O terceiro distintivo da Igreja de Nosso Senhor é a universalidade. Como deixamos precedentemente asseverado, devia estender-se a todos os povos, abranger o mundo todo, conforme a ordem expressa do seu divino Fundador: Ide, ensinai a todas as nações. Pregai o Evangelho a toda a criatura. Nem se infira deste mandado tenha a Igreja de atrair a si, sem mais delongas, os povos todos disseminados pelo orbe. A conversão do mundo ao Cristianismo, posto seja obra da graça divina, depende todavia da cooperação da livre vontade humana. Para ser universal, é necessário e suficiente que a Igreja – pequenino grão de mostarda, consoante o símile que emprega Jesus no Evangelho, – por incrementas quotidianos, continuamente cresça, através dos séculos, pela evangelização ininterrupta, e dilate as suas robustas frondes sobre toda a superfície do globo, para acolher à sua fresca sombra os humanos viandantes, que no terrestre exílio peregrinam em demanda da eterna Pátria do além.
Assente esta verdade, cabe-nos o direito de perguntar às múltiplas seitas em que se fraciona o protestantismo, qual delas se estende ao mundo inteiro, qual evidência realmente a sua universalidade? Absolutamente nenhuma. As igrejas protestantes falece, pois, este caráter, e, por conseguinte, a nenhuma delas assiste o direito de se arvorar em lídima Igreja de Jesus Cristo.
Consideremos, ainda que de relance, a Igreja una e santa que é a nossa, e logo veremos que lhe sobejam solidíssimas razões e insofismáveis direitos para ostentar com ufania o seu título de católica, o seu característico de universal.
Vede-a como se espraia por todos os continentes e ilhas de ambos os hemisférios! Difundida por todas as partes do globo, ergue-se do norte ao sul, do poente ao levante, sob a canícula dos trópicos e nas inóspitas regiões glaciais, em todos os climas e no meio de todos os povos; floresce em todos os países católicos, hereges e cismáticos; viceja em terras maometanas, pagãs e bárbaras, entre as tribos antropófagas e os habitantes das zonas polares.
Descida do Calvário, há quase dois milênios, iniciou desde logo o seu apostolado. Em menos de três séculos, conquistou para Cristo todo o mundo antigo, onde Roma, à ponta de espada, traçava as suas fronteiras e os Césares ditavarn leis. Realizou depois a conversão dos povos bárbaros e plasmou as novas nações cristãs da Europa. Expandiu-se cada vez mais durante o longo decurso medieval, alcançando, até, os confins da Mongólia e da China. Nos tempos modernos, levaram os seus intrépidos missionários a luz do Evangelho e da civilização cristã à Ásia e África, e quando Colombo descobriu a América, e Cabral o Brasil, os vanguardeiros do catolicismo, fundeando logo nas praias americanas e brasileiras, promoveram a cristianização e a civilização dos silvícolas, contribuindo mais do que ninguém para a formação das novas nações americanas e, muito particularmente, da gloriosa Terra de Santa Cruz.
Na hora atual, os missionários católicos exercem o seu apostolado em todas as regiões do globo, sem exceção nenhuma. Não dispõem dos caudais de ouro das sociedades bíblicas; pobres, porém, como os Apóstolos, como eles incessantemente mourejam, como eles sabem também sacrificar-se, imolando, não raro, a própria vida nos tormentos cruciantes do martírio. Mas “O sangue dos mártires é fecunda semente dos cristãos”, e graças a este sangue profusamente derramado, vemos hoje contar a Igreja católica cerca de trezentos milhões de filhos, disseminados pela vastidão do orbe terráqueo.
Una e santa, ela é também universal, e, por conseguinte, a Igreja autêntica de Jesus Cristo.
A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.
Última atualização do artigo em 13 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico