O Crucifixo foi e é o grande livro em que as almas santas aprenderam e aprendem a ciência da perfeição

Aos que as presentes letras virem, saudação, paz e benção no Senhor.

Jesus crucificado – motivo dominante da pregação do Apostolo (1. Cor. I, 23), assunto predileto da sua ciência (lbid. II, 2), deve ser também o objeto preferido do cristão para as suas meditações (lmit. de Cristo, L. II, cap. I, 21 seg.).

o Crucifixo é o livro sublime escrito com o precioso sangue do Redentor. Livro admirável que nos ensina altíssimas e profundas lições onde se encontra solução para todas as dificuldades que se nos oferecem no exercício da vida cristã.

O sangue divino que lhe enrubesce as páginas está-nos a dizer que, sem a efusão do sangue da penitência, do sacrifício, da abnegação, não ha redenção possível (Ad Heb. IX, 22) .

Na sua dolorosa paixão, quis o Salvador resumir a vida cristã com todas as suas agonias, tormentos e amarguras.

O magno problema do sofrimento humano, que tanto preocupara os filósofos pagãos, para os quais foi sempre um mistério, teve, nos dias da paixão, clara e satisfatória explicação.

A vida humana, ensinou Jesus Cristo pelo exemplo, é uma viagem angustiosa do berço para o túmulo. Nessa penosa viagem, cheia de contradições, tem o homem de provar as torturas morais que lhe infligem o peso das culpas, a indiferença dos amigos, a traição dos íntimos, a felonia dos que foram por ele beneficiados, a inveja dos adversários, a fraqueza dos seus defensores, a irrisão dos homens brutais, a calúnia dos descontentes, o ódio dos gratuitos adversários.

Sofrer, sofrer, todos os dias, sofrer até à morte é, depois do pecado de origem, a condição natural do homem decaído, visto como traz em si mesmo o gérmen da dor. Mas a dor é o preço de uma vitória.

Ao lado da cruz pôs o Redentor um túmulo glorioso, com todas as fulgurações do triunfo.

A todos os homens dirige o Mestre e Guia uma palavra que os norteia: Segui-me. Acompanhai-me os passos, e eu darei as vossas dores o valor de uma coroa imortal. Ao Calvário o acompanha o exército de almas generosas que compram, a preço de sangue, a redenção final.

Aos cristãos, pois, como discípulos de um Deus flagelado e crucificado, cabe-lhes a sorte de sofrer o flagelo das línguas infernais, a crucificação dolorosa das calúnias, as detrações, as difamações, as perversas interpretações.

Jesus Crucificado é, assim, o modelo do cristão. Modelo perfeito e provadamente eficaz.

O Crucifixo foi e é o grande livro em que as almas santas aprenderam e aprendem a ciência da perfeição. Nele beberam a ciência da caridade, do sacrifício e do heroísmo os apóstolos, os mártires, os confessores, as almas consagradas a Deus, os denodados missionários e todos aqueles que aspiram as delícias do eterno Thabor. O Crucifixo é sempre a razão suprema – a última palavra.

“Não é o discípulo melhor que o Mestre” (Math. X. 24). Se perseguiram a mim, também hão de perseguir a vós. (S. João XV, 20).

“Cristo padeceu por nós deixando-vos o exemplo, para que sigais os passos” (I Ped. II. 21).

Eis o modelo, eis a escola do cristão. No Crucifixo está compendiado o Evangelho. Nele encontramos o farol que nos guia, a força e o encorajamento que nos anima a suportar os embates da vida.

Com razão, pois, os Padres da Igreja, os teólogos, ascetas, os diretores de consciência encarecem e insistentemente recomendam a meditação da Paixão do Redentor.

Nada tão eficaz para levar as almas ao amor do sacrifício, nada tão convincente para resolver todas as dúvidas e aplanar todas as dificuldades que, a cada passo encontramos no caminho da virtude.

É explicável, portanto, o sem número de tratados ascéticos sobre a Paixão de Cristo.

Do Livro A Paixão de Jesus Cristo pela Associação da Adoração Contínua a Jesus Sacramentado – Dr João Pedreira Do Couto Ferraz Júnior – 1925

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