Senhor… Confiado nas dulcíssimas entranhas de Vossa misericórdia, chego a Vossos pés; e o Vosso amor para conosco me dá ânimo para humildemente falar na Vossa presença. Deixai-me, Senhor, louvar, como me for possível, a Vossa inefável bondade, pois tanto Vos compadecestes das nossas misérias, que viestes desde o Céu aliviar-nos delas, fazendo-nos companhia em umas e livrando-nos misericordiosamente de outras. O grande desejo de nos livrar das aflições e trabalhos intermináveis, Vos reduziu ao lastimoso estado em que minha alma Vos vê. Bendito sejais para sempre! Não quisestes deixar de padecer gênero algum de aflição das que padecemos e angústias; e Vós só padeceis os trabalhos e angústias, que se acham repartidas por todos os homens. A quem logo pode recorrer uma alma aflita, senão a Vós? E onde pode achar maior consolação nos seus trabalhos, do que na companhia que lhes quisestes fazer com os vossos; e particularmente nessas Chagas, que amorosamente estais padecendo. Dai-me pois licença, Senhor, que eu saia pelo mundo a convocar a todos os aflitos, que, vagando pela face da terra, andam desanimados, impacientes e tristes. Vou convidá-los para que Vos venham buscar no Calvário, e em roda da Vossa Cruz levantem seus chorosos olhos à Vossa sumamente amável, mas lastimosa figura. Vós derramai sobre seus corações feridos o precioso bálsamo desse Sangue, e comunicai-lhes aquela conformidade, aquela paciência divina com que estais padecendo. Eu lhes persuadirei, quanto me for possível, que jamais tirem os olhos de Vós nesse patíbulo; e Vós também não aparteis deles Vossos amantes olhos, e nisso lhes dareis alivio e consolação. Ao Bom Ladrão, que compassivo olhou para Vós nesse estado, remunerastes com tanta paciência, que a sua cruz se lhe converteu em paraíso. Ora, já que neste mundo todos vivemos crucificados, razão é que todos ponhamos em Vós os nossos olhos, para todos acharmos nas Vossas Chagas paciência. No Horto tiveste um Anjo que Vos confortou: sede Vós agora, meu Deus, o nosso consolador; e enquanto eu vou pelo mundo clamando publicamente, Vós que podeis, ocultamente ide atraindo todos à Vossa Cruz; pois no Evangelho dissestes, que quando nela fosseis exaltado, tudo havieis de trazer a Vós. Fazei, pois, que todos os aflitos venham pela contínua meditação a buscar-Vos no Calvário, e a Vossa Cruz será a sua consolação, e a sua consolação a vossa maior glória no meio desses ludíbrios. Aceitai, Senhor, os meus desejos; abençoai as minhas palavras, e livrai-me da aflição eterna por meio da Vossa aflição.
Tesouro da Paciência nas Chagas de Jesus Cristo ou Consolação da Alma Atribulada na Meditação das Penas do Salvador oferecido a Jesus Crucificado pelo Padre Teodoro de Almeida da Congregação do Oratório, Porto, 1902.
Última atualização do artigo em 4 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico