A verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo não é o protestantismo, mas unicamente a Igreja católica

Pietro Perugino, entrega das chaves, entre 1480 e 1482, Domínio Público, Wikimedia Commons

A VERDADEIRA IGREJA

A verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo não é o protestantismo, mas unicamente a Igreja católica

Qual foi a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo

Baixando ao mundo para salvá-lo, (1) Nosso Senhor Jesus Cristo, ao tempo que por meio de profecias e milagres ia comprovando a sua missão divina, dava inicio à restauração da humanidade, pregando o Santo Evangelho e fundando a Religião nova, a qual dEle tomou o nome, que ora tem, de Religião cristã.

Todavia, não se limitou Jesus a fundar a sua Religião: organizou-a também em forma de sociedade perfeita, entendendo que, assim como na sociedade civil encontra o homem todos os meios necessários para a florescência de todas as suas qualidades e para o aproveitamento de todas as suas energias, assim também na sociedade religiosa, à qual deu o nome de Igreja sua, (2) lograsse o cristão encontrar os indispensáveis auxílios para atingir seguramente o seu próprio fim sobrenatural, isto é, a salvação e a bem-aventurança eterna.

Para nos dar uma idéia exata desta obra prima da sabedoria do Verbo Encarnado, assevera o Apóstolo São Paulo que Jesus Cristo é a cabeça da Igreja, e a Igreja o corpo de Cristo, (3) fazendo-nos claramente ver que entre Jesus Cristo e a sua Igreja existe uma união íntima, análoga à que existe entre a cabeça e o corpo humano. Não é uma simples união moral, como, por exemplo, a de um rei com os seus súditos. É, antes, uma união física, como a que existe entre a cabeça e o corpo, entre o tronco da videira e os seus ramos (4) – consoante a expressão do divino Mestre – porquanto, assim como a cabeça domina, vivifica e governa todo o corpo humano, da mesma forma – comenta São Thomás – Jesus Cristo domina, vivifica e governa toda a sua Igreja (5); e, assim como, partida do tronco, a seiva se comunica aos ramos todos da árvore, fazendo-a continuamente crescer até se tornar robusta e majestosa, coberta de folhas, engalanada de flores e onusta de frutos, assim também a seiva divina da graça, promanada de Jesus Cristo, que a possui em toda a plenitude, se difunde por todo o seu corpo místico, que é a Igreja, dando-lhe sempre maiores incrementos, dilatando-lhe pelo mundo inteiro os ramos férteis, vistosamente adornados com uma prodigiosa florescência de virtudes e fortemente carregados de ótimos frutos de vida eterna. (6)

Assentada tal doutrina, necessariamente se infere que a Igreja, instituída por Nosso Senhor, vem a ser como que a continuação, através dos séculos, do mistério da Encarnação, o prolongamento da Pessoa divina do Filho de Deus humanado e o seu imprescindível complemento. Efetivamente, não sendo passível conceber uma cabeça viva sem um corpo que se lhe adapte, ou vice-versa, um corpo vivo sem a respectiva cabeça, impossível se torna compreender Jesus Cristo sem a Igreja, e a Igreja sem Jesus Cristo.

Tão verdadeira é esta inferência, que o apostolo São Paulo, quando, sob a inspiração divina do Espirito Santo, expõe esta mesma doutrina, se atreve a dar o nome de Cristo não só a Nosso Senhor, mas ainda à sua Igreja, considerando-a estreitamente ligada a Ele e com Ele constituindo um todo orgânico. (7)

Colige-se ainda destes sublimes ensinamentos do Apóstolo que, estando a Igreja tão intimamente unida a Jesus, frui a mesma vida de Cristo e participa das mesmas prerrogativas, havendo entre ambos o que os teólogos denominam “Comunicação de idiomas”.

Portanto, assim como Cristo é Homem-Deus, semelhantemente é a Igreja humano-divina. Assim como há em Jesus Cristo duas naturezas: visível a humana, a divina-invisível, tem igualmente a Igreja duas vidas: uma interna e invisível, constituída pela graça que a anima e pelas infusas virtudes de Fé, Esperança e Caridade; externa outra e visível, que consiste na manifestação da vida interna pela prática do culto divino e pelo exercido das virtudes cristãs. Assim como Jesus Cristo é um e único na sua Pessoa, que é a do Verbo divino, da mesma forma é a Igreja uma e única, e nesta unidade está toda a sua glória. Assim como Jesus Cristo infunde a Fé, envia o Espirito Santo, perdoa os pecados, se manifesta quando quer e liberaliza com generosidade as suas graças, assim também pelo Batismo infunde a Igreja a Fé, comunica o Espírito Santo pela Confirmação, pela Absolvição perdoa os pecados, torna presente Jesus Cristo pela Eucaristia, e, mediante os sacramentos da Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio, além dos outros que vimos de referir, dispensa largamente os favores divinos e copiosamente distribui a graça.

Que mais ainda? Assim como Jesus Cristo doutrinava, regia e santificava as almas, doutrina-as semelhantemente a Igreja, rege-as e santifica-as. Por último, assim como Jesus Cristo foi perseguido, perseguida é também a Igreja, e assim como triunfou Jesus Cristo dos seus algozes, e triunfa dos seus inimigos, há vinte séculos a Igreja também o faz. Não mais acabaríamos, se quiséssemos enumerar todos os pontos de semelhança que ha entre Cristo e a sua Igreja, prolongamento que é da sua Pessoa, da sua missão, dos seus títulos, dos seus sofrimentos e das suas vitórias.

Resumindo, sem receio de erro nem vislumbre de exagero, podemos afirmar que a história de Cristo é a historia da Igreja e, reciprocamente, a história da Igreja é a historia de Cristo.

Da referida doutrina de São Paulo se depreende uma terceira consequência: tendo Nosso Senhor instituído a sua Igreja em forma de sociedade visível – pois é constituída de seres humanos – havia de lhe dar uma hierarquia, para que esta, em seu nome, a regesse e a governasse pela sua autoridade. Foi justamente o que fez Jesus Cristo, quando escolheu, dentre os seus muitos discípulos, doze Apóstolos para serem os seus ministros e, dentre os Apóstolos, um – São Pedro – para ser o chefe supremo da sua Igreja.

Aos doze Apóstolos confere Nosso Senhor a plenitude do sacerdócio, o poder de perdoar ou reter os pecados, e a missão de ensinar, reger e santificar a sua Igreja. A São Pedro, porém, e a ele só, constitui-o pedra fundamental e inabalável – em outros termos, chefe supremo e infalível – da Igreja; entrega-lhe, a ele só, as chaves do reino dos céus; só por ele exora ao Pai celestial nunca jamais permita lhe desfaleça a Fé, para sempre nesta mesma Fé confirmar os seus irmãos; deste príncipe dos Apóstolos, e só dele, exige que o ame com maior ardor do que os outros; só a ele confere o-poder e íntima a ordem de apascentar os seus cordeiros e as suas ovelhas.

Finalmente, numa das suas últimas aparições, depois da ressurreição, falando aos Apóstolos reunidos, assim se exprime: “Todo o poder me foi dado no Céu e na terra. Ide, pois, a todo o mundo; pregai o Evangelho a toda a criatura, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos seculos”. (8)

Tal foi a missão confiada por Nosso Senhor aos Apóstolos. A Igreja, porém, consoante a afirmação explicita do divino Mestre, devia durar até o fim dos séculos; e como São Pedro e os demais Apóstolos, por sua condição humana, haviam de morrer um dia, era mister tivessem sucessores e legítimos herdeiros da autoridade que respectivamente lhes fôra conferida: os Apóstolos no seu ministério, e São Pedro no governo supremo da Igreja.

Uma última consequência, enfim, da instituição divina da Igreja vem a ser a necessidade absoluta e indispensável a todos os homens imposta, sem a minima excepção, de pertencerem a esta mesma Igreja, sob pena de eterna reprovação, porquanto impossível se torna a salvação a quem não pertencer a Jesus Cristo, e ninguém pode pertencer a Jesus Cristo, se não for membro da sua Igreja.

Notas características da Igreja fundada por Jesus Cristo

Para que todos os homens certa e facilmente pudessem conhecê-la, sem que ninguém ousasse alegar o mínimo pretexto de ignorância, quis Nosso Senhor dotar a sua Igreja de certas notas ou sinais característicos, pelos quais totalmente se distinguisse das religiões falsas ou fementidas igrejas que poderiam surgir mais tarde, como de fato surgiram, sobre a terra. Cinco são estes sinais característicos, próprios e exclusivos da Igreja de Jesus Cristo: unidade, santidade, universalidade, apostolicidade e indestructibilidade. (9)

Unidade

A Igreja de Jesus Cristo é uma e única, pois, como acabamos de ver na explícita afirmação do Evangelho, Nosso Senhor fundou uma só Igreja, e não duas ou mais. Além disso, a Igreja é o corpo místico de Cristo, e Cristo é a cabeça da Igreja, e assim corno repugna que tenha um corpo duas cabeças, igualmente repugna que tenha uma cabeça dois ou mais corpos. Demais, a Igreja, conforme a expressão de São Paulo, é a casa (10) e o templo de Deus, edificado sobre o fundamento dos Apóstolos, tendo qual pedra angular o próprio Jesus Cristo. (11) A Igreja, finalmente, há de formar um só rebanho governado pelo cajado de um só pastor. (12) Do que tudo rigorosamente se depreende que, por vontade e obra de Nosso Senhor, a Igreja por Ele instituída é necessariamente uma e única.

Santidade

A Igreja de Jesus Cristo é santa pelo seu Fundador, que é o próprio Filho de Deus; santa pela graça que a anima e vivifica; santa pela doutrina que professa; santa pela lei que a rege; santa pelos conselhos evangélicos que propõe e pelas virtudes que inculca; santa pelos sacramentos que administra e, sobretudo, pela divina Eucaristia que possui; santa, finalmente, pelos santos que só ela é capaz de produzir.

Universalidade

A Igreja de Jesus Cristo é universal: dilata-se por todas as partes do mundo, que assim profetizou e ordenou o seu divino Fundador, quando aos seus Apóstolos intimou: Ide, ensinai a todas as nações. (13) Pregai o Evangelho a toda a criatura. (14) Testemunhar-me-eis… até aos extremos confins da terra. (15) Por todo o mundo será pregado este Evangelho do reino do céu, para servir de testemunho a todas as nações. (16)

Apostolicidade

A Igreja de Jesus Cristo é apostólica: por uma tradição ininterrupta de autoridade, de poder e de missão, remonta aos Apóstolos, sobre os quais foi fundada, conservando-lhes fielmente a mesma doutrina e respeitando-lhes os direitos de legítima sucessão. Convosco estarei todos os dias até a consumação dos seculos (17) – afirmara solenemente Jesus – implicando tais palavras a sua permanência com os idôneos sucessores dos Apóstolos, que estes, como já dissemos, não ultrapassariam os limites ordinários da humana existência terrestre.

lndestrutibilidade

A Igreja de Jesus Cristo é indestrutível, porquanto Nosso Senhor previamente anunciou as lutas incessantes e os contínuos triunfos da sua Igreja, afirmando que, assim como fôra Ele perseguido, ela também o seria (18), mas que, apesar das furiosas investidas dos seus inimigos, as portas do inferno jamais haviam de prevalecer. (19) Sobre as ondas tumultuantes, através de horrendas tempestades, desliza impávida a Barca do Pescador de Galiléia, sulcando
serena sempre, e sempre vitoriosa, o mar bravio deste mundo, rumo ao único norte da humanidade – a salvação e a bem-aventurança eterna.

Continua…

A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.

1) Misit Deus Filium suum in mundum… ut salvetur mundus per ipsum – Jo., 3, 17.
2) Aedificabo Ecclesiam meam. – Math., 16, 18.
3) Ipse est caput corporis eccleS’iw – Cal. 1, 18. – lp· sum dedit caput super omnem eccleS’iam, qum est corporis ipsius. – Eph.1 1. 22.
4) Ego sum vitis, vos palmites. – Jo., 15, 5.
5) Summa Th.1 – 3.a p., q. VIII, a. 1, e.
6) Qui manet in me et ego, in eo, hic fert fructum multum. – Jo., 15, 5.
7) Sicut enim corpus unum est, et membra habet multa, omnia autem membra corporis cum sint multa, unum corpus sunt, ita et Christus. Etenim in uno Spiritu, omnes nos in unum corpus baptizati sumus. – 1 Cor., 12, 12-13. Daqui o arrojo com que se exprime S. Agostinho: Nos omnes cum capite nostro Christo Chr-istus sumus. – Sermo 61 De verbis Domini.
8) Math., 28, JB..20. Marc. 16, 15.
9) S. Th., Comm. in Symb. Apost., art. 9.
10) ln domo Dei… qum est ecclesia Dei vi’Vi, columna et firmamentum ventatis. 1 Tim., 3, 15.
11) Supercedificati super fundamentum apostolorum et prophetarum, ipso summo angulari lapide, Christo Jesu; in quo omnis cedificatio constructa crescit in templum sanctum in Domino. – Eph., 2, 20-21.
12) Et fiet unum ovile et unus pastor. – Jo., 10, 16.
13) Euntes ergo docete omnes gentes. – Math., 28, 19.
14) Prwdicate evangelium omni creaturre. – Marc., 16, 15.
15) ErUis mihi testes… usque ad ultimum terrcs. – Act., 1, 8.
16) Prmdicabitur hoc evangelium regni in universo orbe, in testimonium omnibus gentibus. – Math., 24, 14.
17) Ecce ego vobiscum sum, omnibus diebus, usque ad consummationem swculi. – Math., 28, 20.
18) Si rne persecuti sunt et vos persequentur. – Jo., 15, 20.
19) Porta inferi non prwvalebunt. – Math., 16, 18.

Última atualização do artigo em 12 de março de 2025 por Arsenal Católico

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