Um dia estava Jesus cansado de longa viagem, circundado pelos discípulos e por grande turba, avida de suas palavras, quando um bando de crianças acercou-se dele. Vendo, porém, que a multidão lhes fechava o caminho, aqueles meninos apressavam-se em se aproximar do Divino Mestre, causando não pequeno incômodo aos que o rodeavam. As mães, tomando nos braços os pequeninos, procuravam apresentá-los a jesus e se julgavam felizes se Ele os abençoasse. Mas os apóstolos, quer por temor de que tais crianças molestassem ao Mestre, quer porque julgassem indecoroso para Jesus abaixar-se até os pequeninos, repeliam asperamente as mães que lh’os apresentavam.
Entretanto, que faz Jesus? Oh! o Coração de jesus palpita de amor por aquelas criancinhas. Não despreza o seu afeto e não se enfada pela sua algazarra. Vendo, pois, o modo com que eram recebidos pelos discípulos, experimentou grande desprazer e lhes disse: – Abri caminho e deixai que esses pequeninos venham a mim. (1) Fê-los aproximar e, qual pai amoroso, os estreitou carinhosamente ao Coração derramando sobre eles as mais escolhidas bênçãos. E não se contenta com isso. Afim de nos fazer conhecer melhor quanto amava os meninos, deixou-os como modelo aos próprios apóstolos dizendo: – Sabei que destes é o reino dos céus, onde não entrareis se não vos tornardes semelhantes a eles.
mas o Coração de Jesus não abraçava somente so meninos de seu tempo que então o circundavam, mas os de todos os tempos e de todos os lugares. Por isso, desejando que seus discípulos, os seus sucessores, e todos os homens até o fim dos séculos usassem para com eles de grande amabilidade, certo dia em que novamente se achava rodeado de muitas crianças, disse afetuosamente: – Todo aquele que acolher em meu nome a um menino, será como se a mim mesmo acolhesse. Sim, eu considerarei com feito a mim todo o bem que se fizer a uma criança.
Dito isso, seu belo rosto pareceu por um instante perturbado e seus lábios proferiram então uma terrível ameaça. Com sua mente divina viu os escândalos que seriam a ruína de tantos meninos e profundamente aflito por ver que muitos deles seriam arrancados de seu amoroso coração pronunciou estas terríveis palavras: – “Ai daquele que der escândalo a uma criança que crê em mim. Melhor fôra para esse infeliz, que atasse uma pedra de moinho ao pescoço e se atirasse ao fundo do mar. Guardai-vos, portanto, de desprezar as crianças porque eu vim para salvá-las e seus anjos que assistem ante o trono de Deus, pediriam contra vós terrível vingança”.
Deveriam meditar nessa máxima do divino Salvador os pais indignos que com palavras e com fatos dão mau exemplo a seus filhos e que por interesse, por negligência ou respeito humano, confiam seus filhos a certos educadores, a certas escolas, que com perversas máximas lhes corrompem a mente e o coração. Deveriam meditá-la os mestres traidores que com sarcasmos contra a religião, com certos contos, e com ações infames tornam-se lobos vorazes para a alma de seus educandos. Deveriam meditá-la os escritores mercenários que, com jornais e livros ímpios e imorais lançam o veneno na mente e no coração dos jovens inocentes.
Caros meninos, vêde como é bom para convosco o Coração de Jesus, como deseja vosso bem, quanto teme vossa desgraça. Amai-O também vós, crianças queridas! Correi à Igreja para fazer-lhe coroa, ouvia suas palavras, pedi-lhe a bênção, procurai suas carícias, enfim, consagra-Lhe vosso coração ainda puro e inocente. E vós todos que os tendes sob a vossa vigilância, pais, patrões, diretores e mestres, imitai ao Coração de Jesus, amando-os, educando-os e encaminhando-os para Deus.
O Jardim dos Eleitos, traduzido do italiano, Cap. II, Edição de 1887, P. João Benetti, Salesiano
(1) – Luc. XVIII, 16.
Última atualização do artigo em 2 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico