar, este novo ser criado jã não seria o que criou, visto este último já existir.
Ora, o homem existe.
Logo teve um Criador.
Cada um de nós é obrigado a confessar que recebeu a vida de outrem, e este outro – de mais outro, até chegar a existência do primeiro, que a recebeu de Deus.
O primeiro deu a vida, mas não a recebeu de ninguém: é único. É Deus. Logo existe.
Ninguém dá o que não possui. Deus dá a vida. Logo Ele a possui.
II. DEUS É UM SER PESSOAL
Deus é uma personalidade. Não somente Ele existe, mas existe completamente distinto da obra que criou, como o artista é distinto da produção de suas mãos.
A categoria dos insensatos que admitem a existência de Deus, mas que dizem não ter personalidade distinta das coisas criadas, chama-se a dos panteístas.
O ateísmo e o panteísmo são os dois extremos afastados da verdade: os primeiros não admitem a existência de Deus; os segundos pretendem loucamente que tudo seja Deus, de modo que na opinião deles há identidade substancial entre Deus e o mundo. É como se alguém dissesse que o pedreiro e a casa que ele constrói são uma só e mesma coisa.
O homem sente a necessidade de Deus, a impiedade não podendo arrancar este sentimento inato, fabrica um deus que tem este nome, mas não tem o poder que tal título supõe.
Deus não é mais alguém, é uma coisa.
Deus não é mais uma pessoa que governa; é o universo que se governa por si!
Tal Deus não incomoda a ninguém, porque não é ninguém.
O panteísmo, para sustentar tal hipótese, é obrigado a afirmar que a mesma substância (o universo) é ao mesmo tempo: finito e infinito, mutável e imutável, passageiro e eterno, ou simplesmente: preto e branco, grande e pequeno, pois reúnem num termo único dois elementos radicalmente opostos.
As consequências de tal hipótese são imorais, pois se tudo é Deus: Deus é composto do que há neste mundo: erro e verdade, crime e virtude, ignorância e ciência.
Deu duas uma: é preciso negar a existência de Deus – o que é impossível – ou admitir um Deus – ignorante, mentiroso, vicioso.
Em outros termos: é preciso pegar a evidência ou afirmar o absurdo: pois divinizar tudo é tudo justificar.
III. CONCLUSÃO
Como acabamos de ver, o ateísmo e o panteísmo: nenhum Deus ou: tudo Deus, são dois irmãos gêmeos, duas formas da incredulidade, do vício.
Deus existe: para prova-lo o basta seguir o conselho do divino Mestre: Levantai as vossas cabeças, e examinai o mundo. Em cada uma das suas peças constitutivas está escrito, em letras flamejantes, o nome do Criador, do ser Supremo.
Ora, o ser supremo é necessariamente único; sendo único, é também necessariamente um ser pessoal uma personalidade distinta de tudo o que existe neste e no outro mundo.
Tão pessoal é ele que o evangelho no-lo apresenta como vindo numa nuvem com grande poder e majestade, para, no fim dos tempos, julgar o universo.
EXEMPLOS
Resposta de um menino
Um sapateiro disse um dia a seu aprendiz, menino muito religioso:
– Olhe, pequeno, este negócio de crer me Deus é beatice… Deus não existe, o mundo se fez por si.
O menino respondeu com calma:
– Mas, neste caso, é mais fácil fazer um mundo do que um sapato.
Diálogo no trem
– O mundo funciona sozinho. Não há precisão de Deus para explicar o seu movimento.
– Olhe, a porta do carro se fecha também sozinha, basta uma mola. Não há, pois, precisão de operário para explicar este movimento.
– Ao contrário, e o senhor o sabe tão bem que eu: uma porta que se fecha automaticamente por si mesma supõe mais inteligência da parte do artista que a fez, do que uma porta comum.
Comentário Apologético do Evangelho Dominical com Exemplos para Homilias, Sermões e Conferências. Pe. Júlio Maria, Missionário de N. Senhora do Smo. Sacramento, 1940.
Última atualização do artigo em 26 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico