Quais são os pecados contra o Quinto Mandamento da Lei de Deus?

QUAIS OS PECADOS CONTRA O QUINTO MANDAMENTO?

Os pecados contra o quinto mandamento são: matar, ter ódio ao próximo e fazer mal ao próximo.

I. MATAR E TER ÓDIO DO PRÓXIMO.

Podemos matar animais. Pois Deus entregou os animais aos homens para seu uso. Mas os homens pertencem só a Deus. Ninguém tem o direito de matar um homem, nem a si mesmo, como fez Judas.

Caim por inveja, matou seu irmão Abel; nem achou descanso em parte alguma por causa dos remorsos da sua consciência.

Quem bebe muita cachaça quase sempre briga muito. E quase todos os assassinos deste país principiaram pela cachaça. Por isso é muito prudente não beber cachaça. Muita cachaça é muito veneno; pouca cachaça é pouco veneno, mas sempre veneno.

Para quem já tem o mau costume de beber demais, o único remédio é não beber mais cachaça, nem vinho, nem cerveja, nem uma só gota de qualquer bebida espirituosa. Pois para tal pessoa o primeiro gole é ocasião próxima de pecado mortal; depois do primeiro copinho tomará o segundo, e o terceiro, e assim até a embriaguez. Muitos bêbados já ficaram curados, desde que resolveram não beber mais nenhuma bebida espirituosa. Mas eles hão de ter outros, que os ajudem com seu bom exemplo, e que por livre mortificação não bebam bebida forte. Estes, por si, não correm perigo de ficar bêbados e livram os outros deste vício. Assim fez São João Batista.

Ter ódio ao próximo é pecado mortal contra o quinto mandamento. O pecado do assassínio ou assassinato não está na mão, que mata, mas sim na má vontade contra o próximo. Pelo ódio a vontade está também contra o próximo. Por isso Nosso Senhor distingue duas qualidades de assassínio: o assassínio pela mão e o assassínio pelo coração.

O Senhor diz: “Quem tem ódio ao próximo, já o matou em seu coração.”

Eu quero as minhas mãos limpas de assassínio, mas também quero o meu coração limpo de assassínio.

Por isso, não quero ter ódio: pois quem tem ódio do próximo, já o matou em seu coração.

Os algozes estavam pregando Nosso Senhor na cruz. Com um grande martelo passavam os grossos cravos pelas mãos sagradas de Jesus. Tanto mal nunca alguém nos fez a nós.

Jesus podia vingar-se: tinha os algozes no seu poder. E que fez o Senhor? Jesus pediu a seu Pai perdão para estes homens ruins. Jesus disse: “Meu Pai, perdoai-lhes! Pois não sabem o que fazem.”

Isso mesmo podemos nós sempre dizer, quando alguém nos fizer algum mal: “Não sabe o que faz!” As intenções dele não são tão más como supomos. Há mal entendido, não há má vontade. Por isso, quando dois brigam, ambos pensam sempre que têem razão. Porém ao menos um se engana sempre e até os dois, porque geralmente ambos têem culpa. Nunca, por nenhuma razão podemos ter ódio a alguém, mesmo que nos fizesse muito mal.

Podemos ser melhores amigos de uma pessoa do que de outra.

Porém não devemos estar mal com ninguém, nem negar a fala, nem pedir que Deus o castigue.

Uma raiva, que passa, é pecado venial, se não for uma ira santa para impedir ou castigar um pecado.

Um ódio que fica, é pecado mortal. Quem morre com ódio ao próximo no coração, nunca entrará no céu.

Quando Santo Estêvão foi morto a pedradas, pediu perdão para os seus assassinos.

Quem não perdoa a todos, não pode rezar uma Pai Nosso: pois, no Pai Nosso, pedimos que Deus nos perdoe, assim como nós perdoamos. Portanto se nós não perdoamos, pedimos que Deus não nos perdoe também a nós.

Se alguém nos diz ou faz uma grosseria e lhe pagamos com outra grosseria: já há duas grosserias; se ele continuar a ofender, já há três, e assim as grosserias nunca acabam. Se, ao contrário, perdoamos a primeira grosseria, param ali as grosserias e temos ganho nosso irmão pelo nosso nobre e delicado procedimento.

Dois rapazes, João e José, ao sair da escola, tinham brigado um bocado. O João até tinha dado uma lambada na cara do José e este foi para casa, cismando em vingança. Mas, de tarde, o José lembrou-se da doutrina: como Nosso Senhor pediu perdão para os homens maus, que o crucificaram. O José ia pensando… pensando… e enfim veio-lhe uma boa ideia: foi para a casa do João. O João julgava que ele vinha para brigar mais e já estava com uma raiva de bicho bravo. Mas José disse: “Olha João, eu vinha pedir-te perdão, por te incomodar tanto hoje.” O João primeiro olhou espantado, como se visse um homem com dois narizes; mas, depois que compreendeu a nobreza de caráter do outro disse: “Mas, José, fui eu que tive a culpa.”

E desde aquele dia, os dois foram os melhores amigos. O José fez uma obra de arte de primeira ordem: fez acabar a grosseria e ganhou seu irmão, como Nosso Senhor diz.

Há muitos, muitos, tão cobardes, que não ousam ser os primeiros a oferecer o perdão. É porque não se acostumaram a isso, quando eram pequenos. Desde pequenos devemos acostumar-nos a ter a coragem de sermos os primeiros a ficar bons.

Não perdoar é uma grande franqueza e cobardia. Perdoar é uma nobre força de vontade.

Um urubu dá bicada noutro urubu. Este lhe paga com outra bicada. Jesus perdoou àqueles, que o matavam. Devemos escolher, se queremos perdoar como Jesus, ou vingar-nos como os urubus, que bicam uns aos outros.

Num mosteiro do deserto do Egito vivia um moço, que rezava muito, trabalhava muito e fazia muita penitência. Porém aconteceu que alguém ofendeu gravemente àquele moço. O moço nunca lhe perdoou. Confessou-se muitas vezes, arrependeu-se de todos os seus pecados, mas não deste ódio. O moço morreu e depois de sua morte apareceu a seu superior e lhe disse: Estou no inferno pois morri com pecado mortal, com ódio ao próximo.

“Da ira, do ódio e de toda a má vontade livrai-nos Senhor.”

II. FAZER MAL AO PRÓXIMO.

O quinto mandamento também proíbe fazer mal à alma ou ao corpo do próximo.

Fazemos mal à alma do próximo pelo escândalo.

Dar escândalo é pecado contra o quinto mandamento.

Jesus esteve com umas crianças e disse: “Se alguém der escândalo a um destes pequenos, melhor lhe seria que fosse lançado no mar com uma pedra de moinho ao pescoço.”

Jesus quer dizer: “Melhor é morrer afogado que cair nas minhas mãos, depois de ter seduzido um inocente ao pecado mortal.” Dar escândalo é fazer que outro caia em pecado.

O pecado mortal é pior do que a morte: pois, depois da morte, podemos ser felizes no céu, mas pelo pecado mortal merecemos o inferno.

Fazer que outro caia em pecado mortal é pior do que matar.

Jesus disse: “É inevitável que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo.”

Brigar é pecado contra o quinto mandamento.

A mesma raiva, quando não serve para evitar algum mal, é pecado.

Há pessoas que se incomodam o dia inteiro. Qualquer palavra os faz ferver como água no fogo. E se uma vez estão na sua raiva, os outros principiam a bramir também.

Como devemos tratar estes homens? A seguinte maneira parece-me a melhor: Considerá-los como doentes e a nós mesmos como médicos. Queremos ajuda-los a vencer a sua raiva. Para isso é preciso ficarmos quietos e mansos. Pois se nós também gritamos e ralhamos, eles ficam mais frenéticos ainda. Por isso vencer-nos, ser bonzinhos para com eles; mostrar que não lhes queremos mal: pois eles imaginam que os outros lhes querem mal e por isso mesmo ficam com tanta raiva, para se defenderem contra este mal imaginário.

Assim podemos salvar de muitos pecados a alma do próximo e a nossa.

O príncipe Augusto, quando ficava com raiva, não respondia logo. Primeiro fazia baixinho todas as letras do alfabeto grego; e só depois falava. O costume era bom; pois, entretanto, a raiva já se tinha abrandado. Melhor ainda que o abecê grego, serve em tal ocasião a oração jaculatória: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso.”

Explicação do Pequeno Catecismo, Pe. Jacob Huddleston Slater, Doutor em Teologia e Filosofia Escolástica, 2ª Edição, 1924.

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