A Esperança

Ó Senhor, fortalecei a minha esperança pois quem espera em Vós não será jamais confundido.

1 – A fé faz-te conhecer a Deus; tu crês nEle com todas as forças, porém não O vês. A tua fé, portanto, precisa de ser amparada pela certeza de que um dia verás o teu Deus, O possuirás e poderás unir-te a Ele eternamente. A virtude da esperança dá-te esta certeza apresentando-te Deus como teu bem infinito, como tua recompensa eterna. A fé diz-te: Deus é bondade, formosura, sabedoria, providência, caridade, misericórdia infinitas. A esperança acrescenta: este Deus tão grande e tão bom, é teu, Ele quer ser não somente tua posse e tua bem-aventurança eterna, mas, pela caridade e pela graça, quer ser possuído por ti enquanto esperas o céu, convidando-te a viver desde já em íntima união com Ele.

Tu olhas para Deus infinito, perfeitíssimo e tão imensamente acima de ti, criatura fraca e miserável, e pensas: como poderei eu chegar até Ele? Como poderei unir-me a Ele, pois supera infinitamente a minha capacidade? E a esperança responde-te: podes, porque o próprio Deus o quer, porque foi precisamente para este fim que Ele te criou e te elevou ao estado sobrenatural, concedendo-te todos os auxílios necessários para tão árdua empresa. O Concílio de Trento assegura que todos devemos ter “esperança firmíssima – firmissima spem – na ajuda de Deus”, ajuda que prometeu formalmente aos que O amam e recorrem a Ele com confiança: “pedi e vos será dado – disse Jesus – buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á…se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vosso filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus, dará coisas boas aos que lhas pedirem?” (Mt. 7, 7 e 11). As “coisas boas” prometidas por Jesus são, acima de tudo, as compendiadas no ato de esperança: “a vida eterna e as graças necessárias para a merecer”; este é o objetivo da esperança, é isto o que em primeiro lugar devemos pedir e suplicar.

2 – Quando te colocas diante de Deus e pensas no fim altíssimo da união com Ele, compreendes imediatamente que o grande obstáculo que se interpõe entre ti e Deus são so teus pecados, a tua fragilidade e a tua miséria, pelo que te é tão difícil viver de um modo digno de Deus. Mas a esperança vem ao teu encontro, assegurando-te da parte da misericórdia infinita, o perdão dos pecados e a graça necessária, não só para viver bem, mas ainda viver santamente.

O perdão dos pecados afasta de ti o obstáculo á união com Deus, a graça aproxima-te dEle e, finalmente, consuma a união. Que grande consolação inunda a tua alma quando tu, tão fraco que não consegues evitar o pecado, pensas que Deus te dá a garantia do Seu perdão; sim, todas as vezes que, sinceramente arrependido, reconheces as tuas faltas, Ele perdoa-te efetivamente pelos merecimentos de Jesus e as tuas culpas ficam esquecidas para sempre; deves ter a certeza disto, não é lícito duvidar, porque não te é lícito duvidar da misericórdia e das promessas divinas. “Ainda que os vossos pecados fossem como o escarlate – diz o Senhor – tornar-se-iam brancos como a neve” (cfr. Is. 1, 18). Além disso, Deus quer que estejas igualmente certo de que te concederá as graças necessárias para viveres bem, para venceres as tuas tentações e os teus defeitos, para progredires na virtude; conseguirás assim a união com Ele, não só no céu, mas também na terra. O teu ideal, ideal de santidade, não é pois irrealizável! Deus quer que esperes tudo dEle, não porque o mereças mas porque Ele é infinitamente bom, porque é a omnipotentia auxilians, a onipotência auxiliadora, sempre pronta a vir em nosso socorro. Seria temeridade, certamente, esperar que Deus te salvasse e santificasse sem a tua cooperação; mas se da tua parte fizeres o possível por evitar ate as mais leves faltas e por exercitar com generosidade as virtudes, podes esperar com certeza que Ele fará por ti o que tu, apesar dos teus esforços, não consegues fazer. Deus quer que estejas certo disto. A certeza é uma propriedade da esperança perfeita e Deus quer que pratiques esta virtude com perfeição.

Colóquio – “Revesti-me, ó Senhor, da cota verde da esperança. A viva esperança em Vós dá à alma um tal vigor, coragem e elevação as coisas da vida eterna que, em comparação com o que ali nos espera, todas as coisas do mundo lhe parecem, como são na realidade, secas, murchas, mortas e de nenhum valor. Dai-me, portanto, ó meu Deus, uma forte esperança, a fim de que ela me despoje de todas as vaidades do mundo e eu não ponha o coração em nada, não esperando nada do que há no mundo, mas viva somente vestida da esperança da vida eterna. Que a esperança seja o elmo da salvação que defende a minha cabeça das feridas do inimigo e que orienta o meu olhar para o céu, permitindo-me fixar os olhos só em Vós, meu Deus, Assim como os olhos da serva estão postos nas mãos da sua senhora, assim os meus se fixam em Vós, até que Vos compadeçais de mim, por causa da minha esperança. Fazei que ei não ponha o meu olhar noutra coisa, nem me pague, senão de Vós só de Vós, então, Vos agradareis tanto de mim com toda a verdade poderei dizer que alcanço de Vós tanto quanto espero” (cfr. J.C. N. II, 21, 6-8).

“Para compreender a grandeza da Vossa Divindade, ó Senhor, preciso da fé e para agir preciso da esperança, porque se não esperasse possuir-Vos um dia, não teria forças para trabalhar cá na terra. Não, não desejo mais as coisas terrenas, embora nunca nelas tenha esperado. Mas tenho viva esperança, não de conseguir as coisas da terra, nas quais ordinariamente esperam os mundanos, mas de Vos conseguir a Vós, meu Deus.

“Ó Senhor, dai-me uma esperança forte porque não me posso salvar sem que esta virtude esteja bem radicada e infundida na alma. É-me necessária para implorar o perdão dos meus pecados e alcançar o meu fim. Que deleite produz a esperança na minha alma, fazendo-lhe esperar aquilo que deve depois gozar na pátria, fazendo-lhe saborear em parte, já neste mundo, o que no céu há de eternamente saborear, compreender e possuir, que sois Vós, meu Deus” (Sta M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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