Venho a Vós, ó Jesus, meu bom Pastor, conduzi-me às pastagens da vida eterna.
1 – Na doce figura do Bom Pastor, a liturgia de hoje resume tudo o que Jesus fez pelas nossas almas.
O pastor é tudo para as suas ovelhas: a sua vida, o seu alimento, a sua guarda, estão inteiramente nas suas mãos e se o pastor é bom, sob a sua proteção nada têm a temer e nada lhes faltará.
Jesus é o Bom Pastor por excelência: Ele não só ama, alimenta e guarda as Suas ovelhas, mas dá-lhes a Sua própria vida e dá-lha à custa da Sua. Mediante a Incarnação, o Filho de Deus veio à terra em busca dos homens que, semelhantes a ovelhas perdidas, se afastaram do redil e se perderam no vale tenebroso do pecado. Vem como pastor amantíssimo que, para melhor socorrer o Seu rebanho, não hesita em partilhar a sua sorte. A Epístola do dia (I ped. 2, 21-25), apresenta-no-lO assim, carregando os nossos pecados apra nos curar pela Sua Paixão. “Foi Ele mesmo que levou os nossos pecados em Seu corpo, sobre o madeiro da cruz a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; éreis como ovelhas desagarradas, mas agora vos convertestes ao Pastor e bispo das vossas almas”. “Eu sou o Bom Pastor – disse Jesus – e dou a vida pelas minhas ovelhas”. No ofício do tempo pascal a Igreja canta repetidas vezes: “Ressuscitou o Bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e se dignou morrer pelo seu rebanho”. Como poderia sintetizar-se melhor toda a obra da Redenção? Esta surge ainda mais grandiosa quando da boca de Jesus ouvimos dizer: “Eu vim para que elas tenham vida e estejam na abundância” (Jo. 10, 10). na verdade Ele podia repetir a cada um de nós: “que coisa poderia eu fazer por ti que não tivesse feito?” (cfr. Is. 5, 4). Oh! se a nossa generosidade em nos darmos a Ele não tivesse limites, como não teve a Sua ao dar-Se a nós!
2 – Jesus diz ainda: “Eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, com o Pai me conhece, assim eu conheço o Pai” (Jo. 10, 11-16). Ainda que não se trate de igualdade, mas de simples semelhança, quão reconfortante e quão glorioso é para nós ver como Jesus gosta de comparar as Suas relações conosco às Suas relações com o Pai! Na última Ceia também disse: “Como o Pai me amou, assim eu vos amei”, e ainda: “Como Tu, Pai o és em mim e eu em Ti, que também eles sejam um em nós” (Jo. 15, 9; 17, 21). Isto mostra-nos como, entre nós – as ovelhas – e Jesus – O Bom Pastor – não existe só uma relação de conhecimento, mas também de amor, de comunidade de vida, semelhante à que existe entre o Pai e o Filho. Chegamos a estas relações com o nosso Deus – tão profundas que nos fazem participar da Sua própria vida íntima – mediante a graça, a fé e a caridade que o Bom Pastor nos mereceu, dando a Sua vida por nós.
Entre o Bom Pastor e as Suas ovelhas estabelece-se assim uma íntima relação de conhecimento amoroso, tão íntima, que o Pastor conhece uma a uma as Suas ovelhas e as chama pelo nome e elas conhecem a Sua voz e seguem-nO docilmente. Cada alma pode dizer: Jesus conhece-me e ama-me, não de um modo genérico e abstrato, mas concreto, nas minhas necessidades, nos meus desejos, na minha vida. Para Ele, conhecer-me significa fazer-me bem, envolver-me cada vez mais com a Sua graça, santificar-me. Porque me ama, Jesus chama-me pelo meu nome. Chama-me quando, na oração, me abre novos horizontes de vida espiritual, ou me faz conhecer melhor os meus defeitos, a minha miséria. Chama-me quando me repreende ou me purifica por meio da aridez e quando me consola e encoraja, infundindo-me novo fervor. Chama-me, quando me faz sentir a necessidade de maior generosidade, quando me pede sacrifícios ou me concede alegrias e, mais ainda, quando desperta em mim um amor mais profundo por Ele. Perante os Seus apelos, a minha atitude deve ser a da ovelha dedicada que reconhece a voz do seu Pastor e O segue sempre.
Colóquio – “Ó Senhor, Vós sois o meu Pastor e nada me falta; em verdes pastos me fazeis recostar, conduzis-me junto das águas para descansar, reconfortais a minha alma e guiais-me por veredas retas. Ainda que eu andasse por um vale tenebroso, não temeria males, porque Vós estais comigo; a Vossa vara e o Vosso báculo são o meu conforto. Preparastes uma mesa para mim à vista dos meus adversários; ungis com óleo a minha cabeça e o meu cálice transborda” (Sal. 22). Ó Senhor, meu Bom Pastor o que poderíeis ter feito por mim que não tenhais feito? O que poderíeis dar-me, que não me tenhais dado? Vós mesmo Vos fizestes meu alimento e minha bebida. E que alimento mais delicioso e salutar, mais nutritivo e mais fortificante poderia eu encontrar do que o Vosso Corpo e o Vosso Sangue?
“Ó benigníssimo Senhor Jesus Cristo, meu doce Pastor, que Vos darei por tudo o que Vós me destes? Que Vos darei eu pelo dom que fizestes de Vós mesmo? Ainda que eu me pudesse dar a Vós mil vezes, isso nada seria, porque nada sou comparado conVosco. Vós, tão grande, amastes-me gratuitamente a mim, tão pequeno, tão mau e tão ingrato. Sei, Senhor, que o Vosso amor tende para o imenso, o infinito, porque Vós sois imenso e infinito. Por favor, dizei-me, Senhor, o modo como Vos devo amar. O meu amor não é gratuito, mas é devido… Ainda que eu não possa amar-Vos quanto devo, Vós apreciais o meu fraco amor. Poderei amar-Vos mais, quando Vos dignardes fazer crescer a minha virtude; mas nunca Vos darei quando mereceis. Dai-me, portanto, o Vosso ardentíssimo amor para que por ele, com a Vossa graça. Vos ame, Vos agrade, Vos sirva, cumpra os Vosso preceitos, não seja separado de Vós, nem no tempo presente nem no futuro, mas conVosco permaneça unido no amor pelos séculos eternos” (Ven. R. Giordano).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.