São Pedro Damião
São Pedro Damião, Cardeal e Doutor da Igreja, nasceu pelos fins do ano de 1006 ou em começo de 1007 em Ravenna. Com receio de ser parcelada demais a fortuna da família em virtude da prole numerosa, sua mãe expô-lo, retomando-o pouco depois. Pedro perdeu os pais muito cedo e ficou debaixo das ordens do irmão mais velho, que o tratava com muita dureza e sem a menor caridade. Tendo 10 anos, sua sorte melhorou. Um outro irmão Damião, que era arcipreste em Ravenna, recebeu-o em sua casa, introduziu-o no estudo das ciências e foi para ele um pai carinhoso. Para mostrar sua gratidão, Pedro adotou o cognome de Damião. Durante alguns anos teve por professores esse seu irmão e um outro sacerdote. Mais tarde continuou seus estudos em Faenza e Parma. Nesta última cidade e depois em Ravenna exerceu o cargo de professor. Em todo este tempo realizou-se em sua alma grande mudança. Tendo 28 anos, fez-se monge do eremitério de Fonte Avellana, na diocese de Faenza. Com a dedicação a mais extremada trabalhou na sua santificação, lançando os alicerces de uma vida ascética, que não mais largou até à morte. Tanto se afeiçoou a Fonte Avellana, que precisou da ameaça com a excomunhão para determina-lo a aceitar a púrpura. Diversos outros mosteiros convidaram a Pedro para pregações e para reformá-los em seu espírito. Morto o prior de Fonte Avellana foi Pedro eleito seu sucessor. Como Superior dirigiu toda a sua atenção à formação de um bom espírito ascético nas comunidades. Para este fim escreveu as biografias dos Santos Odillon, Romualdo, Domingos Loricato e Rodolpho de Eugubio, que apresentavam aos monges exemplos perfeitos da vida religiosa.
Pedro não podia ficar indiferente diante da situação triste em que se achava a Igreja Católica. A Sé apostólica tinha se tornado objeto de aspirações ambiciosas e se achava em certa dependência da casa imperial da Alemanha. Em condições análogas estavam as dignidades eclesiásticas na Itália, França e Alemanha. Os prepotentes da política vendiam-nas a troco de dinheiro ou davam-nas às suas criaturas. Grande parte do clero tinha-se esquecido de sua alta missão e estava entregue ao vício da simonia ou do nicolaitíssimo. O povo cristão estava sem guias e o espírito da impiedade se alastrava cada vez mais.
Pedro Damião se opôs com toda a força a este estado de causas. Pôs-se em comunicação direta com os Papas Gregório VI, Clemente II, Leão IX, Estevão IX e Nicolau II e conseguiu que se abrisse forte campanha contra os dois abusos que tanto prejudicavam a obra de Cristo na terra. (Simonia é a intenção manifesta de comprar ou vender bens sobrenaturais ou naturais a estes anexos. Nicolaitismo é a negação do celibato do clero).
Ele mesmo escreveu duas monografias, em que tratou das duas chagas perniciosas no corpo da Igreja. A segunda publicação contra o nicolaitismo, criou-lhe muitos adversários, por causa do assunto e do modo franco e enérgico com que desvendou e atacou o mal. O Papa Estevão IX, porém, nomeou o autor Bispo Cardeal de Ostia, dignidade com que se achava ligada outra de decano do Colégio cardinalício.
Grandiosa foi a atividade de Pedro Damião na reforma religiosa em muitas dioceses. Comissões dificílimas e bem melindrosas foram-lhe confiadas pelos Papas e sua prudência, energia e caridade conseguiram os mais brilhantes resultados. Foi este o motivo porque os Papas tão pouca disposição mostrara de aceitar seu reiterado pedido de exoneração para poder voltar ao seu querido eremitério. Muito bem fez a Santa Sé em não ter-se privado da cooperação de tão hábil diplomata e santo reformador. A política abusiva do partido imperial na eleição do sucessor de Nicolau II (1061) necessitava de um regulador prudente e enérgico da tempera de um Pedro Damião.
Em muitas questões difíceis e melindrosas, quer entre diocesanos e a autoridade diocesana, quer entre religiosos e Bispos, era decisivo o seu arbítrio.
Tendo 67 anos de idade foi enviado ao “Reichstag”, de Francfurt para, na qualidade de legado pontifício, protestar contra o projeto do imperador Henrique IV de se divorciar da sua legítima mulher.
O Arcebispo de Ravenna tinha incorrido na excomunhão e morrido sem absolvição. Reinava na cidade forte animosidade contra Roma. Pedro Damião acalmou os espíritos e restabeleceu a paz. Foi esta a última obra do Santo na sua vida. Ansioso para procurar o merecido descanso em Fonte Avellana, morreu na viagem em Faenza no ano de 1072, tendo 83 anos de idade.
S. Pedro Damião é enumerado entre as figuras mais eminentes de todos os tempos. Ele foi grande como sábio, religioso, sacerdote e cardeal. Admiráveis e fora do comum foram seus conhecimentos, principalmente na jurisprudência; admirável foi a franqueza apostólica, com que profligava os vícios do seu tempo; admirável a austeridade e santidade de sua vida; admirável sua piedade e zelo sacerdotal; admiráveis enfim foram a dedicação incondicional à Santa Sé e seu entusiasmo e atividade pela prosperidade da Igreja.
O corpo do grande Santo descansa na Igreja dos Cistercienses em Faenza. Leão XII deu a S. Pedro o título honroso de Doutor da Igreja.
REFLEXÕES
1. “Porque não pensas mais seriamente no negócio de tua salvação?” costumava S. Pedro perguntar-se a si mesmo. A mesma pergunta devíamos dirigir a nós, sendo a salvação da nossa alma o que mais nos devia interessar. Salva a alma, tudo está bem; perdida a alma, tudo está perdido. Muitos há, e estes pertencem à maioria, que põem esta questão em último plano considerando-a a mais insignificante de todas as outras e a menos importante. Jesus Cristo pensa diferentemente, “Martha, Martha, disse ele à irmã de Maria, estás te preocupando com muitas coisas, quando uma é necessária.” (Luc. 10.4.) A salvação da alma é de todos os negócios o mais importante; é o negócio dos negócios; por isto merece nossa maior atenção, o máximo cuidado da nossa parte.
2. “A vida é curta e seu curso veloz,” diz a Sagrada Escritura. Se a vida é curta, e sua passagem rápida, cumpre aproveitá-la para não perder nenhum dia, nenhuma hora. O tempo que se perdeu, perdido está para sempre. Uma eternidade não nos pode restituir o que no tempo perdemos. “Perdido uma vez o tempo, que Deus na sua bondade nos concedeu para fazermos penitência, e trabalhar para a nossa salvação, nunca mais o recuperemos.” (S. Boaventura).
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.
Última atualização do artigo em 27 de março de 2025 por Arsenal Católico