Natividade de Nossa Senhora, Mãe de Deus

Se o nascimento do grande Batista foi motivo de alegria para muitos, a natividade da Mãe de Deus enche de alegria o mundo inteiro. Alegraram-se os santos pais de Maria Santíssima, que, com o nascimento da filha, muito mais receberam do que podiam esperar. Alegraram-se os patriarcas do Antigo Testamento, que na menina recém-nascida reconheceram a futura Mãe do Salvador. Alegraram-se todos os homens, porque o nascimento de Maria veio anunciar-lhes a aurora do grande dia, pelo qual aspiravam os povos do universo. Alegraram-se os próprios Anjos, porque no dia de hoje pela vez primeira lhes foi dado ocasião de saudar a Mãe d’Aquele, cuja missão sobre a terra seria preencher os lugares no céu, que os Anjos rebeldes perderam. Tem, pois, a Igreja razão em dizer: “Tua natividade, ó Santíssima Virgem, anunciou ao mundo inteiro grande alegria”. Quem poderá descrever a alegria que S. Joaquim e Sant’Anna experimentaram no dia do nascimento da filha? Que consolo não era para aqueles ditosos pais poderem saudar na filhinha o fruto abençoado do seu estado, a herdeira do nome da nobre família, da religião, das altas prerrogativas dos antepassados, a arca viva dos privilégios mais preclaros de ordem natural e sobrenatural! Que esperanças as, mais suaves não lhes revela, o doce olhar da menina, reflexo de virtude, de graça, de grandeza! Poderia-lhes ser reservada honra maior do que esta, de serem os progenitores da Mãe do Altíssimo, os avós de Jesus Cristo, Salvador do mundo? Foram-lhes cumpridos os santos desejos, realizados os ardentes anelos, ouvidas as orações.

O muito que alguns pais sofrem pelos filhos, não é em grande parte um castigo justo dos seus próprios pecados? Quais foram as intenções, as disposições com que entraram no estado do matrimônio? De que modo nele vivem? São os filhos o fruto de orações? Em vez de os consagrarem a Deus, que lh’os deu, oferecem-nos ao ídolo do mundo, propinando lhes com o leite materno o amor às vaidades do século.

Mas também vós, filhos rebeldes, desrespeitosos e maus, que com vossos desregramentos amargurais a existência de vossos pais, julgais escapar à ira de Deus, à maldição divina nesta vida e à perdição na outra? Abençoados filhos que, à semelhança de Maria, se esmeram em ser a alegria e o consolo daqueles a quem devem a vida!

O nascimento de Maria Santíssima encheu de alegria a alma dos Patriarcas que durante séculos ansiavam pela vinda do Salvador. “Abre-te ó terra – assim exclamavam, – e dá-nos um Salvador! Fazei, ó céus, descer sobre nós aquele orvalho salutar! Nuvens do céu, fazei chover sobre nós o Justo, que quebre as cadeias da nossa escravidão, restabelecendo-nos na liberdade dos filhos de Deus!” Com esses gemidos e ardentes votos, passaram-se séculos, sem que o céu se apiedasse da humanidade. Que jubilo não se apoderou dessas benditas almas, ao receberem a notícia do nascimento daquela Virgem, que lhes havia de dar o Salvador do mundo! Que contentamento não tiveram ao verem surgir a bela aurora, preconizadora do Sol da justiça, daquele Sol que traria a luz àqueles que estão nas trevas da morte!

Por grande que tenha sido a alegria dos Patriarcas, o dia do nascimento da Santíssima Virgem não é menos motivo de jubilo para nós, que, filhos que somos de um pai pecador, filhos da ira divina nascemos. Como filhos da ira de Deus, merecíamos ser vítimas da eterna vingança. Poderia haver uma sorte mais triste que a nossa, sem esperança alguma de um dia sermos chamados a uma existência mais venturosa? Temos desamor aos nossos deveres; forte é a nossa inclinação ao mal; pouco nos agrada a virtude. Desta anomalia procedem todas as desordens na nossa vida.

O dia de hoje é um raio de luz que, vindo do céu, traz alegria e consolo à nossa triste vida. Agora sabemos que já existe a Mãe do Salvador, d’Aquele que de nós tirará o peso do pecado; d’Aquele que romperá o vínculo da escravidão, santificando-nos, atraindo-nos para si e para o Eterno Pai. Já nasceu a flor de Jessé, que produzirá o fruto precioso da Salvação. Nasceu a Mãe de Jesus Cristo, a nossa Mãe. Mãe será de todos os homens, que do sangue, dos merecimentos do divino Filho esperam a reabilitação na graça de Deus. Por uma mulher veio a morte. De uma mulher nos virá a vida.

Justa, justíssima, pois, é a alegria dos espíritos bem-aventurados, que em Maria saúdam sua Soberana. Pelo nascimento da Mãe do Salvador revive a esperança de um dia verem preenchidos os lugares, que a rebeldia dos maus anjos deixou vagos. Jubila a terra, jubila, o céu. Abre também teu coração à alegria, saudando a Mãe de teu Salvador.

REFLEXÕES

Não se engana quem de Nossa Senhora espera que no seu aniversário natalício, mais do que em outra época, queira dar testemunho de generosidade, de amor maternal. Não deixes, pois, passar este dia glorioso, sem pedir a tua Mãe te alcance as graças de que mais necessidade tens, para tua salvação.

À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livra-nos de todos os perigos. Ó Virgem gloriosa e bendita.

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.

Este texto foi útil para você? Compartilhe!

Deixe um comentário