“Pregai a palavra com toda a força e coragem, insisti, e quer agrade, quer não, repreendei, suplicai, admoestai com toda a paciência e doutrina, e instruindo sempre” (II Tim. IV, 2)
1º Ponto – Importância das escolas cristãs e gratuitas
Considerai ser muito generalizada entre os artífices e pobres, a prática de deixar os filhos viverem em plena liberdade e como vagabundos, errando para cá e para lá. Enquanto ainda não os podem empregar em alguma profissão, não cuidam absolutamente em mandá-los a alguma escola, já por sua pobreza, que lhes não permite pagarem os mestres; ou também pela necessidade de procurarem trabalho fora de casa, o que forçosamente os obriga a deixá-los ao abandono.
As consequências disso são funestíssimas; pois, acostumados esses pobres meninos, durante vários anos, a levar uma vida de vadiação, terão muita dificuldade a sujeitar-se depois ao trabalho. Além disso, por frequentarem más companhias, aprendem a cometer muitos pecados, que dificilmente deixarão, por causa dos longos hábitos viciosos adquiridos.
Teve Deus o cuidado de remediar tão graves inconvenientes, pelo estabelecimento das Escolas Cristãs, nas quais se ensina gratuitamente e só pela glória de Deus. Nelas recolhidos os meninos todo o dia, aprendem a ler, a escrever, a contar e a conhecer a religião. Estando, destarte, sempre ocupados, achar-se-ão em condições de serem empregados no trabalho, quando os pais a isso os quiserem aplicar.
Agradecei a Deus a bondade que teve em querer servir-se de vós, para proporcionar tão grandes vantagens aos meninos; sêde fiéis e exatos em fazê-lo sem receber retribuição alguma, para que possais dizer como São Paulo: “O motivo de minha consolação, meu galardão, está em anunciar-vos o Evangelho gratuitamente, sem nada custar aos que me escutam” (I Cor. IX, 18).
2º Ponto – O mestre deve afastar os alunos do pecado
Não basta serem os meninos guardados e ocupados numa escola durante a maior parte do dia; é preciso ainda que aqueles que lhes são dados para os instruir, se apliquem particularmente a educá-los segundo o espírito do Cristianismo, o qual lhes comunicará “a sabedoria de Deus, que nenhum príncipe deste mundo veio a conhecer,” (11) e que está em aberta oposição ao espírito e sabedoria do mundo, aos quais se lhes há de inspirar grande horror, porque “servem de véu ao pecado”: (11) nunca poderá haver excesso em afastá-los de tão grande mal, único capaz de fazê-los desagradar a Deus.
Importa, pois, seja o vosso primeiro cuidado e primeiro efeito de vossa vigilância no emprego, estardes sempre atentos sobre os vossos alunos, afim de impedi-los de praticar qualquer ação, não somente má, mas nem sequer inconveniente, por pouco que seja, fazendo-os abster-se de tudo o que tenha a menor aparência de pecado. Também pé de grande importância que vossa vigilância sobre eles contribua a fazê-los modestos e recolhidos na igreja e durante os exercícios de piedade que se praticam na escola: “pois a piedade é útil para tudo,” (12) e ela produz grande facilidade para evitar o pecado e praticar atos de virtude, pelo grande número de graças que atrai sobre quem a possui.
É assim que procedeis para com os vossos alunos? – Observai estas práticas no futuro, se não lhes fostes fiéis no passado.
3º Ponto – O mestre deve fazer praticar o evangelho aos seus alunos
Para mover os meninos que instruis a se compenetrarem do espírito do Cristianismo, deveis ensinar-lhes as verdades práticas da fé de Jesus Cristo, e as máximas do santo Evangelho, pelo menos com o mesmo zelo com que ensinais as verdades puramente especulativas. É verdade que entre estas há certo número cujo conhecimento é indispensável para a salvação; de que serviria, porém, conhecê-las sem cuidar da prática das boas obras prescritas? Pois São Tiago diz: “A fé sem as obras é morta:” (13) e São Paulo: “Ainda que eu entendesse todos os mistérios e tivesse toda a ciência e toda a fé possível, até transportar montanhas, senão tiver a caridade, – i. é a graça santificante – nada sou.” (I Cor. XIII, 2)
É realmente vosso principal cuidado instruir os vossos discípulos nas máximas do santo Evangelho e nas práticas das virtudes cristãs? – Considerais o bem que procurais fazer-lhes como o fundamento de todo o bem que hão de praticar durante a sua vida? – Os hábitos das virtudes, cultivados neles desde a juventude, encontram obstáculos na natureza desregrada, e deitam raízes mais profundas nos corações dos assim preparados.
Se quereis que as vossas instruções e exortações à prática do bem lhes sejam proveitosas, é preciso que vós mesmos as pratiqueis primeiro, e estejais cheios de zelo e do espírito de Deus, afim de que eles recebam comunicação das graças que em vós estão, e os animem a praticar o bem.
Ramalhete espiritual – “Sêde o exemplo dos fiéis na palavra, na conduta, na fé, na castidade.” (I Tim. IV, 12)
Meditações de São João Batista de La Salle para Mestres e Educadores Cristãos, 1953.
(11) I Cor. II, 7 e 8.
(12) I Tim. IV, 8.
(13) Tiag. II, 20.
Última atualização do artigo em 6 de abril de 2025 por Arsenal Católico