Luz que se multiplica, sem se dividir
Suponhamos uma deslumbrante fonte de luz: cheguemos-lhe outras mechas e acendamo-las à sua chama. Diminuirá a luz da fonte luminosa principal? – Claro que não!
Assim, o culto do Santos nada tira ao culto de Deus: este não se fraciona com prejuízo de Nosso Senhor; pelo contrário, enriquece-se maravilhosamente. Há grande diferença entre os dois cultos, como podemos ver pela subdivisão do culto católico:
Culto de latria, ou adoração, prestado a Deus somente; culto de dulia, isto é, do servos, prestado aos Anjos e aos Santos;
Culto de hiperdulia, isto é, de dulia superior a todos os outros santos, prestado a Nossa Senhora;
Culto de protodulia, isto é, de dulia preferencial à dos Santos, prestado a São José.
Em duas palavras: a Deus prestamos adoração, aos Santos veneração. Entre estas duas palavras há uma diferença com sabor de infinito, porque assinala a distância que separa a grandeza infinita de Deus da grandeza finita dos Santos.
A Igreja constantemente põe em relevo essa diferença. Por exemplo: nas invocações, ao se dirigir a Deus, ensina-nos a dizer: “Miserere nobis – tende piedade de nós”; e referindo-se aos Santos: “Orate pro nobis – rogai por nós”. O Santo intercede, mas somente Deus é que concede.
A veneração que prestamos aos Santos está muito bem alicerçada.
O uso universal exige que se preste honra a quem ocupa um lugar distinto no governo, no valor, na ciência, na arte. É razoável que se honre sobretudo a quem apresente excelentes méritos na Religião.
A Igreja, assistida pelo Espírito Santo propondo-nos os exemplos da Sagrada Escritura, recomendou em todos os tempos o culto dos Santos. Deus quer este culto, como quer que prestemos homenagem aos justos da terra; e no-lo recomenda concedendo aos Santos assim honrados, amplos poderes de realizarem prodígios.
Diz um provérbio alemão: “De modo algum poderia eu transpor a soleira de uma casa, em que minha mãe fosse menosprezada”. Este provérbio pode ser aplicado à Mãe de Deus. Nossa Senhora acompanhou sempre a seu Divino Filho; de Belém ao Cálvário; onde está Jesus, está Maria, e portanto os que querem afastar Nossa Senhora, afastam o próprio Deus, como fazem os protestantes. Desde o momento em que, por vontade de Deus a Santíssima Virgem foi saudada com o primeiro “Ave” do Anjo, o culto filial para com Maria na Igreja Católica nunca cessou e jamais cessará. E Deus compraz-se tanto com este culto, que derrama, sobre os que honram Sua Mãe, bênçãos e graças a mancheias.
O mesmo acontece com os Santos: honrando-os, alegramos a Deus, que é assim glorificado na pessoa de seus mais fiéis amigos.
Os amigos de Deus
Há a santidade inicial, que consiste em ter a alma na graça de Deus e é necessária a todos para se salvarem.
Há a santidade comum, que consiste em praticar a virtude segundo o próprio estado.
Há a santidade heróica, que consiste em praticar a virtude em grau heróico.
O heroísmo mais alto é a característica dos Santos, os quais reproduzem em si os ensinamentos e os sublimes exemplos de Jesus Cristo, a ponto de poderem dizer com São Paulo: “Não sou mais eu que vivo, mas é Jesus Cristo que vive em mim”.
A grandeza impressiona a alma e arrasta-a à imitação. Por isso, a Igreja decreta as honras dos altares não somente para glorificar estes valorosos filhos, mas também para estimular à imitação de Jesus Cristo os filhos que ainda lutam na terra. Eis os graus que levam às honras dos altares:
Servo de Deus: quem morreu em fama de santidade. Pode receber culto particular, isto é: uma pessoa por sua conta honra este ou aquele “Servo de Deus”.
Venerável: quando Roma reconhece com decreto oficial que o Servo de Deus praticou as virtudes em grau heróico ou então, se se trata de um mártir, declara que seu martírio é fato provado.
Beato: quando Papa determina a honra pública dos altares, não porém, em todo o mundo, mas somente em determinadas regiões ou institutos.
Santo: quando, por decreto definitivo e infalível do Papa, o nome é inscrito no catálogo dos Santos e o culto público é permitido em toda a Igreja.
De quanta conveniência seria que todos, no Batismo, recebessem o nome de um Santo, que lhes fosse protetor e modelo! Este celeste padroeiro repetiria a cada um de nós: “Queres participar da minha glória no Paraíso? Sê meu imitador como eu o sou de Jesus Cristo”.
E era como nós!
Pedro Nion tinha treze anos. Descoberto como cristão, foi cruelmente torturado. Mas sorria debaixo da chuva de pancadas. Um carrasco enfiou-lhe uma lança nas carnes dizendo zombeteiramente:
– Continuarás Cristão?
– Sim!
– Então engole esta ameixa!
E lhe apresentou um carvão aceso. Pedro abre espontaneamente a boca.
A tortura repetiu-se diversas vezes, e em todas elas o pequeno mártir fez firme profissão de fé. Morreu estrangulado na prisão, mas agora, encontra-se feliz no céu: é o pequeno Beato Pedro, glorificado em 1925.
E era um menino como nós!
Luz do Céu, Curso de Religião, 3º Tomo, Mandamentos e Virtudes, 1964.
Última atualização do artigo em 4 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico