Deveres do Homem para Consigo Mesmo

Deveres do Homem para Consigo Mesmo
Fonte da Imagem: Alexandria Católica

Corpo e Espírito

Só temos motivos para amar-nos. Criado por Deus, como rei da criação (Cfr. Gn. 1, 26-28), verdadeiro resumo de todas as maravilhas da criação (microcosmos), o homem tem o dever de manter as perfeições que Deus lhe deu, de desenvolvê-las, de corrigir os defeitos com que o pecado original lhe corrompeu a natureza.

Conservar a saúde, proteger as forças vitais, aumentar o potencial das faculdades espirituais, conservar e defender a própria dignidade, escolher o gênero de vida mais conforme com a nossa tendência para mais facilmente atingir a desejada perfeição, são deveres que temos para com nós mesmos.

O dever de amar-nos

1. O amor a nós mesmos é tão natural e espontâneo, que Jesus fez dele um padrão da caridade fraterna: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mt. 22, 39).

“Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles” (Mt. 7, 12).

2. Mas este amor deve terminar em Deus. Devo caminhar tudo para Ele, submetendo tudo à Sua divina vontade. E se assim não fizer, não me estarei amando mas odiando, porque me afasto da felicidade, e tudo, no final, redundará em meu mal.

3. Torna-se reprovável o amor de nós mesmos, quando o exageramos com detrimento do próximo.

Isto acontece quando:

a) nos reputamos superiores aos outros;

b) só procuramos os nossos interesses, ainda com prejuízo dos demais;

c) queremos que nos sirvam além do razoável.

Estão nesses casos os egoístas (querem todas as atenções e cuidados para si), os vaidosos (melindram-se por qualquer motivo), os ambiciosos (querem todos os bens para si), os invejosos (diminuem os valores alheios para sobressaírem os seus).

Cuidados com o corpo

1. Para o cristão o corpo é uma criatura de Deus (Gn. 2, 7), transformado em templo do Espírito Santo pelo Batismo, destinado à glória juntamente com a alma na eternidade e por isso digno de todo o respeito neste mundo. Mesmo quando separado da alma, continua a merecer os cuidados da Igreja, que encomenda os cadáveres e os faz sepultar convenientemente.

2. Mas a Igreja sabe o justo valor do corpo. Condena tanto os que o acham desprezível (como os platônicos), quanto os que lhe refinam o trato em prejuízo da alma (como os materialistas e epicuristas).

3. Outra prova do respeito do Cristianismo ao corpo humano é a proibição de incinerar os cadáveres.

A cremação é costume com que os bárbaros primitivos pensavam impedir que os mortos voltassem à convivência dos vivos. Os neobárbaros da Revolução Francesa reiniciaram esta prática supersticiosa, como uma perseguição à Igreja, pensando assim apagar a crença cristã na mortalidade. A campanha de cremação dos cadáveres tem sido sempre iniciada ou estimulada pela Maçonaria, como arma de combate à Igreja. Mas a Igreja continua mantendo as suas determinações, negando sacramentos e sepultura eclesiástica aos que pedirem incineração do próprio cadáver (Can. 1240) e proibindo o enterro das cinzas em lugar sagrado (Can. 1212).

4. Temos o dever de alimentar-nos convenientemente, para conservar e desenvolver as forças físicas. Coibir os abusos no comer e no beber é virtude ditada pela própria natureza, pois a falta de sobriedade e temperança é sempre nociva à saúde física, mental e moral.

Vestes

1. O principal fim das vestes é preservar a virtude. Os próprios selvagens protegem o sentimento instintivo do pudor, com suas vestes rudimentares.

Não se deve confundir moral com pudor. Aquela é invariável para tempos e lugares. Este depende dos usos ditados muitas vezes pelo clima, pelas tradições locais, pelas modas dos tempos. Mas tem limites que não podem ser ultrapassados. Assim, a completa nudez repugna aos próprios selvagens. Quando a falta de pudor causa ou facilita a imoralidade, torna-se imoral também. As épocas de grande dissolução de costumes, também o foram de grande despudor.

2. Servem as vestes para conservação da saúde, defendendo o corpo contra as intempéries.

3. As modas são, em si, legítimas e até interessantes, tornando-se reprováveis apenas quando ferem o pudor.

4. Devem as vestes condizer com a condição social da pessoa. Só há luxo quando se ultrapassa a própria condição social e financeira, ou o ambiente social.

Diversões

1. São as diversões uma necessidade para o homem. Tanto o corpo como o espírito requerem descanso e alívio, para restaurar as forças e conservar a capacidade de trabalho.

2. As diversões só se justificam pela necessidade. Devem ser merecidas em vista da fadiga. Devem ser tomadas para sua finalidade.

Diversões imoderadas, só pelo gosto de se divertir, são tempo roubado ao dever. Seu excesso enfraquece o espírito, amolenta o caráter, enerva o próprio corpo. A experiência mostra que são em prejuízo do espírito os excessos com o corpo. É frequentemente nos ginásios os campeões do atletismo também o serem das “bombas”.

3. São pecaminosos os divertimentos em que se falta ao pudor, corre risco a virtude, a juventude se corrompe, a imoralidade se facilita.

Os teatros que representam cenas torpes ou apresentam pessoas indecentemente vestidas; os filmes que excitam as paixões, principalmente a luxúria, os banhos públicos, notadamente promíscuos; as exibições públicas do atletismo feminino – são tais.

4. Devemos preferir as diversões que mais vantagens nos trazem, dentro de sua finalidade.

O contato com a natureza é de primeira ordem: passeios no campo, caçadas, excursões a pé. O ambiente fechado e o aglomeramento de cinemas e teatros não são favoráveis à saúde, especialmente de pessoas nervosas ou doentes.

5. Os exercícios físicos, quando moderados e metódicos, são muito úteis para robustecer o organismo, levando-nos a maior resistência e domínio de nós mesmos.

a) Tornam-se, porém, reprováveis e prejudiciais, desde que se excedam, dando à cultura física o primeiro lugar, em detrimento da formação intelectual e principalmente moral.

b) As demasias de esportes e atletismo concorrem para embrutecer o homem, afastando-o dos estudos, endurecendo-lhe o coração, embotando-lhe os sentimentos, diminuindo-lhe o pudor, oferecendo-lhe ocasião de pecado. (Observar isso no meio em que vive).

c) Somente nestes casos a Igreja condena os esportes.

Vida intelectual

1. Todos têm o dever de adquirir os conhecimentos indispensáveis ao bom cumprimento de seus deveres de estado.

Não se cogita somente de conhecimentos intelectuais, porém da formação necessária aos trabalhos manuais e a todas as profissões em geral. Não se deve exagerar o valor da mera instrução em detrimento da formação profissional e técnica, como não se deve valorizar esta em desprestígio daquela.

2. A instrução geral é indispensável à formação da personalidade. Deve ser sempre orientada para a formação moral, da qual a instrução é um meio.

3. Cada homem deve desenvolver tanto quanto puder a sua inteligência.

Sendo a inteligência um tesouro que Deus nos confia, somos obrigados a fazê-lo render o máximo (Cf. Mt. 24, 14-30). Nem sempre as exigências da vida permitem o aproveitamento da inteligência: desfaz-se então a responsabilidade. Os que estudam têm obrigação de dedicar à inteligência todo o tempo que lhe é destinado.

4. O cristão procurará pôr sempre a inteligência a serviço da fé, subordinando os conhecimentos naturais aos fins sobrenaturais.

Sendo Deus a fonte de toda verdade, não pode haver conflito entre a ciência e a fé (Cf. Lição sobre a fé).

5. É dever cristão desenvolver os conhecimentos religiosos, trazendo-os sempre à altura dos conhecimentos gerais.

Não pode um católico de cursos superiores ficar com instrução religiosa primária ou ginasial. Estabeleceria desequilíbrio em sua vida.

Para viver a doutrina

1. Os requintes com o corpo são cuidados de pagãos. Quando o alimentarmos, vestimos ou curamos, não esquecemos que ele está a serviço de Deus. Por isto fazemos sempre as orações às refeições para santificar o alimento e nos vestimos sempre com decência, e tomamos cuidados com a saúde. Mas não nos desmandamos em excessos. um bom cristão nunca se preocupa com iguarias, nem com vaidade, nem recorreria a meios ilícitos para recuperar a saúde (remédios do espiritismo, por exemplo).

2. Um passo à frente é o cuidado de trazermos sempre o corpo em submissão. “Castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão”, dizia S. Paulo (1 Cor. 9, 27). Acostumemo-nos a comer a horas certas, e nunca sem necessidade, e não ultrapassemos os limites das exigências da saúde; comamos com moderação e não com avidez (como pede, aliás, a boa educação); sirvamo-nos do que estiver à mesa, sem consultar nossos gostos (Lc. 10, 8), salvo se nos faz mal.

3. Os exercícios físicos são muito úteis: enrijecem o corpo e temperam o ânimo. Mas nada de exageros. Não prejudiquemos o gosto dos estudos, nem os deveres da vida cristã, por causa deles. As moças terão especial cuidado em se vestir decentemente, e nunca se exibirão em público, faltando ao pudor e dando ocasião de pecado.

4. Para nós mesmos, lembremo-nos de que nosso corpo é de um membro de Cristo e deve ser alimentado com o Corpo de Cristo. Os efeitos da Eucaristia atingem o nosso corpo. Preparemo-lo cuidadosamente para a ressurreição da carne, submetendo-o à vontade divina, ao serviço de Deus.

5. Sejamos alegres como bons cristãos: “um santo triste é um triste santo” (São Francisco de Sales). E que as diversões nos sirvam também para a santificação. Não as frequentemos, se nos oferecem perigo. E nada de pretextos. Informemo-nos antecipadamente do filme, da peça teatral, do ambiente, etc.

6. Há um mundo de conhecimentos a adquirir. É preciso estudar. Para um estudante isto constitui o próprio dever de estado. Aproveitemos bem o tempo. Depois de bem sabidas as lições, alarguemos os horizontes, lendo e estudando outras obras, mas sempre procurando o que possa servir para o bem, e evitando o que pode levar para o mal.

7. Há um imenso apostolado a fazer no que se refere a diversões, vestes, vida intelectual, saúde. Corpos e almas são tragados pelo mau uso de todas essas boas coisas que o Senhor nos dá para nosso bem.

O Caminho da Vida, Moral Cristã, para a 4ª Série Ginasial, Padre Álvaro Negromonte, 12ª Edição, 1954.

Última atualização do artigo em 13 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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