Ó Maria, Rainha dos Apóstolos, criai em mim um coração de apóstolo.
1 – Maria é ao mesmo tempo o modelo das almas contemplativas e o modelo das almas apostólicas. Assim, unindo em si a mais alta vida contemplativa e a mais alta vida apostólica, ensina-nos que contemplação e apostolado, bem longe de se oporem, exigem-se, amparam-se e alimentam-se mutuamente. Quando a vida contemplativa – entendida como assídua procura da união com Deus – é verdadeiramente fervorosa, não pode deixar de fazer surgir na alma a chama ardente do apostolado. Quem, no contato íntimo com Deus, experimentou a inefável realidade do Seu amor pelos homens, não pode deixar de arder em desejos de os conquistar todos para este amor. Assim – e do modo mais sublime – aconteceu a Maria Santíssima, a qual, tendo saboreado e penetrado o amor de Deus e tendo sido inflamada mais que qualquer outra desejou conduzir a Deus todos os homens. Ninguém, com efeito, como Maria, colaborou com Cristo na salvação do gênero humano. Colaboração que foi a mais íntima e profunda que se pode imaginar, pois foi Ela que, com o seu sangue, forneceu ao Filho de Deus aquela carne e aquela vida humana que Lhe tornaram possível a Ele, Verbo eterno, fazer-Se semelhante a nós, sofrer e morrer por nós na cruz. Colaboração do mais alto valor, se se considera que Maria não foi Mãe de Deus inconscientemente, mas que Ela própria deu para isso o consentimento, embora soubesse, pela Sagrada Escritura, que o Messias seria o homem das dores, imolado para a redenção do mundo; por isso, aceitando tornar-se Mãe, aceitou também ligar a sua sorte à dEle, associar-se a todos os Seus sofrimentos. Dar ao mundo o Redentor, aceitar ver morrer o Filho amado entre indizíveis tormentos, foi o sublime apostolado de Maria, que brotou do seu imenso amor a Deus.
Quanto maior é o amor de Deus, tanto mais o apostolado que dele deriva é grande e eficaz. Por outro lado, toda a obra de apostolado que não derivasse da caridade, seria nula: “Ainda que distribuísse todos os meus bens no sustento dos pobres – diz S. Paulo – e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, nada me aproveita” (I Cor. 13, 3).
2 – Intimamente associada à obra redentora de Jesus, Maria desempenhou uma missão apostólica universal, para bem de toda a humanidade. Contudo o apostolado de Maria não faz barulho, não é aparatoso, mas realiza-se do modo mais humilde, escondido, silencioso. Dá ao mundo redentor, mas fá-lo no segredo da noite, num pobre estábulo; participa em toda a vida de Jesus, mas no recolhimento da casa de Nazaré, ocupada nos humildes afazeres domésticos, no meio dos sacrifícios e das dificuldades de uma vida que foi rica de circunstâncias excepcionalmente graves e penosas. E também quando Jesus – nos três anos da Sua vida apostólica – Se apresenta em público para cumprir a missão que o Pai Lhe confiara, Maria, embora continuando a segui-lO e a participar em todos os Seus trabalhos, permanece na sombra. Nunca se vê aparecer ao lado do Filho que prega às multidões, nunca se vale da sua autoridade materna para se introduzir junto dEle; e quando tem necessidade de Lhe falar, enquanto Ele instrui o povo dentro duma casa, fica humildemente fora, à espera (cfr. Mt. 12, 46). O apostolado de Maria é todo interior; apostolado de oração e sobretudo de imolação escondida pela qual adere com grande amor à vontade de Deus que lhe pede para se separar do Filho depois de trinta anos passados em doce intimidade com Ele, para se pôr de parte, deixando aos apóstolos e às multidões aquele lugar que, como Mãe, lhe competia ocupar junto de Jesus. Assim, no escondimento e no silêncio, Maria participa no apostolado e nos sofrimentos do Filho: não há dor de Jesus que Maria não sinta e não reviva em si. A sua grande imolação consiste em ver o seu Filho dileto perseguido, odiado, levado à morte, e finalmente crucificado no Calvário; o seu coração de Mãe sente profunda amargura com isso, mas ao mesmo tempo tudo aceita com puro amor e tudo oferece para a salvação das almas. E foi assim que, pela sua imolação obscura, animada de puro amor, Maria chegou ao mais alto cume do apostolado. E “um pouquito de puro amor – diz S. João da Cruz – é mais precioso diante do Senhor… e aproveita mais à Igreja… que todas as outras obras juntas” (C. 29, 2). Maria mostra-nos como estamos longe da verdade quando, levados pela urgência das obras, fazemos consistir o nosso apostolado unicamente na atividade exterior, menosprezando a atividade interior do amor, da oração, da imolação, de que depende a fecundidade da ação exterior.
Colóquio – “Ó Maria, vós sois vida, doçura e esperança nossa! Só vós tirastes do mundo a perfídia universal porque só vós destes à luz o Senhor. Vós sois a Mãe de misericórdia! Mãe que nos lavais das manchas dos pecados. Vós nos acalmais como a pequeninos que gemem no berço, nos alimentais com leite e nos segurais nos vossos braços. E não só vos tornastes Mãe, mas também vos fizestes remédio dos miseráveis…
“Além disso, ó Maria, junto da cruz, tornastes-vos, por nós, uma mar de amargura por causa da compaixão que tivestes do Filho crucificado e das nossas almas… Mas ó Mãe, porque nos amastes tanto? Porque nos encheis do vosso afeto? Porque nos encheis do nosso Deus? Porque, pergunto, nos inebriais com o amor do Vosso Filho, se nós não somos capazes de vos retribuir seja o que for? Que lucrais, amante das almas, se vos amamos a vós e ao vosso Filho, com um grande amor? Não vos bastam as coisas celestes? Porque procurais corações terrenos que são fétidos e lamacentos? Tomai-nos, caçadora de almas, prendei-nos e recolhei-nos no seio da vossa graça. Quem poderá livrar-se dos raios da vossa piedade? Não, ninguém pode afastar-se do fogo do vosso amor, porque o céu e a terra estão cheios dos vosso benefícios… e estendeis sempre e por toda a parte os laços da vossa benignidade. Sim, Mãe dulcíssima, não podemos fugir de vós, mas sempre repousamos no seio da vossa doçura” (cfr. S. Boaventura).
“Ó Maria, vós sois mais Mãe do que Rainha! meditando na vossa vida tão humilde e simples como o Evangelho no-la apresenta, não tenho qualquer receio de me aproximar de vós. Vejo-vos viver na pobreza e na obscuridade, sem raptos ou Êxtases, sem fulgor de milagres, sem ações clamorosas. E assim me fazeis entender que também eu posso seguir as vossas pisadas, que também eu posso subir o íngreme caminho da santidade, praticando as virtudes escondidas. Junto e vós, ó Maria, gosto de ficar pequena, e descubro melhor a vaidade das grandezas humanas” (cfr. T.M.J. NV. 23-VIII e Poesia).
Ó Maria que destes Jesus ao mundo no silêncio e no recolhimento; que, sem serdes observada, participastes em toda a Sua vida, nas Suas obras, na Sua Paixão, ensinai-me o segredo do apostolado interior, feito de oração e de imolação oculta, só de Deus conhecido.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 22 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico