São Miguel Arcanjo, cujo nome significa “quem é igual a Deus?”, segundo a Sagrada Escritura e a tradição da Igreja, é um dos sete espíritos assistentes ao trono do Altíssimo, portanto um dos grandes príncipes do céu e ministros de Deus, a quem o Criador conferiu poderes extraordinários para a salvação dos eleitos. O profeta Daniel chama-o “um dos ilustres príncipes”, “o príncipe protetor dos judeus”, daquela nação entre todas a escolhida, de todas a mais querida, depositaria dais grandes profecias e revelações. Herdeira que é do povo de Israel, a Igreja venera em S. Miguel também um grande protetor, e deseja que os fiéis a acompanhem nessa veneração e depositem no grande espírito angélico toda a confiança. Inimigo do orgulho e da mentira, S. Miguel defendeu vitoriosamente os direitos de Deus contra as arrogâncias de Lúcifer e dos seus companheiros, precipitando-os no abismo. “Quem é igual a Deus?” era o lema de S. Miguel e dos Anjos bons, na luta contra os Anjos rebeldes. Estes foram derrotados “e seu lugar não era mais no céu”. Em muitos outros lugares a Bíblia fazem menção do Anjo do Senhor, que, segundo a explicação dos exegetas, não é outro senão S. Miguel. É opinião de muitos que a S. Miguel é reservado um papel saliente no último combate, pois é o protetor das almas justas e o defensor dos corpos destinados à eterna glória. Motiva esta suposição um fato, cuja descrição se encontra numa epístola de S. Judas Tadeu. Moisés, morrera e o demônio, pretextando o fato de Moisés ter matado um egípcio, disputou o cadáver do Profeta. S. Miguel, porém, opôs-se lhe e afugentou o demônio com as palavras: “O Senhor será teu juiz”. A fé católica conclui daí que S. Miguel dispensa uma proteção especial aos moribundos e isto muito de acordo com os dizeres do Ofício da festa do Arcanjo: “Eu te reconstitui como protetor das almas prestes a serem recebidas no céu”.
Nas orações da santa Missa a Igreja deposita, por assim dizer, as almas dos justos nas mãos do Arcanjo, para que as leve ao reino da luz perpetua. É quem as acompanha até o céu, tomando-lhes a guarda do túmulo. O Padre apostólico Hermas afirma que S. Miguel visita os agonizantes que em vida foram fiéis observadores da lei do Senhor e determina-lhes o lugar no céu. Segundo piedosa tradição foi o Arcanjo S. Miguel que levou a alma de Maria Santíssima ao céu, e era ainda quem no Antigo Testamento conduzia ao limbo as almas dos Justos. Pedro Lombardo enumera quatro atribuições de que S. Miguel é possuidor. Primeiro, combateu o dragão infernal; segundo, este combate continua, na defesa das almas contra as influencias diabólicas; terceiro, S. Miguel é o grande protetor da família de Deus sobre a terra; quarto, é o príncipe das almas no paraíso.
Assim se explica a grande veneração de que S. Miguel goza na Igreja católica. Na Ladainha de todos os Santos figura-lhe o nome em primeiro lugar, entre os santos Anjos e Arcanjos. No Confiteor lhe é citado o nome logo depois do de Nossa Senhora. Muitos altares, muitas capelas e igrejas lhe são dedicados, entre estas, algumas que têm sido testemunhas de grandes prodígios e aparições do grande Príncipe celestial.
Em Roma existe o castelo de Santo Ângelo, com a igreja de S. Miguel, que devem a construção à aparição do Arcanjo ao Papa- Gregório Magno, por ocasião de tema grande peste. O Papa viu S. Miguel embainhar a espada, em sinal da extinção da horrível epidemia. Os napolitanos festejavam já em 493 o dia de S. Miguel, que, segundo urna piedosa lenda, teria aparecido no monte Gargano. No tempo dos Apóstolos existia um santuário de São Miguel na Frígia. Uma fonte milagrosa dava saúde aos peregrinos enfermos. Desde o século X a diocese de Acrenche, na Normandia, comemora solenemente uma aparição de S. Miguel em Monte Tumba (Mont St. Michel).
O Papa Leão XIII ordenou a recitação de uma oração a S. Miguel depois das Missas rezadas. A Igreja católica romana celebra duas festas de S. Miguel: uma em 29 de setembro, que antigamente levava o nome de dedicação da Igreja (isto é, da Igreja celeste e terrestre) e outra em 8 de Maio, a Aparição do Arcanjo S. Miguel.
REFLEXÕES
Bravura e fidelidade são as brilhantes qualidades que distinguem o glorioso Príncipe celeste, S. Miguel: bravura na defesa dos direitos de Deus contra os ataques furiosos dos seus inimigos; fidelidade no serviço permanente e dedicado ao seu divino Criador e Senhor. Bravura e fidelidade devem igualmente distinguir o católico dos nossos tempos. O mundo moderno, materialista e materializado dá muito valor à cultura física e todo o seu apoio presta às diversas ativações do “esporte “. Hoje é festejado o militar, que se evidenciou no campo da batalha, o aviador que bateu o recorde em velocidade, o “boxeur”, que com uns golpes formidáveis desarticula os maxilares do seu adversário, e com uns tremendos murros lhe dá o “knok-out”, o “footballer “, que nos encontros sensacionais, com elegância e destreza sabe manter seu renome de primeiro “goolkeeper” da cidade, da nação, do mundo. Hoje são admirados, homenageados e delirantemente aclamados os “stars” do cinema, os “astros” do palco, os vencedores nas corridas. Tudo em honra, tudo na apreciação que merece. Mas se o heróico militar não tem uma palavra de protesto e de defesa de sua religião quando a vê atacada na roda de companheiros; se o festejado boxeur, o endeusado rei dos ares, o aclamado “goolkeeper”, etc., cobardemente se calarem quando no café, no club, na roda de amigos vozes atrevidas ofendem a religião e a Igreja de Cristo, esse silêncio prova que preferem como Pedro negar três vezes Nosso Senhor, a confessa-lo solenemente com S. Miguel. Se bravura outra significação não tem senão coragem, arrojo, destreza, força bruta, candidatos à coroa são então o cão, a águia, a corça, o elefante, porque em muitas qualidades físicas os animais levam vantagem ao homem. Quem mostra cobardia, quando abertamente se devia colocar ao lado de Deus, já tem um pé fora da Igreja, que lhe deu o batismo, embora no meio dos devotos, isto é, na Igreja, na mesa da Comunhão dê demonstrações de sua fé. Bravura, força bruta, destreza, arrojo podem ser qualidades apreciáveis, mas não são elementos compositores do caráter. Aliados à intrepidez espiritual, dão valor ao homem e contribuem para sua felicidade. Cristo quer que o católico seja militante. A voz da Igreja chama-o à cooperação direta na Ação Católica.
Deus não carece da criatura para sua defesa. Com um ato de vontade podia esmagar os seus inimigos. Mas como na grande revolução que houve no mundo invisível, entre os anjos, não entrou na liça pessoalmente, mas confiou na ação dos anjos bons, assim agora sabe Ele muito bem porque nos entrega à luta e permite que de todos os lados soframos doestos, descomposturas e injúrias por causa da religião. A luta que S. Miguel teve de sustentar, em tudo se iguala à nossa. Seus adversários eram os anjos revoltosos, que não mais queriam prestar homenagem a Deus. Hoje são homens que desenrolam a bandeira da guerra contra Deus.
Esta nova revolução trabalha aberta e disfarçadamente, atrás de máscara, com mentiras, seduções, calúnias e mil artifícios diabólicos para arrancar a ideia de Deus dos corações dos homens. Não são uma revolução sorrateira contra Deus as perseguições brutais e sanguinolentas no México? Os horrores de que é teatro a Rússia, não têm por motivo o ódio fanático a Deus? O número cada vez mais crescente dos neopagãos, o incremento verdadeiramente assustador que o espiritismo está tomando nas próprias famílias, o afastamento das práticas de religião de muitos católicos, o relaxamento da moral na imprensa, no cinema, no teatro, a propaganda franca de ideias bolchevistas não é tudo isto uma nova investida furiosa e decidida do inferno contra o trono de Deus?
O católico está colocado no meio deste movimento, vive no meio de um mundo anticristão que cobiça sua solidariedade. Dia por dia se vê diante da decisão: Ou Cristo ou Satanás. Fidelidade a Cristo ou abandonai-o. A luta é terrível. Na indecisão, na tentação é o exemplo de S. Miguel que o deve orientar.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 22 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico