São Paulo, Apóstolo – † 67
A conversão mais extraordinária que se deu depois da Ascensão de Nosso Senhor, foi a de Paulo. Discípulo do sábio mestre Gamaliel, era Paulo havido por homem de grande inteligência e de espírito superior, gozando, portanto, de certa consideração na alta sociedade de Jerusalém. Sua conversão, por inesperada, de certo causou sensação extraordinária na capital do judaísmo. Conhecido como era por todos por inimigo figadal da religião de Cristo e seu cruel perseguidor, era natural que a notícia de sua conversão fosse pelos apóstolos recebida com muito ceticismo e desconfiança.
Depois do acontecimento grandioso de sua conversão, Paulo ficou alguns dias em Damasco. Causou grande confusão entre seus ouvintes na sinagoga daquela cidade sua narração da visão que teve e o ardor com que se confessava em favor de Cristo e de sua doutrina. De Damasco dirigiu-se para a solidão da Arábia, onde ficou três anos, fazendo grandes penitências e entregando-se ao estudo da religião. Passado este tempo, voltou a Damasco, onde foi muito mal recebido pelos judeus, que quiseram matá-lo. Vigiaram a casa onde ele estava e foi devido à dedicação de alguns cristãos, que conseguiu fugir, descendo num cesto pelo muro.
Em Jerusalém, para onde se dirigiu então, foi-lhe difícil achegar aos apóstolos, que o temiam, e não disfarçavam sua desconfiança da sua conversão. Foi por intermédio de Barnabé que Paulo conseguiu ser-lhes apresentado. Desde que os apóstolos se convenceram da verdade e solidez de sua conversão, com eles ia e vinha em Jerusalém, procurando sempre o contato com os gentios. Os judeus, por seu turno, não lhe perdoaram a apostasia e tramaram contra sua existência. Por este motivo deixou Jerusalém e foi por Cesareia para Tarso, sua terra natal, onde permaneceu três anos pregando o nome e a doutrina de Jesus nas regiões da Síria e Cilícia.
Sua pregação teve por resultado a conversão de muita gente. Em companhia de Barnabé seguiu para Antioquia, onde fundaram a primeira comunidade cristã. Achando-se a igreja de Jerusalém em situação aflitiva, em consequência da guerra que lhe fazia a sinagoga, Paulo e Barnabé arrecadaram esmolas com que socorreram os irmãos na metrópole. Em Jerusalém receberam ordem de continuar sua pregação entre os gentios. De Antioquia dirigiram-se para a Selêucia e dai velejaram para a ilha de Chipre. Percorrida toda a ilha até Pafos, foram chamados para junto do procônsul Sérgio Paulo, homem reto, que desejava ouvir a palavra de Deus. Um mago, judeu, falso profeta, chamado Simão, procurou desvia-lo da fé. Paulo, cheio do Espírito Santo, encarando-o em face, disse-lhe: “Filho do diabo, inimigo de toda justiça, eis que a mão de Deus te castiga; não verás mais por algum tempo a luz do sol”. Logo espessas trevas cercaram-no e tateava, procurando a quem o guiasse. À vista disto, o procônsul se converteu.
De Pafos, Paulo com seu companheiro, passou para Perga, e de lá para Antioquia. Houve tantas conversões, que os judeus, enchendo-se de inveja, moveram perseguição contra os apóstolos. Estes então se retiraram e foram-se para Listra, passando por Iconium.
Em Listra havia um homem paralítico, que recuperou a saúde pela imposição das mãos de Paulo. O povo, vendo isto, julgou estar em presença de deuses e quis dar-lhes honras divinas. Os judeus, perseguindo sempre o apóstolo, vieram de Antioquia, prenderam-no, levaram-no para fora da cidade, apedrejaram-no, deixando-o como morto. No dia seguinte, porém, seguiu para Derbéa, onde ganhou muitos discípulos. Quando mais tarde voltou para Antioquia, pode contar em grande assembleia os progressos que a religião de Jesus tinha feito.
Surgira entre os discípulos uma controvérsia sobre a aplicação da lei da circuncisão aos gentios recém-convertidos. Numa reunião que houve em Jerusalém, à qual compareceram também Paulo e Barnabé, foi decidido que os convertidos do paganismo não seriam obrigados à circuncisão.
Fazendo de Antioquia ponto de partida, Paulo e Barnabé visitaram todas as cidades da Ásia Menor, por que tinham passado na primeira viagem. Em Troas teve Paulo uma visão: Em pé diante dele, um Macedônio suplica-o: “Passa a Macedônia, e vem em nosso socorro!” Paulo embarcou com Silas, Timóteo e Lucas para Philippes. Em Philippes libertou do demônio uma empregada, que, possessa do espírito divinatório, dava lucros avultados aos seus amos. Estes vendo-se prejudicados em seus interesses, levantaram o povo contra Paulo e Silas, arrastaram-nos diante do tribunal e disseram: “Estes homens põem em desordem a nossa cidade.” A autoridade mandou-os açoitar com varas e, metidos no cárcere, foram presos no “tronco”. Quando era noite, um forte terremoto abalou a cidade toda. As portas da prisão se abriram e as cadeias dos prisioneiros caíram. O carcereiro, estupefato e apavorado, se fez batizar imediatamente com toda sua família.
De Philippes Paulo foi para Anfípolis, Apolônia, Tessalônica, e Beréa e daí até Atenas.
Em Atenas Paulo pregou aos judeus na Sinagoga, aos pagãos na praça pública. Convidado para falar no Areópago, disse Paulo: “Cidadãos de Atenas! Um dia destes percorrendo vossa cidade, e considerando os objetos do vosso culto, notei entre outros um altar com a inscrição: A um Deus desconhecido. Aquele Deus a quem venerais, sem o conhecer é o que venho anunciar-vos.” Quando depois passou a falar da ressurreição, uns escarneciam, outros disseram: “Falar-nos-á uma outra vez sobre este assunto.” Houve algumas conversões, por exemplo a de Dionísio, membro do Supremo Tribunal. De Atenas Paulo foi para Corinto, onde pregou o Evangelho durante um ano e seis meses. De Corinto passou para Éfeso, de Éfeso para Cesareia, Jerusalém e Antioquia.
Numa outra viagem após pouco espaço de tempo, Paulo visitou todas as Igrejas da Ásia. Em Éfeso batizou doze discípulos e impôs-lhes as mãos, chamando sobre eles o Espírito Santo, e eles começaram a falar línguas e profetizar.
Três anos passou Paulo em Éfeso, sendo esta sua permanência assinalada por muitos milagres. Curaram-se doentes a que se aplicaram o sudário e a cinta de S. Paulo e muitos demônios foram expulsos das suas vítimas. Muitos fieis vieram confessar os seus pecados.
Os judeus não deixaram do seu ódio a Paulo e continuaram a persegui-lo. Antes de se despedir de Éfeso e Mileto, foi S. Paulo avisado pelo Espírito Santo que em Jerusalém havia de encontrar muita tribulação; e assim aconteceu.
Mal tinha chegado em Jerusalém, os judeus se apoderaram de sua pessoa e teriam-no matado se o tribuno da côrte romana não o tivesse arrebatado das mãos deles. Ainda assim mandou mete-lo a ferros e encarcerar. De noite Jesus Cristo apareceu a Paulo, e disse-lhe: “Coragem! Como testemunho de mim em Jerusalém, o mesmo farás em Roma.”
Como os judeus insistissem na sua condenação, o tribunal romano mandou conduzi-lo de noite com uma escolta ao governador Félix em Cesareia. Lá ficou dois anos até que Félix tivesse um sucessor na pessoa de Festo. Os judeus pediram a este a transferência do prisioneiro para Jerusalém, pensando matá-lo na viagem. Festo perguntou a Paulo: “Queres ser julgado em Jerusalém no meu tribunal?” Paulo respondeu: “Apelo para César!” Festo: “Apelaste para César, diante de César comparecerás!”
Marcada a partida, Paulo tomou passagem no navio com Lucas e muitos outros presos. A viagem foi penosíssima e o navio ancorou na ilha de Creta. Paulo aconselhou a passarem o inverno lá, mas sua opinião não teve apoio e continuaram a viagem. Uma grande tempestade no alto mar pôs em perigo a vida de todos e só depois de quinze dias cheios de aflições, abordaram a ilha de Malta. O navio despedaçou-se, como predissera Paulo, mas os passageiros, em número de 276, chegaram à praia sãos e salvos.
Durante os três meses de parada na ilha de Malta, Paulo curou muitos doentes dos insulares, que lhe fizeram honrosas manifestações.
De Malta seguiram para Roma, onde Paulo ficou alojado em casa particular com o soldado seu guarda. Dois anos ficou o apóstolo em Roma, fazendo bem onde se lhe oferecia ocasião, e pregando a doutrina de Cristo.
Seu zelo não lhe deu descanso. Passados os dois anos de cativeiro, Paulo foi a Espanha; de lá voltou ao Oriente, onde visitou as Igrejas de Éfeso, de Creta, de Macedônia e de Mileto.
É admirável como o apóstolo no meio de tantos trabalhos apostólicos teve ainda tempo para escrever numerosas epístolas a particulares e a diversas Igrejas.
Dois anos foram-se com estas viagens apostólicas, quando Paulo voltou para Roma onde era imperador Nero, o monstro purpurado. Foi na metrópole do império que Paulo sofreu o martírio junto com S. Pedro. Na sua qualidade de cidadão romano foi degolado. Era o ano de 67 depois de Jesus Cristo. Uma parte das relíquias de S. Paulo descansam na basílica de S. Pedro ao lado das relíquias do príncipe do Apóstolos.
REFLEXÕES
S. Paulo é chamado o Apóstolo dos Gentios. Realmente é admirável sua atividade na propagação da fé. Do perseguidor de Jesus Cristo foi feito um apóstolo da Igreja, um missionário, que é o modelo dos missionários de todos os tempos. Suas epístolas nos dão uma imagem nítida das suas lutas, das suas dificuldades, das suas provações e tribulações de toda sorte. Mas em tudo venceu o amor a Jesus, a Jesus crucificado. S. Paulo é um gigante no amor ao Salvador. “Jesus é minha vida”, confessa ele, e para Jesus não havia trabalho que ele não fizesse, dificuldade que não vencesse, dor que não suportasse. No fim da sua vida, pôde ele, em verdade, dizer: “Pelejei boa peleja, terminei a carreira e conservei a fé”. Para que possamos afirmar a mesma coisa é preciso que imitemos o grande Apóstolo no seu grande Amor a Jesus e a santa Igreja. É preciso que, como ele, crucifiquemos a nossa carne, demos desprezo ao mundo, tenhamos amor aos nossos irmãos, sejamos castos e puros e da nossa vida façamos um hino de louvor a Deus. Destarte seremos herdeiros da Coroa, que nos dará o justo juiz no dia da recompensa.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.
Última atualização do artigo em 16 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico