O caráter de apostolicidade próprio da Igreja de Jesus Cristo não o possui o protestantismo, mas única e exclusivamente a Igreja católica
O divino Salvador, como em outra parte já fizemos observar, fundou a sua Igreja sobre os Apóstolos, (1) e, de modo especial, sobre São Pedro, príncipe dos Apóstolos e pedra fundamental da referida Igreja. (2) Devendo esta prolongar-se até o fim dos séculos, consoante a infalível promessa de Nosso Senhor, (3) era evidentemente necessário que a São Pedro e aos Apóstolos outros respectivamente lhes sucedesse. Portanto, se existiu sempre, e se ainda hoje existe a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, nela se devem encontrar o legítimo sucessor de São Pedro e os legítimos sucessores dos Apóstolos; em outros termos, deve remontar a São Pedro e aos Apóstolos, por via direta e sem solução de continuidade; o que tudo quer dizer que é necessariamente apostólica.
Ora, haverá uma seita protestante que realize esta indispensável condição? Encontrar-se-ão nela o sucessor de São Pedro e os sucessores dos Apóstolos? Ninguém ousaria afirmá-lo, pois até o começo do século XVI, a palavra “protestante”, no sentido que ora tem, nem sequer existia. O protestantismo nasceu há quatro séculos apenas. É recente, e não se prende por nexo nenhum aos séculos anteriores. Não pode, portanto, ser a verdadeira Religião de Jesus Cristo. As incontáveis igrejas em que se tem fracionado, nestas quatro centúrias de sua existência, são ainda mais novas, e, por consequência, tão falsas como o tronco reformista do qual procedem. Procurar, pois, no protestantismo o sucessor de São Pedro e os sucessores dos Apóstolos é simplesmente absurdo.
Ainda mais. Para ser apostólica, deve a Igreja possuir não só os legítimos sucessores de São Pedro e dos Apóstolos, mas também a sua mesmíssima doutrina. Será a doutrina dos protestantes absolutamente idêntica à dos Apóstolos? Responde pela negativa a razão e o bom senso, pois já averiguamos que as teorias protestantes são diametralmente opostas ao Santo Evangelho. Além disso, tem o protestantismo continuamente variado os seus ensinos, e tão notórias são as divergências dos seus próceres, que o grande bispo francês, o ilustre Bossuet, para desmentir, já no século XVIII, os disparates dos patriarcas da Reforma e dos seus sequazes, se limitou a uma simples exposição ou “história das variações” da doutrina protestante, racionando neste modo:
A verdade é sempre a mesma, sempre imutável; Ora, a doutrina protestante varia continuamente. Logo, não pode ser verdadeira. É, pois, um erro.
Do exposto, claramente ressalta que o protestantismo está muito longe de possuir a mesmíssima doutrina dos Apóstolos. E falecendo-lhe por um lado a doutrina, por outro a sucessão legítima, não tem o indispensável cunho da apostolicidade, e não pode ser, portanto, a verdadeira Igreja de Cristo.
Com ser, porém, una, santa e universal, a Igreja católica é também realmente apostólica, remonta seguramente aos Apóstolos. Assevera-o o irrefragável testemunho da História. O Sumo Pontífice Pio XI, gloriosamente reinante em nossos dias, é sucessor de Bento XV, este de Pio X, que foi de Leão XIII; e assim, por um retrocesso direto e ininterrupto, no longo desfiar dos anos, até São Pedro, que foi o primeiro. Quanto aos Bispos católicos, não é menos certa e evidente a apostolicidade da sua missão, posto que durante o discurso destes vinte séculos, sempre se têm conservado perfeitamente unidos ao sucessor de São Pedro. Graças a esta íntima união com o legítimo Chefe da Igreja, que os elegia, tornavam-se, pelo mesmo fato, legítimos sucessores dos Apóstolos e herdeiros dos seus poderes. Demais, a Igreja católica manteve sempre fielmente a doutrina dos Apóstolos. O seu Credo atual é e tem sido invariavelmente o mesmo Credo primitivo – o Símbolo apostólico.
É, pois, de toda evidência que só a nossa Igreja, una, santa e universal pode, com inteira justiça, gloriar-se do seu caráter apostólico. Só ela, portanto, é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Mas – objetam os protestantes – a Igreja católica, alterou também, de onde em onde, a sua doutrina. Ensina hoje coisas que não ensinava outrora.
Respondemos: Os dogmas ou verdades reveladas por Cristo, Senhor Nosso, não admitem em si a mínima alteração, por isso que as obras divinas são perfeitas desde o início. Pode, sim, progredir, de dia para dia, o conhecimento que temos nós das verdades reveladas. Ao magistério infalível da Igreja confiou e prescreveu Jesus a missão de instruir, quando ordenou: Ensinai a todas as nações. Mas ensinar, expôr, explicar, deduzir, tornar explícito o que estava implícito, não é mudar, não é alterar: é progredir no conhecimento da verdade. Acusar um professor, um lente de aritmética, por exemplo, de alterar ou mudar esta disciplina, porque, explicando-a, faz os seus alunos progredirem no conhecimento desta ciência, é simplesmente insensatez. A mudança ou alteração no ensino supõe pelo menos uma contradição nas palavras do mestre; mas na doutrina da Igreja nunca jamais houve a mais mínima contradição, e desafiamos a quem quer que seja apresente uma só entre as definições dogmáticas da Igreja católica.
A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.
1) Superaedificati super fundamentum apostolorum. Eph., 2,20.
2) Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam. – Math., 16,18.
3) Ego vobiscum sum, omnibus diebus, usque ad consummationem saeculi. – Math., 28,30.
Última atualização do artigo em 6 de abril de 2025 por Arsenal Católico