Foi falado e ainda é falado. Com entusiasmo ou indignação. Alguns veem nela as vantagens de uma definição real, outros os inconvenientes de um exagero não menos real. Todos acreditam poder dar razões válidas para consagrar ou condenar o uso desta expressão. Os argumentos de ambas partes seguem direções opostas.
Nós, seguindo um método já experimentado, iremos expor, primeiramente,tais argumentos (I), depois voltaremos aos princípios e, a partir deles, tentaremos ver como as coisas realmente são (II). Finalmente, distinguiremos o que é verdadeiro e o que é falso nos vários argumentos apresentados, cuja oposição, na maioria das vezes, é apenas aparente.
PRÓS OU CONTRAS: A EXPRESSÃO “IGREJA CONCILIAR” PODE SER LEGITIMAMENTE USADA?
Primeiro argumento: Mons. Benelli utilizou a expressão Igreja conciliar para designar a Igreja pós Concílio Vaticano II[1]. Portanto, não apenas podemos, mas devemos falar de uma Igreja conciliar.
Segundo argumento: na “Declaração de 1974”, que representa a Carta Magna da FSSPX, D. Lefebvre contrapõe claramente a Roma católica de sempre com a Roma modernista[2]. Existem, portanto, duas Romas e também duas Igrejas: a Igreja Católica e a Igreja Conciliar. Consequentemente, pode-se falar de uma Igreja conciliar.
Terceiro argumento:D. Lefebvre, observando os fatos, afirma que as reformas do Concílio Vaticano II resultaram em “uma nova Igreja, uma Igreja liberal, uma Igreja reformada, semelhante à Igreja reformada de Lutero”[3]. E acrescenta que “estamos com dois mil anos de Igreja e não com doze anos de uma nova Igreja, uma Igreja conciliar” [4]. Disto tiramos a mesma conclusão do argumento anterior.
Quarto argumento: em uma conferência realizada em Ecône em setembro de 1988 [5], D. Lefebvre distingue entre a Igreja oficial e a Igreja Católica visível em suas notas. A primeira é fruto do Concílio, a segunda é a verdadeira Igreja. Existem, portanto, duas Igrejas: a Igreja Católica visível e a Igreja oficial conciliar. Mais um motivo para se falar de uma Igreja conciliar.
Se se responde que D. Lefebvre, quando fala da Igreja oficial, não se refere a uma Igreja propriamente dita, mas a uma corrente hostil dentro da Igreja, objeta-se – como um quinto argumento – que nessa mesma conferência D. Lefebvre precisa o seu pensamento, dizendo que é necessário sair desta Igreja oficial tal como se sai de uma Igreja propriamente dita: “Sair, portanto, da Igreja oficial? De certa forma, sim, certamente. Todo o livro de Madiran, L’Hérésie du XXe siècle, é a história da heresia dos Bispos. É necessário, portanto, afastar-se desses Bispos, se não quisermos perder a própria alma. Na verdade, não basta, porque a heresia instalou-se em Roma. Se os Bispos são hereges (mesmo sem usar esta palavra no sentido estrito e em todas as suas implicações canônicas), é em parte devido à influência de Roma”. A expressão Igreja conciliar é necessária para designar essa Igreja oficial.
Se se responde que D. Lefebvre quer simplesmente dizer que precisamos nos proteger da contaminação que assola a Igreja, objeta-se – como sexto argumento – que D. Lefebvre distingue, no entanto, a Igreja oficial conciliar da verdadeira Igreja visível. A Igreja conciliar oficial pode ser considerada visível até certo ponto de vista, exatamente como é visível a chamada “igreja” anglicana, espalhada por todo o território inglês. Mas a Igreja Católica não é uma sociedade visível como qualquer outra. Para Ela, a visibilidade consiste em suas notas [una, santa, católica e apostólica, N. do T.], que atestam sua origem divina e o caráter sobrenatural. A Igreja oficial conciliar não é visível, nem mais nem menos do que qualquer outra sociedade, e não apresenta, em absoluto, as notas da verdadeira Igreja. Portanto, pode-se falar de uma Igreja conciliar que, de fato,deve ser considerada como outra Igreja, distinta da Igreja Católica.
Sétimo argumento: em entrevista concedida à revista Fideliter, um ano depois das sagrações episcopais, D. Lefebvre responde aos seus contestadores nos seguintes termos: “De que Igreja estamos falando? Se se trata da Igreja conciliar, vocês gostariam que nós, depois de lutar contra ela durante vinte anos porque queremos a Igreja Católica, voltássemos à Igreja conciliar para, por assim dizer, torná-la católica. É uma ilusão completa. […] Obviamente, somos contra a Igreja conciliar que, de fato, é cismática, mesmo que não aceitem isso. De fato, é uma Igreja praticamente excomungada, porque é uma Igreja modernista” [6]. No espírito de D. Lefebvre, portanto, existem duas Igrejas antagônicas, a Igreja Católica e a Igreja Conciliar. Portanto, o uso da expressão Igreja Conciliar é legítimo.
Oitavo argumento: na última entrevista exclusiva concedida à revista Fideliter antes de morrer, D. Lefebvre expressou-se nestes termos: “Não devemos ter ilusões. Os princípios que atualmente norteiam a Igreja conciliar são cada vez mais abertamente contrários à doutrina católica […]. Eles [Dom Gérard e a Fraternidade São Pedro] dizem que nada cederam. Falso. Eles desistiram da possibilidade de fazerem frente a Roma. Eles não podem mais dizer nada. Devem ficar calados, contentando-se com os favores que lhes foram concedidos. Não podem mais denunciar os erros da Igreja conciliar”[7]. Segundo D. Lefebvre há, portanto, uma Igreja conciliar, cuja cabeça está em Roma e cujos princípios são contrários à doutrina católica. Portanto, esta Igreja conciliar é outra Igreja, distinta da Igreja Católica. Conclui-se que o uso da expressão Igreja Conciliar é constantemente legitimado por D. Lefebvre, até o fim de sua vida.
Nono argumento: se o chefe de uma sociedade governa buscando um bem diferente daquele da sociedade sob sua responsabilidade, deixa de ser líder dessa e passa a ser líder de outra sociedade. Agora, depois do Vaticano II, os líderes da Igreja governam buscando os ideais maçônicos e liberais, que não podem corresponder ao bem comum da Igreja. Portanto, esses líderes estão à frente de uma outra Igreja, a Igreja Conciliar, distinta como tal da Igreja Católica. Consequentemente, pode-se falar de uma Igreja conciliar.
Deve a expressão “igreja conciliar” ser rejeitada?
Décimo argumento: a Igreja – como nos lembra o Papa Bento XVI em seu Discurso de 2005 – é exatamente a mesma antes e depois do Vaticano II, sendo impossível uma ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Portanto, não é possível falar de uma Igreja pré-conciliar [8].
Décimo primeiro argumento: recentemente D. Fellay [9] afirmou que a Igreja atual, representada pelas autoridades romanas, continua a ser a verdadeira Igreja, una, santa, católica e apostólica: “Dizendo extra Ecclesiam nulla salus,fora da Igreja não há salvação, nos referimos à Igreja de hoje. Disso temos certeza absoluta. Deve-se estar ciente disso. […] O fato de ir a Roma não significa concordar com eles. Mas essa é a Igreja e a verdadeira Igreja”[10]. E reiterou o conceito, referindo-se a “esta Igreja que não é uma ideia, é real, está diante de nós, chama-se Igreja Católica Romana, a Igreja com o seu Papa, com os seus Bispos, que também podem estar em um estado de fraqueza “[11]. Hoje, portanto, não é possível falar da Igreja oficial como uma Igreja conciliar diferente da Igreja Católica.
Décimo segundo argumento:D. Fellay afirmou também que a Igreja de hoje, que contém em seu seio a Fraternidade, mas vai além dela, é aquela que transmite fé e graça aos seus fiéis: “Estamos cientes que, se hoje temos fé, se temos a alegria de poder professar a fé, é graças a esta Igreja concreta … que se encontra em um estado penoso […] E não é a Fraternidade, mas a Igreja que transmite esta fé … a Igreja de hoje! É a Igreja de hoje que santifica”[12]. […] “Se temos fé, é nesta Igreja; se recebemos a graça, desde o batismo até aos últimos sacramentos, é nesta Igreja e por esta Igreja”[13]. Ora, não é possível que haja uma Igreja conciliar, distinta da Igreja Católica, capaz como esta última de transmitir fé e graça. Portanto, se se adere às repetidas declarações do Superior Geral da FSSPX, não é possível falar da Igreja de hoje como uma Igreja conciliar diferente da Igreja Católica.
Décimo terceiro argumento: D. Lefebvre sempre rejeitou a hipótese do sedevacantismo[14]. Agora, falar de uma Igreja conciliar formalmente distinta da Igreja Católica equivale implicitamente ao sedevacantismo. Portanto, não é possível falar de uma Igreja conciliar diferente da Igreja Católica. Demonstração da segunda premissa: distinguir as Igrejas implica distinguir seus líderes supremos ou sua hierarquia: visto que o chefe da Igreja Católica é o Papa, Bispo de Roma, se a Igreja conciliar é formalmente distinta da Igreja Católica, seu chefe não é o Papa, Bispo de Roma e a Sé Apostólica é vacante.
Décimo quarto argumento: a Igreja Católica é indefectível, visto que se beneficia da assistência divina que lhe foi infalivelmente prometida por Cristo. Ora, falar de uma Igreja conciliar equivale a falar de uma nova Igreja, distinta da Igreja Católica. Mas, se a Igreja Católica foi substituída por uma nova Igreja, significa que ela falhou, contradizendo as promessas divinas. Portanto, não é possível falar de uma Igreja conciliar diferente da Igreja Católica. Demonstração da primeira premissa: o Evangelho afirma que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja [15] e que Cristo assiste a hierarquia católica todos os dias até o fim do mundo [16].
Décimo quinto argumento: a verdadeira Igreja é visível em sua hierarquia. Se os membros da atual hierarquia são considerados expoentes de uma Igreja conciliar distinta da Igreja Católica, segue-se que a Igreja Católica carece da visibilidade própria da verdadeira Igreja. Visto que tal conclusão é repugnante, não é possível falar de uma Igreja conciliar.
Décimo sexto argumento: as reformas do Vaticano II correspondem, substancialmente, aos erros modernistas condenados em 1907 por São Pio X na encíclica Pascendi. Ora, São Pio X ensina que a heresia modernista tem esta particularidade: que não pretende separar-se da Igreja Católica para constituir uma nova seita, mas antes procura permanecer “no próprio seio da Igreja [17] […] E assim eles eles operam conscientes e voluntariamente; sim porque é sua regra que a autoridade deve ser empurrada, não derrubada; sim, porque não precisam sair do círculo da Igreja para mudar gradativamente a consciência coletiva ”[18]. Não é possível, pois, falar de uma Igreja conciliar, devidamente entendida como uma falsa Igreja, diferente da Igreja Católica e numericamente distinta dela.
PRINCÍPIO DA NOSSA RESPOSTA
Quando falamos da Igreja, recorremos a uma determinada forma de nos expressarmos para indicar a realidade que é objeto de nosso conhecimento. Ora, é lei da psicologia humana que as coisas são nomeadas não por ser como são realmente, mas por como são conhecidas, uma vez que as palavras estão diretamente conectadas não à realidade, mas aos conceitos que a representam em nossa mente [19]. Há, portanto, uma grande diferença entre o modo de se conhecer e se expressar, de um lado, e o modo de ser real, de outro [20]. Assim, para indicar os acidentes, que não têm ser exceto na e para a substância em que se encontram, empregam-se expressões que remetem a um modo de ser substancial: fala-se de “quantidade”, “qualidade” e “relação” para indicar o que na realidade não é a substância propriamente dita, mas sim a substância como ela é quantificada, qualificada e relativa. Nosso modo de conceber e nomear, portanto, não é adequado ao modo de ser. Por que razão? Precisamente porque nossa inteligência foi feita para apreender o ente, sobretudo em seu primeiro sentido de substância. O acidente é ser apenas em sentido análogo. Ele não é exatamente um ser, como a substância, mas um modo de ser da substância, e é difícil para nós concebê-lo senão na dependência da substância em que se encontra. Além disso, quanto mais o ente de que falamos se distancia analogicamente da substância, tanto mais o nosso modo de falar se distancia do modo como esse ente realmente existe; quanto mais, portanto, se corre o risco de errar, se não levarmos em conta tal distância. Devemos estar muito vigilantes, para não sermos vítimas das palavras que usamos.
Tudo isso deve ser aplicado de maneira mais rigorosa quando se fala da Igreja: Ela se define como sociedade, e a sociedade se reduz ao predicamento ou modo de ser da relação, que é precisamente aquela em que o ser se diz de forma muito tênue e igualmente menos perceptível. Quando se fala da Igreja, e também da Igreja visível, Igreja oficial, Igreja Católica ou da Igreja conciliar, expressamo-nos como se indicássemos uma substância, e facilmente nos esquecemos que a realidade assim indicada não corresponde à forma como a indicamos. A Igreja não é uma substância, mas uma ordem de relações que une seus membros pelo fato de realizarem a mesma operação sob a mesma autoridade e em vista dos mesmos fins. Portanto, a Igreja é formalmente o triplo vínculo de unidade de fé, de culto e de governo. E esse vínculo existe como tal apenas na e para as substâncias que são pessoas humanas concretas, membros da sociedade. Por conseguinte, quando se diz estar ou não na Igreja, esta expressão deve ser entendida não como um estar segundo o lugar, mas, obviamente, de um estar segundo a relação. Isso significa que quem está na Igreja se relaciona com os demais membros da sociedade, bem como com seu chefe, na busca de um mesmo fim, por meio de profissão de uma mesma fé e de um mesmo culto e obediência a um mesmo governo.
Na medida em que houve uma “mudança de orientação” [21] desde o Concílio Vaticano II, fala-se da Igreja conciliar. Com tal expressão não se pretende indicar uma coisa ou uma substância distinta de outra e nem mesmo uma sociedade distinta de outra, mas sim um novo espírito, que foi introduzido na Igreja de forma simultânea ao Concílio Vaticano II e prejudica a finalidade da Igreja, isto é, a Tradição de sua fé e moral. E quando se diz que essa corrente adversa atua na Igreja, entende-se que aqueles que se unem na busca de um fim contrário ao da Igreja não romperam manifestamente a relação que os vincula aos demais membros e à sua cabeça, na inclinação de princípio ao verdadeiro bem comum. No caso particular do Papa, que também participa dessa corrente hostil, entende-se que ele não deixou de ser Papa. Ainda que agindo dessa maneira ele atrapalhe a finalidade da Igreja e impeça a Tradição, seu próprio poder continua inclinado a esse fim e a essa Tradição.
Não há, portanto, duas Igrejas; só existe, dentro da Igreja, uma tendência antagônica que a combate por dentro, que busca neutralizá-la em seu proveito, impedindo o cumprimento de seu fim. Para esclarecer tal conceito, pode-se instituir uma comparação com o pecado, que impede a realização da natureza ao multiplicar os obstáculos à realização de seu fim, sem, no entanto, destruir a natureza em sua inclinação radical para esse fim. É assim que o Doutor Angélico explica em qual sentido pode-se dizer que o mal não pode destruir totalmente o bem [22]. O mal é certamente uma falta, ou seja, uma privação do bem. No entanto, não devemos esquecer que existem dois tipos de privação: a primeira consiste em um estado de privação total, que não deixa nada, mas tira tudo: tais são a cegueira com respeito à visão, a escuridão total com respeito à luz, a morte com respeito à vida. Depois, há um segundo tipo de privação, que permanece sempre parcial e limitada, sem nunca remover tudo: assim, o pecado priva o homem de seu fim e de sua perfeição, não no sentido de que o torne definitivamente impossível, mas no sentido de que afasta o homem ao acumular sempre mais obstáculos. Esta privação deixa algo para subsistir, que é precisamente a atitude e a inclinação fundamental do homem para o seu fim. “Portanto – conclui Santo Tomás – pode haver uma terceira possibilidade, e como termo intermediário entre o bem e seu total desaparecimento”. Aplicando tais princípios à eclesiologia, diremos que uma concepção estritamente dualista (sic et non) não explica suficientemente a situação atual da Igreja. De fato, há um terceiro termo entre o bem da Igreja e o mal total, que é representado pelo desaparecimento da Igreja e sua substituição por uma seita ou outra Igreja totalmente diferente. Esta solução intermediária é precisamente aquela indicada pela expressão Igreja conciliar. Ela equivale ao pecado da ideologia liberal e modernista que penetrou nos espíritos da Igreja, pecado que diminui e corrompe o bem da Igreja no sentido de que a impede de atingir o seu fim, mas que, no entanto, deixa inata a inclinação fundamental da Igreja para este fim. Ora, a diminuição desse bem – explica Santo Tomás [23] – não deve ser concebida como uma subtração, como ocorre na quantidade, mas como um enfraquecimento ou declínio progressivo de uma tendência. E o enfraquecimento dessa capacidade explica-se pelo processo inverso do seu desenvolvimento. A tendência se intensifica por meio das disposições que tornam o sujeito cada vez mais apto a receber sua perfeição, até o momento em que a recebe. No caminho inverso, a tendência enfraquece por disposições contrárias: quanto mais se multiplicam e quanto mais intensas, mais impedem o sujeito de receber sua perfeição. Se as disposições contrárias podem ser multiplicadas indefinidamente, a aptidão fundamental do sujeito para receber sua perfeição diminuirá e se enfraquecerá indefinidamente. Porém, essa tendência nunca será eliminada completamente, pois permanecerá em sua raiz, que é a substância do sujeito. Por exemplo: se interpusessem entre o sol e o ar infinitos corpos opacos, se reduziria indefinidamente a atitude do ar em relação à luz, mas não se eliminaria totalmente, porque o ar é translúcido por natureza. Da mesma forma, pode acrescentar um pecado sobre o outro, de modo que a aptidão da alma para com a graça é cada vez mais diminuída; porquanto os pecados são como obstáculos entre Deus e nós. No entanto, essa aptidão não é completamente destruída na alma, porque deriva de sua própria natureza. Portanto, a realidade da Igreja conciliar é a de uma falsa concepção da Igreja que se apossou dos espíritos dos homens da Igreja. Essa concepção falseada gera cronicamente um contra-governo que paralisa ou atrapalha o funcionamento normal da sociedade católica, impedindo que a Igreja realize seu fim. Assim, ela coloca obstáculos entre a Igreja e o seu bem, mas sem jamais eliminar a inclinação radical da Igreja para esse bem.
Por outro lado, a fé, alicerçada nas promessas divinas, ensina-nos que tal tendência contrária, por mais invasiva que seja, nunca poderá submergir completamente a Igreja. Por que haveria uma contra-igreja na Igreja e não uma outra Igreja? Porque o Papa, mesmo que se faça cúmplice ou mesmo o principal animador da subversão, permanece, até que se prove de maneira indubitável o contrário, o representante terreno do único chefe supremo da Igreja. Este chefe é Cristo e seu representante, e até que ele cesse de se declarar como tal, não pode ser constituído chefe de outra Igreja. Apesar dos obstáculos colocados pelo Papa ao exercício normal do papado e ao cumprimento do fim da Igreja, permanece no papado, como Cristo o quis na dependência de seu próprio poder, a inclinação radical para tal exercício e para tal fim. Vê-se aqui um princípio fundamental que Caetano, contra os cismáticos de seu tempo, formulou nestes termos: “Cristo instituiu São Pedro não como seu sucessor, mas como seu vigário” [24]. Por outro lado, é precisamente por esta razão que a instituição do papado ocorreu depois da Ressurreição e foi completada por Cristo agora imortal e sempre vivo. Um chefe supremo que vive eternamente não tem sucessor. No máximo, tem um vigário. E ele continua sendo o Mestre, apesar dos erros de seu vigário. Só este chefe supremo pode depor seu vigário e excluí-lo de seu Corpo místico; mas nada, nas fontes da Revelação, nos autoriza a pensar que Cristo teria decidido recorrer a uma medida tão excepcional para preservar sua Igreja da contaminação do modernismo. Em vez disso, temos motivos para pensar que a sua divina Providência não permitirá que essa contaminação chegue ao ponto de fazer desaparecer a Igreja. O Evangelho não afirma que as portas do inferno não a atacarão: afirma que, por mais violento que seja este ataque, as forças inimigas não prevalecerão contra Ela [25].
Dois teólogos contemporâneos, ambos espectadores perturbados com a “revolução conciliar” e com a subversão em grande escala que se seguiu, fornecem-nos argumentos para confirmar nossa exegese. Em primeiro lugar, o Pe. Meinvielle: “Sabemos que o mistério da iniquidade já opera, mas não conhecemos os limites do seu poder. […] Se pensarmos nisso, a promessa de assistência à Igreja se reduz a uma promessa que impede o erro de introduzir na cadeira romana e na própria Igreja, e que também impede a Igreja de desaparecer ou ser destruída pelos seus inimigos. […] O Papa, com seu comportamento ambíguo, contribuiria para manter o equívoco: por um lado, professando uma doutrina irrepreensível, seria o chefe da Igreja das promessas; por outro lado, realizando ações equívocas ou mesmo repreensíveis, ele pareceria ser um defensor da subversão“[26]. O Pe. Meinvielle viu bem, mas não até o fim. É bem conhecida sua tentativa de desculpar o Concílio Vaticano II, tentativa que, como tantas outras feitas posteriormente, não obteve sucesso. Somos obrigados a notar que o erro se introduziu na Igreja, até à cadeira romana, com o favor do Concílio, e que o Papa se fez cúmplice dessa subversão não só com algumas de suas ações, mas também de certos ensinamentos de princípio, constantemente reiterados. Naturalmente não queremos dizer que o Papa definiu explicitamente as heresias, falando ex cathedra e empregando a infalibilidade: tudo isso é impossível, devido à promessa de assistência divina. Entendida e corrigida nestes termos, a reflexão do Pe. Meinvielle mantém toda a sua relevância. É correto dizer que o erro não pode entrar na Igreja, no sentido de que não pode impregná-la por completo, sem que nenhuma voz faça ecoar a verdade. No entanto, o erro pode assolara Igreja, até mesmo na Sé de Pedro, como um obstáculo que paralisa a tradição de fé e dos costumes. O Pe. Meinvielle acrescenta que a Igreja se encontraria assim (pelo menos provisoriamente) na situação monstruosa de um corpo duplo ligado a uma única cabeça, pois o Papa seria ao mesmo tempo cabeça da verdadeira Igreja e defensor da subversão. A imagem não deixa de ser interessante, aliás, também é engenhosa, mas a nossa imaginação, muito fraca para suportar tal visão, acabaria por passar do monstro híbrido a uma Igreja dupla, que não corresponde à realidade. A Igreja “infiltrada pelo modernismo” [27] não é um monstro cujos membros mal unidos correm o risco de se separar a qualquer momento, mas um pobre doente. É o corpo místico de Cristo gangrenado por uma doença ou ferido pelos golpes repetidos da flagelação, a planta pedis usque ad verticem capitis. É um corpo que, por ora, se encontra impedido de atingir o seu fim, devido ao obstáculo das feridas e do enfraquecimento progressivo, sem, contudo, afetar a sua inclinação radical para esse fim. Se se objeta que tal declínio não convém ao Corpo Místico de Cristo, respondemos que Cristo sujeitou seu próprio Corpo físico a ele. Estamos diante de um decreto da Sabedoria divina. A sabedoria humana só poderia se perder na medida em que só pode ver isso como uma loucura.
Mesmo sem querer questionar completamente a avaliação do Pe. Meinvielle, aquela do Pe. Calmel nos parece muito mais correta e ainda mais precisa no plano expressivo: “Nenhum Papa poderá trair a ponto de ensinar explicitamente a heresia na plenitude de sua autoridade […] mas a Revelação em nenhum lugar diz que, quando ele exerce sua autoridade abaixo do nível em que é infalível, um Papa não conseguirá fazer o jogo de Satanás e favorecer até certo ponto a heresia […] [28]”. “O sistema modernista ou, mais precisamente, o aparato e o procedimento modernista, constituem para o Papa uma ocasião de pecado inteiramente nova, uma possibilidade até então desconhecida de se desviar no exercício da sua missão. […] Disto deriva uma consequência destrutiva: a Tradição apostólica em matéria de doutrina, moral e culto foi neutralizada, mesmo que não morta, sem que o Papa, oficialmente e abertamente, tivesse que renunciar a toda Tradição e, portanto, proclamar apostasia […] O Papa nunca disse ou teve que dizer: tudo o que foi ensinado, tudo o que foi feito até o Concílio Vaticano II, toda a doutrina e todo o culto anterior ao Vaticano II, eu os golpeio com uma anátema. O resultado, porém, está diante de nossos olhos … Para chegar ao ponto em que nos encontramos, bastou que o Papa, sem tomar medidas que atingissem a tradição anterior da Igreja, deixasse o campo aberto ao modernismo”[29]. Deixar o campo aberto ao modernismo, ou seja, não o impedir, mas sim alimentar a corrente hostil dentro da Igreja.
A expressão Igreja conciliar é, portanto, legítima, mas desde que não ultrapasse os seus limites. Como qualquer forma de linguagem retórica, expressa a realidade em termos breves e concretos, que são mais confortáveis para a inteligência de quem fala e mais acessíveis para a inteligência de quem ouve. Há, ao mesmo tempo, a vantagem de um resumo sintético e o inconveniente de uma fórmula que, como todas as fórmulas deste tipo, não pode (nem, por outro lado, querer) dizer tudo. O significado de tal expressão é determinado pela extensão em que seus pressupostos são conhecidos ou aceitos – ou, inversamente, ignorados ou refutados – dependendo do contexto. A prudência exige então que a expressão seja usada levando em consideração o contexto. Uma expressão concisa, como Igreja conciliar, certamente pode ter a vantagem de resumir todas as implicações necessárias, desobrigando assim a pessoa que fala ou escuta, a cada vez, de captar todos os elementos do problema. Mas também pode apresentar o inconveniente de confundir um interlocutor que não tem consciência da complexidade do problema e até mesmo escandalizá-lo, sugerindo-lhe uma abordagem absolutamente incorreta dos elementos que estão em jogo. Na verdade, após a morte de D. Lefebvre, interveio um fator novo e inevitável: a duração. O tempo passa. Falar da Igreja conciliar em um contexto de subversão ainda recente e evidente aos olhos da maioria das pessoas não representava praticamente nenhum perigo. Mas, depois de algumas décadas, quando todas as conquistas revolucionárias foram mais ou menos normalizadas em um estilo decididamente conservador que fomenta ilusões, corre-se o risco de ser mal interpretado ou equivocado. Nesse caso, seria suficiente (mas imprescindível) intensificar a pedagogia e explicar o sentido da expressão, especificando todos os termos da pergunta, antes de recorrer à síntese que os resume. A expressão Igreja Conciliar, se bem compreendida quando bem explicada, conserva intacta a sua vantagem, que é a de traduzir uma dupla realidade em termos acessíveis: por um lado, a crise sem precedentes que assola a Igreja e, por outro, a garantia das promessas de indefectibilidade.
III. RESPOSTA AOS ARGUMENTOS
Ao primeiro argumento, responde-se que, de acordo com o que Bento XVI afirmou em seu discurso de 2005, na mente das autoridades atuais a expressão Igreja conciliar tem o mesmo significado que a expressão “Igreja da Contra-Reforma” ou “Igreja Pós-Tridentina”. O atributo aqui tem um significado puramente cronológico e com ele queremos indicar não a Igreja como tal e nem outra Igreja distinta da Igreja Católica, mas o período mais recente de sua história. Certamente, é verdade que a realidade recente da Igreja comporta algo mais do que uma simples sucessão cronológica e que, como reconheceu Paulo VI, desde o último Concílio “a fumaça de satanás” entrou na Igreja. Mas disso não se pode concluir que os atuais detentores da autoridade considerem a Igreja que governam como uma Igreja formalmente diferente da Igreja Católica, nem que de fato haja um cisma notório e contínuo entre duas Igrejas.
Ao segundo argumento, se responde que D. Lefebvre fala da “Roma católica”, mas não de uma “Roma modernista”. Fala, com extrema precisão, de uma “Roma de tendência neo-modernista, neo-protestante, que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II e depois do Concílio em todas as reformas que se seguiram”. Em sua mente, portanto, as duas Romas não estão no mesmo nível. D. Lefebvre não quer dizer que existem duas Romas ou duas Igrejas diametralmente opostas, como dois corpos místicos e duas sociedades. Ele quer dizer que há Roma e a Igreja, o único Corpo místico de Cristo, cuja cabeça visível é o Papa, Bispo de Roma e Vigário de Cristo; mas que também existem algumas tendências nefastas que entraram nesta Igreja, devido às falsas ideias que impregnam os espíritos dos que detêm o poder em Roma.
Ao terceiro argumento, se responde que D. Lefebvre primeiro afirma: “É um espírito novo”, e depois, em seguida, fala dessa nova Igreja reformada, afirmando que ela “introduziu-se na Igreja Católica”. A expressão, portanto, não designa outra igreja distinta da Igreja Católica, mas uma corrente nefasta que assola o interior da única Igreja.
Ao quarto argumento, se responde que, nessa mesma conferência, D. Lefebvre afirma: “Não queremos dizer que não há Igreja fora de nós, não se trata disso”. Isso significa que, em seu entendimento, a Igreja não se identifica adequadamente com aqueles que rejeitam o Concílio, por distinção de todos aqueles que o aceitam e que, portanto, constituiriam uma outra Igreja. Em sua intenção, as expressões que usa não indicam outra Igreja constituída como sociedade distinta, mas antes um espírito e uma tendência que, na Igreja, vai contra a finalidade dessa mesma Igreja. Por outro lado, após esta conferência, D. Lefebvre especifica: “Pertencemos à Igreja visível, à sociedade dos fiéis sob a autoridade do Papa, porque não rejeitamos a autoridade do Papa, mas o que ele faz. Reconhecemos perante o Papa sua autoridade, mas quando ele a usa para fazer o contrário do que lhe foi entregue, é evidente que não podemos segui-lo”[30]. A distinção não é entre duas Igrejas, mas entre duas diretrizes de governo emanadas do mesmo chefe dentro da mesma Igreja.
Ao quinto argumento, responde-se que as expressões utilizadas devem ser entendidas no contexto de toda a pregação de D. Lefebvre. Em outras palavras, devemos ter em mente o significado retórico ou metafórico que o falante queria imprimir. Assim, “Deixar a Igreja oficial” não significa romper com uma Igreja para unir-se outra. Aqui, D. Lefebvre expressa simplesmente a atitude prudente da Fraternidade que busca proteger as almas do contágio modernista, evitando o contato com pessoas contagiosas, sem abrir um cisma. A lei divinamente revelada se limita a dizer que se o Papa se tornasse um defensor da heresia, ou algo pior, a Igreja deveria evitá-lo. Não cabe a nós julgar se, no cenário aberto pelo Concílio Vaticano II, os vários papas que se alternaram na cadeira de Pedro devem ser considerados proponentes da heresia, ou algo pior. D. Lefebvre, em sua prudência, nunca ousou dizer que esses papas são hereges formais e notórios[31]. Aqui nos limitamos a observar que, mesmo que se admita a título de mera hipótese (dado, não concedido) que os papas Paulo VI, João Paulo II ou Bento XVI tenham caído na heresia formal, não se deduz necessariamente daí que eles por direito divino caíram do pontificado supremo. Caetano[32], de fato, lembra que podem ser citados pelo menos seis passagens da Sagrada Escritura nas quais Deus ordena justamente não manter relações com o herege formal e notório[33]. A passagem mais significativa é a da Epístola de São Paulo a Tito, capítulo III, versículo 10, na qual o Apóstolo nos ensina que a Igreja deve evitar ter relações com o Papa, se ele a desviar de seu fim (“hereticum hominem post unam et secundam correptionem devita”). O termo “devita” usado aqui por São Paulo pode ter apenas dois significados. Pode significar consequência (já que o Papa herético perdeu seu pontificado, a Igreja deve evitá-lo, ou seja, não mais considerá-lo como seu chefe) e, neste caso, legitimaria a hipótese sedevacantista. Mas também pode significar concomitância (o Papa considerado herege deve ser evitado pela Igreja, porque, embora permanecendo um verdadeiro Papa, seu governo tornar-se-á uma fonte de grave escândalo) e, neste caso, legitimaria a posição da Fraternidade São Pio X. É possível evitar relações habituais de obediência e submissão com um Papa defensor do modernismo e do liberalismo, sem considerá-lo privado do papado. Isso mantém a possibilidade de obedecê-lo quando já não houver mais perigo para a fé ou a moral. É uma distinção que pode parecer sutil. Mas a situação que ele tenta explicar também é. Talvez seja impróprio pensar que tal distinção, em um contexto geral, foi inspirada a D. Lefebvre pela prudência sobrenatural? Um bom resumo dessa atitude se encontra na Declaração de fidelidade às posições da FSSPX: “Eu, o abaixo assinado, reconheço Bento XVI como Papa da Santa Igreja Católica. Portanto, estou disposto a orar publicamente por ele como Sumo Pontífice. Recuso-me a segui-lo quando ele se afasta da tradição católica, particularmente nas questões da liberdade religiosa e do ecumenismo, bem como em reformas que são prejudiciais à Igreja”. Esta “recusa em segui-lo” corresponde ao “devita” de São Paulo e não exclui o “Eu reconheço”. Consequentemente, na conferência em exame, as palavras de D. Lefebvre simplesmente aludem a uma medida de proteção pública, o que é claramente demonstrado pelo resto do discurso: “Afastar-se deles é como se afastar de pessoas com AIDS. Não podemos correr o risco de pegar a doença. Agora, eles têm uma AIDS espiritual, uma doença contagiosa. Se queremos permanecer saudáveis, não devemos estar com eles”[34].
Ao sexto argumento, responde-se que a Igreja Católica, por ser sobrenatural e de origem divina, permanece uma sociedade verdadeira e é, como tal, visível. É visível como sociedade e visível enquanto sobrenatural [35]. A primeira visibilidade que a Igreja Católica tem em comum com outras sociedades terrenas: consiste na visibilidade de uma sociedade dotada de um governo e de uma hierarquia próprios. A segunda visibilidade é própria da Igreja Católica e consiste na visibilidade do quádruplo milagre moral de suas quatro notas. Se apenas a segunda é suficiente para reconhecer a Igreja Católica como tal, ambas são igualmente necessárias para a Igreja. A segunda visibilidade, aquela das notas, inclui – embora a supere – a primeira visibilidade, ou seja, a da sociedade dotada de sua hierarquia. Com efeito, as notas da Igreja são o milagre moral de uma vida social que não se explica naturalmente e, por conseguinte, pressupõe uma vida social, assim como o sobrenatural pressupõe o natural sobre o qual está enxertado. Nessa objeção, se argumenta como se a visibilidade das notas tivesse uma existência autônoma, independente da visibilidade social, ou seja, como se o sobrenatural existisse de fato sem natureza. Na realidade, a Igreja conciliar não é a hierarquia desprovida de suas notas que se opõe à Igreja Católica, dotada de notas mas privada da hierarquia. A Igreja conciliar é um espírito que assola o interior da Igreja Católica, mesmo na sua hierarquia e que, onde quer que seja, impede a plena manifestação das notas da Igreja e ofusca a sua origem divina.
Sobre o sétimo e o oitavo argumentos, responde-se que, na mesma entrevista divulgada um ano depois das sagrações episcopais, D. Lefebvre afirma: “Não digo que a Igreja Católica somos nós. Eu nunca disse isso. Ninguém pode me acusar de ter reivindicado ser Papa. No entanto, nós representamos verdadeiramente a Igreja Católica como sempre foi, porque continuamos a fazer o que sempre se fez. […] Sendo bem claro, não somos contra o Papa enquanto representa todos os valores da Sé Apostólica que são imutáveis, da Sé de Pedro, mas contra o Papa que é modernista, que não acredita na sua infalibilidade, que pratica ecumenismo”[36]. Em uma conferência realizada pouco depois, D. Lefebvre acrescenta: “Acreditei que tinha que ficar aquém de uma eventual realidade semelhante [37], de ter que manter contato com Roma, pensar que em Roma ainda há um sucessor de Pedro. Um mau sucessor, é claro, um sucessor que não deveria ser seguido porque tem ideias liberais e modernistas, mas que ainda assim está lá”[38]. E conclui falando da “invasão liberal de Roma”. Tudo isso mostra claramente que, em seu entendimento, a Igreja conciliar não é outra igreja distinta da Igreja Católica, cuja cabeça não seria mais o sucessor de São Pedro. A expressão designa um espírito novo que inspira uma série de reformas contrárias ao bem da Igreja, reformas das quais, infelizmente, o próprio sucessor de Pedro se faz cúmplice. Por outro lado, D. Lefebvre, em outro discurso proferido logo após as sagrações episcopais, disse: “Ruínas por toda parte. Eis os frutos ruins. Isso acontece porque os pastores não são bons, porque não cumprem o seu dever. Os pastores não guardaram a Tradição e os tesouros que Nosso Senhor Jesus Cristo lhes confiou. Eles queriam inventar uma nova igreja do zero, mas não é possível inventar uma nova igreja. A Igreja é aquela que é e assim deve permanecer até o fim dos tempos. Não mudará e nem pode mudar, porque foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus, e Deus não muda. […] Aqueles que nos excomungam já foram excomungados há muito tempo. Porque? Porque eles são modernistas. Tendo um espírito modernista, eles estabeleceram uma igreja que se conforma com o espírito do mundo. […] E por que eles nos excomungam? Porque não queremos segui-los neste espírito de demolição da Igreja. […] Não queremos colaborar nesta deplorável obra que se desenvolve na Igreja há vinte anos”[39]. A expressão Igreja Conciliar não designa outra coisa senão esta obra, que persiste internamente na Igreja.
Ao nono argumento, responde-se que é necessário, seguindo Santo Tomás de Aquino, distinguir dois tipos de relações[40]. Por um lado, existe a relação baseada em uma operação em ato, ou seja, no exercício do poder de atingir o fim, como, por exemplo, a relação do que aquece pelo que é aquecido. Por outro lado, a relação baseada na potência para realizar a operação ou sobre a potência ordenada para a operação em ato, ou seja, a relação entre aquele que tem capacidade de aquecer com aquele que tem capacidade de ser aquecido. Da mesma forma, o Papa se relaciona com a Igreja de duas maneiras: na medida em que pode governá-la e na medida em que a governa obtendo seu fim. Mas a autoridade do Papa, que na Igreja é a autoridade suprema, tem seu fundamento no poder de jurisdição e não em seu exercício efetivo. Analisando mais a fundo esse tipo de relação, onde esse vínculo se baseia não em uma operação em ato, mas em uma pura de potência, Santo Tomás aponta [41] que tal potência pode ser compreendida de acordo com diferentes tempos, ou seja, de acordo com o passado ou o futuro do ato ao qual é ordenado. Há, por exemplo, a relação de poder segundo um ato passado, como a do pai em relação ao filho gerado no passado. E há a relação de poder segundo um ato futuro: segundo o Doutor Angélico, também pertencem a este gênero as relações que correspondem a uma privação presente de um ato. Aplicando tais considerações ao Papa e à Igreja no contexto decorrente do Vaticano II, observamos que é indubitavelmente possível que, na maioria das vezes, um Papa não exerça efetivamente seu governo em relação à Igreja, na medida em que, por motivos diversos, não contribui, em ato, para o bem comum da Igreja, que se identifica com a pregação da fé, mas prefere sacrificá-la aos ideais do liberalismo maçônico [42]. E é verdade que hoje, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja sofre muitas vezes com esta carência. No entanto, a autoridade permanece, porque continua a ser uma relação entre o Papa e a Igreja, fundada na inclinação radical do poder do Papa com respeito ao fim e ao bem da Igreja, pelo menos de acordo com um ato futuro, ainda que na maioria das vezes a Igreja seja privada deste ato no momento. Como explica Santo Tomás, a privação presente do ato não equivale necessariamente à impossibilidade de tal ato, ou seja, sua privação passada e futura e, portanto, a privação pura e simples do poder de exercer o ato. Na verdade, no poder há sempre uma inclinação radical para o fim. Portanto, aqueles que, a partir do ato do liberalismo ou do modernismo pessoal do Papa, chegam diretamente à conclusão de que ele não é mais o chefe da Igreja Católica, demonstram que ignoram a distinção essencial entre os dois aspectos que acabamos de mencionar. Por outro lado, mesmo que o Papa usasse seu poder na maioria das vezes na direção oposta ao propósito da Igreja, não necessariamente se seguiria que ele fosse realmente o chefe de outra Igreja. Poder-se-ia dizer que o Papa ensina e governa contra o bem da Igreja, da mesma forma que um tirano que ainda não foi deposto.
Ao décimo argumento, responde-se que a ruptura negada pelo Papa, mesmo que não exista entre duas Igrejas como um cisma ocorrendo entre duas sociedades próprias e verdadeiras, existe entre duas concepções de Igreja. Uma delas apareceu por ocasião do Concílio Vaticano II em oposição aos princípios tradicionais da Igreja Católica e, posteriormente, espalhou-se por toda a Igreja, mesmo entre os membros da hierarquia. Portanto, podemos e devemos falar de uma Igreja conciliar, não porém para designar outra Igreja, mas para caracterizar a nova orientação que se desenvolve e persiste no seio da Igreja em consequência do “aggiornamento” desejado por João XXIII e Paulo VI.
Quanto ao décimo primeiro argumento, se responde que D. Lefebvre especificou repetidamente o que ele quis dizer com Igreja conciliar e que, portanto, não está claro como seu sucessor manifestaria a intenção de contradizê-lo. D. Fellay se limitou a dizer que os representantes da hierarquia continuam em posse de seu poder, mesmo que estejam imbuídos de falsas ideias que os levem a agir contra o bem da Igreja. Por outro lado, no sermão realizado em Paris que constitui o tema do décimo primeiro tópico, D. Fellay, falando do Vaticano II, afirma que “este Concílio manifesta uma clara vontade de realizar algo novo. Não se trata de uma novidade superficial, mas uma novidade profunda, em oposição, em contradição com o que a Igreja havia ensinado ou mesmo condenado”. Comparando a novidade introduzida na Igreja com o joio semeado pelo inimigo no campo de Deus, o sucessor de D. Lefebvre conclui: “Este Concílio quis estar em harmonia com o mundo. Ele fez o mundo entrar na Igreja e agora temos o desastre”. E no discurso proferido em Flavigny, D. Fellay especifica seus pensamentos em um sentido que corresponde exatamente às declarações de D. Lefebvre. Depois de ter insistido no fato de que a Igreja Católica é a Igreja de hoje, atual e concreta, o Superior Geral da Fraternidade São Pio X acrescenta: “Há, porém, todo um organismo, e esse organismo, do qual por um lado devemos professar a santidade, por outro lado é uma fonte de espanto e escândalo, a ponto de querermos apenas dizer: Não temos nada a ver com essas pessoas! Não podemos ficar juntos, não é possível! Homens de Deus que induzem os cristãos, os filhos da Igreja, a perderem a fé. Não podemos estar juntos! É claro que esses erros devem ser rejeitados com horror”. O fato de insistir na realidade concreta da Igreja hoje visa apenas especificar que a Igreja mantém, apesar de tudo, as promessas de vida eterna: “Rejeitando o que está errado, não devemos rejeitar tudo. Essa ainda é a Igreja, una, santa, católica, apostólica. […] Rejeitando o mal que se encontra na Igreja, não é necessário deduzir que já não é a Igreja. Claro, há grandes partes que não são mais a Igreja! Mas nem tudo!”. As presentes afirmações não contradizem as que citamos nas respostas ao quarto, quinto, sexto e sétimo argumentos: também expressam, ainda que em termos diferentes, a mesma ideia que a FSSPX sempre fez para corresponder à expressão Igreja conciliar: uma ideia que expressa a invasão do pensamento liberal e modernista na Igreja e, ao mesmo tempo, a indefectibilidade de princípio desta mesma Igreja; uma ideia que encontra outra formulação metafórica do corpo doente, como D. Fellay sublinhou por ocasião do último Congresso do Courrier de Rome: “A Igreja Católica é a nossa Igreja. Não temos outra. Não há outra. Deus permite que Ela fique doente. E é por isso que nos esforçamos para não sermos infectados. Mas isso não significa que podemos dizer que estamos construindo outra Igreja. […] Doença é doença, não é Igreja. A doença está na Igreja, mas a Igreja permanece o que Ela é. […] Claro, precisamos combater a doença. Mas esta Igreja doente ainda é a Igreja fundada por Nosso Senhor. As promessas de vida eterna foram feitas a Ela. Foi prometido que as portas do inferno não prevaleceriam contra Ela”[43]. Concluindo, pode-se falar de uma Igreja conciliar para expressar o fato de que os líderes da Igreja e grande parte dos fiéis são guiados por uma orientação e um espírito estranhos à Igreja e contrários à sua finalidade.
Ao décimo segundo argumento, se responde que a fé e a graça nos são sempre transmitidas pela Igreja, exclusivamente na medida em que essa permanece sendo, indefectivelmente, uma sociedade divina, que tem por cabeça suprema não o Papa, mas Cristo. No discurso de Flavigny mencionado no décimo segundo argumento, D. Fellay especifica seu pensamento precisamente neste sentido. Depois de sublinhar que a Igreja Católica é a Igreja de hoje, atual e concreta, o Superior Geral da FSSPX acrescenta: “Vejam, o simples fato de usar tais palavras levanta questões imensas: como isso pode acontecer? Como é possível que esses Bispos, que nos contam toda sorte de heresias, nos transmitam a fé? […] É de fé, é absolutamente certo que a fé e a graça, cada graça que recebemos por meio dos Sacramentos, a recebemos da Igreja. E, mais uma vez, esta Igreja é concreta, não deve transformar-se numa ideia abstrata: é real! Se vivemos nesta Igreja, recebemos a vida do chefe da Igreja, que é antes de tudo e acima de tudo Nosso Senhor Jesus Cristo”. Como o Padre Calmel acertadamente recorda [44], “a Igreja não é o corpo místico do Papa; a Igreja, com o Papa, é o Corpo místico de Cristo”. Independentemente das deficiências do Papa, a Igreja é sempre portadora da verdade e da graça. Verdade e graça são incessantemente dadas a nós por Cristo. E, caso o Papa coloque mais ou menos obstáculos no caminho, elas nos são transmitidas por aqueles que, na Igreja, permanecem fiéis à missão recebida de Cristo. Consequentemente, hoje a fé e a graça nos são transmitidas pela Fraternidade não enquanto tal, como se fosse uma Igreja autônoma que acredita estar substituindo a Igreja Católica, mas pela Fraternidade enquanto parte sã da única Igreja Católica. Isso é o que D. Fellay recordou por ocasião do último Congresso do Courrier de Rome, baseando-se na doutrina de São Vicente de Lerins: “Vocês estão em um país, em uma diocese onde, de repente, a heresia se espalha. O que fazer? São Vicente de Lerins responde: é simples, você deve que ficar unido à parte que ainda está saudável”. Portanto, pode-se dizer que a fé e a graça nos são transmitidas pela Igreja por meio da Fraternidade. E, na medida em que não são mais transmitidas por aqueles da Igreja que impedem o bem da Igreja, por causa de suas ideias liberais e modernistas, podemos falar da Igreja conciliar para indicar esta parte corrupta da Igreja que já não comporta nem a verdade e nem a graça.
Ao décimo terceiro argumento, se responde que, como havíamos visto, D. Lefebvre, efetivamente, usou a expressão Igreja Conciliar. Para conciliar esse modo de falar com a rejeição ao sedevacantismo, basta assinalar que D. Lefebvre nunca usou a expressão em questão no sentido que lhe foi atribuído na segunda premissa do argumento. Segundo o fundador da Fraternidade São Pio X, a expressão Igreja Conciliar não indica outra Igreja, formalmente distinta como tal da Igreja Católica, mas um novo espírito que entrou na Igreja, em oposição ao bem e ao fim perseguido por Igreja. Recusar o sedevacantismo não significa de forma alguma recusar-se a tomar conhecimento deste novo espírito e opor-se a ele para o bem da Igreja. No sermão proferido em Paris, citado no décimo primeiro tópico, D. Fellay especifica os dois aspectos inseparáveis da posição de D. Lefebvre: “Para permanecer na verdade, devemos manter essas duas noções que derivam da fé junto com as noções que derivam da razão”. As duas noções de fé são a indefectibilidade da Igreja Romana e o primado do Bispo de Roma, sucessor de Pedro e Vigário de Cristo. As noções de razão são o fato da penetração das ideias liberais e modernistas na Igreja.
Ao décimo quarto argumento, responde-se que a expressão Igreja conciliar não indica a realidade de outra Igreja, mas sim uma nova concepção da Igreja que permeou as mentes. Apesar do ofuscamento das mentes na Igreja, a Igreja, graças à assistência divina que a torna sempre infalível, não deixa de ser como tal. Na verdade, Deus tem o poder de impedir que sua Igreja falhe, mesmo quando permite o que D. Lefebvre definiu como uma “conspiração” [45]. Como explica Santo Tomás [46], “se o mal fosse integral, ele destruiria a si mesmo, pois, havendo destruído todo o bem (o que é necessário para a consistência do mal), o próprio mal, que tem seu sujeito no bem, também seria eliminado”. Da mesma forma, se o que convencionalmente chamamos de “Igreja conciliar” fosse integralmente “conciliar”, ela se destruiria como Igreja. Isso é impossível, em primeiro lugar porque a Igreja é indefectível, mas também porque, se a Igreja tivesse falhado, o bacilo do Concílio não poderia se espalhar dentro dela: o bacilo, de fato, só pode se desenvolver em um organismo vivo. Por essas razões, a expressão Igreja conciliar deve ser entendida neste sentido: o adjetivo “conciliar” é atribuído ao substantivo “Igreja” não como uma propriedade essencial que necessariamente derivaria da definição do nome, mas como uma determinação acidental que se verifica no designado do nome em um determinado momento de sua existência. Em outras palavras, a Igreja é conciliar não essencialmente e enquanto tal (porque, neste caso, ela não seria mais católica e falharia), mas acidentalmente e na medida em que sofre os efeitos nocivos de uma “infiltração inimiga”.
Ao décimo quinto argumento responde-se como o sexto; acrescentamos também que a visibilidade da Igreja não se limita à da sua hierarquia. A Igreja, como qualquer sociedade, é certamente visível em sua hierarquia, mas, como única sociedade de origem divina, também é visível em suas notas. As tendências liberais e modernistas que assolam internamente a Igreja, mesmo em sua hierarquia, só podem impedir, embora sem desaparecer completamente, a plena manifestação das notas da Igreja. Portanto, falar de uma Igreja conciliar para indicar essas tendências nefastas não é o mesmo que negar a visibilidade da hierarquia da Igreja e nem mesmo de suas notas.
Ao décimo sexto argumento, responde-se que a expressão Igreja conciliar, no sentido em que a utilizou o fundador da FSSPX, não tem outra finalidade senão revelar a tática de infiltração típica do modernismo. Infiltração que hoje atingiu um nível inimaginável, já que o próprio sucessor de Pedro defende ideias neo-modernistas. Em um texto que permanece, até onde sabemos, inédito, o teólogo particular de D. Lefebvre sublinhou a característica peculiar do que foi corretamente chamado de heresia do século XX: “Quem é o modernista? É um homem que, apesar de desprovido de fé (porque, por definição, o modernismo é uma heresia), carece dela de uma forma muito particular. Na verdade, ele conserva todas as formulações dogmáticas, modificando radicalmente o seu sentido ou sem atribuir-lhes sentido algum ou associando-as a fórmulas de sentido oposto: a contradição, para ele, não é um problema. Ele não sente necessidade de abandonar a Igreja: pelo contrário, o seu modo todo particular de ser herege significa que permanece nela. Um modernista fora da Igreja não é mais um modernista: ele é um protestante liberal ou racionalista; ele é um filósofo incrédulo ou um exegeta incrédulo ou um historiador incrédulo, dependendo dos estudos que ele fez: qualquer coisa que você queira, exceto um modernista. A nota específica do modernismo é ser uma heresia dentro da Igreja. O modernista não sai da Igreja a menos que seja desmascarado e expulso: após a expulsão, ele sobrevive como um herege, não como um modernista”[47]. Consequentemente, a observação de São Pio X em nada impede o uso da expressão Igreja conciliar, como fez D. Lefebvre, desde que com isso entendamos uma realidade que é distinta da Igreja Católica não em ato, mas apenas em potência e que, portanto, coexiste com a Igreja, como uma nova orientação dentro dela.
Pe. Jean-Michel Gleize
Professor de eclesiologia no Seminário Saint Pio X de Ecône
Fonte: FSSPX Itália – Tradução: Dominus Est
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[1] D. Lefebvre, Conferência realizada em Ecône nos dias 18 e 27 de agosto de 1976, em Vu de haut, n. 13, pp. 37-38.
[2] D. Lefebvre, Conferência realizada em Ecône em 2 de dezembro de 1974, em Vu de haut, n. 13, pp. 9-10.
[3] D. Lefebvre, Conferência realizada em Ecône em 29 de setembro de 1975, em Vu de haut, n. 13, pág. 24
[4] D. Lefebvre, Conferência realizada em Ecône em 22 de agosto de 1976, em Vu de haut, n. 13, pág. 24
[5] D. Lefebvre, La visibilité de l’Église et la situation actuelle, in Fideliter, n. 66 (novembro-dezembro de 1988), pp. 27 ff.
[6] Entrevista com D. Lefebvre, Un an après les sacres, in Fideliter, n. 70 (julho-agosto de 1989), pp. 6 e 8.
[7] Entrevista com D. Lefebvre, in Fideliter, n. 79 (janeiro-fevereiro de 1991), pp. 3 e 5.
[8] Bento XVI, Discurso à Cúria de 22 de dezembro de 2005, na Acta Apostolicae Sedis, n. 98 (2006), p. 46
[9] D.Fellay, L’épreuve des apôtres et la situation présente de l’Église, Sermão proferido no domingo, 2 de setembro, no Seminário S. Cura d’Ars de Flavigny, por ocasião do Congresso MCF, em Nouvelles de Chrétientés, n . 137 (setembro-outubro de 2012), p. 20
[10] Id., L’épreuve des apôtres et la situação présente de l’Église, Sermão proferido no domingo, 2 de setembro, no Seminário S. Cura d’Ars de Flavigny, por ocasião do Congresso MCF, em Nouvelles de Chrétientés, n. 137 (setembro-outubro de 2012), pp. 16 e 20.
[11] D. Fellay, Sermão do domingo, 11 de novembro de 2013, em Saint Nicolas du Chardonnet (Paris), publicado no site La Porte Latine.
[12] D.Fellay, L’épreuve des apôtres et la situation présente de l’Église, Sermão proferido no domingo, 2 de setembro no Seminário S. Cura d’Ars, de Flavigny, por ocasião do Congresso MCF, em Nouvelles de Chrétientés, n . 137 (setembro-outubro de 2012), pp. 15-16.
[13] D. Fellay, Sermão do domingo, 11 de novembro de 2013, em Saint Nicolas du Chardonnet (Paris), publicado no site La Porte Latine.
[14] Isto é atestado, de modo particular, pela Conferência realizada em Ecône em 5 de Outubro de 1978.
[15] Mt 16, 18.
[16] Mt 28,20.
[17] São Pio X, Encíclica Pascendi, in Acta Sanctae Sedis, n. 40 (1907), p. 594.
[18] Id., Ibidem, p. 620.
[19] Summa Theologica (ST), I, q. 13, a. 1, corpus e ad 3.
[20] ST, I, q. 13, a. 12, ad 3: “É evidente, de fato, que o nosso intelecto concebe imaterialmente as coisas materiais que estão abaixo dele, não porque as considere imateriais, mas porque ao compreendê-las há um modo que é imaterial. Da mesma forma, quando ele concebe coisas simples que estão acima dele, ele as entende à sua maneira, isto é, na forma de coisas compostas; não que os considere compostos”.
[21] D. Lefebvre, Acuso o Concílio, Editrice Ichthys, 2002, p. 9: “Depois deste Concílio, a Igreja, ou pelo menos os homens da Igreja que ocupam os cargos-chave, assumiram uma orientação claramente oposta à Tradição, isto é, ao Magistério oficial da Igreja”. Cf. também a Conferência realizada em Ecône em 9 de junho de 1988: “A batalha que começou no Concílio continua. Continua porque a mudança feita no Concílio exigiu resistência, exigiu que nos opuséssemos a todas essas teses modernistas, todas essas teses liberais que invadiram os espíritos durante o Concílio”.
[22] ST, I-II, q. 18, a. 8, ad 1.
[23] ST, I, q. 48, a. 4, corpus.
[24] Caetano, De comparation e auctoritatis Papae et Concilii cum apologia ejusdem tractatus (1512), ed. a cura, por V. Pollet (Scripta theologica, vol. I., Romae, apud Institutum Angelicum, 1936), cap. XI, n. 191.
[25] Mt 16, 18.
[26] Julio Meinvielle, De la cabale au progressisme, Éditions Iris, Ecône, 1ª ed. 2008, pp. 361-362; 2ª ed. 2012, p. 416.
[27] Este é o título dado pelas Edições Fideliter à coleção das cinco principais conferências realizadas por D. Lefebvre sobre o tema da crise na Igreja.
[28] R.P. Calmel, A Igreja e o Papa, em Breve apologia da Igreja de todos os tempos, Editrice Ichthys, 2007, pp. 111 e 119.
[29] Texto inédito datado de 11 de fevereiro de 1973, preservado nos Arquivos do Seminário São Pio X em Ecône.
[30] Fideliter, nº. 66, setembro de 1988, pp. 27-31.
[31] Cfr. A Conferência realizada em Ecône em 5 de outubro de 1978: “O que deve ser feito? Devemos concluir que, se o Papa ensina algo contrário à fé que sempre nos ensinaram, então este Papa seria um herege? É possível, não sei. […] Agora, se se cai na hipótese, nas várias hipóteses teológicas, a coisa fica muito difícil. Por outro lado, o Papa aderiu a uma heresia formal ou simplesmente, por assim dizer, deu à heresia uma chance de se difundir? São duas coisas diferentes, não acha? Tudo isso é muito difícil, muito delicado. […] Diante das dificuldades levantadas por todos esses problemas, confesso que não me atrevo a resolvê-los recorrendo a princípios, a resolvê-los com todas essas teorias, essas hipóteses, essas possibilidades, absolutamente. Não me sinto capaz de fazer isso, porque não sei o suficiente sobre tudo o que o Papa fez. Não sei as influências que ele teve que sofrer. Não sei exatamente, porque, afinal, não estou nas salas do Vaticano. De todos esses problemas, de todas as circunstâncias a eles relacionadas, não temos uma visão clara o suficiente para podermos chegar a uma determinada solução. […] Eu diria, por outro lado, que isso não influencia muito na nossa conduta prática. Por que razão? Porque rejeitamos com firmeza e coragem tudo o que é contra a fé. Não há mais nada a fazer. Sem saber de onde vem tudo isso, sem conhecer o culpado, deixando que Deus julgue o culpado, seja isso ou aquilo”. Além disso, D. Lefebvre escreveu ao Pe. Guérardde Lauriers, um dos principais “fundadores” do sedevacantismo: “Se o senhor tem certeza de que Paulo VI está juridicamente deposto, entendo a lógica que segue. Mas pessoalmente tenho uma dúvida forte e não uma certeza absoluta. Do ponto de vista prático, minha conduta não se baseia na inexistência do Papa, mas na defesa de minha fé católica. Em vez disso, você acredita na consciência que deve basear-se neste princípio, que infelizmente é uma fonte de perturbação e divisões violentas, todas as coisas que eu gostaria de evitar”.
[32] Caetano, De comparatione auctoritatis Papae et Concilii cum apologia ejusdem tractatus, ed. cit., cap. XX, n. 280
[33] Núm. 16, 26: “Fique longe”; Gal. 1,8: “Seja anátema”, isto é, que se separe dele; 2 Tess. 3, 6: “Afaste-se” 2 Cor. 6, 17: “Saiam do meio deles e separem-se”; 2 Joao. 1,10: “Não o recebas em casa e não o cumprimentes”; Tit. 3, 10: “Afaste-se de si mesmo“.
[34] Fideliter, nº. 66, setembro de 1988, pp. 27-31.
[35] Louis Billot, De Ecclesia Christi, tom. I, Prati, Giachetti, 1909, pp. 49-51.
[36] D. Lefebvre, ibid., Pp. 6 e 8.
[37] [Que o Papa está privado de seu cargo, ndt].
[38] D. Lefebvre, Conferência no Seminário de Flavigny, dezembro de 1988, in Fideliter, n. 68 (março-abril de 1989), pp. 12-13.
[39] D. Lefebvre, Homilia do domingo, 10 de julho de 1988, in Fideliter, n. 65 (setembro-outubro de 1988), p. 4 –
[40] Santo Tomás, In duodecim libros Metaphysicorum Aristotelis expositio, ed. Marietti (Torino, 1950), livro V, lição 17, n. 1023.
[41] Id., Ibid., N. 1025.
[42] Cf., por exemplo, Bento XVI, Discurso proferido por ocasião do encontro ecumênico no arcebispado de Praga, domingo, 27 de setembro de 2009, in Acta Apostolicae Sedis, n.101 (2009), p. 867: “O cristianismo tem muito a oferecer no plano prático e moral, porque o Evangelho não cessa de inspirar os homens e mulheres a se colocarem ao serviço dos irmãos e irmãs. Poucos poderiam contestar isso. Todavia, quando fixam o olhar em Jesus de Nazaré com olhos de fé sabe que Deus oferece uma realidade mais profunda e, no entanto, inseparável da “economia” da caridade que opera neste mundo: Ele oferece a salvação. O termo “salvação” é rico em significados, todavia expressa algo fundamental e universal do anseio humano por felicidade e plenitude. Faz alusão ao desejo ardente de reconciliação e comunhão que espontaneamente brota das profundezas do espírito humano. É a verdade central do Evangelho e objetivo pela qual se dirigem todos os esforços de evangelização e de cuidado pastoral. E é o critério ao qual os cristãos sempre voltam a enfocar, em seu compromisso de curar as feridas das divisões do passado […], rezo para que tais iniciativas ecumênicas deem frutos não só para continuar o caminho da unidade cristã, mas para o bem de toda a sociedade europeia”.
[43] Mons. Fellay, Discurso final no 11º Congresso do Courrier de Rome, Paris, 6 de janeiro de 2013, publicado no site do DICI ( http://www.dici.org/documents/quel-bilan-50-ans-apres-vatican-ii / ).
[44] R.P. Calmel, Breve apologia da Igreja de todos os tempos, cit., P. 112
[45] “O Concílio foi desviado de seu fim por um grupo de conspiradores” (D. Lefebvre, Prefácio ao livro Acuso o Concílio, Edizioni Ichtys, 2002, p. 45).
[46] ST, I, q. 49, a. 3, corpus.
[47] P. Victor-Alain Berto, Documento retirado do arquivo pessoal de D. Lefebvre, no Seminário São Pio X de Ecône.