A supressão da Companhia de Jesus foi um golpe fatal para a Congregação Mariana. Pois não somente a ordem odiada, senão também as organizações e obras derivadas dela foram atingidas pelo famoso breve de supressão. Como, porém, a Companhia de Jesus não estava morta – vivia ainda na Rússia – assim a Congregação Mariana não fora completamente aniquilada. Havia nos seis colégios dos jesuítas na Rússia CC. MM. florescentes; a C. M. da Annunziata em Roma fora salva por dois sacerdotes. E em Paris O Padre João Batista Delpuits, antigo jesuíta, tentou restaurar a C. M. com seis estudantes das faculdades de medicina e de direito. Quando, em 1804, Pio VII chegou para coroar a Napoleão, o P. Delpuits pediu ao Soberano Pontífice a aprovação e bênção para o sodalício nascente. E o Santo Padre concedeu-lhe todas as graças e privilégios das antigas Congregações Marianas.
Esta C. M. pode gloriar-se de contar entre os seus membros um dos maiores gênios matemáticos de todos os tempos: Agostinho Luís, Barão de Cauchy.
Agostinho nasceu aos 21 de Agosto de 1789, em Paris. Seu pai, excelente latinista, proporcionou-lhe aquela formação clássica que é a base de toda verdadeira cultura. Com treze anos acabou o ginásio e ganhou, dois anos mais tarde, o “grand prix d’humanités”, instituído pelo imperador Napoleão. Na faculdade de engenharia como depois na Escola de Pontes e Estradas manteve sempre o primeiro lugar. Depois de um tempo de repouso a que fora forçado por seu estado de saúde, dedicou-se exclusivamente aos estudos matemáticos. Já tinha publicado uma série de trabalhos, quando, em 1815, ganhou o concurso promovido pela Academia de Ciências, sobre o tema: “Estabelecer a teoria da propagação das ondas na superfície de um fluído pesado, de profundidade indefinida”.
Agora deu-se um fato que criou muitas inimizades ao homem que fora capaz de resolver problemas que resistiram à sagacidade dos maiores matemáticos como Euler, Legendre, Lagrange e Gauss.
Já a sua religiosidade acentuada tinha-lhe granjeado muitos adversários, embora Cauchy nunca quisesse impor aos outros as suas convicções pessoais. Mas com a queda de Napoleão e a restauração da realeza, veio a reorganização da Academia das Ciências. Uma ordenança real excluiu dois membros da Academia, sendo um dos escolhidos em seu lugar o grande matemático. Uma verdadeira tempestade desencadeou-se contra ele. Mas Cauchy obedeceu ao rei e não se importou com as vozes irritadas. E tal fidelidade ao monarca levou-o a sacrificar tudo: a cátedra de professor, a Academia, posição social, futuro e família.
A revolução de Julho de 1830 destronou os Bourbons. O novo regime impôs aos funcionários um juramento que Cauchy não podia prestar. Não jurou e exilou-se em Turim, onde Carlos Alberto criou para ele uma cátedra de física superior. Dois anos mais tarde, Carlos X chamou-o para dirigir a educação de seu filho, o conde de Chambord. Até 1838 vivia com seu real discípulo em várias cidades da monarquia austríaca. Depois dessa data voltou para a França para retomar suas atividades como membro da Academia das Ciências, na qual não se exigiu o juramento.
A república de 1848 nomeou ao grande filho de Maria professor de astronomia na Faculdade de Ciências. Napoleão III exigiu novamente o juramento. Cauchy negou-se mais uma vez a prestá-lo. Finalmente, foi dispensado desta formalidade.
Aos 22 de Maio de 1857 morreu Cauchy, na sua casa de campo de Sceaux.
Abel dizia dele que era o único de seu tempo que sabia como se devem tratar as matemáticas. Era membro de 18 Academias que se sentiam honradas só pelo fato de ver seu nome inscrito nos seus registros. Publicou além de 500 trabalhos científicos. Toda a matemática moderna está cheia de sua influência, no dizer de um autor.
Nisto porém não se resume a sua vida.
Como católico genuíno e como filho de Maria tomava parte ativa nas obras de caridade e no apostolado de educação da Igreja.
Acima de todos os outros títulos – aliás bem merecidos – punha o de Congregado Mariano.
Notáveis são as palavras do grande sábio: “Aprofundei-me no estudo das ciências humanas, particularmente nas chamadas ciências exatas, e reconheci cada vez melhor a verdade destas palavras de Bacon que, se um pouco de filosofia nos torna incrédulos muita filosofia nos reconduz a sermos cristãos. Vi que todos os ataques dirigidos contra a revelação acabaram por fornecer novas provas da verdade dela”.
Quando o célebre P. de Ravignan recebeu a notícia de morte de Cauchy, exclamou: “Tout le monde est convaincu que ce saint homme est allé droit au paradis. Ce bon M. Cauchy! il sera entré au ciel comme il entrait dans nos chambres, sans frapper à la porte”(1).
Mariano Célebres, por Werner J. Soell, S. J., 1955.
(1) “Todos estão convencidos de que este santo homem foi direitinho ao paraíso. Este bom sr. Cauchy! Terá entrado no céu, como entrara nos nossos quartos, sem bater”.
Última atualização do artigo em 4 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico