Primeiro Domingo depois da Páscoa – Pe. Júlio Maria, S.D.N.

O Retábulo da Maesta - A Incredulidade de São Tomé [Detalhe], 1308, Duccio di Buoninsegna, Domínio Público, Wikimedia Commons

Primeiro Domingo depois da Páscoa (Jo. 20, 19-31)

  1. Naquele tempo, pela tarde do primeiro dia da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se acharam reunidos por medo dos judeus, veio Jesus, apareceu no meio deles, e lhes disse: A paz seja convosco!
  2. Dito isto, mostrou-lhes a mão e o lado. E os discípulos tiveram grande alegria ao ver o Senhor.
  3. E disse-lhes pela segunda vez: A paz seja convosco! Assim como meu Pai me enviou, assim eu vos envio.
  4. A estas palavras, soprou sobre eles, dizendo: Recebei o Espírito Santo;
  5. A quem vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.
  6. Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
  7. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Nós vimos o Senhor. Ele, porém, respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos, e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não lhe introduzir a mão no lado, não acreditarei.
  8. Oito dias depois achavam-se os discípulos outra vez dentro, e Tomé com eles. E entrou Jesus, estando fechadas as portas, colocando-se no meio deles e disse: A paz seja convosco!
  9. Depois disse a Tomé: Introduze teu dedo aqui, e vê as minhas mãos; vem com tua mão, e mete-a no meu lado; e não sejas descrente, mas crente.
  10. Exclamou Tomé: Meu Senhor e meu Deus!
  11. Disse-lhe Jesus: Tu creste, Tomé porque viste; bem-aventurados os que não viram e creram.
  12. Muitos outros milagres ainda fez Jesus em presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.
  13. Estes, porém, foram escritos, a fim de que vós creiais que Jesus Cristo é o Filho de Deus e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome.

A CONFISSÃO

O Evangelho de hoje nos relata a instituição do sacramento da confissão. É mania conhecida dos viciados o repetir que a confissão é invenção dos padres… que eles não se confessam a um homem, mas sim a Deus.

Leiam eles o Evangelho de hoje, e encontrarão o inventor da confissão.

A confissão é a grande maravilha da misericórdia.

É a obra-prima de Deus.

É a prova da divindade de Jesus Cristo, e da divindade da Religião ensinada por Ele.

Só a Igreja Católica tem a confissão, porque só ela é divina.

As seitas religiosas procuram imitar a Igreja em muitos pontos, mas neste ponto nunca chegaram a um esboço de imitação.

Vejamos hoje:

  1. O SELO DIVINO da confissão em sua própria organização.
  2. A INSTITUIÇÃO divina da confissão.

I. O SELO DIVINO

Lendo um dia uma página de Napoleão sobre Jesus Cristo, perguntou alguém a Chateaubriand o que pensava sobre a autenticidade da página.

O grande escritor respondeu: A dúvida é impossível: está página traz a garra do leão.

A confissão traz também a garra do leão, traz sobre si o selo divino.

Para instituir a confissão, Jesus Cristo devia criar duas coisas que não existiam, e que humanamente não podiam existir: o penitente e o confessor.

Ora, o penitente e o confessor existem desde Jesus Cristo.

Logo, a confissão é uma obra divina.

Já pensaram nisto: criar o penitente?

Isto é: tomar um homem, com seu orgulho, com seu poder, sua ciência, sua fortuna, seus vícios, seu silêncio, e prostrá-los de joelhos, diante de outro homem, seu igual, e obrgá-lo a revelar o que, sendo esposo, ele esconde à sua esposa.

Sendo filho, esconde a seus pais.

Sendo amigo, esconde a seus íntimos.

E isso em qualquer idade, qualquer situação, poder ou ciência: Pode ser Padre, Bispo ou Papa, General, Rei, Imperador…

Humanamente é impossível!

Só Deus pode fazer uma tal imposição.

E é apenas uma parte, a mínima, do milagre.

Era preciso criar o confessor.

Onde achar um homem capaz de calar-se… sempre?

Um homem capaz de amar sem ser amado?

Um homem de fogo, pela caridade, para os outros, e de gelo para si mesmo?

Um homem paciente, desinteressado, puro, capaz de escutar os maiores crimes e as mais baixas paixões, sem comover-se, sem revoltar-se, sem protestar, enervar-se?

Encontrar um tal homem, e dizer-lhe: senta-te ali, escuta, chora, consola, perdoa…

Humanamente é impossível!

Ora, Jesus Cristo faz este milagre.

O confessor existe… e nunca foi infiel à sua missão.

Logo, a confissão é obra divina.

II. A INSTITUIÇÃO DIVINA

Admitindo que não seja obra de Jesus Cristo, de quem é então? Quando apareceu? É impossível que tal instituição tenha ficado incógnita, na Igreja, pois: atinge a todos, abate o orgulho, opõe-se às paixões;

A própria Igreja não conhece outro fundador senão Jesus Cristo.

Os inimigos nunca o apontaram.

Quem é, pois, este inventor da confissão?

São João Batista o disse: Eis o Cordeiro de Deus, eis o que tira os pecados do mundo. (Jo. 1, 29).

Jesus Cristo disse: Para que saibais que o Filho do Homem tem poder, sobre a terra, de perdorar pecados, levanta-te… toma o teu leito e vai para tua casa. (Mat. 9).

E Ele disse ainda: Os teus pecados te são perdoados. (Luc. 7, 47).

Jesus Cristo perdoa pecados.

Ora, só Deus pode perdoar pecados. (Mc. 2 7).

Logo, Ele é Deus, e a confissão, instituída por ele, é obra divina.

Não há nada mais claro, mais expressivo, que as palavras da instituição da confissão, relatada pelo Evangelho de hoje:

A paz seja convosco: a paz do perdão e da misericórdia.

Assim como o Pai me enviou, para perdoar pecados, eu vos envio a vós, com a mesma missão; mas como tal missão exige um poder divino: Recebei o Espírito Santo que, sendo Deus, vos comunicará este poder divino, de tal modo que: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e como o confessor deve ser juiz, julgando as disposições dos penitentes: Àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. (Jo. 20, 23).

Como tudo isso é expressivo, claro, irrefutável!

O inventor da confissão é bem e unicamente Jesus Cristo.

III. CONCLUSÃO

Ó pobres materialistas! Calai-vos diante da voz de Deus.

Não quereis confessar-vos, porque sois viciados, e não quereis romper os laços vergonhosos que vos prendem. Sim… mas não blasfemeis contra a grande instituição da misericórdia divina.

Somos pecadores… precisamos de perdão… e só Deus nos pode dar esse perdão.

E Ele o faz pela mão de seu ministro, a quem disse clara e insofismavelmente: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados.

Não dignais, para esconder as vossas blasfêmias:

Eu me confesso a Deus! Deus não precisa da vossa confissão; Ele já conhece só vossos pecados.

Não me confesso a um homem! A quem, então: a um anjo? Este fugiria, ouvindo as vossas mentiras, que ele desconhece. Aos animais? Estes, coitados, não vos entendem. Logo, fica só o homem… e o homem enviado por Deus, com o poder de Deus… o sacerdote.

Confessar-se é bom para crianças e mulheres! Se é bom, deve sê-lo para todos; se é ruim, não presta para ninguém.

Sou homem honesto, não preciso de confissão! É o homem honesto que dela precisa; pois os ladrões, e assassinos não se confessam, senão quando querem tornar-se de novo honestos.

Não matei nem roubei! Isto são dois mandamentos… e os outros oito? Examinai bem.

Tenho pecado demais! Não é razão de descarregar-vos um pouco?

O padre é capaz de contar os meus pecados! Nunca o padre revelou o segredo da confissão.

Não sei mais as rezas! Pois bem, o confessor vo-las ensinará. Vamos, pois, quanto antes, pois é um preceito… é uma necessidade para todos nós.

Comentário Dogmático, Padre Júlio Maria, S.D.N., 1958.

Última atualização do artigo em 11 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico

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