Quantos jovens ingratos correspondem a Jesus com a mais negra ingratidão! Jesus, mais do que um pai afetuosíssimo, deu-lhes as maiores provas de entranhado amor.
Com paterna providência os fez nascer de pais cristãos; conservou-os em vida antes de receberem o batismo, impedindo que uma morte prematura os privasse para sempre do paraíso. E quem sobretudo pode admirar suficientemente o amor terníssimo de Jesus em não permitir que se perdessem, deixando-os naquele mísero estado? Jesus os adornou ainda com a cândida veste da inocência, tornando-os belos como os anjos do céu.
Quando crescidos, nutriu-os com o leite de sua divina palavra, em seguida com mais amor que uma mãe os alimentou com suas carnes divinas no dia da primeira Comunhão. Tratando-os como filhos queridos, deu-lhes carinhosos amplexos, fê-los experimentar doçuras inexplicáveis, pronto a prodigalizá-las até o dia feliz em que no céu os saciará na torrente de todas as delícias.
Oh! quem poderia enumerar todas as demonstrações de amor que Jesus deu a esses filhos?
Mas, infelizmente, no momento mais belo, no verdor dos anos, quando esse amorosíssimo Pai esperava ver correspondido seu ardente amor, quando desejava possuir esses corações juvenis, eles o abandonaram, fugiram da Igreja, abandonaram os sacramentos, uniram-se com seus inimigos para ofendê-lo e blasfemá-lo… Aborrecendo as suaves consolações da graça, entregaram-se aos desregrados apetites de paixões brutais. Por tantas ingratidões e por tão doloroso abandono, o Coração de Jesus não pode deixar de lamentar-se e exclamar: – “Pasmai, ó céus, e vós, portas eternas, ficai profundamente desoladas: eu nutri, acariciei e exaltei estes filhos e eles, como dolorosa recompensa em desprezaram” (1).
Apesar disso, este Coração os ama ainda, chora-lhes a fuga e quando esses ingratos, depois de terem abusado de seus belos anos, depois de terem servido ao demônio e alimentado indignas paixões, depois de se terem maculado com todas as torpezas, sinceramente arrependidos voltam a Ele, o bom Jesus não só não os respeita, mas os acolhe benigno, dá-lhes o ósculo da paz, reveste-os de sua graça, restitui-lhes os bens perdidos, e s recebe de novo em sua mesa para prelibarem as mais puras alegrias. Ele quer convencer-nos de que é grande, imensa sua bondade para conosco e afim de que não duvidássemos, contou Ele mesmo a tocante parábola do filho pródigo, na qual comparando o jovem transviado com um filho ingrato e comparando-se a si próprio com um pai ingratamente abandonado, nos descreve com divina eloquência, os anseios de seu amoroso Coração e suas solicitudes em chamar ao bom caminho o jovem ingrato, a alegria inefável, as suavíssimas lágrimas e seu grande jubilo em podê-lo abraçar arrependido, como que ressuscitado da morte para a vida.
Ouvi, ó jovens, a divina parábola. É o Coração de Jesus quem fala. Vêde como é todo bondade esse amabilíssimo Coração.
Um pai, assim narra Jesus, tinha dois filhos a quem amava ternamente, nada poupando para fazê-los felizes.
O mais moço, porém, movido por um desenfreado desejo de independência e de liberdade mal entendida, concebeu a resolução de subtrair-se à obediência e vigilância do pai. Certo dia, apresenta-se a ele, e em tom arrogante assim lhe fala: Pai, dai-me a parte da herança que me pertence.
Esse pedido, arrogante e áspero, foi como um golpe de espada para o coração daquele pai amoroso. Não julgando ter dado ao filho motivo para tão estranho pedido, pede-lhe, suplica-lhe que desista de seu intento, mas… esforços inúteis! Vendo que não conseguia reduzi-lo a melhores sentimentos, deu-lhe seu quinhão, pedindo-lhe ao menos não se afastasse do lar paterno.
O ingrato jovem, porém, de posse de seus bens, volta as costas ao desditoso pai e unindo-se a falsos amigos, parte para longínquas plagas. Ali, entregando-se aos vícios, esbanja logo toda a fortuna. Agora sem dinheiro, abandonado pelos companheiros de seus desvarios e com a carestia que se fazia sentir naquela região, está para morrer de miséria e de fome.
Não sabendo como ganhar a vida, foi constrangido a se empregar com um senhor cruel e avaro, que o manda pastorear animais imundos, negando-lhe até o necessário para saciar a fome. E o miserável falto de tudo, até do alimento, deseja alimentar-se das bolotas de carvalho que comiam os porcos, mas também isso lhe era vedado. Ao ver-se em tão deplorável estado, sentindo que se lhe consumiam as entranhas, entrou em si e exclamou: – Oh! em casa de meu pai quantos servos têm pão em abundância e eu, seu filho, morro de fome. Ah! levantar-me-ei, irei ter com meu pai e lhe pedirei perdão. – Disse e logo deixou aquele emprego indigno, e pôs-se a caminho para a casa paterna, desfigurado e esquálido. O pai, entretanto, aflito pelo afastamento do filho desnaturado, sempre à sua espera, vivia suspirando pelo momento feliz em que novamente o pudesse ver e abraçar. Eis que um dia divisa ao longe o filho que se aproxima. Comovido a essa vista, o coração começa a bater-lhe fortemente. Desce de seus aposentos e corre ao encontro do filho. Abraça-o com ternura, aperta-o ao coração e carinhosamente lhe imprime na fronte o osculo do perdão.
O filho arrependido prostra-se a seus pés dizendo: – Pai, eu vos ofendi gravemente: não sou mais digno de que me chameis vosso filho, considerai-me apenas como vosso servo.
mas o pai, soerguendo-o responde-lhe com novo amplexo, aperta-o amorosamente ao coração, deixando cair sobre ele copiosas lágrimas.
Depois de dar largas a seus afetos, chama os servos e lhe diz: – Trazei-lhe logo a veste mais bela, colocai-lhe o anel no dedo e as sandálias nos pés; matai o melhor vitelo, chamai parentes e amigos, aparelhai a música e façamos grande festa, porque este meu dileto filho estava morto e ressuscitou, estava perdido e foi encontrado (2).
Até aqui o divino Mestre.
Julgo conveniente repetir que essa parábola não é minha nem de nenhum homem; foi ideada e narrada pelo próprio Jesus, para nos mostrar a benignidade com que acolhe os jovens transviados que arrependidos voltam a Ele. Depois de tão comovente narrativa, pode-se acaso duvidar apenas de que o Coração de Jesus seja todo bondade até para com os filhos ingratos? Caríssimos jovens, não queirais nunca desgostar esse amorosíssimo Coração e se o abandonastes e ainda vos achais longe dele, voltai logo, que Ele suspira por vós e com carinho vos aguarda.
O Jardim dos Eleitos, traduzido do italiano, Cap. II, Edição de 1887, P. João Benetti, Salesiano
Última atualização do artigo em 30 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico