MÊS DAS ALMAS DO PURGATÓRIO
SÉTIMO DIA
A pena do remorso
MEDITAÇÃO
I. A segunda pena do purgatório, mais grave ainda que a do fogo, é a pena do verme ou remorso, que causam as culpas da vida passada. A alma lança três dolorosos olhares sobre a sua existência neste mundo, dos quais o primeiro lhe faz ver o mal, que podia evitar e que todavia cometeu. Quantos maus pensamentos e sentimentos poderia ter reprimido! – Quantas palavras vãs, quantas ações inconvenientes, que poderia ter omitido! Quantas fraquezas e escândalos, de que se poderia ter guardado! É obrigada a reconhecer-se culpada, enquanto que só dela dependia não o ser; aflige-se profundamente, menos por causa do mal, que a si própria fez, do que pelo pensamento de ter desagradado a Deus. Oh! verdadeiramente bem-aventurado é aquele, cuja consciência não acusa falta! Vigiemos, pois, cristãos, afim de não cairmos em pecado.
II. Por um segundo olhar mais atento que a penetra profundamente, vê a alma o bem que poderia ter praticado, e que omitiu. Que mais podia o Senhor fazer, para que ela produzisse frutos de salvação? Fizera-a nascer no seio da verdadeira fé; dotara-a de inteligência e liberdade; alimentara-a com os seus sacramentos, e fortificara-a com a sua graça celeste, e animara-a com os exemplos dos bons. Ajudada por tantos socorros, devia percorrer a passos gigantescos a carreira da santidade e chegar à mais alta perfeição. Mas, apesar de tudo, deteve-se muitas vezes no caminho, outras vezes só andou com tibieza; arrefeceu nos exercícios de piedade, deixou passar as ocasiões de praticar o bem e não aproveitou devidamente as graças do Senhor. A vista de tantas negligências, chora e suspira, porque já não pode reparar o tempo perdido. Quanto a nós, cristãos, podemos repará-lo ainda por um maior fervor e uma perseverança inabalável no serviço do Senhor. Por que não o fazemos?
III. Enfim, lançando um último olhar ao céu, a alma vê o lugar que lhe está destinado no reino eterno, mas no mesmo tempo reconhece que, se tivesse evitado todas as faltas, que podia evitar, feito todo bem que podia fazer, alcançaria no paraíso um trono mais glorioso; porque é indubitável que, havendo muitas habitações naquela bem-aventurada pátria, cada grau de merecimento aumenta proporcionalmente os graus da glória, e que quanto mais a alma se aproxima de Deus nesta vida pela perfeição, tanto mais vizinho é, na outra, o seu trono do dele. Queremos, pois, cristãos, gozar de maior glória no céu? esforcemo-nos por ser mais virtuosos e perfeitos na terra.
SÚPLICA
Concedei-nos, Senhor, a graça de nos tornarmos, segundo o vosso desejo, perfeitos e santos à vossa imitação; de fugir sempre do mal, avançando sem cessar no bem, para merecermos um bom lugar junto a vós no paraíso. As almas do purgatório, por terem sido negligentes, ainda que pouco, são severamente punidas, naquela prisão, pelo pesar que, sem cessar, as punge: aplacai o seu remorso, ó Senhor, perdoando-lhes as suas culpas e as suas penas e chamando-as à coroa e à glória, porque é muito amargo o desgosto que elas experimentam no abismo!
EXEMPLO
A baronesa Sturton, na Inglaterra, mandou um dia chamar o grande servo de Deus, João Cornélio, da Companhia de Jesus, para lhe celebrar uma Missa por alma de João, seu falecido marido.
Durante a Missa, entre a Consagração e o Memento dos mortos, foi o sacerdote arrebatado em longo êxtase, durante o qual viram os circunstantes distintamente na parede lateral da capela uma claridade trêmula, como o reflexo de uma chama que ardesse sobre o altar. No fim da Santa Missa, todos estavam impacientes por saber a causa de se ter demorado tanto, e donde provinha a reverberação tão forte, que haviam notado na parede. Então o servo de Deus, exclamando: ” Bem-aventurados os que morrem no Senhor”, contou, que vira um vasto recinto, onde ardia o mais vivo fogo; nele o barão fazia, com dolorosos gemidos, a confissão de sua vida passada, acusando-se das faltas, que cometera, e, em particular, das dissimulações que usara na côrte, pelo que era severamente punido: chorava sobre a perda dos bens espirituais que o respeito humano lhe havia feito desprezar, implorava a intercessão dos fiéis, afim de obter por suas súplicas o pronto livramento da misericórdia divina. O bom religioso acompanhava com lágrimas esta narração, e os que o escutavam aproveitaram a ocasião para evitar no futuro toda sorte de pecados e prosseguir com mais fervor na carreira do bem. Imitemos o seu exemplo e consideremos que vale mais levar no presente uma vida mais regular e perfeita do que lastimar em vão no purgatório o ter pensado nisso tarde demais. (Padre Daniel Bartolo in Hist. Ang. livro V. cap. 7).
SUFRÁGIO
Nas reuniões com os nossos amigos e até entre os divertimentos da sociedade, não esqueçamos os que morreram, mas façamos que participem também deles com algum socorro espiritual.
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O piedoso arcipreste de Arona, Graciano Punzoni, quando reunia alguns amigos, mandava pôr uma certa quantidade de confeitos na mesa do jogo; aqueles que ganhavam iam, por sua vez, tomando alguns, e aquele que ficava com o último era obrigado a dizer ou mandar dizer três Missas, ou a fazer qualquer outra boa obra pelos defuntos. Deste modo não era o jogo um perigo ou uma origem de remorsos; pelo contrário, servia de honesto recreio aos vivos, de alívio às almas do purgatório.
Esforcemo-nos por santificar assim as nossas reuniões com a devoção pelos defuntos, que eles serão tanto mais sensíveis a ela, quanto, por uma exceção bem rara, devê-la-ão à própria alegria das reuniões mundanas. (P. Marc. Ant. Rossa, S. J. in Vila ven. Gratiani Punzoni , cap. 8).
O Anjo Consolador – Piedosos exercícios, Leituras e Orações Dedicadas a Veneração das almas do Purgatório, compiladas por E. Da S. V. Redentorista, 1939.
Última atualização do artigo em 25 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico