São Pedro de Alcântara

Fonte da imagem: Senza Pagare

São Pedro de Alcântara (1562)

“AQUELLES que são de Cristo, crucificaram a própria carne com os seus vícios e concupiscências.” (Gal. 5, 24). Esta palavra de S. Paulo tem admirável aplicação a S. Pedro de Alcântara, cuja festa a Igreja celebra no dia 19 de outubro.

Filho de um jurisconsulto, Pedro nasceu em 1499 em Alcântara, na Espanha. Menino ainda, já dava sinais indubitáveis de futura santidade. De índole boa, manso, modesto e simples, era pelos companheiros apelidado de “Santo”. Embora se dedicasse de corpo e alma aos estudos na Universidade de Salamanca; embora tivesse feito sempre figura saliente entre os companheiros, ficou fiel aos princípios religiosos e para todos era um modelo perfeito de virtude e piedade. Quotidianamente visitava a igreja, com muito rigor castigava os sentidos, particularmente os olhos, e as horas vagas dedicava-as aos pobres doentes, que o estimavam extraordinariamente, por sua caridade e modéstia.

Era vontade do pai que Pedro fizesse os estudos de direito; mas os desejos e aspirações do jovem eram outros. Tendo apenas 16 anos, pediu admissão na Ordem de S. Francisco de Assis. Com o hábito tomou também o espírito da Ordem e tão rápidos progressos fez nas virtudes e na santidade que, tendo apenas 20 anos de idade, foi nomeado Superior do Convento em Badajoz.

Sucessivamente ocupando os cargos de Guardião e Definidor, era para todos os confrades um modelo exemplaríssimo de perfeição monástica e no cumprimento de todos os deveres. Além disto era extraordinário, como pregador de missões e confessor, e só de Deus é conhecido o bem enorme que nesta dupla qualidade de pregador e confessor, fez àqueles que o procuravam e quantos, por seu intermédio, acharam a paz da alma e se conservaram na graça de Deus. Amável, condescendente para com o próximo, era inexorável para consigo. Franciscano de espírito e por convicção, outras coisas não possuía a não ser um hábito velho e gasto, um breviário, um crucifixo tosco e um bastão. Não usava calçado, nem chapéu. Cada terceiro dia jejuava, alimentando-se unicamente de um pouco de pão, água e legumes temperados com cinza. Ao sono dedicava apenas duas horas e ainda assim sentado numa caldeira ou encostado em uma parede. Para sofrer ainda mais as inclemências do inverno, abria a janela do cubículo durante toda a noite. Se os confrades lhe pediam que moderasse um pouco o rigor das penitências, com um sorriso nos lábios respondia: “Fiz um contrato com meu corpo, pelo qual ele se comprometeu a sofrer muito durante esta vida, que é tão curta; tomei o compromisso de proporcionar-lhe um repouso sem fim na eternidade.”

Assim viveu Pedro durante 40 anos, prestando neste longo tempo serviços muito mais relevantes à humanidade do que centenas daqueles que, passando vida regalada, para a vida religiosa monástica só têm desprezo ou um sorriso de irônica compaixão.

A atividade deste pobre monge foi estupenda. Eleito Provincial da Ordem. Pedro visitou todos os conventos da mesma, confiados à sua jurisdição, e em todos introduziu a reforma à mão da regra primitiva do Fundador. Passados três anos, renunciou ao cargo e, com permissão do Papa; acompanhado de alguns frades, dirigiu-se ao promontório Arabida, em Portugal, com o fim de experimentar praticamente a obra da reforma.

Em breve se impôs a necessidade da construção de mais um convento, tantos eram os pedidos de admissão de novos candidatos. Satisfeito com este resultado inesperado, voltou para a Espanha, onde a despeito de contradições, insultos e calunias sem fim, fundou o convento de Pedroso. Quatro outros conventos, que já tinham aceito a reforma, pediram para ser agregados ao de Pedroso. A obra da reforma tinha tomado um incremento tal, que o Papa Paulo IV deu autorização para organizar na Espanha uma nova Província franciscana, à qual pouco a pouco se afiliaram mais de 30 conventos de diversos países.

Pela reforma da Ordem franciscana, Pedro não só restabeleceu na família monástica o espírito primitivo da pobreza, humildade e penitência, mas concorreu grandemente para a regeneração da fé entre o povo todo, pondo assim um dique à onda avassaladora da “Reforma protestante.”

A virtude e extraordinários talentos de que era dotado, tornaram-lhe o nome célebre e acatado em toda a Espanha. De longe vinham pessoas, com o fim de conhecerem o humilde e benfazejo franciscano e dele receberem instrução, conselho e consolo. Nas viagens do missionário o povo se lhe acercava, para beijar-lhe a orla do hábito e pedir-lhe a benção. Cidades e municípios recorriam ao seu arbítrio, para fazer cessar litígios que perturbavam a paz comum.

Carlos V pediu-lhe muitas vezes conselho e o rei João III de Portugal muito insistiu para que passasse algum tempo na corte. A Infanta D. Maria entregou confiadamente os negócios de sua alma à direção do santo franciscano e muitos representantes da alta fidalguia do Portugal e da Espanha lhe procuravam a amizade.

O século que deu a outros países a Reforma (mais acertadamente chamada a Revolução religiosa), mimoseou a Espanha com uma plêiade de Santos, estrelas de primeira ordem no firmamento da Igreja Católica. Luiz de Granada, João d’Avila, Francisco Borja, Teresa de Jesus são nomes respeitabilíssimos de Santos espanhóis do século XVI. Com todos eles S. Pedro de Alcântara esteve em viva comunicação e por muito tempo foi diretor espiritual da grande Reformadora da Ordem do Carmo.

A todo aquele que quer ser discípulo do divino Mestre, como a este não faltaram, não lhe faltarão provações e sofrimentos de toda a espécie. Pedro de Alcântara desta regra não fez exceção; mas também experimentou as doçuras da Cruz de Cristo e a verdade da palavra do Salmista, que diz: “Melhor é um dia nos teus átrios, meu Deus, que milhares nas casas dos pecadores. Preferi estar abatido na casa de meu Deus, que morar nas tendas dos pecadores.” (Ps. 83. 11). Deus distinguiu seu fiel servo com muitos milagres e deu-lhe sinais evidentes de predileção.

Pedro tinha 63 anos, quando lhe foi revelado a hora da morte. Achando-se em viagem de visita canônica, foi acometido de uma doença mortal. Internado no hospital de Arenis, sofreu dores atrozes, as quais eram suavizadas pela visita frequente de Maria Santíssima, de S. João e de outros Santos. A febre causava-lhe uma sêde tão grande, que difícil lhe era articular uma palavra. Irresistível era então a vontade de beber água. Tomando o copo com água na mão, levava-o à boca; mas, olhando para o crucifixo, levantava para ele o copo e com um doce sorriso entregava-o ao enfermeiro, sem ter tomado uma só gota. Com uma devoção que comoveu todos os circunstantes, recebeu o santo Viático. As últimas palavras que disse, foram as do Salmo 121: “Eu me alegro nisto que me foi dito: Iremos à casa do Senhor”, e no dia 19 de outubro de 1562 entregou a alma a Deus. Santa Teresa, que nos seus escritos mais vezes com elogios se refere ao seu diretor espiritual, disse: “Ele morreu como viveu, isto é, santo, e por sua intercessão adquiri muitas graças de Deus. Vi-o diversas vezes, rodeado de grande glória e a primeira vez me disse: “Ó bem-aventurada penitência, que me fez alcançar uma glória tão sublime!”

O túmulo de Pedro de Alcântara é glorioso, e Deus se dignou de comprovar com muitos milagres a santidade de seu servo, cujo nome foi por Clemente IX inscrito no catálogo dos Santos da Igreja Católica.

REFLEXÕES

“Ó feliz penitência, que me mereceu tão grande glória! ” disse S. Pedro a Santa Teresa, para anima-la na prática de mortificações. Já ouviste ou veste certa vez que uma só pessoa mundana estendida sobre o leito da dor, já nas vascas da morte, tivesse exclamado: “O felizes prazeres do mundo; ó benditos bailes e teatros, quanto me fizestes gozar! Que consolo não experimento agora, lembrando-me de tudo que me prodigalizastes de diversão! Como me sinto feliz, de vós me lembrando!” Já ouviste tal confissão? É certíssimo que não. Frequente é observar que pecadores públicos experimentam vivo arrependimento, por terem passado a existência a serviço do mundo. S. Pedro fez um pacto com o corpo, ao qual não dava descanso nem prazer nesta vida. Faz uma aliança semelhante com teu corpo e dize-lhe que: 1°. nunca lhe concederás um prazer sensual ilícito; 2º. em hipótese alguma te afastarás do cumprimento dos teus deveres; 3º.  não tomarás mais tempo para o repouso, do que é necessário; 4º. sempre observarás jejum e abstinência de preceito; 5º. farás ainda outras penitências voluntárias, para reparar faltas cometidas no passado. Faze este pacto com teu corpo e um dia, como S. Pedro, poderás exclamar: “Feliz penitência, a que fiz, que tanta glória me alcançou!”.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Última atualização do artigo em 22 de março de 2025 por Arsenal Católico

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