Mês das Almas do Purgatório: 28º dia – Gratidão das almas do purgatório para com os seus benfeitores

MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO

VIGÉSIMO OITAVO DIA

Gratidão das almas do purgatório para com os seus benfeitores

MEDITAÇÃO

I. Conta-nos a sagrada Escritura que o sumo sacerdote Onias e o profeta Jeremias, passando para a outra vida, não esqueceram seus irmãos que ficavam na terra, mas que se viu o primeiro a suplicar de mãos erguidas ao Deus de Israel em favor de seu povo e o segundo orava fervorosamente pela sua pátria.

O interesse que aqueles dois ilustres campeões da antiga aliança testemunhavam pelos vivos, depois de admitidos no seio de Abraão, não é mais do que uma imagem daquele que a Igreja padecente tem pela Igreja militante em favor da qual, da sua morada de dor e, ao mesmo tempo, de segurança, eleva até Deus súplicas incessantes. Pode-se dizer que tal é o oficio das almas do purgatório: orar continuamente por nós. Poderíamos acaso deixar de orar por elas?

II. Não só o vinculo da religião e da caridade, fundamento da comunhão dos santos, mas ainda e sobretudo é o sentimento de gratidão, que leva as almas do purgatório a corresponderem por vários e multiplicados socorros aos sufrágios que os vivos oferecem por elas. No purgatório não se encontra a diversidade de afetos, nem a volubilidade de pensamentos, que temos neste mundo. Não há ali senão um pensamento, o de Deus; e tudo que se liga a este pensamento, tudo o que satisfaz este amor atrai invencivelmente aquelas santas almas. É por isto que, se os sufrágios dos homens os conduzem com mais brevidade à posse de Deus, concebem tanta ternura pelos seus benfeitores, que se esquecem quase de si próprias, e fazem todos os esforços para que as orações dos vivos sejam recompensadas pelas bênçãos do céu. Feliz, verdadeiramente feliz aquele que pode interessar o reconhecimento delas em seu favor!

III. O livramento dos nossos males, o aumento dos nossos bens, a prolongação dos nossos dias, tais são as bênçãos terrestres, que nos obtêm as almas do purgatório. Não que elas nos preservem de todas as desgraças, mas em atenção àquelas santas almas, somos poupados muitas vezes pelo socorro divino. Por um que lhe damos, nos dão elas cem; ora por urna assistência manifesta, ora por uma ajuda secreta, já fazendo prosperar nossos negócios, já mantendo em nossas famílias concórdia e felicidade, já conservando a nossa reputação. Portanto, o homem compadecido do purgatório viverá na abundância e na paz, gozará de longos dias, segundo a palavra de Davi; o Senhor conservá-lo-á numa felicidade, que se estenderá até à sua posteridade. Se queremos, portanto, ser felizes na terra, multipliquemos os nossos sufrágios pelas almas do purgatório, cujo reconhecimento obterá as graças que mais necessárias nos são.

SÚPLICA

Oh! de quantas graças temos necessidade, Senhor! As nossas faltas estendem-se a tudo, porque coisa alguma possuímos de nosso e a nossa maior miséria é de conhecermos pouco o nosso estado, de não orarmos bastante, ou de, quando pedimos, não sabermos ou querermos fazê-lo como devemos. Mas eis que apresentamos à vossa divina majestade uma intercessão mais poderosa, a das almas do purgatório, que tão vivo interesse nos consagram, e que nos são tão agradáveis. Do fundo da sua prisão representam-vos elas as nossas misérias e vos pedem as graças que no-las farão superar. Escutai a sua oração, sêde para conosco generoso e misericordioso; reconhecê-lo-emos, fazendo pelo purgatório os mais abundantes sufrágios.

EXEMPLO

Entre os rasgos de religiosa e devota munificência, que se apresentam na vida de Eusébio, duque de Sardenha, cita-se a cessão que fizera das rendas de uma das suas mais ricas cidades, em proveito das almas do purgatório. Ora, Ostorgo, rei da Sicília, seu poderoso vizinho, ávido de glória e mais ainda de pilhagem, declarou-lhe guerra e aparecendo de improviso, com um exército formidável, diante daquela cidade, assenhoreou-se dela.

Tornou-se mais sensível esta conquista a Eusébio do que a perda da metade de seu ducado, e resolvido a defender o seu direito, reuniu algumas tropas à pressa. Apesar da grande inferioridade do número, marchou sem hesitar contra o usurpador, confiado em que a santidade da causa, pela qual combatia, supriria a desigualdade de suas forças. No dia da batalha, quando de uma parte e de outra se preparavam para o ataque, vieram advertir a Eusébio que, além do exército de Ostorgo, via-se avançar um outro, cujos uniformes e bandeiras eram inteiramente brancos. Esta notícia imprevista desconcertou-o a princípio, e, suspendendo os seus preparativos, enviou quatro arautos a cavalo perguntar aos recém-chegados se eram amigos ou inimigos. mas, oh prodígio!… das fileiras daquele exército partem quatro cavaleiros, que, declaram pertencer á milícia celeste e que vêem para recuperar a piedosa cidade dos sufrágios. Então, aliados reunem-se e marcham contra o inimigo comum. Ostorgo perdeu o ânimo vendo-se atacado por dois exércitos, e sabendo que os soldados que vestiam de branco pertenciam à milícia celeste, apressou-se a pedia a paz, oferecendo a restituição da cidade, e dar mais o dobro do prejuízo que causara. Foram aceitas as suas condições, e quando o duque agradeceu ao milagroso exército o socorro que recebera, revelou-lhe o chefe que todos os seus soldados eram almas que ele livrara do purgatório, e que velavam sempre pela sua felicidade. Aproveitou o duque o ensejo para persistir na sua devoção pelo purgatório, do que experimentou sempre poderosa proteção, a qual nos não faltará nunca se o imitarmos em seu generoso fervor. (Fr. Alesius Legala, in triumph. anim., part I, suffr. IV, cap. 2).

SUFRÁGIO

O silêncio que se guarda por espírito de devoção causa grande alívio às almas do purgatório.

***

Por algumas palavras de zombaria e algumas divertidas graças, foi Durando condenado a um purgatório severíssimo; mas foi-lhe permitido solicitar os sufrágios dos monges de seu convento. O abade pensou que coisa alguma lhe seria mais conveniente do que um rigoroso silêncio, observando durante duas semanas por toda a comunidade. Com efeito, no fim do prazo marcado, ficou Durando livre das chamas e apareceu cercado de glória ao abade e aos monges, a quem agradeceu o eficaz socorro que havia recebido.

Todos nós pecamos pela língua, e o purgatório está cheio de bastantes almas, que sofrem por terem falado demais. Afim de livrá-las da sua dura prisão, guardemos hoje silêncio, e fiquemos seguros de que quanto mais mortificarmos a língua calando-nos, mais aquelas almas orarão pela nossa felicidade e nos obterão bênçãos e graças. (S. Petr. Damian. ep. 14 ad. Derid. ab., cap. 7).

O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.

Última atualização do artigo em 26 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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