A graça do Batismo – Décimo Primeiro Domingo depois do Pentecostes

Fazei, Senhor, que a graça do santo batismo atinja em mim o seu pleno desenvolvimento.

1 – A cura do surdo-mudo de que fala o Evangelho deste dia (Mc. 7, 31-37), é uma imagem viva da graça do batismo. também nós fomos um dia conduzidos à presença de Jesus, num estado semelhante ao daquele pobre homem da Galileia, isto é, surdos e mudos para a vida do espírito: e Jesus, na pessoa do Seu ministro, recebeu-nos com grande amor na fonte batismal. O sacerdote repetiu sobre nós o mesmo gesto do Mestre divino e pronunciou a Sua mesma palavra: “effeta!“, abre-te. Desde aquele instante o ouvido da nossa alma abriu-se à fé e a língua aos louvores do Senhor e tornamo-nos capazes de ouvir a voz da fé, a voz externa dos ensinamentos da Igreja e a voz interior do Espírito Santo que nos solicita para o bem; desde aquele instante, os nossos lábios puderam abrir-se para a oração, para o louvor, adoração e súplica. Mas depois o tumulto do mundo ensurdeceu-nos, distraiu-nos, o ruído das paixões diminuiu a nossa capacidade de ouvir a voz de Deus; também as conversas inúteis acerca das coisas terrenas, as excessivas ocupações e o interesse pelos acontecimentos do mundo tornaram-nos muitas vezes incapazes de uma oração profunda e sincera. E eis que hoje Jesus quer renovar em nós a graça batismal, quer repetir sobre nós a palavra onipotente: “effeta!“. Como precisamos de que Ele abra os nossos ouvidos à Sua voz, de que Ele nos torne mais atentos, mais sensíveis aos Seus chamamentos! “O Senhor chama aos meus ouvidos para que eu o ouça com a um mestre”, diz Isaías; e a seguir acrescenta: “Eu não o contradigo; não me retirei para trás” (50, 4 e 5). É esta a graça que hoje devemos pedir ao Senhor: que não somente escutemos a Sua voz, mas que a sigamos sempre, sem jamais a contradizer; quanto mais fiéis formos em segui-la, mais nos tornaremos capazes de perceber os Seus suaves murmúrios. Peçamos ao mesmo tempo a graça de que os nossos lábios estejam sempre abertos para louvar o Senhor, para invocar a Sua misericórdia, para pedir humildemente perdão, acusando com sinceridade e arrependimento as nossas culpas.

2 – Os que tinham sido testemunhas do milagre de Jesus, admiravam-se, repetindo: “Fez bem todas as coisas: fez ouvir os surdos e falar os mudos”. Sim, Jesus fez bem todas as coisas, dispôs tudo excelentemente para a nossa santificação, preparou-nos todas as graças necessárias numa medida não só suficiente, mas até superabundante. Infelizmente nem sempre lhes correspondemos e muitas vezes o orgulho, o egoísmo e todas as nossas paixões não domadas convertem em mal o que o Senhor destinou para nosso bem. Se tivéssemos aceitado com amor e resignação aquelas dificuldades, aquelas provas, aquelas contrariedades que Deus permitiu para nos exercitarmos na virtude, teríamos feito grandes progressos; mas, ao contrário, com as nossas impaciências, os nossos protestos e lamentações apenas acumulamos faltas e infidelidades. Temos necessidade de corresponder melhor à graça, de ter o ouvido interior mais apurado a fim de nos apercebermos de todos os convites para o bem que o Senhor continuamente nos dirige através das várias circunstâncias da vida.

A Missa de hoje e particularmente a Epístola (I Cor. 15, 1-10), apresenta-nos um magnífico modelo de correspondência à graça. É o Apóstolo S. Paulo que, embora na sua humildade se declare “o mínimo dos Apóstolos”, exclama no entanto com toda a sinceridade: “Pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça que está em mim não foi vã”. Paulo reconhece que de perseguidor da Igreja se tornou apóstolo, não por mérito seu, mas unicamente pela graça; nada atribui a si, mas tudo a Deus. Ao mesmo tempo, porém, tem consciência da sua correspondência, correspondência que e sempre fruto da graça, mas que inclui também, como elemento indispensável, a nossa livre adesão. Portanto, na base da nossa correspondência À graça, tem que haver uma atitude de humildade profunda, quer dizer, temos de reconhecer sinceramente, que, se existe em nós alguma coisa de bom é devida unicamente a Deus; e a esta atitude temos de juntar o assentimento livre e constante da nossa vontade aos chamamentos divinos. Sem a graça nãos seremos capazes de dar esse assentimento e contudo, ele depende de nós, está nas nossas mãos. Por isso, como S. Paulo, nada podemos atribuir ao nosso merecimento, mas com ele devemos repetir: “Pela graça de Deus sou o que sou”. A nossa livre adesão à graça deve dar-nos o direito de acrescentarmos: “e a sua graça que está em mim não foi vã”. Só uma adesão constante, fiel, generosa, nos dará tal direito.

Colóquio -“Ó Senhor, doravante só a Vós amo, só a Vós sigo, só a Vós procuro, só a Vós quero servir; só Vós tendes o direito de mandar e só a Vós desejo estar sujeito. Mandai, eu Vos peço, o que quiserdes; sarai e abri os meus ouvidos para que possa ouvir as Vossas ordens; sarai e abri os meus olhos para que possa ver os sinais da Vossa vontade; apartai de mim a irreflexão, para que possa contemplar-Vos e assim espero cumprir fielmente tudo quanto me ordenardes.

“Recebei, eu Vo-lo suplico, este Vosso fugitivo, ó Senhor e Pai clementíssimo! Basta o que passei; basta ter sido até agora o joguete de enganadoras vaidades. Agora que fujo da sua tirania, recebei-me por Vosso servo, como elas me receberam quando, ao fugir de Vós, caí em seu poder. Sinto a necessidade de voltar para Vós; eis que bato à Vossa porta: abri-me, ensinai-me como se chega até Vós. Outra coisa não possuo senão a minha vontade; outra coisa nãos ei senão desprezar as coisas passageiras e caducas para procurar as imutáveis e eternas.

“O meu desejo está dirigido para Vós e peço-Vos os meios para o secundar. Se nos abandonais, estamos perdidos. Mas Vós não nos abandonais, porque sois o sumo bem, e nunca ninguém Vos procurou com retidão que Vos não encontrasse… Vós sabei-lo, Senhor, tenho o querer, mas não tenho o poder. Nem sequer posso querer o bem sem Vós; não posso o que quero se me não ajuda o Vosso poder; e o que posso, às vezes não o quero a menos que Vós não façais triunfar a Vossa vontade na terra como no céu. Portanto, uma só coisa peço à Vossa soberana clemência, e é que me convertais inteiramente a Vós, impedindo-me de resistir à graça que me leva para Vós” (Sto Agostinho).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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