A Paixão do Senhor: Jesus é tirado da cruz

A Paixão do Senhor: Jesus é tirado da cruz
Peter Paul Rubens : A Descida da Cruz: painel central , Domínio público, Wikimedia

A maioria dos reis e pessoas importantes, logo que morrem começam a ser esquecidos. Mas o nosso Rei conquistou seu reino ao morrer, começou a manifestar o seu poder e a ser reconhecido antes de descer da cruz, começou a reinar no madeiro. Os soldados o reconheceram na cruz, o povo se arrependeu e voltou batendo no peito, a terra tremeu e o sol escureceu.

Como Rei, foi descido com carinho e veneração, o ódio ficou na crucificação. Foram pessoas amigas e importantes que o baixaram da cruz. Deus preparou honras fúnebres como prêmio por toda obediência. O sepultaram como um amigo, não como um ladrão.

Naquele tempo o rebento de Jessé posto como estandarte para os povos, será procurado pelas nações e gloriosa será a sua morada (Is 11, 10).

Os que prepararam com carinho o sepultamento foram: Um homem rico (Mt 27, 57), José de Arimatéia, ilustre membro do conselho, que também esperava o Reino de Deus (Mc 15, 43). Era discípulo de Jesus mas ocultamente, por medo dos judeus (Jo 19, 38), ele não havia concordado com a decisão dos outros nem com os atos deles (Lc 23, 51). O outro que acompanhou foi Nicodemos (Jo 19, 39), fariseu e doutor em Israel (Jo 3, 10). Foi ele quem reconheceu que o Senhor vinha do céu. Mesmo com medo foi uma vez de noite tirar as dúvidas.

Os dois homens, embora não fossem publicamente discípulos do Senhor, o defendiam nas assembléias. Nicodemos uma vez fez notar no conselho: Condena acaso a nossa lei algum homem, antes de o ouvir e conhecer o que ele faz? (Jo 7, 51). Todos os juízes se voltaram contra ele: Porventura és também tu galileu? Informa-te bem e verás que da Galiléia não saiu profeta (Jo 7, 52). Desde então, começaram a suspeitar dele.

José de Arimatéia também não se deixou levar pela injustiça, não concordava com o processo. São Marcos narra que todos assinaram a sentença de morte contra Jesus, então, provavelmente não assistiu a condenação no Sinédrio, por medo ou por se achar incapacitado em convencer os outros. Mas, depois da morte do Senhor, foi resoluto à presença de Pilatos e pediu o corpo de Jesus (Mc 15, 43).

Quando o Senhor fazia milagres, falava publicamente e era reverenciado como profeta, José e Nicodemos escondiam a admiração por medo. Agora que Jesus tinha sido expulso da sinagoga, caluniado e considerado pior que um ladrão, flagelado e crucificado, demonstravam diante de todos a fé. A cruz forneceu a força necessária. Enquanto os discípulos estavam com medo e escondidos, José e Nicodemos, honravam o morto publicamente.

À tardinha (Mt 27, 57) José se apresentou diante de Pilatos para pedir o corpo. Era o dia da Preparação e já ia principiar o sábado (Lc 23, 54). Os judeus começavam a se guardar ao pôr do sol, depois já não poderiam descer o corpo e se ocupar com a sepultura. Vendo que restava pouco tempo e se não fossem rápidos, o corpo teria que ficar exposto durante todo o dia seguinte. José, sozinho e corajosamente, correu a Pilatos para pedir o corpo. Mostrou muita coragem, porque com a atitude se declarava amigo de Jesus, arriscando perder cargo e prestígio no conselho. José preferiu perder a honra perante os outros, para conseguir tomar parte da cruz do Senhor. Não teve respeitos humanos, nem se preocupou com o que Pilatos pudesse pensar. Pediu a maior riqueza da terra: o corpo de Jesus, o Filho de Deus, o Pão da Vida. José, naquele momento, manifestava o desejo e a necessidade de toda a Igreja.

Pilatos admirou-se de que ele tivesse morrido tão depressa. E, chamando o centurião, perguntou se já havia muito tempo que Jesus tinha morrido (Mc 15, 44). Talvez a notícia da morte, trouxesse a Pilatos um remorso, por isso admirou-se. Enquanto estivesse vivo, sua consciência adiava o pensamento pela injustiça cometida. Agora seus pensamentos o remoíam, faziam-no lembrar de Jesus sereno e toda sua omissão perante o julgamento. Atormentava-lhe a ideia de ter condenado uma divindade; tinha visto a terra tremer e o sol escurecer durante três horas, sua covardia ficava clara.

Pilatos desejava um milagre: que aquela morte injusta não acontecesse. Por Isso, admirou-se que já estivesse morto, sabia por experiência, que muitas vezes os condenados ficavam agonizando por dias. Não acreditava numa morte tão rápida, pois Jesus era forte; fazia pouco tempo que os judeus pediram para que se quebrassem as pernas dos condenados para apressarem suas mortes. Pilatos não percebia que o Senhor tinha passado uma noite e uma manhã inteira em tormentos, tinha sido flagelado, perdido muito sangue e carregado uma pesada cruz. Havia uma dor maior, que Pilatos nunca poderia conhecer: a agonia interior, a dor que Jesus sofreu por amor, que é infinita. Por Isso, aquelas três horas foram uma eternidade.

Pilatos ficou tão admirado que não acreditou em José. Foi preciso a confirmação do centurião para que acreditasse. Talvez o centurião, não só tenha confirmado a morte, como lhe contado que aquele homem era realmente Filho de Deus. Pilatos ficaria assim, mais confuso e perturbado.

Obtida a resposta afirmativa do centurião, mandou dar-lhe o corpo (Mc 15, 45). José saiu alegre com a autorização e preparou o necessário para o sepultamento, não se preocupava mais em fazer nada escondido, não estava mais com medo, sentia orgulho de ser amigo de Jesus.

Veio Nicodemos, agora à luz do dia, levando umas cem libras de uma mistura de mirra e aloés (Jo 19, 39). Os dois desceram o corpo de Jesus e o sepultaram, sem se preocuparem com gastos ou com a opinião dos sacerdotes, como também não se importaram com a impureza legal.

A lei dizia: se alguém, em pleno campo, tocar em um homem morto pela espada, em um cadáver; em ossos humanos ou em um sepulcro, será impuro durante sete dias (Nm 19, 16).

José e Nicodemos tinham grave motivo para se excluírem do sepultamento, pois ficariam impuros para celebrar a Páscoa. Mas a fé, a compaixão e o amor, estavam acima da lei. Sabiam que não ficariam impuros, pelo contrário, seriam limpos pela obra de misericórdia.

A Páscoa não fica impura quando é renovava por meio daquele que é a origem de toda limpeza e santidade, princípio da vida e da ressurreição.

Com esta convicção, sepultaram Jesus com toda reverência, apesar do pouco tempo disponível que tinham.

Depois de ter comprado um pano de linho, .José tirou-o da cruz (Mc 15, 46). Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com aromas, como os judeus costumam sepultar (Jo 19, 40).

José fez questão de comprar um pano novo, não quis envolver o corpo do Senhor com um lençol usado, mesmo que fosse limpo. Aprendamos com José a tratar Jesus com toda delicadeza, principalmente quando comungamos o corpo do Senhor.

Nicodemos trouxe cem libras de aromas, cerca de trinta quilos. Aplicaram os aromas nele e o cobriram com um lençol novo. O corpo do Senhor ficou todo perfumado com mirra e aloés.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

Última atualização do artigo em 9 de abril de 2025 por Arsenal Católico

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