Nicomedia é a terra de S. Pantaleão, um dos quatorze auxiliadores em grande necessidade. O pai era pagão. O menino recebeu ótima educação e sua mãe Eubula, cristã fervorosíssima. Infelizmente esta bem cedo lhe foi arrebatada pela morte, circunstância que muito afetou a vida do filho unigênito. O pai não poupou sacrifícios, para proporcionar-lhe os meios necessários à carreira de médico, mas exigiu também da parte dele a participação ativa no culto da idolatria.
Pantaleão conservou-se puro, no meio de um mundo corrupto, provando assim a solidez da educação que da própria mãe recebera.
Com inteligência e força de vontade, não podia deixar de sobrepujar a todos os companheiros de estudo e distinguir-se de tal maneira, que chegou a gozar dos maiores privilégios, e pelos mestres foi vantajosamente recomendado ao Imperador Maximiano. Ao mesmo tempo Pantaleão atou relações com Hermoláo, sacerdote cristão, que, por medo das perseguições, vivia com os irmãos numa casa bem retirada. Numa das conversas que teve com o mencionado sacerdote, Pantaleão falou-lhe da mãe, que era cristã. “E tu?” – perguntou com vivo interesse o sacerdote. “Eu – respondeu Pantaleão – respeito e honro a memória de minha mãe e conservo fielmente a doutrina que me ensinou; mas presentemente me vejo na necessidade de seguir a religião de meu pai e do governo, mormente agora, que tenho em visto ser nomeado médico assistente do Imperador.” Hermoláo contou-lhe então a história da vida de um outro médico, que superava a todos os mais em ciência e virtude; que por uma só palavra curava os doentes, dava luz aos cegos, ouvidos aos surdos, o uso dos membros aos paralíticos e chamava à vida os mortos, conduzia todos à felicidade eterna.
Pantaleão começou a interessar-se por esse médico divino, cujo nome já aprendera a balbuciar na mais tenra infância; no entretanto, não podia decidir-se a abraçar francamente a religião de Jesus Cristo.
Um fato extraordinário trouxe-lhe a luz da fé. Passando um dia pelo campo, encontrou à beira da estrada uma criança morta, vitimada por mordedura de cobra. Instintivamente recuou apavorado. Mas, recuperando a calma, disse de si para si: “Se é verdade o que Hermoláo me disse de Cristo, há de ser demonstrado agora.” Levantando os olhos ao céu, disse: “O Deus dos cristãos, se és verdadeiramente o Senhor da vida e da morte, mata esta cobra e dá vida a esta criança.” E assim aconteceu. Pantaleão apresentou-se ao sacerdote e após um retiro de sete dias, recebeu o batismo.
Depois de cristão, o maior desejo que tinha, era ver o pai na mesma religião e sem demora pôs mãos à obra, para converte-lo, tarefa esta cuja realização só pela metade conseguiu.
Apresentou-se lhe um doente atacado de oftalmia. Grandes quantias já tinha dispendido com os médicos, sem tirar o menor resultado. Pantaleão prometeu-lhe cura radical, contra a opinião do pai, o qual queria fazer-lhe ver a inutilidade de tratar um caso perdido. Pantaleão, porém, animou o doente, fe-lo invocar o nome de Deus único e seu Filho unigênito, Jesus Cristo, tocou-lhe os olhos com as mãos e o cego recuperou a vista. A essa evidência o pai e o cego se declararam cristãos e ambos receberam o batismo.
Pantaleão dedicou-se à sua profissão, procurando sempre dar aos doentes, não só a saúde do corpo, como também o bem-estar da alma. Deus abençoou-lhes os esforços e. em pouco tempo, Pantaleão era o mais afamado e o mais procurado de todos os médicos. Isto certamente havia de provocar a inveja dos colegas pagãos, os quais daí em diante lhe observavam os passos. Notando que Pantaleão dispensava particulares cuidados aos cristãos encarcerados, denunciaram-no à corte imperial. O Imperador, ao receber esta notícia, não fez segredo do forte desagrado e ordenou ao médico que rendesse culto aos deuses, para assim desmentir os acusadores. Pantaleão respondeu: “Mais alto que palavras falam os fatos e a verdade é acima de tudo; quanto mais poderoso é Deus, tanto mais veneração merece. Proponho o seguinte: Mande trazer aqui um doente que esteja em estado grave; chamai os vossos médicos e sacerdotes, para que invoquem sobre ele os deuses.
Eu recorrerei a meu Deus. O Deus que da a saúde ao doente, há de ser por todos adorado, como único e verdadeiro e os outros deuses devem ser removidos”. Maximiano aceitou a proposta. Veio um doente, por todos os médicos desenganados. Vieram os médicos, sacerdotes pagãos e Pantaleão. Os idolatras ofereceram os sacrifícios de costume aos deuses e em preces a eles dirigidas, pediram que curassem o doente. Em vão. Este nenhuma melhora experimentou. Pantaleão, em prece fervorosa, dirigiu-se a Jesus e em nome do mesmo, ordenou ao doente que se levantasse. O doente obedeceu imediatamente e, restabelecido, voltou para casa.
O Imperador, obcecado pelo erro e pela paixão, em vez de cumprir a palavra, exigiu de Pantaleão que também, sacrificasse aos deuses. O jovem cristão, porém, resolutamente se negou a isso, e com uma constância imperturbável, sofreu toda a sorte de tormentos, que o Imperador mandou lhe fossem aplicados. Finalmente, amarrado a um tronco de oliveira, Pantaleão recebeu o golpe de morte pela espada, no dia 27 de Julho de 305. As relíquias foram transportadas para Constantinopla e depositadas numa Igreja, que lhe traz o nome. Mais tarde vieram para Denis, na França. A cabeça de S. Pantaleão é o tesouro precioso da cidade de Lyon.
REFLEXÕES
Para que a Religião de Cristo ganhasse terreno e se implantasse com mais solidez nos corações dos homens, Deus deu aos Santos dos primeiros séculos o dom de fazer milagres. Milagres sempre houve na Igreja e ainda hoje são o desespero dos incrédulos, que os procuram negar e combater, não o conseguindo entretanto. É raras vezes que se observa um milagre, porque para conhecer a verdade, os homens têm a Igreja, que é a mestra por excelência, e a razão que lhes foi dada para compreender as coisas. A melhor apologia, entretanto, da nossa santa religião, é a santidade de seus filhos. Devemos dar o exemplo da prática das virtudes, como a Igreja nos ensina.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.