José e Nicodemos ajudados por outras pessoas, desceram o corpo de Jesus da cruz. A Virgem Maria estava no pé da cruz, olhando com valentia, fortaleza, amor e compaixão. Não queria ficar longe do Filho, chorava ao ver Jesus morto, mas sua alma estava serena na esperança da ressurreição.
Nela fez maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é santo (lc 1 , 49). Grande foi a dor, grande foi a graça que recebeu de Deus. O Espírito Santo a guiava e ela obedecia. Neste dia cresceu ainda mais sua intimidade com Deus. Os anjos estavam em profunda lamentação, mas somente as lágrimas da Mãe, que o amava mais que todos os homens, poderiam honrar o funeral.
Acompanhavam a Virgem, o novo filho João e as mulheres seguidoras do Senhor. Todos choravam e protegiam a Virgem. Tentavam falar alguma palavra de consolo, mas estavam todos com a garganta apertada pela dor; de repente alguém falou: Maria, não chore. Tudo está consumado. Seu Filho saiu vencedor, todos sabem que é inocente, fizeram a injustiça por inveja. Percebendo que as palavras a feriam mais ainda, disse: Perdoa-lhes, e calou-se.
Quem poderia consolar a Consoladora dos aflitos? Era ela quem sabia consolar, que tinha esperança e fé. Humildemente a Virgem agradeceu os amigos que ali estavam.
Todos estavam envergonhados, porque a princípio tinham sido covardes e se escondido, assim mesmo a Virgem Maria agradecia-lhes.
Agora pediam perdão, não com palavras, mas com atitude de carinho com o corpo de Jesus. Tarde demonstravam amor, contudo a Virgem os compreendia e ficava agradecida.
Continuaram com o trabalho de desprender Jesus da cruz, arrancavam os cravos e o peso do corpo caiu sobre eles, amparam com os braços e ficaram vermelhos do sangue do Senhor. Todos permaneciam em silêncio, ninguém falava nada. Depois de descerem completamente o corpo, puseram-no nos braços de sua Mãe.
Como um Rei, que volta vitorioso do campo de batalha, foi recebido no melhor trono, os braços de sua Mãe. Nada podia honrá-lo mais.
Ao mesmo tempo em que sentia uma dor terrível, estava orgulhosa de Jesus crucificado. Pela cruz tinha recebido mais graças que nenhuma outra criatura, era a bendita entre todas as mulheres. Agradeceu tudo isso e abraçou com toda sua alma o corpo do Filho.
Meu Filho! Não me queixo pelos assassinos porque você se ofereceu por eles. Era a sua vontade e foi cumprida. Morreu como um valente, como o Filho de Deus. Como é grande a misericórdia e incompreensível a justiça! Deus foi misencordloso com os homens, enviando o Filho para morrer por eles. Amo a justiça, porque vem de Deus, embora não a compreendo totalmente. Como foi sua vontade realizar o mandato do Pai, eu aceito e sofro também. Aceita meu Deus, o sacrilfcio desta mãe, seja misencordioso com os pecadores, pois o Filho morreu por eles. Mantenho e renovo aquele oferecimento: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).
Todo o peso dos pecados, Maria sentia por estar com Jesus em seus braços. Com a força do Espírito Santo manifestou todo seu amor e o desejo de salvar a cada um. Jesus é o Mediador e o Redentor da humanidade e ela se unindo ao Filho, tornou-se nossa Mediadora e Advogada. Co-Redentora com Cristo.
No lugar em que foi crucificado havia um jardim (Jo 19,41). O Calvário era onde se executava os condenados, mas Deus quis que a Redenção sempre ficasse unida a cruz, na memória dos homens. O pecado de Adão foi junto de uma árvore; o poder de Jesus foi manifestado em outro madeiro, a cruz. A árvore de Adão estava no jardim do Paraíso; o Senhor começou a Paixão no Horto das Oliveiras e terminou no jardim, ao lado do Calvário. No jardim foi plantada a Semente da glória e da imortalidade.
Havia no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado (Jo 19, 41), escavado na rocha (Lc 23, 53). Pertencia a José de Arimatéia, que tinha mandado talhar para si na rocha (Mt 27, 60).
Em toda vida terrena Jesus foi pobre. Tiveram os amigos que fornecer um pano e um sepulcro. José e Nicodemos usaram bem as riquezas, sepultando o corpo do Senhor com toda dignidade. José foi muito generoso, pois aquele sepulcro fora esculpido para ser usado em seu descanso. Jesus não teve nada e aquele sepulcro também não seria seu, pois ao terceiro dia ressuscitaria.
Chegando ao horto, ungiram o corpo de Jesus com mirra e aloés, trazidas por Nicodemos. O local era mais digno para se fazer os preparativos do enterro, envolveram o corpo com o lençol e depositaram no banco de pedra, dentro do sepulcro. Sobre a cabeça colocaram um sudário (Cf. Jo 19, 7), segundo o costume de enterrar dos judeus.
Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus (Jo 19, 42). Não havia mais tempo, fizeram o melhor que podiam, começava a anoitecer.
Foi conveniente que tudo fosse novo. O lençol novo e limpo representava a pureza e a limpeza das almas, que vão receber seu Corpo. Como o Senhor nasceu de uma virgem, agora que morria repousava em um sepulcro novo e nunca usado, pois desta rocha virgem, renasceria em três dias.
As mulheres que tinham vindo com Jesus da Galiléia, acompanharam José. Elas viram o túmulo e o modo como o corpo de Jesus ali fora depositado (Lc 23, 55). Sentadas defronte do túmulo (Mt 27, 61), Maria Madalena e Maria, mãe de josé, observavam onde o depositavam (Mc 15, 47). Depois da festa tinham a intenção de voltar, para adorar e honrar o corpo do Senhor, ungindo-o com novos aromas.
Não é narrado que a Virgem estivesse presente na sepultura, provavelmente não a deixaram ficar, para que não aumentasse o sofrimento; despediu-se do Filho na entrada do horto e partiu com João. Chegaram à cidade antes que caísse a noite.
A Virgem não presenciou José que rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora (Mt 27, 60) com Nicodemos e os outros.
As mulheres voltaram para a cidade e prepararam aromas e bálsamos. No dia de sábado, observaram o preceito do repouso (Lc 23, 56).
A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.
Última atualização do artigo em 14 de abril de 2025 por Arsenal Católico