A indestrutibilidade é o quinto característico da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Efetivamente, profetizou o seu divino Fundador que seria sempre perseguida, (1) mas que as portas do inferno, isto é, os seus odientos inimigos jamais nunca triunfariam (2) e que, inabalável afrontaria todos os vendavais, perdurando ereta e firme até a consumação dos tempos.
Terá acaso o protestantismo a nota da indestrutibilidade? Respondam os fatos. Como crença religiosa, não precisa de alheios destruidores, pois ele próprio a si mesmo se desfaz.
É voz da História, como já tivemos ensejo de observar, que os corifeus da Reforma sustentavam doutrinas diametralmente opostas e absolutamente contraditórias, empenhados numa refrega em que a violência da linguagem denotava o paroxismo das paixões. E, sem embargo, esses tumultuosos recontros parecem insignificantes, quando comparados com as deploráveis ruínas de toda a crença religiosa que provocou mais tarde o protestantismo.
Por efeito do alardeado princípio de livre exame e de livre interpretação da Bíblia, migou-se o protestantismo em seitas inumeráveis. Dos seus sequazes, muitos chegaram a rejeitar a Bíblia, por fabulosa; outros negaram a divindade de Jesus Cristo e, até, a própria existência de Deus, unânimes todos em afirmar que nem por isso deixavam de ser bons protestantes, porque essas consequências radicais, ainda que sumo parecesse o desconchavo, fluíam todas rigorosamente do exposto princípio basilar da Reforma.
Incrível? Não! Insofismavelmente lógico. Se é verdade, como asseveram os seus doutrinadores, que a razão individual é regra suprema de crença, porque ao homem lhe contestariam o direito de professar a religião que lhe aprouvesse, ou de não adotar nenhuma, declarando-se francamente ateu? Pois essa a voragem onde o protestantismo ameaça despenhar a sociedade. A pretexto de ter a Bíblia como regra única da fé, induz a rejeitar a Bíblia; a pretexto de só a Cristo pregar, sugere a negação da divindade de Cristo; a pretexto de só encarecer a fé em Deus, impele a recusar a existência de Deus
De modo nenhum pode, pois, o protestantismo pretender a indestrutibilidade. Por sua natureza, é apenas transitório, caminho aberto, estrada larga que desce para a indiferença religiosa, para o ateísmo e para a impiedade, com todos os vícios que lhe costumam sobrevir.
Deixemo-lo à margem, e consideremos a Igreja católica em seu glorioso trajeto através dos tempos, perseguida sempre e sempre vitoriosa, consoante as infalíveis promessas de Quem soube firmá-la sobre inquebrantáveis alicerces. Vinte séculos de História aí estão para testemunhar que tais promessas constantemente se realizaram ao pé da letra.
Aparece a Igreja em Jerusalém, e iniciam logo os judeus a sangrenta perseguição. Arma-se depois contra ela todo o mundo pagão: os imperadores, em nome da política; os filósofos, em nome da ciência; a plebe, em nome das suas divindades; e durante três longos séculos tentam Sufocá-la no sangue. Aos romanos sucedem mais tarde os persas, os bárbaros do norte e, seguidamente, Mahomet. com os seus árabes, e os tártaros da Ásia, que, espumando ódio, contra ela se arrojam em fúria diabólica.
Estes os inimigos externos que lhe foi mister enfrentar. Não eram os piores. Muito maior perigo ofereciam os inimigos internos – hereges e cismáticos. Aparecem os primeiros já no tempo dos Apóstolos. Surgem outros sucessivamente nos séculos posteriores, assim no oriente como no ocidente, até a quadra atual, mancomunados com a política imperial de Constantinopla, da Alemanha e de outros países do velho continente. No século XVI, ergue-se o protestantismo, que cinde a Europa em duas partes; no século XVII, o jansenismo; no século XVIII, a maçonaria, o filosofismo, a revolução francesa, que, esposando as presunções de um antigo imperador romano, se jactavam de extingui-la em breve tempo. Irrompe, finalmente, o primeiro Bonaparte, com o seu absolutismo; surdem os governos apóstatas do século XIX, e estrondeia o cataclismo europeu.
Com o louco intento de destruir a Igreja católica, estes seus inimigos exteriores e interiores esgotaram, uns após outros, todos os meios, até os mais violentos, ainda os mais brutais. Qual o resultado do seu infame empenho? As instituições humanas- tão sólidas aparentemente – impérios e reinos, povos e nações rolaram no pó, desapareceram da face da terra. Uma só instituição conseguiu afrontar esses vendavais e, impávida, resistir à violência de todos os embates. Uma só – a Igreja católica!
Por que razão continua sempre de pé, sempre perdura viva, sempre e sempre firme perdura, como o rochedo açoitado pelas vagas no meio das intérminas tempestades do oceano? Por que? Jesus Cristo, que a instituiu, jurou por si mesmo que as portas do interno jamais nunca haviam de prevalecer contra ela, e Jesus Cristo não pode ser desmentido!
Se os mais renitentes as provas aduzidas não lograrem convencê-los de que a Igreja católica, una, santa, universal, apostólica e indestrutível, é a autêntica Igreja de Cristo, fora da qual não há salvação possível, que outras provas mais fortes esperam? E se estas são absolutamente irrecusáveis – e efetivamente o são – já sabeis, Filhos caríssimos, o que deveis pensar de todas as miseráveis superfetações ou igrejinhas do protestantismo.
Estimai e amai a Igreja católica, una, santa, universal, apostólica e indefectível, e, pois, a única verdadeira Igreja de Cristo.
Estimai e amai a Igreja católica, resplandecente farol da verdade mais imprescindível, depositaria única da sublime doutrina de Cristo, que norteia seguramente para os seus imortais destinos as humanas gerações redimidas pelo Sangue divino, que, há vinte séculos, rorejou da Cruz.
Estimai e amai a Igreja católica, prolongamento que é do mistério da Encarnação do Filho de Deus, continuadora da sua missão divina e salvadora das almas.
Estimai e amai a Igreja católica, como os bons filhos estimam e amam a própria mãe, só por ser quem é, pelo amor que nos tem e terá sempre, orvalhando-nos com as suas bênçãos, dispensando-nos os seus favores, até nos conduzir ao suspirado porto da eterna salvação.
Estimai e amai a Igreja católica, e, nessa estima, aprimorai-vos, afervorai-vos nesse amor, que será a salvaguarda dos vossos ideais e o penhor seguro da vossa felicidade.
Ante ela prostrados em espírito, exclamai com o Apóstolo São Paulo e com o Profeta-Rei:
Ó Santa Igreja católica, ilibada Esposa de Cristo, coluna e firmamento da verdade, casa e templo de Deus, barca segura de Pedro, arca de salvação, a ti juramos fidelidade, amor e obediência. Mirre-se o meu braço, adira-me às faces a língua, se algum dia eu me esquecer de ti. Si oblitus fuero tui, oblivioni detur dextera mea. Adhaereat lingua mea faucibus meis, si non meminero tui. (3)
A Propaganda Protestante e os Deveres dos Católicos, Carta pastoral, Dom Fernando Taddei da Congregação da Missão, 1929.
1) Et vos persequentur. – Jo., 15, 20.
2) Portae inferi non prarvalebunt adversus eam. – Math., 16,18
3) Ps. 136, 5-6
Última atualização do artigo em 14 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico