NOVENA DE NATAL
Com meditações de Santo Afonso de Ligório
Do dia 16 ao dia 24 de dezembro
Convém que se faça a meditação em família e que se reze o Santo Terço em seguida
1° Dia – 16 de Dezembro
Dedi te in lucem gentium, ut sis salus mea usque ad extremum terrae.
“Eu te estabeleci para luz das gentes a fim de seres a salvação que eu envio até a última extremidade da terra.” (Is 46,6).
Considera o Pai Celeste dizendo estas palavras a Jesus Menino no momento de Sua concepção: Meu Filho, eu te estabeleci para luz das gentes e a vida das nações, a fim de que lhes procureis a salvação, que desejo tanto como se fosse a minha própria. É, pois, necessário que Vos dediqueis inteiramente ao bem do gênero humano: Dado sem reserva ao homem deveis dedicar-vos inteiramente em benefício dele (São Bernardo, serm. 3, in Circ.). É necessário que sofrais uma pobreza extrema desde o Vosso nascimento a fim de que o homem se torne rico: Ut tua inopia dites. É necessário que sejais vendido como um escravo para pagardes a liberdade do homem, e que, como escravo , sejais flagelado e crucificado a fim de satisfazer à minha justiça pelas penas devidas aos homens. É necessário que deis Vosso Sangue e Vossa vida para livrar o homem da morte eterna. Numa palavra, sabei que não sois mais Vosso, mas do homem, segundo a palavra de Isaías: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um filho (Is 9,6).
Assim, meu caro Filho, o homem se sentirá constrangido a amar-me e a dar-se a Mim, ao ver que Vos dou todo a ele, Vós, meu único Filho, e que não resta mais nada a dar-lhe.”
Eis até onde chegou o amor de Deus aos homens! Ó amor infinito, digno somente dum Deus infinito! Jesus mesmo disse: Deus amou de tal modo o mundo que deu por ele Seu Unigênito Filho (Jo 3,16).
A essa proposta, Jesus Menino não se entristece, antes se alegra, aceita-a com amor e exulta: Dá saltos como gigante para percorrer o seu caminho (Sl 18,6). Desde o primeiro instante de sua Encarnação, Ele se dá todo ao homem e abraça com alegria todas as dores e humilhações que deve sofrer no mundo por amor dos homens. Essas foram, diz São Bernardo, as montanhas e colinas escarpadas que Jesus Cristo teve de escalar para salvar os homens: Ei-lo, aí vem saltando sobre montes, atravessando os outeiros (Ct 2,8).
Notemos bem: enviando-nos Seu Filho como Redentor e Mediador de paz entre Ele e os homens, Deus Pai obrigou-se de certo modo a perdoar-nos e a amar-nos; entre o Pai e o Filho interveio um pacto em virtude do qual o Pai devia receber-nos em sua graça, contanto que o Filho satisfaça por nós à divina justiça. De Seu lado, o Verbo também se obrigou a amar-nos, não por causa do nosso mérito, mas para cumprir a misericórdia vontade de Seu Pai.
Afetos e Súplicas
Meu caro Jesus, se é verdade, como a lei o declara, que se adquire o domínio pela doação, Vós me pertenceis porque o Vosso Pai Vos deu a mim: é por mim que nascestes, a mim fostes dado: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho. Posso, pois, dizer: meu Jesus e meu tudo. Já que sois meu, todos os bens me pertencem. O Vosso apóstolo me assegura: Como não nos dará também com Ele todas as coisas? (Rm 8,32). Por isso, meu é o Vosso Sangue, meus os Vossos méritos, minha Vossa Graça, meu o Vosso paraíso. E, se sois meu, quem poderá jamais arrancar-Vos de mim? “Ninguém poderá tirar-me o meu Deus.” Assim dizia com júbilo Santo Antão Abade; assim quero dizer no futuro. É verdade que Vos posso perder ainda e afastar-me de Vós pelo pecado; mas, ó meu Jesus, se no passado Vos abandonei e perdi, arrependo-me agora de toda a minha alma, e estou resolvido a perder tudo, a própria vida, antes que tornar a perder-Vos, ó Bem infinito e único amor de minha alma.
Agradeço-Vos, Pai eterno, por me terdes dado Vosso Filho; e já que mo destes todo, eu, miserável, dou-me todo a Vós. Pelo amor desse Filho adorável, aceitai-me e prendei-me com cadeias de amor a meu Redentor, mas prendei-me tão estreitamente que possa dizer com o apostolo: Quem me poderá ainda separar de meu Jesus? (Rm 8,35). E Vós, meu Salvador, se sois todo meu, sabei que sou todo Vosso. Disponde de mim, e de tudo o que me pertence, como Vos aprouver. E como poderia eu recusar alguma coisa a um Deus que me não recusou o Seu Sangue e a Sua Vida?
Maria, minha Mãe, guardai-me sob vossa proteção. Já não quero ser meu, quero ser todo do meu Senhor. A vós compete tornar-me fiel, confio em vós.
† Reza-se o Terço
Do Livro: Devotionarium Catholicum – Compêndio de Orações e Exercícios de Piedade, Instituto Bom Pastor – Capela Nossa Senhora das Dores.