O caráter de apostolicidade próprio da Igreja de Jesus Cristo não o possui o protestantismo, mas única e exclusivamente a Igreja católica

Estátua de São Pedro, Basílica de São Pedro, Roma, Itália - Public Domain - Wikimedia Commons

O caráter de apostolicidade próprio da Igreja de Jesus Cristo não o possui o protestantismo, mas única e exclusivamente a Igreja católica

O divino Salvador, como em outra parte já fizemos observar, fundou a sua Igreja sobre os Apóstolos, (1) e, de modo especial, sobre São Pedro, príncipe dos Apóstolos e pedra fundamental da referida Igreja. (2) Devendo esta prolongar-se até o fim dos séculos, consoante a infalível promessa de Nosso Senhor, (3) era evidentemente necessário que a São Pedro e aos Apóstolos outros respectivamente lhes sucedesse. Portanto, se existiu sempre, e se ainda hoje existe a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, nela se devem encontrar o legítimo sucessor de São Pedro e os legítimos sucessores dos Apóstolos; em outros termos, deve remontar a São Pedro e aos Apóstolos, por via direta e sem solução de continuidade; o que tudo quer dizer que é necessariamente apostólica.

Ora, haverá uma seita protestante que realize esta indispensável condição? Encontrar-se-ão nela o sucessor de São Pedro e os sucessores dos Apóstolos? Ninguém ousaria afirmá-lo, pois até o começo do século XVI, a palavra “protestante”, no sentido que ora tem, nem sequer existia. O protestantismo nasceu há quatro séculos apenas. É recente, e não se prende por nexo nenhum aos séculos anteriores. Não pode, portanto, ser a verdadeira Religião de Jesus Cristo. As incontáveis igrejas em que se tem fracionado, nestas quatro centúrias de sua existência, são ainda mais novas, e, por consequência, tão falsas como o tronco reformista do qual procedem. Procurar, pois, no protestantismo o sucessor de São Pedro e os sucessores dos Apóstolos é simplesmente absurdo.

Ainda mais. Para ser apostólica, deve a Igreja possuir não só os legítimos sucessores de São Pedro e dos Apóstolos, mas também a sua mesmíssima doutrina. Será a doutrina dos protestantes absolutamente idêntica à dos Apóstolos? Responde pela negativa a razão e o bom senso, pois já averiguamos que as teorias protestantes são diametralmente opostas ao Santo Evangelho. Além disso, tem o protestantismo continuamente variado os seus ensinos, e tão notórias são as divergências dos seus próceres, que o grande bispo francês, o ilustre Bossuet, para desmentir, já no século XVIII, os disparates dos patriarcas da Reforma e dos seus sequazes, se limitou a uma simples exposição ou “história das variações” da doutrina protestante, racionando neste modo:

A verdade é sempre a mesma, sempre imutável; Ora, a doutrina protestante varia continuamente. Logo, não pode ser verdadeira. É, pois, um erro.

Do exposto, claramente ressalta que o protestantismo está muito longe de possuir a mesmíssima doutrina dos Apóstolos. E falecendo-lhe por um lado a doutrina, por outro a sucessão legítima, não tem o indispensável cunho da apostolicidade, e não pode ser, portanto, a verdadeira Igreja de Cristo.

Com ser, porém, una, santa e universal, a Igreja católica é também realmente apostólica, remonta seguramente aos Apóstolos. Assevera-o o irrefragável testemunho da História. O Sumo Pontífice Pio XI, gloriosamente reinante em nossos dias, é sucessor de Bento XV, este de Pio X, que foi de Leão XIII; e assim, por um retrocesso direto e ininterrupto, no longo desfiar dos anos, até São Pedro, que foi o primeiro. Quanto aos Bispos católicos, não é menos certa e evidente a apostolicidade da sua missão, posto que durante o discurso destes vinte séculos, sempre se têm conservado perfeitamente unidos ao sucessor de São Pedro. Graças a esta íntima união com o legítimo Chefe da Igreja, que os elegia, tornavam-se, pelo mesmo fato, legítimos sucessores dos Apóstolos e herdeiros dos seus poderes. Demais, a Igreja católica manteve sempre fielmente a doutrina dos Apóstolos. O seu Credo atual é e tem sido invariavelmente o mesmo Credo primitivo – o Símbolo apostólico.

É, pois, de toda evidência que só a nossa Igreja, una, santa e universal pode, com inteira justiça, gloriar-se do seu caráter apostólico. Só ela, portanto, é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Mas – objetam os protestantes – a Igreja católica, alterou também, de onde em onde, a sua doutrina. Ensina hoje coisas que não ensinava outrora.

Respondemos: Os dogmas ou verdades reveladas por Cristo, Senhor Nosso, não admitem em si a mínima alteração, por isso que as obras divinas são perfeitas desde o início. Pode, sim, progredir, de dia para dia, o conhecimento que temos nós das verdades reveladas. Ao magistério infalível da Igreja confiou e prescreveu Jesus a missão de instruir, quando ordenou: Ensinai a todas as nações. Mas ensinar, expôr, explicar, deduzir, tornar explícito o que estava implícito, não é mudar, não é alterar: é progredir no conhecimento da verdade. Acusar um professor, um lente de aritmética, por exemplo, de alterar ou mudar esta disciplina, porque, explicando-a, faz os seus alunos progredirem no conhecimento desta ciência, é simplesmente insensatez. A mudança ou alteração no ensino supõe pelo menos uma contradição nas palavras do mestre; mas na doutrina da Igreja nunca jamais houve a mais mínima contradição, e desafiamos a quem quer que seja apresente uma só entre as definições dogmáticas da Igreja católica.

A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.

1) Superaedificati super fundamentum apostolorum.­ Eph., 2,20.
2) Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam. – Math., 16,18.
3) Ego vobiscum sum, omnibus diebus, usque ad consummationem saeculi. – Math., 28,30.

Última atualização do artigo em 6 de abril de 2025 por Arsenal Católico

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