São Silvério, Papa e Mártir

São Silvério, Papa e Mártir

O PONTIFICADO de S. Silvério coincide com a ocupação da Itália pelos imperadores bizantinos. A nota característica do seu governo é a firmeza e intrepidez com que defendeu os direitos da igreja contra a imperatriz Theodora. Eis o fato como os hagiógrafos o relata.

O Papa Agapito, antecessor de Silvério, tinha deposto o bispo de Constantinopla, Anthimo, por este ter defendido a heresia eutichiana. A imperatriz, autora da mesma heresia, desejava ver Anthimo reabilitado na jurisdição episcopal, desejo que Agapito nunca atendeu. Morto este Papa, Virgílio, diácono romano, apresentou-se à imperatriz Theodora, prometendo-lhe a reabilitação de Anthimo se corroborasse sua candidatura ao pontificado. Theodora deu a Virgílio uma carta de apresentação para Belisário, general bizantino, que se achava na Itália, recomendando-lhe que o
apoiasse na sua eleição.

Belisário prometeu todo seu apoio logo que tivesse tomado Roma. Entretanto foi eleito Papa Silvério e como tal reconhecido. A este dirigiu-se a imperatriz exigindo que fossem reabilitados todos os bispos que por Agapito tinham sido depostos e que fossem anuladas as decisões do concílio de Chalcedon, concílio que tinha condenado a heresia de Eutycho. No seu ofício arrogante Theodora ameaçou ao Papa com a deposição, caso não acedesse às suas exigências. A resposta de Silvério foi respeitosa, mas negativa. Com franqueza e firmeza apostólicas declarou à imperatriz que estaria pronto para sofrer prisão e morte, mas não cederia um ponto das constituições do concílio.

Theodora, furiosa pela resposta que recebera, deu ordem a Belisário de afastar Silvério de Roma e pôr a Virgílio na cátedra de S. Pedro. Receando cair no desagrado da Majestade, Belisário se prontificou para executar a ordem, mas desejava ter em mãos outros documentos, a pretexto dos quais pudesse proceder contra o Papa. Sua ímpia mulher Antonina tirou o do embaraço.

Fez chegar às mãos de Belisário uma carta falsificada que trazia as armas e assinatura de Silvério, carta em que o Papa se teria dirigido aos Godos, prometendo-lhes entregar Roma se viessem em seu auxílio. Belisário estava a par do que se passava, e bem sabia qual era a autoria da carta. Não obstante, para ser obsequioso à sua mulher, citou Silvério em sua presença, mostrou-lhe a carta, acusou-o de alta traição e sem esperar pela defesa da vítima, ordenou que lhe tirassem as insígnias pontificais e lhe pusessem um hábito de monge e assim o mandou para o desterro. No mesmo dia Virgílio assumiu as funções de Sumo Pontífice.

A consternação e indignação dos católicos eram gerais. Só Silvério bendizia a Deus por lhe ter concedido a graça de sofrer pela justiça. O Bispo de Patara, diocese que deu agasalho ao Papa desterrado, pôs-se a caminho para Constantinopla com o intuito de defender a causa de Silvério. Recebido pelo imperador Justiniano, a ele fez a exposição clara das causas ocorridas e lhe mostrou a injustiça feita ao representante de Cristo. Justiniano ordenou que Silvério fosse imediatamente levado a Roma, que a permanência na Metrópole lhe fosse vedada só no caso de ser ele convencido do crime de alta traição. Belisário e o antipapa Virgílio souberam impossibilitar a volta de Silvério para Roma. Apoderaram-se de sua pessoa e transportaram-no para a ilha inóspita de Palma ou Pontia. Lá o sujeitaram a um tratamento indigno e sobremodo humilhante.  Silvério, porém, ficou firme na sua justa resistência à tirania e usurpação. Longe de reconhecer a autoridade de Virgílio, excomungou-o e deu do seu exílio sábias leis à igreja. De sua época nunca se ouviu uma palavra sequer de queixa contra os planos e desígnios de Deus. Ao contrário, no meio dos sofrimentos e provações, louvou enalteceu a sabedoria e bondade da divina Providência.

Três anos passou Silvério no desterro. Liberato, historiador contemporâneo de Silvério, diz que o santo Papa mor­reu de fome. Procópio, porém, outro escritor daquele tempo, afirma que foi traiçoeiramente assassinado por ordem de Antonina.

REFLEXÕES:

Em S. Silvério temos um modelo de perfeito cumpridor dos seus deveres que não se deixa demover do caminho da obrigação, em­bora lhe acarrete isto os maiores dissabores, sofrimentos e até perseguição e a própria mor­te. S. Silvério resistiu firme às injustas e criminosas insinuações da imperatriz, sabendo que se seu procedimento provocaria as iras da monarca, como de fato as provocou.

Não, é uma imperatriz tirânica, contra as exigências da qual nós devemos defender os nossos princípios cristãos e católicos. O respeito humano é um tirano ao qual muitos covardemente se curvam, pondo de lado suas obrigações e graves responsabilidades. Superiores há que não se animam a repreender seus súditos, com fundado receio de atrair sobre si a justa censura das suas próprias faltas. Súditos há que, para não cair em desagrado dos seus amos, obedecem às ordens dos mesmos, embora com isso sejam obrigados a praticar as maiores injustiças. Patrões fazem se cúmplices dos vícios dos seus empregados, não se achando com coragem de os chamar a ordem, com medo destes largarem o seu emprego ou de fazerem mal o seu serviço. Para não aborrecer seus filhos, pais há, que a estes concedem toda a liberdade, não havendo dúvida que assim concorrem para sua infelicidade eterna. Às exigências as mais absurdas e escandalosas da moda cedem-se com a maior naturalidade, embora contra isto se levantem em protesto a consciência, o bom senso, e a moral cristã. Por toda a parte vemos estas transigências fáceis, indignas, sob todos os pontos de vista reprováveis, à custa da virtude, e do caráter. Sejamos sempre observadores do precioso conselho que S. João nos dá nas seguintes palavras: “Filhinhos, não ameis ao mundo nem ao que há no mundo. Se alguém ama ao mundo, não há nele o amor do Pai. Porque tudo que há no mundo, é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos, e soberba da vida, a qual não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora o mundo passa, e também a sua concupiscência.”

Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume I, 1928.

Última atualização do artigo em 16 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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